domingo, 28 de setembro de 2014

AS ALEGRES CONSEQUÊNCIAS DE SER UM CRENTE CONSAGRADO AO SENHOR

Fp 1.1-11

1 Quanto ao mais, irmãos meus, alegrai-vos no Senhor. A mim, não me desgosta e é segurança para vós outros que eu escreva as mesmas coisas.
2 Acautelai-vos dos cães! Acautelai-vos dos maus obreiros! Acautelai-vos da falsa circuncisão!
3 Porque nós é que somos a circuncisão, nós que adoramos a Deus no Espírito, e nos gloriamos em Cristo Jesus, e não confiamos na carne.
4 Bem que eu poderia confiar também na carne. Se qualquer outro pensa que pode confiar na carne, eu ainda mais: 5 circuncidado ao oitavo dia, da linhagem de Israel, da tribo de Benjamim, hebreu de hebreus; quanto à lei, fariseu, 6 quanto ao zelo, perseguidor da igreja; quanto à justiça que há na lei, irrepreensível.
7 Mas o que, para mim, era lucro, isto considerei perda por causa de Cristo.
8 Sim, deveras considero tudo como perda, por causa da sublimidade do conhecimento de Cristo Jesus, meu Senhor; por amor do qual perdi todas as coisas e as considero como refugo, para ganhar a Cristo
9 e ser achado nele, não tendo justiça própria, que procede de lei, senão a que é mediante a fé em Cristo, a justiça que procede de Deus, baseada na fé; 10 para o conhecer, e o poder da sua ressurreição, e a comunhão dos seus sofrimentos, conformando-me com ele na sua morte; 11 para, de algum modo, alcançar a ressurreição dentre os mortos.

Quais são as características de um cristão que realmente conhece a Cristo? Nossa pergunta não se dirige aos membros de nenhuma Igreja, nenhuma instituição humana em particular – já vivemos o suficiente para saber que não há nenhuma instituição humana que esteja livre de pessoas comprometidas com as estruturas mas não essencialmente comprometidas com o alvo real. Dito de outra maneira, dentro do nosso contexto, não há nenhuma Igreja que esteja perfeitamente comprometida com a glorificação do nome do Senhor.
Isto não quer dizer que as Igrejas que existam não sejam Igrejas de Cristo – creio que muitas são, a questão que abordo nesta ocasião é: todas elas, e cada uma delas, ainda está caminhando, ainda está no mundo e misturada com o mundo, embora não pertença mais a ele. Está vivendo um processo de santificação, de separação. E, neste processo, é absolutamente essencial que haja uma real consagração de vidas ao Senhor – lamentavelmente em muitos casos há uma confusão entre consagração e uma mera aparência de piedade, uma figura exteriormente "séria", sisuda, mas descuidada do interior. Consagração é comprometimento com a verdade de Deus e este comprometimento deve gerar, de alguma forma, alegria no Senhor (Sl 32:11).
Nossa proposta para esta noite é que você pode ser uma pessoa realmente alegre, realmente feliz e, ao mesmo tempo, realmente comprometida com o Senhor e com o seu reino, tendo a alegria do Senhor em sua vida, sendo fortalecido pelo Espírito do Senhor (Sl 51:12) e ao mesmo tempo afastando seu coração dos prazeres transitórios do pecado (Gl 5:16), por mais atrativos que eles sejam.
Observe que eu usei os verbos sempre no gerúndio porque eu quero que você entenda que você só pode ser alegre no Senhor se começar e não parar de andar com o Senhor. Não é uma coisa do passado, nem apenas do presente, nem uma expectativa futura – é algo a ser experimentado em toda a vida.
Ser um cristão alegre no Senhor não significa, entretanto, não ter que enfrentar algum tipo de dificuldade, aliás, quanto mais consagrada for o cristão, maiores os enfrentamentos que ela terá com o mundo. O mundo só se opõe aos cristãos quando eles se torna um corpo estranho em seu meio (I Pe 4:4). Enquanto a Igreja for morna, ela será tolerada e até amada pelo mundo (Jo 15:19), mas não saberá, jamais, o que experimentar a alegria de carregar, verdadeiramente, o nome de Jesus Cristo (At 5:41).
Quais são as características destes cristãos alegres e compromissados essencial e integralmente com o Senhor? A primeira destas características é que ela:

INTRODUÇÃO

….. 1 …..

