terça-feira, 23 de outubro de 2012

MARCELO MADUREIRA: PORQUE EU VOTARIA NO SERRA PARA PREFEITO DE SÃO PAULO

antiptCOPIEI, É VERDADE, MAS DOU O CRÉDITO: Reinaldo Azevedo, Jornalista, publicou este texto do humorista Marcelo Madureira, que faz piada de verdade, não as de salão do Marcos Valério, Lula, Delúbio, Dirceu e Cia.

O Brasil é um país complicado. Por um lado, a democracia dá um salto de qualidade, impulsionada pela ação do Supremo Tribunal Federal no julgamento do mensalão. Do outro lado, assistimos nestas eleições de 2012, mais uma vez, articulações de forças intestinas na direção do atraso, do patrimonialismo autoritário e obscurantista. A cidade de São Paulo é a principal arena deste MMA político brasileiro. Queira ou não queira, o segundo turno paulistano, como sempre, alcança dimensão nacional. São Paulo não é só a nossa maior metrópole, mas também, por sua multiplicidade, uma síntese do Brasil. Além da gestão da cidade, o que esta em jogo são dois projetos políticos distintos e antípodas.

Coerente com o perfil autoritário do ex-presidente Lula, o candidato Fernando Haddad, enfiado goela a dentro do PT, dá continuidade ao projeto lulista. Esse lulismo traz dentro de si tudo aquilo que a civilização brasileira quer transformar em página virada. O projeto caudilhesco de Lula usa o aparelhamento do Estado, a demagogia populista e não contempla uma transformação virtuosa da sociedade brasileira. Fernando Haddad é mais uma peça desse projeto. Projeto que tem como único arcabouço “ideológico” o poder pelo poder, a qualquer preço, e com as alianças com aquilo de pior que existe na política brasileira. E a lista é grande: são Malufes, Sarneys, Barbalhos, Calheiros, Collors e Valdemares Costa Neto. Está nos autos. O mensalão foi um atentado à democracia brasileira. Uma traição explícita à Constituição, pedra fundamental do Estado de Direito que, no ato de posse, o presidente jura manter, proteger e cumprir.

Mas palavra de honra não me parece que seja coisa para se levar em conta no lulismo. Para Lula e os seus áulicos, a democracia é um valor burguês, uma figura de retórica a ser utilizada segundo a conveniência do momento. O povo de São Paulo, guardião intransigente da Constituição brasileira, honrando o movimento constitucionalista de 1932, tem o dever de derrotar esse projeto político.

José Serra pode não ser um candidato simpático. Muito pelo contrário. O ex-governador de São Paulo Mário Covas também não era. Mas, como o saudoso Covas, Serra já provou mais de uma vez retidão e competência na gestão da coisa pública, e isso é o mais importante. O eleito, afinal, não vai ganhar um programa de humor, mas uma prefeitura para administrar. A única lembrança que Haddad deixou do seu período à frente do Ministério da Educação, por outro lado, foi a sua desastrosa gestão do Enem, com fraudes e erros de organização que prejudicaram milhões de alunos em um momento crucial das suas vidas. Desnecessário dizer que, se votasse em São Paulo, votaria no Serra. Subtraindo seus defeitos e somando as suas virtudes, José Serra é a melhor alternativa.

Inclusive acredito que o compromisso que o candidato tucano propõe aos paulistanos não será interrompido por uma eventual candidatura à presidência, como tanto se comenta. Serra sabe que o seu sonho com o Planalto já passou e que a oposição brasileira, em nível nacional, pede novos protagonistas.

Caramba! Nunca escrevi tão sério! Deve ser a influência do Serra…

UMA PALAVRINHA: Por princípio, jamais votaria em qualquer candidato petista porque estão comprometidos com tudo  o que não presta: roubo, falcatrua, aborto, censura, tráfico de influência e drogas…

sexta-feira, 19 de outubro de 2012

DA COMPLETA DERROTA PARA A MAIS EXULTANTE VITÓRIA

117 O só existir entre vós demandas já é completa derrota para vós outros. Por que não sofreis, antes, a injustiça? Por que não sofreis, antes, o dano? 8 Mas vós mesmos fazeis a injustiça e fazeis o dano, e isto aos próprios irmãos! 9 Ou não sabeis que os injustos não herdarão o reino de Deus? Não vos enganeis: nem impuros, nem idólatras, nem adúlteros, nem efeminados, nem sodomitas, 10 nem ladrões, nem avarentos, nem bêbados, nem maldizentes, nem roubadores herdarão o reino de Deus. 11 Tais fostes alguns de vós; mas vós vos lavastes, mas fostes santificados, mas fostes justificados em o nome do Senhor Jesus Cristo e no Espírito do nosso Deus.

I Co 6.7-11

Há alguns anos uma pequena cidade no interior do nordeste viu sua rotina ser alterada drasticamente. Corria o boato de que um morador havia ganho uma quantia vultosa na loteria. Cidade pequena, logo todos sabiam quem era o ganhador. E ele correu a curtir a vida, tinha muito dinheiro, comprou carros, logo abriu uma rede de padarias na cidade e tudo ia bem... até que, inesperadamente, ele ficou numa situação financeira extremamente delicada por obra de um plano governamental. Seu dinheiro ficou retido, suas empresas ficaram sem condições de pagar os fornecedores, e começaram a fechar, uma após a outra. Logo o ex-pobre se tornou um ex-novo rico... nunca mais conseguiu se recuperar, e hoje sobrevive com poucos recursos, suficientes mas não mais abundantes. De vencedor, passou a ser mais um perdedor – sua fortuna era terrena, e aqui os ladrões roubam, mesmo aqueles que usam colarinhos brancos e recebem grande quantidade de votos. Roubam em nome do povo, mas roubam – e roubam muito. O problema em Corinto era parecido. Foram resgatados do reino das trevas para o reino do amor de Deus [Cl 1.13: Ele nos libertou do império das trevas e nos transportou para o reino do Filho do seu amor] mas estavam voltando para o lamaçal, como porcas lavadas [II Pe 2.22: Com eles aconteceu o que diz certo adágio verdadeiro: O cão voltou ao seu próprio vômito; e: A porca lavada voltou a revolver-se no lamaçal].

Porque isto era assim?

7 O só existir entre vós demandas já é completa derrota para vós outros. Por que não sofreis, antes, a injustiça? Por que não sofreis, antes, o dano?

Porque a Igreja em Corinto não podia ser vencedora, apesar de ter sido enriquecida em toda sorte de bênçãos, na palavra, no conhecimento do Senhor Jesus [I Co 1.5: ...porque, em tudo, fostes enriquecidos nele, em toda a palavra e em todo o conhecimento]? Não eram, afinal, mais que vencedores em Cristo Jesus como todos os demais cristãos [Rm 8:37: Em todas estas coisas, porém, somos mais que vencedores, por meio daquele que nos amou]? A questão é que, para ser mais que vencedor, tem que ser por meio de Cristo, não à parte de Cristo, não fazendo o que o ofende.

Paulo usa uma expressão forte para informar qual era o real estado da Igreja em Corinto. Embora eles se julgassem ricos, poderosos, nobres, moradores em uma das melhores e mais influentes cidades da Ásia Menor eles não sabiam realmente como o Senhor os via – e Paulo lhes informa, sob inspiração do Espírito Santo como eles realmente esteavam: eles estavam em completa derrota porque, fosse quem fosse o vencedor em suas contendas internas e externas, o perdedor sofreria o dano, o pretenso vencedor perderia espiritualmente por estar ferindo o corpo de Cristo e todos sofreriam por causa do mau testemunho.

É como se Paulo estivesse tirando as mascaras dos coríntios para que eles vissem quem eles eram [crentes], como estavam agindo [ímpios] e como deveriam agir [santos]. Ele oferecia-lhes um novo ponto de vista, novos óculos para que pudessem enxergar a realidade. Não os óculos da fantasia, da presunção, da arrogância e da soberba – mas os óculos do Espírito Santo.

Paulo mostra diversos motivos pelos quais a Igreja estava em completa derrota:

CHEIA DE CONTENDAS

A Igreja estava derrotada porque não cumpria o mandamento de Jesus quanto às contendas [Mt 5.39-41: Eu, porém, vos digo: não resistais ao perverso; mas, a qualquer que te ferir na face direita, volta-lhe também a outra; e, ao que quer demandar contigo e tirar-te a túnica, deixa-lhe também a capa. Se alguém te obrigar a andar uma milha, vai com ele duas]. Os coríntios, como cidadãos romanos, estavam acostumados a recorrer aos tribunais – e, convertidos, saíram do paganismo mas muito do paganismo ainda permanecia neles.

Ninguém gosta de sofrer – ninguém gosta de ser machucado, a menos que seja doente, que seja masoquista. Entretanto, o Senhor está ensinando a mostrar que o cristão é diferente – ao invés de resistir pela força insiste com o amor [Rm 12:21: Não te deixes vencer do mal, mas vence o mal com o bem]. Seu exemplo é o mais perfeito exemplo. Injuriado, não elevou a voz. Sendo Senhor do céu e da terra, não clamou pelo auxílio dos seus anjos [Mt 26.53: Acaso, pensas que não posso rogar a meu Pai, e ele me mandaria neste momento mais de doze legiões de anjos?] o caminho mais fácil era o da resistência, do confronto, do enfrentamento. Jesus preferiu o da obediência à vontade de seu pai.

Lembro-me de uma antiga história sobre um sábio chinês, preso durante a ocupação japonesa. Ele foi acusado injustamente, apareceram várias testemunhas de acusação, todas mentirosas. Quando ele era levado para o lugar onde seria morto, sua mulher chorava chamando a atenção de todos. Ele, então, pergunta à mulher: "Por que choras"?, ao que ela responde: "Por que morrerás sendo inocente", ao que ele retruca: "Preferias que eu morresse sendo culpado?". Para Jesus, sofrer sendo justo não é motivo de tristeza, mas de júbilo. Ser perseguido por causa da justiça é ser equiparado aos profetas e fonte de grande alegria e galardão [Mt 5.11: Bem-aventurados sois quando, por minha causa, vos injuriarem, e vos perseguirem, e, mentindo, disserem todo mal contra vós. Regozijai-vos e exultai, porque é grande o vosso galardão nos céus; pois assim perseguiram aos profetas que viveram antes de vós].

Não pode o cristão é sofrer como bandido – os tais não herdarão o reino dos céus [I Pe 4.15-16: Não sofra, porém, nenhum de vós como assassino, ou ladrão, ou malfeitor, ou como quem se intromete em negócios de outrem; mas, se sofrer como cristão, não se envergonhe disso; antes, glorifique a Deus com esse nome].

A derrota da Igreja era devido ao fato que não havia disposição para sofrer por causa da justiça – havia, pelo contrário, o desejo do justiçamento, e isto ao ponto de comprometer o testemunho da Igreja tanto no que se refere à unidade quanto à pureza, pois estavam aceitando, para provar seus pontos de vista, assentarem-se na mesa dos demônios, usufruindo do seu ignóbil cálice.

CHEIA DE MALDADE

8 Mas vós mesmos fazeis a injustiça e fazeis o dano, e isto aos próprios irmãos!

A derrota também se devia ao fato de que cada membro da Igreja não apenas lutava mais por seus próprios interesses pessoais que pelo evangelho e por isso seu testemunho era francamente negativo, mas, também, pelo fato de ter se tornado um lugar onde irmãos estavam lutando, ferrenhamente, contra os próprios irmãos.

