segunda-feira, 22 de setembro de 2014

CARACTERÍSTICAS DO ADMIRÁVEL E EFICIENTE TESTEMUNHO DA IGREJA CRISTÃ PRIMITIVA

Mensagem proferida na Igreja Presbiteriana em Xinguara, 21 de setembro, 2014.

É quase incontável o número de congressos, conferências, simpósios, cursos, estudos, reflexões, encontros, treinamentos e outros eventos para explicar, replicar, proporcionar ou produzir uma mesma coisa: o crescimento da Igreja. Pergunta-se: porque a Igreja cristã primitiva crescia tão rapidamente? De um pequeno grupo de aproximadamente 500 testemunhas da ascensão de Jesus logo passaram a milhares em Jerusalém e, em menos de 200 anos já eram tão numerosos que os templos pagãos estavam ficando abandonados, os sacrifícios aos deuses eram cada vez menos concorridos a ponto de sobrar carne nos mercados antigos.
Pergunta-se ainda: como fazer a Igreja crescer tão rapidamente a ponto de influenciar em horas ou dias toda uma cidade, região, estados e até países? Com ser uma igreja impactante? A resposta mais curta que encontro nas Escrituras é: sendo Igreja. Não sendo uma instituição engessada por costumes ou absolutamente desorientada pela busca diária de novidades, cada vez mais aberrantes.
Uma palavra que tem sido muito usada para descrever os crentes dos três primeiros séculos (e alguns que sofrem pela fé em todas as épocas) é mártires, que é, também, corretamente interpretada como aquelas pessoas que morreram por causa da sua fé. Mas mártir é muito mais que isso: um mártir era uma testemunha capaz de atestar um fato de maneira que seu falar pudesse ser facilmente comprovado pelos fatos e provas disponíveis.
Como aquela igreja conseguia sem aparelhagem de som? Sem Datashow, sem computador, sem escolas dominicais, sem rádio e televisão? Como eles conseguiam sem whattsapp e sem internet? Como eles conseguiam fazer estas coisas? Como cresceram tão rapidamente sem congressos, sem concílios, sem conferências e sem todas estas coisas que ocupam a vida cotidiana da Igreja do séc. XXI?
De novo: sendo igreja. Simplesmente sendo a Igreja do Senhor. Testemunhando que Jesus é o Cristo de Deus. Fazendo isto diariamente. Fazendo isto de casa em casa. Fazendo isto a tempo e fora de tempo, aproveitando as oportunidades (Cl 4:5) e, até mesmo sendo inoportuno (II Tm 4:2).
O que a Igreja ganhava com este estilo de vida?  Como era este estilo de vida tão impactante? O relato feito por Lucas nos mostra pelo menos quatro características deste admirável estilo de vida, testemunhando que Jesus é o Cristo:

I. SENDO IGREJA ELES ATINGIAM O CORAÇÃO DAS PESSOAS POR CAUSA DO PODER E DO TESTEMUNHO APOSTÓLICO

At 5.12-16

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Muitos sinais e prodígios eram feitos entre o povo pelas mãos dos apóstolos. E costumavam todos reunir-se, de comum acordo, no Pórtico de Salomão.
A característica distintiva desta Igreja era a presença dos apóstolos, que andaram com Jesus, que foram diretamente comissionados pelo mestre, e através dos quais sinais e prodígios eram feitos. Os apóstolos foram testemunhas das cosias que Jesus fez, e também seriam instrumentos das coisas que Jesus continuaria a fazer (At 1.1). Eles foram escolhidos para serem os continuadores da obra iniciada pelo Senhor. A igreja se reunia costumeiramente (através dos dias), em um lugar natural de reuniões naqueles dias - um dos pórticos do templo, citado, aliás, como um lugar onde Jesus frequentava – o pórtico de Salomão. Eles o faziam de comum acordo, o que também era natural numa igreja onde era só um o coração e a alma [At 4:32]. A Igreja cristã era, verdadeiramente, uma comunidade, um corpo – mas não havia comunismo, pois ninguém tomava de um para distribuir a muitos. O que havia era comunhão, cada um doava do que tinha para aqueles que não tinham.