Paulo continua falando para as mesmas pessoas, pessoas que, com ele, possuem a mesma comunhão em Cristo. Eles são "meus irmãos" [adelfo\j mou=] e precisam de orientação para não deixarem de ser cristãos alegres [xairw=] que, para eles, é fruto do fato de estarem no [en] Senhor [kurioj], soberano governante de todas as coisas.
Para Paulo, como um pastor e pai amoroso, não é motivo de desgosto repetir um ensino que resulta em benção para a Igreja. Paulo não vê como um fardo, mas como uma parte do ministério, uma parte necessária para segurança e confirmação [asfalhj] da fé que ele sabia haver naquela comunidade de crentes que ele lhes escrevesse. O interesse de Paulo era o bem dos filipenses, e o recurso que Paulo tinha era escrever-lhes [grafw=] lembrando o que eles já conheciam muito bem. O que Paulo está dizendo não é para crentes neófitos, mas de alerta e confirmação para crentes amadurecidos, crentes que viram o ministério paulino em Filipos, crentes que ouviram seus ensinamentos (Fp 4:9).
De que Paulo achava necessário eles serem lembrados? Cremos que estamos diante de membros de uma igreja que guardava o ensino apostólico, que eram irmãos consagrados ao Senhor, que procuravam viver zelosamente a ponto de Paulo não precisar tratar de problemas como os existentes na Igreja em Corinto, pelo contrário, apelas alertá-los para que problemas não viessem a existir.

I. CRENTES CONSAGRADOS CUIDAM DA DOUTRINA

A primeira característica destes cristãos é eu eles são atentos guardiães da verdade. É pela verdade que uma Igreja permanece ou cai. Mesmo quando nos referimos ao amor ele precisa ser verdadeiro (I Pe 1:22). O apóstolo inicia o terceiro capitulo considerando suficiente o que já foi dito, deixando o assunto por encerrado e passando a tratar de uma nova necessidade da Igreja. Como ela poderia permanecer de pé?

….. 2 …..

A primeira coisa que Paulo acha necessário escrever novamente aos filipenses é para eles terem cautela [blepw], terem discernimento mental, examinar cautelosa e cuidadosamente as coisas espirituais, colocarem-se em atitude de defesa para não serem atingidos por três tipos de perigos existentes e que deles faziam seu alvo:

i.                  Acautelai-vos dos cães

Estamos acostumados a vermos cachorros como animal de estimação, muitos sendo melhor cuidados do que milhões de seres humanos. Mas cães [kuwn] eram vistos, muitas vezes, em matilhas que atacavam rebanhos e pessoas e, comiam carniça e eram vistos como impuros. Metaforicamente (e não alegoricamente) o termo é usado para referir-se a um homem de mente impura, e os filipenses deveriam ser cautelosos para que sua mente não fosse usada e manipulada ou maculada por este tipo de pessoa, que não possui a amente de Cristo [I Co 2.16].

ii.               Acautelai-vos dos maus obreiros

O segundo cuidado que Paulo orienta os filipenses a terem é com os maus obreiros [kakoj ergathj], isto é, causadores de problemas, prejudiciais, destrutivos, perniciosos e banais. O problema dos maus obreiros, para Paulo, não é que eles nada façam - é eles são de natureza diferente da natureza da igreja. São de natureza má, são perniciosos, suas obras geram problemas, suas ações são prejudiciais e o resultado é destruição, como os trabalhadores maus da parábola contada por Jesus [Lc 20.19] que só intentam matar, roubar e destruir [Jo 10:10].

iii.           Acautelai-vos da falsa circuncisão

A terceira advertência é contra os judaizantes a quem Paulo chama duramente de mutilados [katatomh]. Paulo era judeu, fora também ele circuncidado, manda circuncidar a Timóteo (At 16.3[1]) mas adverte que a circuncisão não é de nenhum proveito espiritual (Gl 5:2) e, ao mesmo tempo, faz um contraste entre a circuncisão verdadeira, espiritual, do coração [Rm 2.29] e a mera mutilação genital que não acompanha nenhuma conversão verdadeira nem traz nenhum fruto espiritual. Os primeiros e mais graves problemas da igreja foram causados pela resistência dos mutilados fisicamente e incircuncisos de coração [At 7.51].