Tanta energia estava sendo gasta neste processo de ser vencedor na Igreja e não em Cristo que não sobrava energias para lutar contra o pecado, estavam de tal forma debilitados e feridos, sangrando por suas próprias mordidas [Gl 5.15: Se vós, porém, vos mordeis e devorais uns aos outros, vede que não sejais mutuamente destruídos] que não lhes sobrava qualquer folego para lutar ao lado de Jesus. Ao invés de ajudar, atrapalhavam, ao invés de contribuir, eram adversários [Mt 12.30: Quem não é por mim é contra mim; e quem comigo não ajunta espalha].

Os coríntios queriam vencer suas lutas, queriam ganhar suas próprias batalhas, esquecendo-se que, mesmo que ganhassem o mundo inteiro, estavam colocando em risco de dano algo muito, muito mais precioso [Lc 9.25: Que aproveita ao homem ganhar o mundo inteiro, se vier a perder-se ou a causar dano a si mesmo?].

Para Paulo não importava quem tinha direitos ao recorrer aos tribunais –o ponto fundamental era que nenhum deles estava correto ao adotar procedimentos jurídicos contra irmãos. O erro não era, como dizem nos tribunais, de jus, mas de praxis. Não era quem tinha direitos, era como eles estavam sendo buscados, e o fato de eles serem colocados acima da unidade da Igreja de Cristo – estabelecida pelo seu precioso sangue.

Isto era causar dano à Igreja do Senhor, causar dano ao corpo de Cristo, ao templo do Espírito Santo – e ele já havia advertido estes mesmos coríntios do que aconteceria com aqueles que assim procedessem [I Co 3.17: Se alguém destruir o santuário de Deus, Deus o destruirá; porque o santuário de Deus, que sois vós, é sagrado].

Quando um cristão entrava em um tribunal gentio ele já entrava como um derrotado, a menos que fosse para proclamar que Jesus Cristo é o Senhor, e não o imperador – mas, para entrar assim, ele entraria como acusado, como réu, sua vitória só seria possível se ele ali entrasse algemado. Só saía de lá vencedor se a gloria fosse dada ao Senhor da justiça, ao único justo [Is 51.7: Ouvi-me, vós que conheceis a justiça, vós, povo em cujo coração está a minha lei; não temais o opróbrio dos homens, nem vos turbeis por causa das suas injúrias], e nenhuma oferenda prestasse aos deuses pagãos.

Quando dois cristãos compareciam a um destes tribunais em contenda um contra o outro ambos eram perdedores, e levavam consigo a Igreja, maculando sua pureza e prejudicando seu testemunho. Ali não mais estavam cristãos sofrendo por sua fé [Jo 16.33: Estas coisas vos tenho dito para que tenhais paz em mim. No mundo, passais por aflições; mas tende bom ânimo; eu venci o mundo], mas pecadores buscando seus interesses pessoais e lutando contra a unidade que o Senhor veio estabelecer e ordena aos seus discípulos que se esforcem por preservar [Jd 1.3: Amados, quando empregava toda a diligência em escrever-vos acerca da nossa comum salvação, foi que me senti obrigado a corresponder-me convosco, exortando-vos a batalhardes, diligentemente, pela fé que uma vez por todas foi entregue aos santos]. Agiam assim porque lhes faltava humildade e mansidão, não estavam dispostos a dar aos irmãos o suporte amoroso que o Senhor exige dos seus [Ef 4.2-3: ...com toda a humildade e mansidão, com longanimidade, suportando-vos uns aos outros em amor, esforçando-vos diligentemente por preservar a unidade do Espírito no vínculo da paz].

O que se via em Corinto era algo diferente do que se esperava dos cristãos. Não eram ímpios a causarem danos aos cristãos. Irmãos oprimindo ao seu próximo. Não sabemos qual era o teor do processo [ou dos processos] que os levava aos tribunais, mas de uma coisa podemos ter certeza: eram questões terrenas [I Co 6.4: Entretanto, vós, quando tendes a julgar negócios terrenos, constituís um tribunal daqueles que não têm nenhuma aceitação na igreja].

Por desejarem demais as coisas terrenas [Fp 3.19: O destino deles é a perdição, o deus deles é o ventre, e a glória deles está na sua infâmia, visto que só se preocupam com as coisas terrenas] e passageiras [I Jo 2.17: Ora, o mundo passa, bem como a sua concupiscência; aquele, porém, que faz a vontade de Deus permanece eternamente] que não deviam ser amadas o amor fraternal era esquecido, a unidade da Igreja era quebrada.

Os coríntios iam além da quebra do mandamento de amar ao próximo [Mc 12.33: ...e que amar a Deus de todo o coração e de todo o entendimento e de toda a força, e amar ao próximo como a si mesmo excede a todos os holocaustos e sacrifícios]... avançavam muito além da quebra do mandamento [Jo 13.34: Novo mandamento vos dou: que vos ameis uns aos outros; assim como eu vos amei, que também vos ameis uns aos outros] probatório da obediência e amor a Jesus [Jo 13.35: Nisto conhecerão todos que sois meus discípulos: se tiverdes amor uns aos outros] aos olhos de todos, inclusive dos incrédulos.

Mas ali os crentes não apenas não se amavam, não apenas rejeitavam a ideia de sofrer dano como iam além, causando, eles mesmos, danos aos demais membros do corpo [I Co 12.26: De maneira que, se um membro sofre, todos sofrem com ele; e, se um deles é honrado, com ele todos se regozijam].

Há muitos anos fui fazer uma visita em uma fazenda, no interior de uma pequena cidade na Bahia, e deparei-me com uma situação curiosa: um cachorro tinha a sua boca presa por uma focinheira, e o que restava de sal pata traseira direita estava enrolada em folhas de bananeira. Fiquei curioso e perguntei o porque daquilo, e o dono me disse que era para que o próprio cão não comesse a perna ferida. Isto é algo anormal, não costuma acontecer – mas estava acontecendo e era espantoso e foi necessária a intervenção do dono do cão para que ele não se matasse aos poucos.

Quando Paulo escreve aos coríntios não era anormal um cristão ser injustiçado. Mas não era aceitável que o causador do dano fosse outro cristão. A tendência verificada em Corinto, de que uma Igreja de vida tranquila, próspera, gozando de relativo poder veja surgir em seu meio atitudes como essas vai se verificar na Igreja, em outras ocasiões, como aconteceu com Diótrefes [III Jo 1.9: Escrevi alguma coisa à igreja; mas Diótrefes, que gosta de exercer a primazia entre eles, não nos dá acolhida] ou, ao longo da sua historia, quando o cristianismo se tornou a religião oficial do império, perseguindo e matando gentios e especialmente cristãos que pensassem diferente da Igreja estabelecida; ou ainda nas cruzadas, algumas delas se esquecendo dos muçulmanos e perseguindo os próprios cristãos a ponto de destruir Constantinopla, a capital do império romano do oriente, literalmente abrindo as portas da Europa para a invasão destes mesmos muçulmanos; ou ainda a famigerada inquisição que tantos cristãos levou às fogueiras, alguns pelo simples crime de carregarem uma bíblia consigo e quererem viver em obediência ao que ali conseguiam ler. Até mesmo os protestantes incorreram neste mesmo erro em mais de uma ocasião.

Historicamente podemos ver o grande mal que a cristandade causou a si mesma com as suas perseguições internas. Espiritualmente é a mesma coisa. A Igreja de Corinto estava dividida. Suas disputas internas a enfraqueceram. Eram objeto de escárnio e não estavam se dando conta do fato que perderam o poder de testemunhar do amor salvador de Jesus. Possuíam gente capaz de discursos inflamados e poderosos, impressionantes, mas vazios de poder espiritual, por isso estavam dando tanta ênfase à filosofia e pouca à graça do Espírito.

Se já era absurdo um cristão recorrer a um tribunal romano, pelas implicações sociais e espirituais com a idolatria aos ídolos pagãos, Paulo considera totalmente inimaginável um irmão fazer isso contra outros irmãos, acusando uma parte do corpo de Cristo diante de demônios. É como se a mão, que não sente o ardor da pimenta, levasse-a aos olhos intencionalmente. Se isto lhe parece um absurdo, então você está certo: é realmente um absurdo, mas era o que estava acontecendo em Corinto.

Era uma espécie de auto envenenamento, de autodestruição. A casa coríntia estava dividida – e dividida como estava não podia subsistir [Mt 12.25: Jesus, porém, conhecendo-lhes os pensamentos, disse: Todo reino dividido contra si mesmo ficará deserto, e toda cidade ou casa dividida contra si mesma não subsistirá]. Conhecedores desta verdade os romanos conquistaram o mundo antigo. Seu lema era "divida para conquistar". Eles faziam com que os povos se mantivessem divididos, e assim permaneciam frágeis, sendo presas fáceis para seus exércitos.

O inimigo da Igreja sabe muito bem disto. Sente prazer em ver a Igreja dividida para mais facilmente feri-la, ainda que não possa destruí-la. Certa vez, no Paraná, conheci uma pessoas que influenciavam a existência de vários grupos dentro da Igreja, promovendo divisões e, sendo, sempre, "amigos e parceiros" de cada um destes grupos, uns contra os outros.

Ficava muito fácil manipular os grupos – e assim controlar a Igreja. Um dia sua estratégia foi descoberta, perderam influência e deixaram de controlar a Igreja – preferiram, logo depois, deixa-la, não sem antes causar enorme estrago no seio da comunidade que até o dia de hoje ainda não se recuperou.

Ali foi possível ver com clareza a verdade bíblica de que uma casa dividida não pode subsistir. Por outro lado também encontramos exemplos na bíblia de um grupo que tinha tudo para dar errado. Era composto por proscritos, fugitivos, homens de espírito amargurado [I Sm 22.2: Ajuntaram-se a ele todos os homens que se achavam em aperto, e todo homem endividado, e todos os amargurados de espírito, e ele se fez chefe deles; e eram com ele uns quatrocentos homens] mas unidos, prontos a se protegerem sob a liderança de Davi a ponto de se tornarem, anos mais tarde, grandes líderes do povo de Deus.

Aqueles amargurados não apenas se protegiam mas também abençoavam as cidades por onde viviam. Sofriam injustiça e perseguição, e revidavam com cuidados. Tinham especial amor pelos demais membros do povo de Deus faziam o bem a todos, cuidavam de sua família de fé.

CHEIA DE INJUSTIÇA EM BUSCA DE COISAS TERRENAS

9 Ou não sabeis que os injustos não herdarão o reino de Deus? Não vos enganeis: nem impuros, nem idólatras, nem adúlteros, nem efeminados, nem sodomitas, 10 nem ladrões, nem avarentos, nem bêbados, nem maldizentes, nem roubadores herdarão o reino de Deus.

Paulo faz um agudo contraste entre o que os coríntios buscavam nos tribunais pagãos, coisas terrenas, e o que Deus daria com absoluta justiça a cada um deles. Uma tradução literal do verso 9 diz que "não sabem que de Deus os injustos não ganharam seu reino". Qual era a suprema aspiração dos coríntios? O que ocupava seus desejos? Em que tesouros estava seu coração [Mt 6.19-21: Não acumuleis para vós outros tesouros sobre a terra, onde a traça e a ferrugem corroem e onde ladrões escavam e roubam; mas ajuntai para vós outros tesouros no céu, onde traça nem ferrugem corrói, e onde ladrões não escavam, nem roubam; porque, onde está o teu tesouro, aí estará também o teu coração].

Por causa de seu mundanismo, sede de poder e outras coisas que não é necessário mencionar novamente, eles estavam agindo sem a justiça de Deus, sem a única justiça que realmente importava [Rm 5.1: Justificados, pois, mediante a fé, temos paz com Deus por meio de nosso Senhor Jesus Cristo]. Como injustos, recorriam à justiça dos injustos, aos métodos dos injustos, e só podiam receber a recompensa dos injustos: poder, filosofia, honra e tesouros terrenos.