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Mas, dos restantes, ninguém ousava ajuntar-se a eles; porém o povo lhes tributava grande admiração.
A Igreja, entretanto, é contrastada com um outro grupo: os restantes, os que não aderiram ao caminho, não abraçaram a fé. De um lado, os que ficaram no judaísmo, permaneciam no legalismo, em contraste com os que foram chamados para fora, com os que o próprio Novo Testamento chama de comunidade dos que foram chamados para a aliança com Deus em Cristo Jesus. Os cristãos já eram um novo grupo dentro do judaísmo – e não mais parte do judaísmo tradicional. De todos os que iam ao templo os cristãos eram um grupo à parte, estavam no mundo, mas não eram mais do mundo (Jo 17:16).
Porém eles não eram estranhos, nem fanáticos, mas, por outro lado, eles estavam ali para fazer algo que os diferenciava positivamente dos demais religiosos judeus: seu propósito é anunciar a Cristo, e sua sensatez, sua firmeza e o amor que nutriam uns pelos outros levavam a contar com a simpatia [At 2.47] e admiração do povo, daqueles que não estavam presos às amarras do tradicionalismo religioso (tais como herodianos, fariseus, saduceus, escribas) como encontramos no relato feito por Lucas sobre a igreja e Marcos sobre Jesus [Mc 1.22].

----------14 – 16----------

E crescia mais e mais a multidão de crentes, tanto homens como mulheres, agregados ao Senhor, a ponto de levarem os enfermos até pelas ruas e os colocarem sobre leitos e macas, para que, ao passar Pedro, ao menos a sua sombra se projetasse nalguns deles. Afluía também muita gente das cidades vizinhas a Jerusalém, levando doentes e atormentados de espíritos imundos, e todos eram curados.
Se por um lado temos o grande número dos que sobravam sem abraçar a fé (os restantes), por outro, o número dos novos convertidos, dos chamados para a fé aumentava constantemente, com uma característica nova – tradicionalmente os judeus contavam os homens, e acrescentavam mulheres e crianças (Mt 14.21). Na Igreja não há qualquer distinção, e Lucas registra que homens e mulheres, indistintamente, eram vistos como membros da Igreja nascente, independente do sexo, porque os que fazem parte do corpo de Cristo não são vistos em suas diferenças, mas em sua semelhança essencial – pecadores que são ligados, agregados ao Senhor.
Mesmo os restantes, junto com o povo, mesmo de fora da Igreja, mesmo não recebendo a Jesus como seu Senhor e salvador, ainda assim queriam se beneficiar da manifestação da graça de Deus. Assim como os milhares que comeram dos pães e peixes (e no final o número dos que testemunharam a ressurreição de Jesus era menos de um milhar – I Co 15:6) os restantes levavam seus enfermos (astenes – sem saúde, mas também "pecadores") e os colocavam em locais onde Pedro pudesse passar. Faziam isso porque Pedro fora o mais falante dos discípulos por ocasião do Pentecostes (At 2.14) e da primeira pressão institucionalizada sofrida pelos discípulos (At 4.8).
A notícia do que Deus estava fazendo logo se espalhou – não havia internet, celular ou TV. Havia poder e testemunho do que o Senhor estava fazendo (Mc 5:19) e logo muita gente, com o desejo de fazer as mesmas coisas que o povo de Jerusalém estava fazendo (sunerkomai) aflui das cidades próximas com seus doentes e possessos e todos, mesmo sem serem crentes, eram recebiam o tratamento que precisavam (terapeuo), eram curados, diferente do que vemos hoje com os pseudoapóstolos que só curam alguns em ambientes fechados e controlados. É curioso que, da mesma maneira que a palavra doente traz embutida o sentido de pecado, a palavra "curado" traz, também, o sentido de gratidão e adoração.
Aquela multidão que veio até eles, que se deslocou de suas cidades, muitos deles a pé ou carregados em macas ou animais, com grandes dificuldades por causa da enfermidade ou possessão demoníaca tinha, sem dúvida, conhecimento do poder de Deus sendo manifesto naqueles e tinham esperança no que os discípulos representavam – a continuidade da obra de Cristo (At 10:38).

