segunda-feira, 27 de outubro de 2008

OS SOLDADOS DE JESUS

OS SOLDADOS DE JESUS
Às vezes me deparo com frases estampadas em camisetas, carros (há pouco vi um caminhão) com frases como: soldado de Jesus, exército de Deus. A última foi "General de Cristo". São titulações e convocações que têm sido feitas, e aproveito parte de um e-mail recebido há algum tempo para mostrar a que estamos chegando nesta auto-entitulação (auto) bajuladora no meio (pseudo) evangélico.
No decorrer do tempo a Igreja nomeia seus líderes (ou eles se auto-ordenam e autonomeiam, como é mais comum nos nossos dias) de acordo com os costumes, o contexto e até mesmo com a necessidade (especialmente de autopromoção e visibilidade). E o crescimento impressionante da igreja evangélica brasileira (com sua tendência divisionista também extremada) tem gerado uma avidez por títulos eclesiásticos de modo que está cada vez mais difícil ser original e as repetições serão inevitáveis, bem como as acusações de uns para outros de plágio. Este problema de falta de títulos eclesiásticos para conferir à sua liderança pode gerar a maior crise eclesiástica a ser enfrentada pelas Igrejas pseudo-evangélicas no século XXI.
Títulos clássicos, como pastor e bispo, já não bastarão, precisarão de adjetivos, como, por exemplo, a junção dos dois e a adjetivação possessiva: Pastor e Bispo das Vossas Almas. Quem não quer um líder poderoso e pomposo assim?
Porque não ser meio-original e copiar meio matreiramente a Igreja romana e criar o título de Co-Redentor da Humanidade, conferindo ao nomeado (geralmente auto-nomeado) uma autoridade (quase) divina e de inigualável importância, pois colocará seu possuidor imediatamente abaixo (mas não muito, pois seria muita humilhação) do salvador Jesus Cristo. Em uma possível agenda ecumênica poderia juntar-se à Igreja romana e, finalmente, reivindicar o título de Pai de Deus.
Augusto, exaltado, magnífico também são títulos fortes, que podem ser usados tanto pelo pastor e bispo ou até mesmo pelo co-redentor, mas também podem ser usados como titulações secundárias a pessoas que se destacam na ocupação de cargos na Igreja, à semelhança dos antigos condes, vice-condes, barões, baronetes, etc. Não seria realmente desejável numa reunião de planejamento um diácono – ou quiçá um presbítero (que títulos antigos e desprestigiados) se referirem aos ilustres chamando-os de augustos, exaltados e magníficos? Quão sonoro para os ouvidos, não? “Magnífico, posso servir o café?” Isto não é para qualquer ser mortal comum. Está acima da plebe rala. É só para a nobreza eclesiástica.
Alteza, majestoso ou majestade também são títulos bonitos e soam bastante imponentes, lembrando as monarquias veterotestamentárias e históricas. Este título poderia substituir os "superintendentes" que tem a seu encargo o governo de obreiros na obra de Deus – especialmente se estes obreiros forem espelho de seus mestres, bajuladores que querem, um dia, ser bajulados.
Outro título que era usado antigamente e que caiu em desuso, mas que pode ser perfeitamente reeditado para uso eclesiástico é my Lord, dada a mania nacional de usar termos estrangeiros quando existem outros nacionais que podem substituí-los perfeitamente. Experimente pronunciar "my Lord". Não é sonoro? Não é, digamos, chique? Melhor que "meu senhor", não acha? Que tal ser, numa reunião, ser chamado de my Lord?
Deuses e vice-deuses já existem andando por aí. Há mais de um que queira o título de salvador, como o louco de Curitiba e o coreano maluco. Mas estes praticamente não contam porque estamos tratando do meio denominado evangélico. Mas não pretendo esgotar os títulos disponíveis até porque o grupo seguidor do líder deve fazer o trabalho de casa e sugerir nomes até melhores do que esses mencionados – especialmente na esperança de que lhes sobre alguma migalha.
Bispos, arcebispos, apóstolos e profetas já existem em profusão, numa avalancha de honrarias auto concedidas que são a cara e a característica do cristianismo modernoso, mas que destoam completamente do verdadeiro cristianismo, bíblico, sadio, humilde, reverente ao Senhor que se fez servo. Onde podemos encontrar nesta Igreja modernosa o mesmo sentimento que houve em Cristo, que, sendo o próprio Deus, se fez homem, servo e maldição em nosso lugar?
Mas não desesperemos, ainda existem alguns títulos disponíveis, antigos, empoeirados pelo (quase) desuso, porque tem sido de difícil aceitação e muitos preferem não usá-los, achando-os humilhantes demais: Servo, Escravo, Discípulo, Ministro do Evangelho, Pregador. Atualmente não fica bem usar esses títulos. Está difícil para um pastor apresentar-se apenas como, ahm... pastor. Imagine numa reunião de tantos líderes brasileiros alguém falar com você assim: “Prezado Escravo de Deus...”. Convenhamos que isso vai dar muita confusão. A sua Igreja aprova a escravidão em pleno século XXI? Logo perguntarão... Imagine embaixo do nome em um cartão de visitas colocar o título: Servo. Não, a pretensão é esquecer esses títulos porque eles não estão adequados com o pensamento evangélico de hoje.
Não vou pedir desculpas pela ironia ou sarcasmo – mas que me dá nojo e asco esta tentativa de obter glória mundana, disto não resta dúvida. Gosto de ser pastor. Pastor, ministro do evangelho, servo de Deus – até porque sei não merecer nada disso, mas sou grato para com aquele que me fortaleceu e me designou para o ministério, a mim, que noutro tempo era blasfemo, insolente e perseguidor, mas alcancei misericórdia, para que outros, por meu intermédio, possam também chegar ao conhecimento do Cristo de Deus, que salva pecadores que nele crêem.

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