Mas, e no reino de Deus, o que eles receberiam? O que podiam esperar daquele Deus que dos céus se inclina para ver o que fazem os filhos dos homens [Sl 113.5-6: Quem há semelhante ao SENHOR, nosso Deus, cujo trono está nas alturas, que se inclina para ver o que se passa no céu e sobre a terra?] e que a cada um retribui segundo as suas obras [Jó 34.11: Pois retribui ao homem segundo as suas obras e faz que a cada um toque segundo o seu caminho]?

Paulo lembra-lhes que os praticantes de impurezas sexuais, idolatria, adultérios, homossexualismo [tanto ativo quanto passivo, masculino ou feminino], roubos, avareza ou bebedices, ladrões de bens ou da honra alheia [maldizentes] não receberiam nada do reino de Deus.

Não sabemos se todos estes pecados eram encontrados na Igreja de Corinto, mas eles eram livremente praticados na cidade. O que fica claro é a natureza da ação injusta – todas, não importando o nome, eram igualmente reprováveis – e os amantes e praticantes da injustiça [Ap 22.15: Fora ficam os cães, os feiticeiros, os impuros, os assassinos, os idólatras e todo aquele que ama e pratica a mentira] evidenciavam o que lhes ia no coração.

Por amor a si mesmo e ao mundo evidenciavam desamor para com Deus. Podemos ver isso no caso do próprio Paulo: amava sua religião, era extremamente zeloso [Gl 1.14: E, na minha nação, quanto ao judaísmo, avantajava-me a muitos da minha idade, sendo extremamente zeloso das tradições de meus pais], mas seus valores precisavam ser revistos [Fp 3.7: Mas o que, para mim, era lucro, isto considerei perda por causa de Cristo].

Paulo consente na morte de Estevão e passa a perseguir a Igreja. Mas quando alguém faz mal à Igreja na verdade está fazendo mal ao cabeça da Igreja, ao seu Senhor: perseguindo a Igreja, Paulo perseguia, na verdade, ao Senhor Jesus [At 22.7-8: Então, caí por terra, ouvindo uma voz que me dizia: Saulo, Saulo, por que me persegues? Perguntei: quem és tu, Senhor? Ao que me respondeu: Eu sou Jesus, o Nazareno, a quem tu persegues].

No entanto, esta Igreja, apesar de encontrar-se em completa derrota, apesar de não poder levantar-se, podia ser, ainda, levantada – como se fora um toco, a santa semente ainda podia germinar pela graça de Deus [Is 6.13: Mas, se ainda ficar a décima parte dela, tornará a ser destruída. Como terebinto e como carvalho, dos quais, depois de derribados, ainda fica o toco, assim a santa semente é o seu toco], como um vale de ossos secos aos quais os homens desprezariam, ainda podia haver vida se o Senhor resolvesse glorificar o seu nome ali [Ez 37.11-13: Então, me disse: Filho do homem, estes ossos são toda a casa de Israel. Eis que dizem: Os nossos ossos se secaram, e pereceu a nossa esperança; estamos de todo exterminados. Portanto, profetiza e dize-lhes: Assim diz o SENHOR Deus: Eis que abrirei a vossa sepultura, e vos farei sair dela, ó povo meu, e vos trarei à terra de Israel. Sabereis que eu sou o SENHOR, quando eu abrir a vossa sepultura e vos fizer sair dela, ó povo meu].

ALVO DA GRAÇA DE DEUS PARA SEREM DIFERENTES

11 Tais fostes alguns de vós; mas vós vos lavastes, mas fostes santificados, mas fostes justificados em o nome do Senhor Jesus Cristo e no Espírito do nosso Deus.

Diante dos coríntios Paulo coloca um quadro tenebroso dos que são destinados a ficarem de fora do reino de Deus, e lhes pergunta: vocês conhecem estas práticas? Vocês reconhecem tais práticas? Vocês não tem vergonha delas? Vocês não se lembram de que Deus lhes tirou destas práticas para que vocês fossem diferentes, zelosos de boas obras [Tt 2.14: ...o qual a si mesmo se deu por nós, a fim de remir-nos de toda iniqüidade e purificar, para si mesmo, um povo exclusivamente seu, zeloso de boas obras].

A lista de pecados dos quais os coríntios foram remidos é extensa – e os coríntios sabiam bem quem havia sido o que, em qual ou quais pecados cada um deles se sobressaia. Não era difícil encontrar praticantes de injustiças [ou, mais precisamente, destituídos da justiça de Cristo] em Corinto – a ênfase é no caráter destas pessoas, não necessariamente no que faziam. E esta injustiça era agravada por uma entrega ao pecado que estava arraigado na cultura daquela região, porque Corinto era um entreposto comercial, e nestes lugares os comerciantes deixam não apenas mercadorias, mas conceitos, práticas, pecados. É impossível que tais pessoas entrem na posse do reino de Deus, que é essencialmente santo. Deus não dará o seu tesouro a quem não pode usufruí-lo, não dará suas pérolas aos porcos [Mt 7.6: Não deis aos cães o que é santo, nem lanceis ante os porcos as vossas pérolas, para que não as pisem com os pés e, voltando-se, vos dilacerem]. Porcos querem porcarias, e disso Corinto estava repleta.

A impureza sexual era o principal produto de exportação coríntio. A cidade era famosa – corintianizar significava sucumbir à mais baixa moralidade possível. Não é de se surpreender que impuros e idólatras fossem encontrados ali em grande abundância. A idolatria, quanto mais avança, faz-se acompanhar de baixos padrões de moralidade, e não é sem razão que o culto idólatra é colocado no mesmo nível de qualidade de demonolatria [I Co 10.20: Antes, digo que as coisas que eles sacrificam, é a demônios que as sacrificam e não a Deus; e eu não quero que vos torneis associados aos demônios]. A primeira parte da lista dos quais os coríntios faziam parte trata essencialmente das imoralidades sexuais associadas ao culto pagão reinante naquele lugar [adultério, travestismo e homossexualismo].

A segunda parte da lista trata das relações interpessoais num ambiente de rapinagem comercial. Ali havia de tudo. Desde pequenos ladrões a pessoas dominadas pelo desejo de ter cada vez mais, avarentos e roubadores. Todos estes amam o mundo e as coisas que há no mundo [I Jo 2.15: Não ameis o mundo nem as coisas que há no mundo. Se alguém amar o mundo, o amor do Pai não está nele] evidenciando que não tem qualquer tipo de relacionamento com o pai. Seu coração está onde está o seu tesouro, e o seu tesouro não está no céu [Mt 6.19-21: Não acumuleis para vós outros tesouros sobre a terra, onde a traça e a ferrugem corroem e onde ladrões escavam e roubam; mas ajuntai para vós outros tesouros no céu, onde traça nem ferrugem corrói, e onde ladrões não escavam, nem roubam; porque, onde está o teu tesouro, aí estará também o teu coração]. O que torna o problema ainda maior é que eles eram os ladrões – e não roubavam apenas objetos, iam até onde podiam, roubando até a honra daqueles contra quem lançavam os dejetos que enchiam seus corações [Lc 6.45: O homem bom do bom tesouro do coração tira o bem, e o mau do mau tesouro tira o mal; porque a boca fala do que está cheio o coração].

Mas Paulo pretende salientar não o passado dos coríntios – ele afirma que eles foram daquela maneira. Mas já não eram mais, como lhes diz na sua segunda carta [II Co 5.17: E, assim, se alguém está em Cristo, é nova criatura; as coisas antigas já passaram; eis que se fizeram novas]. A solução para a triste situação da Igreja coríntia era eles se lembrarem de quem eram, mas não para ficarem se lamentando pelo que foram [Ef 4.22-24: ...no sentido de que, quanto ao trato passado, vos despojeis do velho homem, que se corrompe segundo as concupiscências do engano, e vos renoveis no espírito do vosso entendimento, e vos revistais do novo homem, criado segundo Deus, em justiça e retidão procedentes da verdade] mas o que fariam dali pra frente [Ef 4.25: Por isso, deixando a mentira, fale cada um a verdade com o seu próximo, porque somos membros uns dos outros]. Eles já não eram mais os impuros – pois foram lavados pelo lavar regenerador do Espírito [Tt 3.5: ...não por obras de justiça praticadas por nós, mas segundo sua misericórdia, ele nos salvou mediante o lavar regenerador e renovador do Espírito Santo]. Já não eram mais os ímpios – pois foram santificados em Cristo Jesus, como Paulo já lhes havida dito [I Co 1.2: ...à igreja de Deus que está em Corinto, aos santificados em Cristo Jesus, chamados para ser santos, com todos os que em todo lugar invocam o nome de nosso Senhor Jesus Cristo, Senhor deles e nosso]. Sua impureza e impiedade foram removidas porque o próprio Deus os declarou justos [Rm 8.33: Quem intentará acusação contra os eleitos de Deus? É Deus quem os justifica] numa sentença contra a qual não cabe apelação de maneira alguma [Jó 11.10: Se ele passa, prende a alguém e chama a juízo, quem o poderá impedir?].

É a vitória que Cristo dá aos seus [I Jo 5.5: ...porque todo o que é nascido de Deus vence o mundo; e esta é a vitória que vence o mundo: a nossa fé. Quem é o que vence o mundo, senão aquele que crê ser Jesus o Filho de Deus?] , que os capacita a vencer o pecado [I Co 15.57: Graças a Deus, que nos dá a vitória por intermédio de nosso Senhor Jesus Cristo.] que os assedia tão feroz e constantemente [Hb 12.1: Portanto, também nós, visto que temos a rodear-nos tão grande nuvem de testemunhas, desembaraçando-nos de todo peso e do pecado que tenazmente nos assedia, corramos, com perseverança, a carreira que nos está proposta,] que faz deles mais que vencedores [Rm 8.37: Em todas estas coisas, porém, somos mais que vencedores, por meio daquele que nos amou].

Por Cristo o crente pode bradar em alto e bom som que a morte foi vencida, que ela foi derrotada [I Co 15.55: Onde está, ó morte, a tua vitória? Onde está, ó morte, o teu aguilhão?] que a vitória foi definitiva e completamente alcançada na cruz do calvário [Cl 2.15: ...e, despojando os principados e as potestades, publicamente os expôs ao desprezo, triunfando deles na cruz].

PRINCÍPIOS DIVINOS PARA TER UMA FAMÍLIA ESTÁVEL NUM AMBIENTE HOSTIL

alianca10 Ora, aos casados, ordeno, não eu, mas o Senhor, que a mulher não se separe do marido 11 (se, porém, ela vier a separar-se, que não se case ou que se reconcilie com seu marido); e que o marido não se aparte de sua mulher.

12 Aos mais digo eu, não o Senhor: se algum irmão tem mulher incrédula, e esta consente em morar com ele, não a abandone; 13 e a mulher que tem marido incrédulo, e este consente em viver com ela, não deixe o marido. 14 Porque o marido incrédulo é santificado no convívio da esposa, e a esposa incrédula é santificada no convívio do marido crente. Doutra sorte, os vossos filhos seriam impuros; porém, agora, são santos.

15 Mas, se o descrente quiser apartar-se, que se aparte; em tais casos, não fica sujeito à servidão nem o irmão, nem a irmã; Deus vos tem chamado à paz. 16 Pois, como sabes, ó mulher, se salvarás teu marido? Ou, como sabes, ó marido, se salvarás tua mulher?