Já vimos que a primeira característica de crentes que vão experimentando a alegria do Senhor em sua caminhada é que eles são guardiães da verdade de Deus, defensora da doutrina que uma vez por todas foi entregue aos santos (II Jo 1:9-10).
Isto serve de advertência para os crentes do séc. XXI que, em nome do politicamente correto, se esquivam de defender a fé e, pior ainda, enchem a sua casa de doutrinas aberrantes e antibíblicas. Não tenho sombra de dúvidas que Paulo diria para os crentes do séc. XXI para mudarem de canal quando estiverem transmitindo as verborragias e bobagens de pregadores caídos, malas falantes e suas bobagens internacionais, mundiais ou universais.
Conhecer a verdade de Deus é concordar com ela significa confiar inteiramente no Senhor, por isso crentes consagrados não cometem o equívoco de acreditarem-se capazes de produzir a própria alegria e satisfação eternas (Lc 12:19).

CRENTES CONSAGRADOS ABANDONAM A AUTO CONFIANÇA

….. 3 - 4 – 5 - 6 …..

Provavelmente o maior perigo para os filipenses, naquele momento, era representado pelos judaizantes, como ele alerta Tito [Tt 1.10], alerta também aos gálatas que a circuncisão não é de proveito algum (Gl 5:2) e insiste em que aquela era uma simples mutilação exterior que traria vantagens apenas para os que exigiam sua circuncisão (Gl 6:13).
A razão para [gar] pensar assim é que os cristãos é que foram realmente circuncidados, eles realmente foram alvo da circuncisão verdadeira [peritomh e não katatomh], que é a circuncisão do coração. Metaforicamente Paulo está dizendo que aqueles que foram separados da multidão não regenerada, da multidão dos espiritualmente impuros e que se consagraram a Deus é que tiveram suas paixões e impurezas espirituais removidas.
A circuncisão verdadeira é a que leva a adoração [latreuw] verdadeira a Deus. A verdadeira adoração ao verdadeiro Deus leva à sujeição à sua vontade por intermédio do Espírito [pneuma], que os cães, maus obreiros e mutilados não podiam possuir. Enquanto os "mutilados" se gloriavam na lei, isto é, confiavam na Lei, os cristãos viam a Cristo, o Messias, como sua glória[kauxaomai] e [em contraste] não punham a sua confiança em si mesmos [peiqo] e se tranquilizavam acreditando em sua carne [sarz], irregenerada e incapaz de agradar a Deus (Rm 8:8).
Carne refere-se à natureza terrena humana, afastada da influência divina, propensa ao pecado e passivamente alheia a Deus e, na prática, em oposição a Deus [Mt 12.30]. Embora, se fosse para confiar na carne, Paulo poderia deixar-se persuadir [exw=] por esta falsa confiança, apegar-se ao legalismo e manter-se confiando [pepoiqhsij] na carne [sarz] porque se alguma outra pessoa [eitij] supõe ou pensa [dokew] poder confiar [peiqw=] na capacidade da carne, ele [egw=, enfático] sabia que o poderia muito mais que os demais [mallon] porque ele era:

i.                   Quanto aos ritos:

Paulo foi circuncidado [peritomh] segundo os ritos judaicos ao oitavo dia [oktahmeroj], de acordo com a lei [Lv 12.3]; muitos dos fervorosos judaizantes eram prosélitos, circuncidados em idade posterior, quando foram convertidos ao judaísmo;

ii.                Quanto à genealogia

A linhagem [ex genoj] de Paulo remetia a Israel segundo a carne, mais especificamente da filiação [fulh] de Benjamin, um dos dois filhos preferidos de Israel com sua esposa preferida, Raquel, considerando-se hebreu de hebreus [legitimamente hebreu]. Hebreu de sangue e hebreu de coração;

iii.             Quanto às formalidades legais

Paulo era um criterioso observador da lei [nomoj] mosaica, era fariseu [farisaioj] instruído aos pés de um dos mais sábios mestres do I. Séc., Gamaliel (At 22:3).  Como os fariseus Paulo buscara distinção e honra pela observância externa de rituais e formas exteriores de piedade, como jejuns, orações e esmolas [estavam tão convencidos disso que não se apercebiam que eram negligentes de piedade genuína, de coração] e se orgulhavam de suas supostas boas obras a ponto de chamarem a atenção pública para elas [Mt 6.2].