II. SENDO IGREJA ELES MANTINHAM A LIBERDADE VERDADEIRA PARA TESTEMUNHAR DE CRISTO APESAR DE PESSOAS DE CORAÇÃO ENDURECIDO

At 5.17-25

----------17- 18 ----------

Levantando-se, porém, o sumo sacerdote e todos os que estavam com ele, isto é, a seita dos saduceus, tomaram-se de inveja, prenderam os apóstolos e os recolheram à prisão pública.
Quando Pedro percebe que Jesus não é um simples rabino, após a pesca matutina, prostra-se diante do Senhor (Lc 5:8). Abraão também se prostrou (Gn 17:3), bem assim o povo (Lv 9:24) e até Balaão (Nm 22:31). Mas esta atitude não seria compartilhada pelos trabalhadores maus e de dura cerviz (Lc 20.19).
Diferente dos que abraçaram a fé (prostemi) os sacerdotes se opuseram a ela (ana+istemi), isto é, figurativamente, colocaram-se de pé, como uma barreira de inimigos, para resistir-lhe. O sumo sacerdote, como líder da religião dos 'restantes' mencionados por Lucas, juntamente com aqueles que se ocupavam da administração da religião e do templo (os liberais saduceus, que não criam sequer na ressurreição - At 23:8) que pensavam como ele [o sumo sacerdote tradicionalmente saía de entre os saduceus, que negociavam com os governantes romanos para deterem o cargo] estavam totalmente tomados de inveja [zelos: forte oposição, fervente indignação mental].
Sua concordância com o sumo sacerdote, sua inveja não deixava qualquer espaço em sua mente ou coração para a racionalidade ou para a adoração. Tinham zelo, fervor religioso, eram verdadeiros no seu sentimento, mas não possuíam nenhum entendimento espiritual, não possuíam o entendimento de que Cristo era, de fato, o messias [Rm 10.2-4]. Figurativamente eles eram, também, sem saúde, enfermos morais e espirituais.
Eram prisioneiros que, estando há tanto tempo presos, já se achavam donos da prisão. Sua prisão, religiosa, espiritual e mental levou os saduceus a prenderem os apóstolos com o intuito de impedir-lhes, mediante a força, que se locomovessem (lembremos que as pessoas esperavam eles passarem pelas ruas para terem seus enfermos curados). Queriam impedir o povo de ter acesso aos apóstolos e seu testemunho do poder de Jesus Cristo (At 4:9-10).
Os sacerdotes queriam que os apóstolos, especialmente designados por Cristo, não mais estivessem disponíveis aos interessados e aos necessitados. Queriam que os embaixadores do ministério da reconciliação (II Co 5. 18-19) fossem tornados inacessíveis trancando-os de qualquer maneira, de maneira dura e rude, mas o que eles sabiam era que a Palavra de Deus não poderia ficar presa numa cadeia (II Tm 2:9). É mais fácil prendê-la na boca dos crentes relaxados do que em uma torre ou buraco onde ficam criminosos comuns.