I Co 7.10-16

Estes não são os únicos princípios que podemos encontrar nas Escrituras. Com um pouco de cuidado podemos encontrar outros extremamente valiosos e que devem ser observados, como, por exemplo:

i. O marido assumir o seu papel como cabeça da família, líder que vai à frente, mostrando o caminho. Um cabeça que lidera com amor, amando sua esposa como Cristo ama a Igreja e deu a sua vida por ela [Ef 5.25: Maridos, amai vossa mulher, como também Cristo amou a igreja e a si mesmo se entregou por ela];

ii. A esposa como auxiliadora, liderada, seguindo seu marido e contribuindo para o bem estar do seu lar, submetendo-se ao seu esposo por causa do amor que recebe, como a Igreja é amorosamente obediente ao seu Senhor [Ef 5.22: As mulheres sejam submissas ao seu próprio marido, como ao Senhor; porque o marido é o cabeça da mulher, como também Cristo é o cabeça da igreja, sendo este mesmo o salvador do corpo];

iii. Ambos, esposo e esposa, criando os seus filhos no temor e na admoestação do Senhor [Ef 6.4: E vós, pais, não provoqueis vossos filhos à ira, mas criai-os na disciplina e na admoestação do Senhor] disciplinando-os de maneira bíblica e firme [Dt 8.5: Sabe, pois, no teu coração, que, como um homem disciplina a seu filho, assim te disciplina o SENHOR, teu Deus], cabendo ainda aos filhos honrar a seus pais [Dt 5.16: Honra a teu pai e a tua mãe, como o SENHOR, teu Deus, te ordenou, para que se prolonguem os teus dias e para que te vá bem na terra que o SENHOR, teu Deus, te dá].

Também há um outro principio que o cristão deve observar, mas que vem sendo cada dia mais frequentemente rejeitado, que é o de casar-se no Senhor [I Co 7.39: A mulher está ligada enquanto vive o marido; contudo, se falecer o marido, fica livre para casar com quem quiser, mas somente no Senhor]. Podemos ver que os judeus levavam esta ordem em consideração, com absoluta seriedade [Ed 9.12: Por isso, não dareis as vossas filhas a seus filhos, e suas filhas não tomareis para os vossos filhos, e jamais procurareis a paz e o bem desses povos; para que sejais fortes, e comais o melhor da terra, e a deixeis por herança a vossos filhos, para sempre], a ponto de verem uma tribo quase chegar à extinção [veja Juízes 21]. Também foi uma preocupação dos reformadores após o retorno do exílio sob Esdras e Neemias [Ed 9:1-2: Acabadas, pois, estas coisas, vieram ter comigo os príncipes, dizendo: O povo de Israel, e os sacerdotes, e os levitas não se separaram dos povos de outras terras com as suas abominações, isto é, dos cananeus, dos heteus, dos ferezeus, dos jebuseus, dos amonitas, dos moabitas, dos egípcios e dos amorreus, pois tomaram das suas filhas para si e para seus filhos, e, assim, se misturou a linhagem santa com os povos dessas terras, e até os príncipes e magistrados foram os primeiros nesta transgressão], que logo perceberam e decidiram consertar os danos morais e espirituais para uma nação que deveria ser santa [Ed 10.11: Agora, pois, fazei confissão ao SENHOR, Deus de vossos pais, e fazei o que é do seu agrado; separai-vos dos povos de outras terras e das mulheres estrangeiras], povo de propriedade exclusiva do Senhor [I Pe 2.9: Vós, porém, sois raça eleita, sacerdócio real, nação santa, povo de propriedade exclusiva de Deus, a fim de proclamardes as virtudes daquele que vos chamou das trevas para a sua maravilhosa luz] por quem ele pagou altíssimo preço [Ef 2.13: Mas, agora, em Cristo Jesus, vós, que antes estáveis longe, fostes aproximados pelo sangue de Cristo].

Estes são princípios que devem ser aplicados às famílias em todo o tempo, em toda e qualquer circunstância – são princípios eternos, oriundos da palavra eterna do Deus eterno, que tem apenas um projeto para seus filhos – um propósito eterno e imutável [Ef 3.11: ...segundo o eterno propósito que estabeleceu em Cristo Jesus, nosso Senhor,]. Um estudo no texto selecionado nos apresenta três princípios que devem ser observados pelos cristãos para que seu casamento não se torne uma fonte de tristeza, mas de alegria e, principalmente, de paz no Senhor.

I. O CASAMENTO É UMA ALIANÇA ESPIRITUAL E ETERNA

10 Ora, aos casados, ordeno, não eu, mas o Senhor, que a mulher não se separe do marido 11 (se, porém, ela vier a separar-se, que não se case ou que se reconcilie com seu marido); e que o marido não se aparte de sua mulher.

O primeiro princípio que o cristão deve manter em relação ao casamento é que ele é uma instituição divina. Ou, dito de outra maneira, um cristão, casado com uma cristã, entende que o casamento é mais que uma simples união física, mais do que uma união financeira, é o tornar-se um com o seu cônjuge numa união que é também espiritual, numa aliança feita em Deus, diante de Deus e sustentada por Deus que faz deles uma só carne [Mt 19.5: ...e que disse: Por esta causa deixará o homem pai e mãe e se unirá a sua mulher, tornando-se os dois uma só carne?]. Paulo afirma que a manutenção do matrimonio é uma ordenança do Senhor que deve ser cumprida [Mt 19.6: De modo que já não são mais dois, porém uma só carne. Portanto, o que Deus ajuntou não o separe o homem]. Ele ordena que a mulher não sofra a separação nem o homem seja apartado de sua mulher, por qualquer que seja o motivo. O verbo usado por Paulo está na voz passiva, isto é, o cristão é influenciado, sofre pressão para agir desta ou daquela maneira – não parte dele, embora seja responsável pelo que vier a fazer em consequência desta pressão. Podemos considerar que motivos externos podem servir de desculpas para uma separação, podem ser a causa, mas Paulo afirma que marido e mulher não podem sofrer esta influência deletéria.

A ordem bíblica é que o cristão sequer cogite deixar a pessoa com quem estabeleceu uma aliança para toda a vida. A indissolubilidade do casamento para o cristão também requer, se necessário e possível, a busca da restauração e reconciliação, o oferecimento do perdão, lançando todas as dívidas aos pés da cruz de Cristo.

Por ser uma questão de amor e obediência Paulo traz à tona a questão do perdão – em caso de separação entre cristãos, cabe as mesmos envidar todos os esforços para buscar a reconciliação, a restauração dos laços que, devendo ser eternos, foram quebrados por algum motivo mundano e terreno, portanto, passageiro.

Paulo não menciona a exceção permitida por Cristo [Mt 5.32: Eu, porém, vos digo: qualquer que repudiar sua mulher, exceto em caso de relações sexuais ilícitas, a expõe a tornar-se adúltera; e aquele que casar com a repudiada comete adultério] porque não está tratando do divórcio em si, mas da estabilidade do casamento e respondendo a uma pergunta específica dos coríntios – ademais, ele não precisava mais tratar da impureza sexual porque já havia mencionado antes que aquelas eram obras infrutíferas das trevas [Ef 5.11: E não sejais cúmplices nas obras infrutíferas das trevas; antes, porém, reprovai-as] com as quais os coríntios não deveriam, de modo algum, participar. Eles foram partícipes delas [I Co 6.11:Tais fostes alguns de vós; mas vós vos lavastes, mas fostes santificados, mas fostes justificados em o nome do Senhor Jesus Cristo e no Espírito do nosso Deus.] e viram que nenhum benefício obtiveram.

II. A NOVA FÉ É INSTRUMENTO PARA ABENÇOAR O CASAMENTO

12 Aos mais digo eu, não o Senhor: se algum irmão tem mulher incrédula, e esta consente em morar com ele, não a abandone; 13 e a mulher que tem marido incrédulo, e este consente em viver com ela, não deixe o marido. 14 Porque o marido incrédulo é santificado no convívio da esposa, e a esposa incrédula é santificada no convívio do marido crente. Doutra sorte, os vossos filhos seriam impuros; porém, agora, são santos.

O segundo princípio que o cristão deve considerar é que, se casado com um incrédulo, deve ser instrumento de Deus para abençoa-lo. A vida do cristão, casado com um incrédulo, é uma dura prova, pois ele é colocado diante de um juiz severo, que é ao mesmo tempo testemunha de acusação e promotor. Sabemos que é no lar onde é mais difícil ser perfeito, andando diante de Deus num testemunho constante [Gn 17.1: Quando atingiu Abrão a idade de noventa e nove anos, apareceu-lhe o SENHOR e disse-lhe: Eu sou o Deus Todo-Poderoso; anda na minha presença e sê perfeito]. É possível ser aparentemente perfeito e honesto no trabalho, ser aparentemente perfeito e agradável no lazer, ser aparentemente santo e perfeito no ambiente da Igreja, dentro dos muros santos. Mas ser testemunha em seu lar é muito difícil, mas é essencial ao homem cristão assumir a direção do seu lar com o firme propósito de conduzi-lo aos pés de Cristo como Senhor e cabeça; é essencial à mulher o testemunho submisso, obediente, pois isto agrada a Deus e é a conduta do cristão que cala os opositores, não a sua fala [I Pe 2.12: ...mantendo exemplar o vosso procedimento no meio dos gentios, para que, naquilo que falam contra vós outros como de malfeitores, observando-vos em vossas boas obras, glorifiquem a Deus no dia da visitação] demonstrando que a mulher cristã, mesmo que, muitas vezes, discorde do esposo, coloca a vontade de Deus acima da sua própria.

Embora Paulo não possa mencionar palavras diretas de Cristo sobre este assunto ele pode dar determinações à Igreja por considera ter, também ele, o Espírito de Cristo [I Co 7.40: Todavia, será mais feliz se permanecer viúva, segundo a minha opinião; e penso que também eu tenho o Espírito de Deus], isto é, ele também tem a autoridade apostólica [I Co 9.1: Não sou eu, porventura, livre? Não sou apóstolo? Não vi Jesus, nosso Senhor? Acaso, não sois fruto do meu trabalho no Senhor?] e a inspiração para orientar a Igreja em questões espirituais e até mesmo institucionais [I Co 7.17: Ande cada um segundo o Senhor lhe tem distribuído, cada um conforme Deus o tem chamado. É assim que ordeno em todas as igrejas]. Paulo está tratando de casais compostos por gentios que, no decorrer da sua caminhada matrimonial, viram um de seus cônjuges abraçarem a fé, enquanto o outro continua rejeitando-a. Em algumas situações os cristãos eram perseguidos até mesmo pelo próprio cônjuge, como atesta a história de Blandina [também chamada Brandina], cristã galesa do II séc. que, denunciada por seu marido e, embora frágil em sua constituição física, maltratada pelos carcereiros, mostrou-se uma gigante e não negou em absoluto a sua fé, morrendo sem negar o nome de Cristo, dando valioso testemunho para seus contemporâneos.

Para Paulo tais casamentos constituídos antes da conversão a Cristo, são considerados legalmente válidos, todavia, devem ser vistos em um grau de qualidade diferente, porque não podem ser ditos que foram feitos no Senhor [I Co 7.39: A mulher está ligada enquanto vive o marido; contudo, se falecer o marido, fica livre para casar com quem quiser, mas somente no Senhor]. Sua manutenção depende, em primeira análise, da atitude do inconverso. Cabe ao cristão fazer todo o esforço para que sua família seja mantida – todavia, no ambiente de perseguição que viviam, a decisão de apartar-se ou não caberia ao incrédulo. A atitude do cristão seria sempre amar a sua esposa ou ser submissa ao seu esposo – isto valia tanto para homem quanto para mulher. Se o incrédulo "considerava correto" manter-se casado com o convertido, cabe ao crente buscar santificar ao incrédulo, isto é, abençoa-lo não com a salvação [porque, afinal de contas, a conversão é fruto da ação do Espírito Santo – não por força ou por poder coercitivo humano [Zc 4.6: Prosseguiu ele e me disse: Esta é a palavra do SENHOR a Zorobabel: Não por força nem por poder, mas pelo meu Espírito, diz o SENHOR dos Exércitos.], mas com seu proceder justo]. As bênçãos de Deus seguem o cristão obediente [Dt 28.2: Se ouvires a voz do SENHOR, teu Deus, virão sobre ti e te alcançarão todas estas bênçãos] e inevitavelmente abençoam aqueles que estão sob sua influência – cônjuge e filhos, especialmente estes últimos, ainda mais quando criados segundo os ditames das Escrituras.