iv.              Quanto à vida pessoal

Paulo era um zeloso [zhloj] guardador da lei, de mente fervente, indignado a ponto de perseguir [diokw] a Igreja [ekklhsia] com o intento de destruí-la. Paulo preferia fazer parte dos restantes denunciados por Lucas (amigo pessoal e companheiro de viagens) como apartados da fé [At 5.12-13]; seu zelo extremado, como o dos fariseus [Rm 10:2] levou-o a considerar-se mais tarde, blasfemo e insolente [I Tm 1:13].

v.                 Quanto ao legalismo

Pela justiça [kata dikaiosinh] que há na lei de Moisés Paulo era publicamente reconhecido [ginomai] como irrepreensível [amemptoj], desmerecedor de qualquer censura, o que era importante (I Tm 3.7) mas não era essencial (Gl 1.10). Paulo sabia que, embora passando pelo escrutínio dos homens, ele era e continuava sendo um pecador (Rm 7:19), aliás, o principal deles (I Tm 1:16).
Nenhum de nós pode, em sã consciência, acreditar-se mais piedoso que Paulo "antes" da sua conversão. E é esse Paulo que afirma ter sido o principal dos pecadores, com todo este zelo religioso. E mesmo depois da conversão Paulo continua dizendo não confiar na carne (Rm 7:23). Provavelmente o maior problema para a espiritualidade cristã atual seja a pregação descomprometida com a Palavra de Deus e voltada para interesses pessoais, financeiros ou de reconhecimento e não as políticas públicas de cerceamento da liberdade religiosa.
O perigo não está em fecharem os nossos suntuosos templos (a Igreja já se reuniu à sombra de árvores, em prisões, cavernas e até em túmulos subterrâneos) – o perigo está em não ter mais a Palavra de Deus pregada nos púlpitos, em tê-la substituída por mensagens de auto ajuda e não de socorro do alto. O perigo está em que as Igrejas se transformem em lugares onde as pessoas entrem confiantes em si mesmos, batendo no peito cheio de autoconfiança (Lc 18.11-12) mas saindo de lá sob a condenação de Deus e rumando direto pro inferno (Lc 18.14).
Pessoas confiantes de si mesmo cometem o erro de não confiarem em mais ninguém, e a autossuficiência faz com que não esperem nem no Senhor – e tornam-se cristãos relaxados. Cristãos verdadeiros e consagrados fazem como Paulo: esperam no Senhor.

CRENTES CONSAGRADOS ESPERAM NO SENHOR

….. 7 - 8 …..

Mas [alla], sabendo que é impossível possuir justiça própria, sabendo que não pode confiar na carne e suas obras (Gl 5.19-21) porque mesmo as melhores são como trapos de imundícia (Is 64:6) e nada que o homem carnal possa fazer consegue agradar a Deus (Rm 8:8) é preciso que o homem, mesmo o mais religioso, abandone a sua vã confiança na carne, e faça como Paulo.
Paulo considerou [hgeomai] estas coisas que ele fazia, sua religiosidade e zelo, coisas que ele considerava valiosas[kerdoj] e dignas de serem buscadas com grande esforço, coisas nas quais ele arrogava-se vantagem sobre os demais judeus (Gl 1:14) como uma grande perda, um grande prejuízo. O esforço religioso sem Cristo foi considerado em vão. Só havia uma coisa que valia a pena – estar em Cristo porque só em Cristo o cristão pode exclamar alegremente estar livre da lei do pecado e da morte (Rm 8:2). Não havia outra razão justa o suficiente para Paulo abandonar seu estilo de vida anterior: nem família, nem amigos, nem projetos, nem desejos de honra, fama ou sucesso, pelo contrário (Fp 4.12), o único desejo de Paulo era ser achado em Cristo Jesus que o capacitava para vencer alegremente todas as situações (Fp 4.13).
Novamente Paulo diz que não tem plena convicção em considerar (alla menounge hgeomai) todas as coisas mencionadas anteriormente (ritos, genealogia, formalidades religiosas, fama e julgamento humano) como algo que lhe trazia prejuízos [zhmia] porque ele se esforçava e jamais alcançaria o resultado desejado. Era ainda maior prejuízo porque estava ocupando um lugar que poderia ser ocupado por algo incomparavelmente melhor – e, ao ser colocado diante da [einai dia] incomparável superioridade [uperexw] do conhecimento [gnosij] intenso, real, experiencial de Cristo Jesus, ou de Jesus, o Cristo de Deus, fica patente o quanto era inútil uma busca por algo que seja diferente de estar em Cristo.
Nada mais seguro do que pertencer ao próprio Senhor [mou kurioj], soberano e divino, diferente dos demais senhores que os gentios adoravam nos tempos de Paulo: ou eram fictícios (Ef 2:12), como os deuses, ou eram meros humanos orgulhosos, como os governantes (At 12. 21).
Paulo afirma que, por [a expressão "por amor" não está no texto original, foi inserida para dar maior sentido ao contexto geral] Cristo [dia hoj], isto é, para ter  Cristo em sua vida e viver por meio dele, sofreu danos e deixou [zhmiow] para trás (Fp 3.13-14) de absolutamente tudo [paj], mas ele não lamenta porque estas coisas eram fonte de prejuízo, aliás, ele usa uma palavra ainda mais forte, considerando [hgeomai] tudo aquilo como escória [skubalon], ou, numa tradução mais forte literal. excremento de animal com o propósito de, ao fim de [ina] tudo ganhar a maior benção de todas: tornar-se vencedor para [estar em] Cristo.
Esperamos no Senhor porque sabemos que não há alternativa – somente em Cristo podemos chegar ao pai – não há nenhum outro caminho (Jo 14:6). Escolher atalhos significa escolher caminhos que, embora bons aparentemente, acabam em morte certa (Pv 16:25).