----------19 – 21 a----------

Mas, de noite, um anjo do Senhor abriu as portas do cárcere e, conduzindo-os para fora, lhes disse: Ide e, apresentando-vos no templo, dizei ao povo todas as palavras desta Vida. Tendo ouvido isto, logo ao romper do dia, entraram no templo e ensinavam.
Os guardas foram capazes de cumprir o mandato dos sacerdotes, mas eram incapazes de dificultar o que Deus desejava fazer e, um anjo, emissário da vontade daquele que é muito mais poderoso que os sacerdotes, um anjo do Senhor, desfez o que eles haviam feito: abriu de maneira plena, total, mas ao mesmo tempo sem usar força ou arrombar, sem qualquer oposição dos guardas ou das portas, a prisão e os conduziu em liberdade e tranquilamente para fora do lugar onde tinham sido lançados com rudeza e, entrega-lhes as instruções do Senhor: continuem fazendo o que estavam fazendo antes quando foram interrompidos pelos enviados dos sacerdotes.
Os apóstolos não estavam escondidos, como nos dias em que tiveram medo, antes da ressurreição de Jesus [Jo 20:19], mas ensinavam às claras [At 4.13], num dos principais pórticos do templo.
Nada devia mudar, apesar da agora crescente oposição dos sacerdotes, especialmente porque nada mudara também nestes em relação ao evangelho, sua oposição aos discípulos era apenas a continuidade da oposição que devotaram a Jesus [Jo 15.20]. Se a situação não mudou, também a mensagem não deveria mudar. Os discípulos, mesmo perseguidos, não deveriam posar de coitadinhos. Deveriam somente proclamar o evangelho ao povo, deveriam continuar pregando, anunciando o que haviam visto e ouvido do Senhor - as palavras da vida [Jo 6.68].
O alvo da mensagem era todo o povo, todos os que haviam sido chamados de 'restantes', aqueles que ainda não conheciam ou ainda não haviam recebido o evangelho, e eles deveriam continuar pregando, continuar anunciando o evangelho até cumprir a ordem do Senhor de fazer discípulos de todas as nações [Mt 28.19]. Eles deveriam pregar as palavras que ouviram, que eles mesmos chamaram de palavras da vida eterna, e é justa e somente as palavras "desta vida" que eles deveriam pregar. Sua pregação era limitada às palavras que eles ouviram de Jesus, às palavras que eles mesmo reconheceram ser palavra de vida eterna. O contraste é entre a vida natural, eivada de morte espiritual [Ef 4.18] e a nova vida que só pode ser obtida em Cristo Jesus [Ef 2.1].
Os apóstolos compreendem a mensagem e dispõem-se a continuarem submetendo-se às ordens superiores. Ouvir não é apenas atentar aos sons e sentido, mas os discípulos entendiam que era seu dever colocarem-se sob as ordens daquele que possui autoridade suprema [Mt 28.18] e obedecer prontamente. Israel, tendo os profetas, a lei e a religião o tempo todo a chamá-los para perto de Deus, simplesmente não ouvia a Deus [Sl 81.11] e por isso foram julgados [Lc 13.34-35].
O normal de fugitivos seria esconderem-se, mas os discípulos não eram fugitivos, eram embaixadores, e logo ao romper do dia, bem cedo de manhãzinha, entraram sem se esconder e ensinavam no templo, como o próprio Jesus fazia [Lc 19.47]. O ensino que eles deviam ministrar ao povo não podia ser apressado, mas cuidadoso, criterioso, exatamente como haviam aprendido com Jesus ao longo dos anos [Lc 24.27].