Se o incrédulo aceita viver com o cristão, mesmo quando este dá um testemunho eficiente, o cristão deve ver isto como uma oportunidade preciosa para falar e demonstrar o amor de Jesus por pecadores. Seu cônjuge é um campo missionário, próximo, constante, acessível – não deve o cristão desprezar esta preciosa oportunidade, tanto mais quanto amar o seu cônjuge.

III. A NOVA FÉ É CAMINHO DE LIBERDADE

15 Mas, se o descrente quiser apartar-se, que se aparte; em tais casos, não fica sujeito à servidão nem o irmão, nem a irmã; Deus vos tem chamado à paz. 16 Pois, como sabes, ó mulher, se salvarás teu marido? Ou, como sabes, ó marido, se salvarás tua mulher?

Ainda tratando do relacionamento de um casal em que um dos cônjuges tenha se convertido após o matrimonio, Paulo trata de outra possibilidade, que é a do cônjuge inconverso não desejar continuar casado com o cristão – afinal, são princípios e práticas absolutamente diferentes. Os coríntios podem ter perguntado a Paulo: E quando o incrédulo resolve separar-se? E quando testemunho de fé torna-se um obstáculo para que o inconverso consiga conviver com o santo? Não deve o cristão lamentar uma decisão tão drástica do cônjuge. O cristão tem a convicção de que o casamento é uma instituição de Deus – e a lei de Deus é imutável. Mas esta lei só é observada amorosamente pelos cristãos. Só assim conseguimos compreender as leis que regem o casamento e o divórcio. 

São as leis do nosso país, e como cidadãos nos submetemos a elas. Mas elas não são determinantes para nós – determinantes são as leis de Deus. É óbvio que as leis que regem o casamento, como um contrato social, são razoavelmente justas na medida em que o homem irregenerado consegue ser justo. Elas expressam leis naturais, preocupações naturais de homens naturais, não nascidos de novo. São acordos, contratos sociais que, como todo contrato, pode ser quebrado a qualquer momento.

Quando um incrédulo resolve romper a aliança, especialmente por causa da fé, ele faz o que lhe é natural, e em muitos casos, apesar da dor e do sofrimento, isto pode significar uma libertação de uma opressão espiritual e o chamado de Deus à paz.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Para o cristão é claro que aquilo que Deus uniu ninguém separará. Ele entende que o casamento é uma aliança eterna – e por isso o cristão deve ter paz no coração quando um incrédulo prefere seguir as suas próprias inclinações pecaminosas e dissolver o que deveria ser até a morte. Apesar das lutas e sofrimentos que são resultados da quebra de uma aliança como esta, devemos lembrar que o Senhor nos chama à paz, e só será destruído o que o Senhor permitir que seja destruído.

E ele só permitirá que seja destruído o que ele não edificou, o que não veio do seu coração. Deste modo o homem deve ser espelho, representante de Deus, embaixador de Cristo em seu lar, e a mulher deve ser no lar uma pequena amostra do que é a Igreja de Cristo: amada pelo seu Senhor, amorosa para com o seu Senhor, submissa à sua vontade mesmo quando isto contrarie a sua própria vontade.

O cristão sabe que sua família não lhe pertence, como bem lembra Jó [Jó 1.21: ...e disse: Nu saí do ventre de minha mãe e nu voltarei; o SENHOR o deu e o SENHOR o tomou; bendito seja o nome do SENHOR!]. O cristão sabe que nem ele mesmo se pertence, foi comprado por preço, é de Deus [I Co 6.20: Porque fostes comprados por preço. Agora, pois, glorificai a Deus no vosso corpo]. Assim o cristão tudo entrega nas mãos de Deus, e aguarda o resultado que ele haverá de dar.

UMA PALAVRA FINAL

O cristão que casou-se no Senhor deve buscar a glória de Deus através do seu casamento, lembrando que sua aliança é, antes de qualquer outra coisa, eterna e espiritual, ainda que tenha que ser vivenciada enquanto aguardamos a completitude de todas as coisas.

Aquele que, casado, converteu-se e tem como cônjuge um descrente deve viver para glorificar a Deus, testemunhando sempre que possível e com sabedoria das transformações espirituais e morais que o Senhor faz na vida dos seus.

Aquele que, casado, vê seu cônjuge resolver partir por intolerância para com a sua fé deve viver de tal maneira que Cristo seja glorificado, que o ímpio não tenha motivo para falar contra si nem contra seu Senhor – e confiar que Deus vai usar tudo e todos para sua própria glória.

quarta-feira, 17 de outubro de 2012

SANTIFICAÇÃO – UMA SIMPLES QUESTÃO DE ESCOLHA PESSOAL?

A01Definimos santificação como o processo de separação pessoal para o serviço e adoração do Deus verdadeiro. Outras definições são possíveis, mas por ora ficaremos com esta.

SANTIFICAÇÃO: ESCOLHA PESSOAL?

Há quem pense que a santificação é apenas uma questão de gosto pessoal. É como se quem gostasse de ser santo escolhesse a santidade, quem não gostasse pudesse continuar sem santificar-se. Mas escrituristicamente parece que não é este o caso [Lc 3.8].

Esta afirmação é baseada em algumas passagens que afirmam que o chamado do cristão é para ser santo. Esta santidade pode ser vista no chamado posicional, coletivo, pessoal e processual.

POSICIONAL OU JUDICIAL [DECLARATIVA]

Parte inteiramente de Deus, ao declarar que os pecados daqueles que ele escolheu em Cristo, desde antes da fundação do mundo, estão pagos por este mesmo Cristo [Sf 1.17]. Por santificação posicional refiro-me ao ato de Deus de declarar os seus eleitos não mais dignos da sua ira, separando-os para sua exclusiva glória. Neste ato não há a participação do homem, em momento algum. É fruto do conselho eterno e podemos definir como uma decisão de fazer. Como nada pode impedir Deus de executar sua vontade [nem mesmo a vontade do homem - Is 43.13; Jó 11.10] nem gerar mudança em Deus [Tg 1.17] podemos afirmar que este propósito de Deus [Rm 8.28] chegará à sua inevitável consecução.

COLETIVO OU COMUNITÁRIA

As Escrituras nos afirmam, abundantemente, que Deus chamou e separou um determinado número de pessoas com um objetivo: para que eles fossem povo santo [expressão que aparece 8 vezes no Antigo Testamento] ou nação santa [Ex 19.6; I Pe 2.9]. Outras expressões são usadas para definir o mesmo propósito, como exclusividade [Tt 2.14], testemunho [Is 43.10, 12; At 1.8]. Deus ordena a santificação coletiva [Lv 20.7, Js 3.5] e a intolerância com o pecado [At 3.23, Js 7.13].

PESSOAL OU INDIVIDUAL

Antes que alguém propusesse a teoria da influência do meio na consecução de pecados, isto é, ninguém consegue ser santo porque habita no meio de um povo impuro, o Senhor já nos dava algumas orientações quanto a isto, lembrando que a desculpa do meio é inaceitável [Is 6.5].

A santidade pessoal também é uma ordenança divina [Is 8.13; I Pe 1.16]. Não é uma questão de opção, isto é, é uma ordenança [Is 1.16] embora seja de escolha [Is 1.19] porque a negativa pessoal de tomar esta atitude gera conseqüências funestas [Is 1.20; Ez 36.20; Hb 10.29-31]. O que temos aqui é a Escritura afirmando que é absolutamente necessário a santificação pessoal [Hb 12.14] como condição sine qua non para a experimentação do que é chamado de "Reino de Deus": uma mudança ética e moral no presente e espiritual que adentra a eternidade - ou supõe alguém que apenas afirmando-se seguidor de Jesus será por ele reconhecido como tal [Mt 7.22-23]? Observe que, diferente do que muitos pensam, a realização de sinais não é sinal de santidade, pelo contrário, os realizadores de sinais serão até mais cobrados por enganarão a muitos mais [Is 9.16; I Tm 4.1].

PROCESSUAL OU PROGRESSIVA

A frase "Hoje quero ser mais pecador que amanhã" reflete bem o que deve estar no coração de cada cristão verdadeiro: o dia seguinte deve ser mais santo que o que se passou, evidenciando um crescimento na graça e no conhecimento do Senhor [II Pe 3.18]. O escritor da carta aos hebreus [12.14] afirma que a santificação deve ser algo a ser perseguido pelos cristãos, de maneira incessante, até o último dia de suas vidas [II Tm 4.7; Fp 3.13-17]. Na caminhada cristã parar significa não alcançar o alvo, é a mesma coisa que abandonar o Senhor, que retroceder [Hb 10.39], que amar o presente século [II Tm 4.10]. Devemos viver hoje como se o reino já estivesse perfeitamente instaurado entre nós [Tt 2.11-12].

GRATIDÃO, ESSENCIAL NA ADORAÇÃO CRISTÃ

Estudando3Aleluia! De todo o coração renderei graças ao SENHOR, na companhia dos justos e na assembléia.

Sl 111.1

O salmista inicia o salmo 111 com uma palavra [aleluia] que denota não apenas o desejo, mas a realidade da vida do crente: exaltar a Deus. Exaltar a Deus não é tornar elevado em essência o nome ou o caráter de Deus, mas é viver de maneira tal que este caráter elevado se manifeste de maneira perceptível nas atitudes e nas prioridades de seus servos, seus filhos, suas criaturas que foram restauradas, num cumprimento preciso e precioso da ordem genérica expressa no Sl 150.6 [Todo ser que respira louve ao SENHOR. Aleluia!], também ele encerrado pela palavra "aleluia".

Como pode o crente agradecer a Deus por todos os benefícios que o Senhor tem lhe dado [Sl 116.12: Que darei ao SENHOR por todos os seus benefícios para comigo?]? O próprio salmo 116 nos apresenta algumas respostas, mas, cremos que podemos encontrar três respostas concisas no verso 1 do Sl 111. De que maneira, onde, como e com quem pode o crente expressar sua gratidão a Deus pelos seus numerosos e imerecidos cuidados graciosos [Lm 3.22: As misericórdias do SENHOR são a causa de não sermos consumidos, porque as suas misericórdias não têm fim]?

COMO AGRADECER A DEUS

Deus não aceita uma meia adoração, meia gratidão. Diversas vezes ele insiste que seus adoradores devem adorá-lo em espírito e em verdade [Jo 4.24: Deus é espírito; e importa que os seus adoradores o adorem em espírito e em verdade], numa atitude de adoração integral [Dt 30.6: O SENHOR, teu Deus, circuncidará o teu coração e o coração de tua descendência, para amares o SENHOR, teu Deus, de todo o coração e de toda a tua alma, para que vivas] pois se não há integridade não há culto verdadeiro [I Rs 18.21 Então, Elias se chegou a todo o povo e disse: Até quando coxeareis entre dois pensamentos? Se o SENHOR é Deus, segui-o; se é Baal, segui-o. Porém o povo nada lhe respondeu].