OS BENEFÍCIOS DE SER UM CRISTÃO VERDADEIRO

Se um cristão verdadeiro é alguém que guarda a verdadeira doutrina, que luta por ela contra os mestres de falsidade; se ele abandona a confiança em si mesmo e espera unicamente no Senhor, quais os benefícios que ele receberá por sua fidelidade, por sua devoção e confiança no Senhor? É isto o que Paulo nos diz nos versos 9 a 11.

….. 9 – 10 - 11 …..

ESTAR EM CRISTO

Qual a maior benção que uma pessoa pode receber nesta vida? Ganhar o mundo inteiro, como muitos tem tentado e, neste esforço, perdido a si próprios (Lc 9:25). Paulo abriu mão de tudo o que havia sido seu alvo no mundo para ser achado em Cristo. Só pode ser encontrado em Cristo quem está em suas mãos (Jo 10:28). E quem está em suas mãos aceitou seu convite (Mt 11:28), achegou-se a Jesus (Jo 6:37) e recebeu de suas mãos a vida eterna (Jo 3:36).
A maior benção é ser achado em Cristo [heurisko], sem depender dos esforços inúteis, e, mesmo tendo todas as qualificações anteriores que poderiam levar à reivindicação de justiça pessoal, não tendo mais nenhum apego à uma pretensa justiça própria ou legalista [dikaiosunh ek nomoj] na lei, pelo contrário [alla] se apegando à justiça de Cristo, obtida por sua obediência para todos aqueles que são da fé [pistij - Rm 3:27], uma convicção e confiança tanto na existência de Deus [Hb 11:6] quanto um relacionamento pessoal com ele [I Co 4:17] em Cristo, por Cristo e com Cristo [Xristoj] o Messias aguardado. É nele, no Senhor, justiça nossa [Jr 33.16], que se obtém a verdadeira justiça que tem origem em Deus que, pela fé [epi pistij], é justificado (Rm 3:28).

