A BANALIZAÇÃO DA PRÁTICA DO PECADO
Mas o problema de Corinto não era simplesmente a existência do pecado, como Paulo destaca ao iniciar esta seção é que ali havia não apenas o pecado, presente em todo lugar onde o ser humano estiver, mas que ali o pecado estava se tornado corriqueiro, normal, habitual, sem qualquer tipo de tratamento. Ouçamos atentamente a frase de Paulo na tradução que usamos: “Geralmente se ouve que há entre vós imoralidade”. Entretanto, a palavra o)lo/j é melhor traduzida como “inteiramente verdadeiro’. Devemos entender o “geralmente” da nossa tradução como referindo-se a um fato conhecido, comentado e não contraditado simplesmente porque ninguém se atreveria a contraditar o que todos sabiam ser verdade. Seria por demais ridículo, vergonhoso para quem ousasse advogar tal causa.
O problema que Paulo está tratando é o fato de pecados estarem ocorrendo na Igreja, e todos considerarem isto um fato que podia ser ignorado. Paulo não o ignora: ele dá nome ao pecado, confronta o pecado pelo nome que tem. Falar do pecado em termos genéricos era o mesmo que ignorá-lo, ou, se preferimos, referir-se a muitos ali existentes sem tratar de nenhum. O nome do pecado corrente em Corinto era porne/ia [imoralidade, fornicação] de onde origina a palavra pornografia [registro de atos imorais]. O apóstolo confronta uma imoralidade que estava acontecendo no seio da Igreja e ninguém ousava enfrentar o imoral [ou os imorais].
A realidade da Igreja em Corinto não era, em nada, diferente daquilo que encontramos nas Igrejas que conhecemos. O pecado era e ainda é uma realidade com a qual temos que nos defrontar. O problema mais crucial não é a existência do pecado [ainda que sua existência seja um problema], mas a falta de confronto, de tratamento. Amar o pecador significa dar-lhe uma oportunidade de perceber seu erro, confrontá-lo, exortá-lo e conduzi-lo ao arrependimento [At 17.30: Ora, não levou Deus em conta os tempos da ignorância; agora, porém, notifica aos homens que todos, em toda parte, se arrependam]. Quem ama seu próximo não o deixa caminhar rumo ao precipício sem, no mínimo, avisá-lo ou tentar segurá-lo. O amor bíblico não relaxa em ver alguém se destruindo.
O cerne do problema era que havia muito do que se envergonhar, e a única solução para sua vergonha era um arrependimento coletivo, porque havia muitos pecados em curso. Era necessário que todo o povo clamasse por perdão - uns pecaram agindo, outros se omitindo, mas havia a absoluta necessidade de se humilharem em busca do perdão [II Cr 7:14: ...se o meu povo, que se chama pelo meu nome, se humilhar, e orar, e me buscar, e se converter dos seus maus caminhos, então, eu ouvirei dos céus, perdoarei os seus pecados e sararei a sua terra].
Como poderia aquela Igreja ter o poder do qual Paulo falava aos gregos tessalonicenses [I Ts 1.5: ...porque o nosso evangelho não chegou até vós tão-somente em palavra, mas, sobretudo, em poder, no Espírito Santo e em plena convicção, assim como sabeis ter sido o nosso procedimento entre vós e por amor de vós] se não tinham vida que demonstravam intimidade com o Espírito que santifica? Paulo não separa o poder do Espírito de uma vida espiritualmente sadia, moralmente aceitável. E é impressionante que o procedimento da Igreja estava causando vergonha até mesmo para os ímpios habitantes de Corinto.
Aqueles que deveriam espelhar santidade estavam fazendo justamente o contrário.
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