Uma nota de dinheiro em que metade tenha sido impressa pelo Banco Central e outra metade numa impressora qualquer, por melhor que ela seja, será sempre uma nota inteiramente falsa. Se o culto ao Senhor não é em Espírito e em verdade, se não é íntegro, então, é fogo estranho [Lv 10.1: Nadabe e Abiú, filhos de Arão, tomaram cada um o seu incensário, e puseram neles fogo, e sobre este, incenso, e trouxeram fogo estranho perante a face do SENHOR, o que lhes não ordenara] e é rejeitado pelo Senhor mesmo que esteja eivado de boas intenções [II Sm 6.6-7: Quando chegaram à eira de Nacom, estendeu Uzá a mão à arca de Deus e a segurou, porque os bois tropeçaram. Então, a ira do SENHOR se acendeu contra Uzá, e Deus o feriu ali por esta irreverência; e morreu ali junto à arca de Deus] e seja o que haja de melhor para ser oferecido [II Sm 6.3: Puseram a arca de Deus num carro novo e a levaram da casa de Abinadabe, que estava no outeiro; e Uzá e Aiô, filhos de Abinadabe, guiavam o carro novo]: se não for o que Deus pediu, não é aceitável.

QUANDO AGRADECER A DEUS

A adoração do crente deve ser tributada ao Senhor em todo o tempo, isto é, em seu dia-a-dia. O salmista apresenta-nos a adoração como uma ação diária, na companhia dos justos [Sl 16.3: Quanto aos santos que há na terra, são eles os notáveis nos quais tenho todo o meu prazer]. O Senhor é exaltado quando a vida do cristão é pautada pela rejeição das idéias e práticas ímpias [Sl 1.1: Bem-aventurado o homem que não anda no conselho dos ímpios, não se detém no caminho dos pecadores, nem se assenta na roda dos escarnecedores]. Seu modo de vida deve ser impactante não apenas para si mesmo, mas também para todos aqueles que estiverem ao seu redor. O justo não pauta suas escolhas pelo estilo de vida dos ímpios, pelo contrário, mesmo que vivendo com eles não vive como eles, não procura sua companhia para aprender a pensar como eles pensam, nem deseja agir como eles agem. Seu agir é não apenas diferente, mas positivo e propositivo [Mt 5.13: Vós sois o sal da terra; ora, se o sal vier a ser insípido, como lhe restaurar o sabor? Para nada mais presta senão para, lançado fora, ser pisado pelos homens].

Jamais um cristão deve aceitar como natural as "coisas que todos fazem" se o fazem distanciados do desejo de glorificar a Deus segundo sua vontade, pelo contrário, sua mente deve ser moldada tão somente pela vontade de Deus [Rm 12.2 E não vos conformeis com este século, mas transformai-vos pela renovação da vossa mente, para que experimenteis qual seja a boa, agradável e perfeita vontade de Deus]. Os ímpios devem ver o brilho da luz do Senhor na vida dos cristãos [Mt 5.16: Assim brilhe também a vossa luz diante dos homens, para que vejam as vossas boas obras e glorifiquem a vosso Pai que está nos céus] e, mesmo odiando-os, virem-se obrigados a glorificarem a Deus no dia do julgamento [I Pe 2.12: ...mantendo exemplar o vosso procedimento no meio dos gentios, para que, naquilo que falam contra vós outros como de malfeitores, observando-vos em vossas boas obras, glorifiquem a Deus no dia da visitação].

ONDE AGRADECER A DEUS

Achei interessante que o salmista contraria o senso comum da moderna vida cristã. Nossa eclesiolatria [entendimento errado de como funciona a vida da Igreja, em substituição à antiga templolatria, em que judeus davam mais importância ao prédio [Jr 7.4: Não confieis em palavras falsas, dizendo: Templo do SENHOR, templo do SENHOR, templo do SENHOR é este] ou ao que está dentro dele [Mt 23.16: Ai de vós, guias cegos, que dizeis: Quem jurar pelo santuário, isso é nada; mas, se alguém jurar pelo ouro do santuário, fica obrigado pelo que jurou] do que ao Senhor do prédio = não confundir com eclesiologia, doutrina que trata das coisas igreja, que é correta] nos faz pensar que vamos à Igreja para sermos transformados e, só então, nos tornarmos agentes transformadores do ambiente em que vivemos.

O pensamento do salmista nos chama a repensar esta eclesiolatria. Sua proposta é que o adorador faz isso em todo lugar, sob o firmamento [Sl 150.1: Aleluia! Louvai a Deus no seu santuário; louvai-o no firmamento, obra do seu poder] implicando em que todos os relacionamentos são impactados por esta vida de adoração. Muitos ímpios não darão ouvidos aos crentes, mas certamente seus olhos estarão observando-os em todo o tempo, como já mencionamos anteriormente [I Pe 2.12: ...mantendo exemplar o vosso procedimento no meio dos gentios, para que, naquilo que falam contra vós outros como de malfeitores, observando-vos em vossas boas obras, glorifiquem a Deus no dia da visitação].

Um cristão transformado pelo Espírito, vivendo em santidade no mundo mau que o cerca, certamente buscará também atender alegremente ao chamado [Sl 122.1: Alegrei-me quando me disseram: Vamos à Casa do SENHOR] e mandato do Senhor [Hb 10.25: Não deixemos de congregar-nos, como é costume de alguns; antes, façamos admoestações e tanto mais quanto vedes que o Dia se aproxima] porque esta é sua grande alegria [Sl 84.10: Pois um dia nos teus átrios vale mais que mil; prefiro estar à porta da casa do meu Deus, a permanecer nas tendas da perversidade]. Assim como uma parte do corpo não sobrevive se arrancada dele, assim também o cristão verdadeiro faz questão de estar junto com o povo de Deus. E isto se faz na assembleia, na eclesia, na congregação dos justos, na comunhão dos chamados para fora de um mundo de prazeres efêmeros e sentimentos pecaminosos para uma vida de santidade e espiritualidade.

VEM VOCÊ TAMBÉM

Não consigo compreender um cristão que não se alegra na comunhão. Não faz sentido um membro do corpo de Cristo evitar tomar parte deste mesmo corpo. O cristão verdadeiro busca guardar todas as coisas que o Senhor lhe ordenou, e, dentre estas coisas, está o tornar-se parte da sua Igreja, contra a qual as portas do inferno e suas armas satânicas e carnais não podem prevalecer [Mt 16.18: Também eu te digo que tu és Pedro, e sobre esta pedra edificarei a minha igreja, e as portas do inferno não prevalecerão contra ela]. É na comunhão que expressamos o amor que Cristo derramou sobre nossos corações [Rm 5.5: Ora, a esperança não confunde, porque o amor de Deus é derramado em nosso coração pelo Espírito Santo, que nos foi outorgado] lembrando-nos que, quem não ama, não conhece a Deus [I Jo 4.8: Aquele que não ama não conhece a Deus, pois Deus é amor].

É sobre a Igreja que Cristo foi constituído o Senhor [Ef 1.22: E pôs todas as coisas debaixo dos pés, e para ser o cabeça sobre todas as coisas, o deu à igreja] derrama o seu Espírito para edificação mútua [Ef 4.12: ...com vistas ao aperfeiçoamento dos santos para o desempenho do seu serviço, para a edificação do corpo de Cristo] e aumento de si mesmo [Ef 4.16: ...de quem todo o corpo, bem ajustado e consolidado pelo auxílio de toda junta, segundo a justa cooperação de cada parte, efetua o seu próprio aumento para a edificação de si mesmo em amor].

Não fique em casa – não se feche, não há Igreja de um só. Igreja é comunidade, é comunhão, é edificação e amor mútuos. Seja mais um a abençoar e ser abençoado.

quinta-feira, 11 de outubro de 2012

INTRODUÇÃO AO DISCIPULADO CRISTÃO

11Os que estão sendo instruídos na palavra, também chamados de catecúmenos [uma palavra de origem grega = katecoumenos) que significa: pessoa que está recebendo instrução religiosa. Podemos dizer que o catecúmeno é o indivíduo que se prepara para fazer a sua pública profissão de fé e receber o batismo, cumprindo assim, a determinação de Jesus Cristo (Mc 16.16). Segundo a orientação de Jesus é necessário que aquele que nele creu agora confirme sua fé, sendo batizado, salvo em casos especiais, onde o batismo não pode ser ministrado (Lc 23.39-43). Paulo escreve: "Mas aquele que está sendo instruído na Palavra, faça participante de todas as coisas boas aquele que o instrui" (Gl 6.6). Muitos comentadores bíblicos vêem nesse texto paulino, a origem da Classe de Catecúmenos, ou para as pessoas que desejam preparar-se para receber o batismo com água, símbolo exterior do verdadeiro batismo que acontece interiormente, que é o do Espírito Santo, único que realmente salva o homem de seus pecados. Inferimos que esta prática já era comum destes os tempos neotestamentários, como, por exemplo, no caso de Pedro (Mt 16.16), do eunuco da rainha de Candace (At 8.27-40), ou do carcereiro de Filipos (At 16.29-32). Em alguns casos o ensino doutrinário aos catecúmenos chegava a durar até 02 anos.

A IDENTIDADE DO CRISTÃO – ESTUDO 1

11Os novos cristãos devem conhecer, embora sucintamente, as principais doutrinas da Palavra de Deus - a Bíblia Sagrada - como realmente foram ensinadas por Jesus Cristo e os seus apóstolos, a fim de que a sua fé seja firmada cada vez mais. Não se espera que um catecúmeno seja grande conhecedor das doutrinas bíblicas, mas arequer-se que, ao terminar o curso, ele esteja ao menos pronto para dar a razão da sua fé quando alguém lhe fizer alguma pergunta (I Pe 3.15-16). Para que uma pessoa se matricule em uma classe de preparação para recepção na igreja é necessário:

1. Que CREIA, firmemente, que Jesus Cristo é não apenas o Salvador do mundo, mas o seu único e suficiente Redentor, seu salvador pessoal. Deve ela, consciente e sinceramente, poder afirmar como Jó: "Eu sei que o meu Redentor vive" (Jó 19.25) e, como a bendita virgem Maria: "A minh'alma engrandece o Senhor e o meu espírito se alegra em Deus, meu Salvador" (Lc 1.47). Já dissemos que a confissão, diante dos homens, de que se crê em Jesus Cristo é uma exigência das Escrituras Sagradas (Rm 10.9-10).

2. Que ACEITE a Bíblia, ou as Escrituras Sagradas, como a Palavra de Deus, regra única de fé e prática de todo o verdadeiro cristão, considerando-a, também, como Guia do Viajante em demanda da eternidade celestial.

3. Que REJEITE tudo o que é contrário à vontade de Deus. Que abandone todos os vícios e pecados que entristecem o coração boníssimo de Deus que, embora ame o pecador, odeia o pecado, que faz os povos miseráveis.

4. Que, como DISCÍPULO de Jesus Cristo, deve considerar-se como "... a luz do mundo, o sal da terra e a cidade edificada sobre o monte" (Mt 5.13-14). Como luz do mundo, tem a obrigação de viver para espantar as trevas densas do pecado; como sal da terra, tem o dever de trabalhar visando a putrefação moral dos seres humanos com os quais conviver e, como cidade edificada sobre o monte, deve viver de tal maneira que, pelas suas obras, vida ou conduta, concorra para que os homens glorifiquem o nome de Deus (I Pe 2.12, Mt 5.16).