----------21 b - 24 ----------

Chegando, porém, o sumo sacerdote e os que com ele estavam, convocaram o Sinédrio e todo o senado dos filhos de Israel e mandaram buscá-los no cárcere. Mas os guardas, indo, não os acharam no cárcere; e, tendo voltado, relataram, dizendo: Achamos o cárcere fechado com toda a segurança e as sentinelas nos seus postos junto às portas; mas, abrindo-as, a ninguém encontramos dentro. Quando o capitão do templo e os principais sacerdotes ouviram estas informações, ficaram perplexos a respeito deles e do que viria a ser isto. Nesse ínterim, alguém chegou e lhes comunicou: Eis que os homens que recolhestes no cárcere, estão no templo ensinando o povo.
Ao mesmo tempo em que os apóstolos pregavam o evangelho no templo, o sumo sacerdote também vai ao templo, mas não como adorador. Ele era apenas um zeloso administrador religioso, continuava tendo o mesmo coração em inimizade contra Deus, sua disposição continuava contraria a pregação apostólica. Enquanto as pessoas saiam para ter com os apóstolos o sumo sacerdote literalmente chegou para ser opositor, convocando os saduceus e todos os líderes religiosos. Ele convoca o sinédrio, um tribunal com funções judiciais, e o senado, composto pelos anciãos do povo, os mesmos que tentaram contestar a autoridade de Jesus anteriormente [Mt 21.], estavam presentes no acordo para matarem o mestre [Mt 27.1], acompanharam Judas, o traidor [Mt 26.47].
Eram os filhos de Israel, mas não eram os filhos de Deus reunidos [Jo 1.12]. Não tinham o propósito de adorar, mas de condenar, de matar e destruir a obra de Deus, demonstrando que não eram filhos da fé [Gl 3.7] mas filhos do diabo [Jo 8.44]. Supondo serem portadores de suprema autoridade [sinédrio e senado reunidos com o sumo-sacerdote] mandaram buscar os apóstolos na prisão, onde os haviam deixado. Os meirinhos foram chamados de apóstolos - mas quem os envia não possuía plena autoridade e, por isso, eles não conseguiram cumprir seu mandato. Os verdadeiros apóstolos não estavam lá, mas estavam fazendo o que o Supremo Senhor lhes havia mandado. O lugar deles não era o cárcere, era o templo. Sua missão não era o silêncio, era a pregação.
Embora enviados pelos sacerdotes, os guardas continuaram sendo apenas guardas obedientes, aliás, como a maioria das pessoas são em seus relacionamentos profissionais. Muitos obedecem prontamente a voz de homens, mas tem enorme dificuldade em obedecerem a voz de Deus. O problema é que quem lhes deu a missão não possuía "toda autoridade" - sua autoridade era derivada, submissa, e, acima de tudo, impotente frente à autoridade Suprema de Deus que não queria os apóstolos presos – pelo menos ainda não naquela ocasião. Os guardas não encontram os apóstolos. Encontram outras pessoas no cárcere, mas os apóstolos não puderam ser encontrados ali. Eles estavam procurando no lugar errado e voltam anunciando sua frustração, enquanto, ao mesmo tempo, os discípulos anunciavam o evangelho no templo.
Os guardas dizem ter achado o cárcere vazio. E ele estava exatamente como deveria estar: fechado com toda a segurança. Não houve invasão, nem arrombamento. Os que deveriam manter os prisioneiros sob constante vigilância continuavam lá, junto às portas, cumprindo o seu papel. Todas as coisas estavam como deveriam estar - inclusive os apóstolos. Eles não deveriam estar no cárcere - e efetivamente, nenhum deles estava. Eles não precisaram esperar que os guardas lhes abrissem as portas, porque disto o próprio Senhor se encarrega [Ap 3.8]. O lugar deles não era atrás das portas fechadas de um cárcere, mas no pórtico de Salomão, anunciando o evangelho ao povo enquanto os guardas, bem próximo dali, falavam aos sacerdotes.
Quando o capitão do templo [hiereus strategos hieron] e os principais sacerdotes [arkiereus] - veja quanta autoridade junta, ouviram estas informações ficaram perplexos, literalmente perderam todas as suas certezas - inclusive a de que poderiam fazer o que planejavam para os apóstolos, que era dar fim à sua pregação, e, também, à sua vida. Apesar de terem sido constituídos autoridades eles ficaram sem saber o que fazer, não conseguiam entender o que ocorria nem o que viria a ser à partir das coisas extraordinárias que estavam acontecendo.
Alguém chegou, aparentemente entrando sem ser anunciado no local reservado de reunião, e comunica [apangelo lego - qualquer comunicado, em contraste com euangelio - boa nova]: todos podem ver que os homens que vocês prenderam não estão mais presos nem tampouco temem serem presos novamente porque estão no lugar onde ninguém esperava que estivessem, mas continuam fazendo o que deveriam estar fazendo, pregando, no templo. Eles estavam fazendo o que eles, os sacerdotes, escribas, fariseus, saduceus e herodianos, o sinédrio e o senado, deveriam fazer: ensinando através de explicações claras, coordenadas e convincentes, o povo, aos quais, eles, os líderes, julgavam ignorante [Jo 7.49]. E, mesmo que fossem ignorantes, a única forma de acabar com a ignorância sobre as coisas de Deus é com o ensino da palavra de Deus, das boas novas, do evangelho de Cristo Jesus.