CONHECER A CRISTO

Paulo também afirma que, além de estar em Cristo, o verdadeiro crente também obtém o benefício de conhece-lo verdadeiramente. E este conhecimento se manifesta em três aspectos:
i. Pessoalmente
[ginwskw= autoj], um conhecimento pessoal, não apenas teórico ou histórico, significa experimentar da intimidade. Os homens sempre buscaram conhecer a Deus, e, como não conseguiram por seus próprios esforços, criaram deuses para si de acordo com suas próprias ideias, assim, estes deuses eram "conhecidos". Mas o verdadeiro Deus continuava desconhecido (At 17:23) mesmo para os mais argutos inquiridores da antiguidade, e muitos deles se contam, até hoje, como os maiores de todos os tempos. Mas Deus não quer se manter desconhecido, por isso se manifestou de diversas maneiras(Hb 1.1-2), e a nós, por intermédio de um relacionamento com seu filho Jesus Cristo (Jo 14:21).
ii. Poderosamente
[dunamij] Além do conhecimento pessoal o crente desfruta da experiência do poder de Deus em sua vida (II Tm 1:7), um poder que nenhuma estrutura, nenhuma instituição civil ou religiosa possui além dele mesmo [autoj]. Poder para salvar, poder para restaurar à vida, poder para fazer mortos reviverem [anastasij] tanto no último dia como nos momentos que o Senhor assim o desejou.
Ainda que os discípulos de Jesus já naqueles dias desejassem poder como o mundo desejava – e, lamentavelmente, como os cristãos hoje continuam desejando (Lc 22.24), Jesus lhes manifestou outro poder (At 1:8), muito mais poderoso e impactante, que mudou a história do mundo (At 17:6).
iii. Intimamente
Comunhão é participação real naquilo que é de outrem [dele - autoj].  Comunhão com Cristo é participação real em sua vitória – e a vitória de Cristo foi obtida na cruz, por isso Paulo afirma que é uma benção participar dos sofrimentos [paqhema], suas angústias e aflições, o que tanto Paulo [At 9.15-16] como os demais apóstolos experimentaram [I Pe 3.14] com resignação [II Tm 3.11] e alegria [At 5.41].
E isto é para todos os que desejam andar com o Senhor (II Tm 3.12). Talvez possamos afirmar que uma das grandes dificuldades dos crentes modernos em terem comunhão com Deus esteja no fato de que os crentes se autonomearam príncipes, filhos do dono do mundo, e, portanto, indignos de sofrimentos. Ora, se indignos de sofrimento, também indignos de comungar com ele de sua vitória (I Jo 5:4), indignos de serem, verdadeiramente, mais que vencedores (Rm 8:37) porque para ser mais que vencedor é necessário estar, verdadeiramente, em Cristo.

TER VIDA EM CRISTO

A terceira benção mencionada por Paulo é possuir vida – e só é possível ter vida em Cristo Jesus (Jo 6:53). Ter vida em Cristo significa tomar uma nova forma, viver de acordo com um novo modelo, conformar-se [summorfow=] com ele mesmo [autoj] na sua própria morte, ser morto [qanatoj]. Tem que morrer para viver (Jo 12:24). Ter vida em Cristo significa, primariamente, morrer para o mundo (Gl 6:14).
O alvo final não se refere apenas a esta vida (I Co 15:19). O alvo do cristão é a vida eterna, e, para alcançá-la, ele precisa receber de algum modo [ei poj], de alguma maneira [impossível pelos meios anteriormente citados - Rm 8.3] alcançar [katantaw=]: a ressurreição dentre os mortos [nekroj] – tanto mortos física quanto espirituais, como eram contados tanto  Paulo como os judeus, com seu legalismo, quanto os demais homens, eu e você, até que fomos resgatados da morte e de um estado de alheamento à vida de Deus [Ef 4.18] efetivamente andavam [Ef 2.2].

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Em quem temos depositado a nossa confiança? Em quem temos confiado? Em quem você confia para alcançar a vida eterna? Em que você confia? Sua família não estará ao seu lado no dia de julgamento. Seus amigos não poderão fazer nada, pois terão eles próprios de prestar contas. Suas ações terão valor ofensivo, trapos de imundícia…
O Senhor quer encontrar apenas uma coisa quando voltar: fé (Lc 18:8). O que ele vai encontrar nas suas mãos? Religiosidade? Apego ao nome da sua família? Honra e fama entre os homens?
Ele só quer fé. É pela fé que somos salvos, não por obras (Ef 2.8-9). É olhando para a cruz, deixando de confiar nas obras das nossas mãos mas entregando nossas mãos a Deus para ele fazer a sua obra (Sl 90:17).
Guarde uma pergunta minha em seu coração, e dê a resposta para Deus: o que você tem para ele, agora? Há, porventura, fé em seu coração? Fé suficiente não apenas para viver, mas para morrer?




[1] A circuncisão de Timóteo é por causa de uma circunstância de aceitação no campo de missões. Paulo, entretanto, não aceita circuncidar a Tito por causa de exigências religiosas dos judaizantes (Gl 2:3 - Contudo, nem mesmo Tito, que estava comigo, sendo grego, foi constrangido a circuncidar-se).

Nenhum comentário:

FAÇA DESTE BLOG SUA PÁGINA INICIAL