Se o professando ainda não foi batizado numa Igreja evangélica (na infância), ele recebe o batismo logo após a profissão de fé; se já foi batizado, é declarado membro da Igreja,com todos os direitos e deveres (participação na Santa Ceia, batismo dos filhos, direito de voto e ocupação de cargos eletivos, tais como presbiterato e diaconato, etc.). precisamos lembrar que a profissão de fé e batismo não torna ninguém salvo. Os salvos é que devem desejar o batismo e professar sua fé. A profissão de fé é uma exigência de Jesus (Mt 10.32-33), uma necessidade (Rm 10.9-10) e uma condição de evangelização honesta (At 1.8; Mc 16.15).

A VONTADE DE DEUS – ESTUDO 2

11CONHECER a vontade de Deus sempre foi um desejo de todos os homens, em todos os tempos, desde os filósofos gregos até os nossos dias. Desde que o homem é homem, isto é, desde que foi criado, a vontade de Deus ocupa um papel preponderante em suas indagações. Embora fácil de ser encontrada, a vontade de Deus não é facilmente compreendida pela maioria das pessoas. Afirmamos que a vontade de Deus é fácil de ser descoberta, então, resta-nos indagar: Onde? Quando? Como? Talvez nos encontremos na mesma situação do eunuco etíope (At 8.31). Para nosso estudo, partimos de alguns pressupostos básicos sobre a revelação divina, sem os quais é impossível prosseguir:

1. Ela existe (Cl 1.9);

2. Ela pode ser encontrada (At 22.14);

3. Ela pode ser entendida (Sl 119.130);

4. Ela deve ser obedecida (Jo 15.14);

5. Ela é a Bíblia Sagrada (Lc 24.27).

Sem estes pressupostos básicos é impossível continuar – pois como saberemos o caminho certo a seguir, sem um mapa, sem uma bússola confiável? A nossa bússola será a Bíblia – não injustamente chamada Palavra de Deus. Vejamos o que a Bíblia diz de si mesma.

1. A Palavra de Deus (Ef 6.17);

2. Os oráculos de Deus (Rm 3.2);

3. Útil e eficaz (Hb 4.12);

4. Inspirada por Deus (II Tm 3.16).

Creio que isto já é suficiente como o testemunho, mas resta-nos ouvir uma pessoa muito importante falar sobre as Escrituras: Jesus Cristo (Jo 8.38), que afirmou que é um erro não conhecer as Escrituras (Mt 22.29).

Outra fonte que nos demonstra o poder das Escrituras, e a sua confiabilidade, é a história – a Bíblia não precisa dela para ter validade, mas no decorrer dos anos a Bíblia tem mostrado sua força. Por exemplo, nenhum livro foi tão perseguido quanto a Bíblia – e esta perseguição, desde os tempos dos reis de Israel (Jr 36.28) até os nossos dias, como prova a proibição de distribuição gratuita da Bíblia em Israel. Mesmo em meio à mais cruel perseguição, a Bíblia jamais foi derrotada (Mc 13.31), porque ela é eterna e sua eternidade foi determinada por Deus – que não pode ser derrotado nem mesmo por todos os reis da terra. Com tantas proibições (até a igreja proibiu a leitura da Bíblia por 1000 anos) ela continuou a edificar vidas, a salvar perdidos. Um exemplo é o da Inglaterra no séc. XVIII – o país estava à beira do caos e da ruína, e foi a pregação da Palavra de Deus que impediu que a nação se afundasse no álcool, nas revoltas e na prostituição. Todos nós conhecemos pessoas que, quando conheceram as Escrituras, tiveram suas vidas modificadas – ladrões que deixaram de roubar e passaram a trabalhar para poderem auxiliar outras pessoas (Ef 4.28). Mentirosos e enganadores transformados em príncipes, vencedores por Deus (Gn 32.28).

É esta palavra que estudaremos. É nesta palavra que buscaremos o conforto, a orientação, a instrução, a direção para as nossas vidas. À partir de agora, tudo deverá ter como parâmetro a vontade revelada – a vontade de Deus para nossas vidas. E ninguém melhor do que Deus sabe o que é melhor para nós – afinal, ele nos fez. Precisamos hoje assumir o compromisso de ler as Escrituras para receber do Senhor a orientação que tanto necessitamos. Sem esta orientação – e sem disposição para segui-la, seremos como o viajante que pergunta o caminho para o norte, e, mesmo depois de receber a informação pedida, faz meia volta e dirige-se para o sul – mesmo que bem intencionado, jamais chegará ao destino almejado.

DEUS POR ELE MESMO – ESTUDO 3

11EM nosso primeiro estudo, buscamos conhecer um pouco sobre o livro que nos fala de Deus. Agora, precisamos aprender algumas coisas sobre o Deus que nos fala na Bíblia.

A ESSÊNCIA DE DEUS

É claro que não pretendemos aprender tudo sobre Deus, principalmente porque nossa capacidade de aprendizado é muito pequena, mesmo para as coisas que nos cercam e que podemos tocar. A Escritura pergunta: quem conheceu a mente de Deus (Rm 11.34)? É impossível ao homem, finito, conseguir compreender as coisas de Deus, que é infinito em todos os seus atributos. Vejamos, então, à partir de agora, alguns atributos que, dentre muitos outros, podem nos levar a um relacionamento mais próximo com o nosso Deus criador.

O primeiro é a ETERNIDADE de Deus. Isto quer dizer que Deus sempre existiu, nunca foi nem melhor (porque é perfeito) nem pior. Ele é Deus (Sl 90.2). A eternidade quer dizer um tempo sem duração, isto é, um período sem que o tempo possa ser contado. Se se passarem um milhão de anos na eternidade, é como se nem mesmo um segundo houvesse passado para nós. Como somos criaturas presas ao conceito de tempo, é quase impossível compreendermos o conceito de eternidade. A eternidade de Deus, conforme registrada pelas Escrituras, nos assegura que não somos um "acidente cósmico", nem frutos de uma grande explosão nuclear. Nada disso. Somos oriundos da vontade de alguém que, por mais que queiramos recuar no tempo, já existia e planejou cuidadosamente cada momento da nossa vida (Jó 14.1-5).

O segundo é a IMUTABILIDADE de Deus. Embora esta pareça ser uma característica desagradável, ela, na verdade, é a fonte de nossa esperança, porque Deus, sendo sempre o mesmo, jamais fará qualquer alteração em seu propósito (Ef 3.11). A Escritura nos diz que é justamente por causa da imutabilidade de Deus que nós ainda existimos (Ml 3.6), porque, pelas nossas ações, na verdade merecemos ser destruídos. As Escrituras afirmam categoricamente que em Deus não há qualquer variação ou sombra de mudança (Tg 1.17).

O terceiro é a SANTIDADE de Deus. Embora em Deus santidade signifique ausência de transgressão, ausência de pecado ou dolo, devemos entender que sua santidade significa "estar totalmente separado" do nosso estado de perdição. Deus não tem culpa de sermos pecadores. Não foi ele quem nos fez pecar. Na verdade, Deus abomina o pecado, ainda que ame o pecador (Ex 34.7). Deus não pode ser ferido pelo nosso pecado – nós é quem somos vítimas de nossos próprios erros (Pv 19.16). Como o Senhor é santo, ele requer de seus seguidores a mesma santidade, embora derivada (I Pe 1.16). A santificação é essencial em Deus e, em nós, fruto da ação de Deus.

O atributo que estudaremos agora (o quarto) é a sua SABEDORIA. Deus, diferentemente de nós, não precisa "aprender" coisa alguma. Ele é. Aprendizado implica mudança – e já vimos que Deus não muda. Com Deus está a sabedoria e o entendimento (Jó 12.13), sem necessidade ou ninguém o ensine (Jó 21.22). Deus não precisa das circunstâncias para aprender. Ele sabe. Esta sabedoria é fruto de outro atributo seu, chamado onisciência, que é a capacidade para saber tudo, independente do tempo em que ocorram. Mas por sabedoria também devemos entender o fato de fazer todas as coisas com um fim determinado, visando um resultado específico. Assim, mesmo antes de criar o homem Deus sabia que ele pecaria, e então já havia decidido enviar Jesus para morrer em resgate destes mesmos pecadores – e isto antes que pecassem (Ap 13.8), para conduzi-los a um reino também eterno (Mt 25.34).

A MISERICÓRDIA de Deus, um de seus atributos mais cantados, significa, literalmente, "sentir no coração a miséria" do homem. Na verdade, a palavra que traduzimos por misericórdia (dsr) não tem uma tradução exata. Poderia ser amor, bondade, cuidado, dependendo do contexto. Deus, em sua perfeição e santidade, resolveu agir com o homem com bondade imensa. Mesmo nossas atitudes sendo as de inimigos (Rm 5.10) Deus nos reconcilia consigo mesmo, nos chama para um relacionamento de filhos, não mais da ira (Ef 2.3), mas de seu amor (At 13.33).

O sexto atributo que estudaremos é o AMOR de Deus. Nós falamos sobre seu amor, mas não sabemos explicá-lo. Sabemos apenas que ele foi demonstrado a nós. A Escritura diz que em nós não havia nada que atraísse seu amor, pois estávamos mortos por causa de nossos próprios pecados (Ef 2.1), mas, mesmo assim, Deus deu Jesus para morrer em nosso lugar, nos reconciliando com ele por intermédio do sangue de Jesus. Este amor, que busca e salva o perdido (Lc 19.10), não importando o preço (I Co 6.20) é o maior de todos os amores (Jo 15.13).

O último atributo que estudaremos (certamente em Deus há muito mais que estes) é a sua GRAÇA. Graça é Deus dar ao pecador algo que ele não merece (diferente da JUSTIÇA – que é dar exatamente o que merecemos). Pela justiça de Deus receberíamos apenas punição – pois é exatamente isto que merecemos, como pecadores (Ez 18.4). Nosso merecido salário é morte (Rm 6.23) e o inferno (Ap 21.8). A graça de Deus consiste em Deus não nos punir (embora merecêssemos), mas punir alguém (justo – I Pe 3.18) em nosso lugar (satisfazendo assim a sua justiça) e atribuir a nós a justiça deste que foi punido (Rm 3.24). Esta justificação pelo sangue de Jesus (Rm 5.9) é-nos dada por fé (Rm 5.1), não podendo ser alcançada por nossos esforços (Ef 2.8).

O HOMEM: CRIATURA OU FILHO? - ESTUDO 4

11A PARTIR de agora estudaremos um pouco sobre esta complexa figura que é o ser humano. Por um lado, a grande maravilha da criação, após cuja criação tudo foi declarado "muito bom" (Gn 1.31 – aliás, a única vez que esta expressão aparece em toda a Bíblia). Mas este mesmo homem é capaz de atitudes vis e repugnantes, causando ao Senhor grande tristeza (Gn 6.6). À pergunta de Jó (Jó 7.17), também nós buscaremos resposta.

O HOMEM COMO CRIATURA

É muito comum o ditado que diz que "todos são filhos de Deus". Será verdade? NÃO. Não, não é verdade que todos sejam filhos de Deus. Na verdade, todos são criaturas de Deus – todos foram criados por ele, pois nada do que existe veio à existência fora da vontade de Deus (Sl 148.5; Jo 1.3). Também o homem está incluído nesta relação de coisas criadas. A condição original do homem é de criatura de Deus (Mc 16.15). Os judeus sabiam disso, e acusaram Jesus de blasfêmia porque ele disse que Deus era seu Pai (Jo 5.18, embora fosse, realmente, filho de Deus – Ef 2.6). Observe que o evangelho deve ser anunciado à toda criatura. Em seguida à pregação do evangelho, está o tornar-se nova criatura, está o crer – está a adoção de filhos.

COMO SER FILHO DE DEUS

Assim como não escolhemos onde ou como nascer, assim também não podemos nos tornar filhos de Deus – podemos ser tornados filhos, o que é bastante diferente. Nenhuma criança adota seus pais – são os pais que adotam. Como criaturas, temos a Deus como criador – e lhe devemos honra e louvor (esta é uma questão de débito). Entretanto, como filhos (adotivos, mas filhos) nós não apenas podemos honrar e louvar a Deus, mas queremos (Rm 8.15). Nosso relacionamento agora é de filhos – filhos amados e amorosos. Mas a pergunta permanece: como nos tornamos filhos de Deus? A resposta, por mais simples que possa parecer, é: crendo. A adoção é resultado da fé. Somos adotados por Deus se cremos em Jesus Cristo. João nos diz que a vinda de Jesus foi para "os seus", isto é, os judeus, mas estes o rejeitaram, não creram nele e o mataram. Mas, alguns dentre os judeus e muitos não judeus creram nele, e então Deus lhes deu "o poder" de serem feitos seus filhos (Jo 1.12). Nós precisamos "ser refeitos", isto é, transformados, precisamos "nascer de novo" (Jo 3.3), mas não é um nascimento carnal, pois o que é nascido da carne, continua sendo carne (Jo 3.6), mas o que nasce do Espírito, este tem a filiação espiritual, a filiação de Deus (Jo 3.5). Assim, podemos afirmar que existem alguns passos para alguém se tornar filho de Deus:

i. O evangelho precisa ser pregado;

ii. Aquele que ouve precisa crer no evangelho;

iii. O que creu precisa da regeneração do Espírito;

iv. Agora pode chamar Deus de "Aba" (meu pai).

Para sermos filhos de Deus só precisamos de um milagre: a ação do Espírito Santo em nossa vida. A essa ação chamamos regeneração (do ponto de vista espiritual) e adoção (do ponto de vista legal). De filhos da ira (Ef 2.3), escravos do pecado (Rm 6.17), somos transformados em filhos amados de Deus.

AS AÇÕES DO HOMEM – BOAS OU MÁS?– ESTUDO 5

11COMO será que nossas ações são vistas por Deus? E como nós mesmos nos enxergamos? Nossa busca por respostas, orientada pela bússola que é a Palavra de Deus, prossegue.

COMO DEUS NOS VÊ

Quando Deus criou o homem, ele disse que tudo era "muito bom" (Gn 1.31) – e isto, sem dúvida, deve incluir as obras que Deus queria que o homem viesse a realizar. Deus deu-lhes algumas funções (Gn 1.28), que podemos classificar em sociais (crescer e multiplicar), culturais (cuidar e governar a criação) e espirituais (obedecer a Deus – culto). Entretanto, nossos primeiros pais preferiram não fazer o que Deus queria – ou fazer o que Deus não queria. Isto é chamado na Bíblia por diversos nomes, dentre os quais pecado, transgressão, desobediência, erro e muitos outros nomes. Vamos dar preferência ao termo mais comum, pecado, que definiremos como "não permanecer em obediência a Deus".

A DESOBEDIÊNCIA

Deus havia dito ao homem que de tudo que havia não jardim lhe era permitido comer, exceto do fruto de uma árvore (Gn 2.16-17). Creio que não havia "veneno espiritual" na árvore. A questão era: permaneceria o homem em obediência? A resposta nós sabemos bem: dando ouvidos à serpente, mãe Eva comeu do fruto e deu-o ao seu esposo, que também comeu. Como resultado desta transgressão do ponto limite que Deus lhes havia estabelecido, eles:

i. Perderam a inocência (Gn 2.25; 3.7);

ii. Perderam o prazer da presença de Deus (Gn 3.8);

iii. Perderam a amor mútuo (Gn 3.12);

iv. Perderam a vida (Gn 5.5).

NOSSAS OBRAS HOJE

Embora pensemos que somos capazes de realizar obras meritórias diante de Deus, parece que não é assim que Deus vê. Isaias diz que nossas mãos estão "cheias de sangue" (Is 1.15), e, por isso, qualquer coisa que façamos não pode ser aceita. Mesmo as nossas melhores e mais justas obras não têm valor diante da santidade e justiça de Deus (Is 64.6), e por isso não podemos usá-las buscando justificação ou mérito (Dn 9.18). Em resumo, não há atenuantes. Deus afirma categoricamente que não há um único justo (Sl 143.2), isto é, não há ninguém que não peque (Ec 7.20). Fica claro então que não podemos nos aproximar de Deus confiado em nossas boas obras. Nada que façamos poderá nos mais "queridos" de Deus. Nada podemos fazer para atrair o amor de Deus sobre nós. Isto quer dizer que, por nossas próprias ações, estamos irremediavelmente perdidos – sem esperança e sem Deus (Ef 4.17-18). É esta a triste realidade do ser humano. Tudo que o homem merece de Deus é a sua ira, que é justa e tremenda. Poderíamos então afirmar que não há esperança para o homem? É possível dizer que todos estão irremediavelmente perdidos, já que nada podem fazer para mudar esta situação (Ef 2.1)? A resposta é: NÃO. Ainda há uma esperança. Embora todos tenham pecado (Rm 3.23) e mereçam a morte (Rm 6.23), há uma boa notícia nas Escrituras: a multiforme graça de Deus.

PECADO TEM REMÉDIO? – ESTUDO 6

11O QUE o homem pode fazer para conseguir a cura deste terrível mal chamado pecado (Is 1.6)?

OS ESFORÇOS DO HOMEM

A experiência que o apóstolo Paulo descreve é uma das mais terríveis, mas descreve a situação de todos os homens – inclusive o próprio apóstolo. Paulo diz que embora saiba o que deve fazer, não consegue pôr em prática – ao mesmo tempo em que, aquilo que sabe não ser bom, acaba fazendo (Rm 7.19). Eis o terrível dilema do pecado: ele não é uma realidade externa – mas interna, habita em nossos membros (Rm 7.23) com um poder tão grande que, mesmo querendo, não conseguimos vencê-lo. O que fazer então? Paulo sabia da incompetência e impossibilidade do homem de fazer qualquer coisa para sair desta situação, e é por isso que ele clama por ajuda (Rm 7.24).

O QUE DEUS FAZ

Conhecendo o nosso estado de incompetência espiritual, ou, nas palavras de Paulo, de morte (Ef 2.1), Deus sabe que precisa intervir. Uma das palavras mais preciosas nas Escrituras é quando Deus diz "mas". Após prever castigo e morte para o homem, a Escritura nos apresenta o amor de Deus (Ef 2.4). Após mostrar que o salário do pecado é a morte, Deus diz que seu dom gratuito é a vida eterna em Cristo Jesus (Rm 6.23). Como o pecado habita em nós, é necessário que tenhamos ajuda nesta luta desigual. Para por fim à lei do pecado, que gera a morte, há uma nova lei, do Espírito para a vida (Rm 8.2). A súplica de Paulo por ajuda é atendida. Ele sabe que não é apenas um homem desventurado e escravo do pecado – mas tem onde buscar ajuda. Se o pecado é uma doença espiritual, então há a necessidade de um remédio espiritual, e este remédio é a atuação do Espírito de Cristo em nós. É por isso que Paulo afirma que "Ele nos deu vida" (Ef 2.1).

COMO DEUS FAZ

O pecado é uma ofensa à santidade do próprio Deus, e por causa dele somos incapazes de nos aproximar de Deus (Ml 3.2). Isaias experimentou a proximidade do Deus glorioso e sentia-se sendo destruído (Is 6.5) por causa de seus pecados em comparação da santidade absoluta de Deus. Esta importância do pecado requeria uma compensação, um pagamento que o homem não quer e também não pode dar. A compensação pela primeira desobediência tinha que ser uma obediência absoluta – mas não há homem que consiga cumprir todos os princípios da Lei (Tg 2.10). É por isso que Deus precisou intervir, enviando alguém que pudesse cumprir toda a lei e, ainda, fazer algo mais para resgatar o homem de seu estado de perdição. Este alguém é Jesus Cristo. Só Jesus Cristo conseguiu cumprir toda a lei. Só ele passou pela experiência de enfrentar as tentações e escapar sem qualquer mancha (Hb 4.15). Paulo dá graças a Deus por intermédio de Cristo Jesus – aquele que é a razão da nossa esperança. Nosso próximo estudo enfocará o que Jesus fez por nós – e quais as implicações disto para nossa vida (aqui e no porvir).

UM REMÉDIO ESPIRITUAL – ESTUDO 7

11O PECADO por ser uma doença do homem integral – afeta corpo e alma, também precisa de um remédio que tenha eficácia integral. Estamos acostumados a pensar no pecado como algo espiritual apenas, mas devemos observar que a degradação humana, por causa do pecado, dá-se tanto no nível físico, quanto moral e espiritual.

QUAL O REMÉDIO

A Escritura diz-nos que aquele que peca, faz mal à sua própria alma (Pv 19.6). O que é alma? Segundo Gn 2.7, após Deus ter soprado o fôlego da vida no barro, este passou a ser alma vivente. Assim, podemos dizer que o homem é alma vivente, e não que ele tenha uma alma vivente. Ele tem um espírito (Ec 12.7) e um corpo, e é, por isso, um ser moral. O pecado estraga tudo ao mesmo tempo. Ao pecar, Adão morreu espiritualmente, afastando-se de Deus e perdendo sua inocência – mais tarde morreria também fisicamente. Todos os demais homens herdam de Adão esta condição de morte espiritual (Ef 2.1) – e precisam ser vivificados. O único remédio para o pecado é ser regenerado (gerado de novo) pela ação do Pai.

O NOVO NASCIMENTO

Quando perguntado sobre como herdar o reino dos céus, Jesus respondeu que só através de um novo nascimento (Jo 3.3) – que não se dá pela vontade da carne (conforme Nicodemos pensava – Jo 3.4) mas de Deus (Jo 1.13). Este nascimento espiritual é-nos dado por causa de uma pessoa: Jesus Cristo, perfeito homem e perfeito Deus, que é espírito vivificante (I Co 15.45). Se o salário do pecado é a morte, o dom gratuito de Deus é a vida eterna em Cristo Jesus (Rm 6.23) – mas, se para nós é gratuito, para Cristo teve um preço bastante alto: a nossa redenção foi conquistada mediante um resgate que foi o próprio sangue de Jesus Cristo (Rm 3.24-25), porque sem derramamento de sangue não há remissão de pecados (Hb 9.22). Assim, podemos afirmar que o remédio para o pecado é um só: a morte de Cristo, na cruz, em nosso favor.

COMO TOMAR O REMÉDIO

Embora haja quem afirme que Cristo nos mostrou o caminho para sermos aceitáveis diante de Deus, e este caminho seria moral e filosófico, isto não seria suficiente para solucionar o problema espiritual e físico do homem – quando muito resolveria apenas o problema moral. É por isso a morte de Cristo em nosso lugar era fundamental – ele não apenas disponibilizou o remédio, triunfando sobre a morte, como no-lo dá em dose única. Dizem-nos as Escrituras que os homens são salvos mediante a fé (Ef 2.8-9) – que é um dom de Deus e vem mediante Jesus Cristo (At 3.16). As etapas para esta nova vida serão descritas no nosso próximo estudo, sendo: arrependimento, conversão e vida abundante (At 26.20). Não pode existir cristianismo sem estas premissas fundamentais. Este remédio, tão amargo para Cristo, para nós tem doce aroma. Infelizmente não aceitamos tão facilmente que sermos salvos das terríveis conseqüências do pecado pode ser tão fácil para nós – e queremos complicar com mandamentos, com regrinhas, com sacrifícios, que são absolutamente desnecessários (Hb 9.26).

FAÇA DESTE BLOG SUA PÁGINA INICIAL