III. SENDO IGREJA ELES AVANÇAVAM OUSADAMENTE TESTEMUNHANDO SEM MEDO MESMO DIANTE DE AMEAÇAS DE MORTE

At 5.26-40

----------26 - 28----------

Nisto, indo o capitão e os guardas, os trouxeram sem violência, porque temiam ser apedrejados pelo povo. Trouxeram-nos, apresentando-os ao Sinédrio. E o sumo sacerdote interrogou-os, dizendo: Expressamente vos ordenamos que não ensinásseis nesse nome; contudo, enchestes Jerusalém de vossa doutrina; e quereis lançar sobre nós o sangue desse homem.
Imediatamente o capitão e os guardas trouxeram os apóstolos, conduzindo-os de maneira diferente da que haviam feito na primeira vez. Não foram lançados grosseiramente no cárcere porque tinham medo de serem apedrejados pelo povo – prática muito comum quando o povo entendia ter sido cometida alguma falta, especialmente religiosa. Era natural que os cristãos, com tantas famílias abençoadas pelos sinais que estavam sendo efetuados, contassem com a simpatia do povo. Os sacerdotes, capitão e guardas sabiam que a igreja contava com a simpatia de todo o povo por causa do poder do Espírito e pelo testemunho que eles davam, tanto oral quanto prático.
Os apóstolos foram conduzidos e apresentados, isto é, colocados diante de todo o sinédrio, e o sumo sacerdote, como líder institucional daqueles que estavam reunidos, apresentou a questão que tinha contra eles em forma de inquirição judicial. Não era um interrogatório para saber sobre algo, não há perguntas. Há uma peça acusatória. O principal juiz, ou o chefe dentre eles, age como promotor, acusando-os de desobediência a uma ordem expressa: nós lhes determinamos expressamente que não ensinassem neste nome (o nome de Jesus – At 4.12).
É curioso que os escribas e demais religiosos faziam exatamente isto – ensinavam em nome de terceiros. Eles tinham o costume de ensinar citando outros escribas, outros rabinos, mas Jesus não fazia desta maneira, ensinava em sua própria autoridade [Mt 5.21-22] e o povo reconhecia de imediato a diferença [Mc 1.22] e deixava os religiosos enciumados.
Os apóstolos ensinavam sob a autoridade de Jesus, por quem foram enviados [Mt 28.18], e o povo também lhes reconhecia autoridade e autenticidade. Tal não era assim com os religiosos que temiam o povo. Se eles estivessem ensinando em nome de qualquer outro, citando filósofos, teólogos e rabinos, não haveria problema. Mas ensinar a verdade claramente contraditando um quadro de engodo era interpretado como um crime.
Contudo, em desobediência às claras, precisas e impositivas ordens do sinédrio, os discípulos fizeram outra coisa: eles encheram plenamente a cidade, difundiram completamente e influenciaram o pensamento do povo de Jerusalém [obviamente "Jerusalém" não se refere apenas à cidade, é mais uma referência ao sistema político judaico] com o ensino, com esta sua doutrina. Não faltava clareza no ensino apostólico, e, aliás, era justamente este o problema: ele era extremamente claro, e o sacerdote tinha em sua consciência o fato de ter planejado e executado o julgamento e a morte de Jesus - mas tenta fazer da vítima o criminoso, afirmando que a culpa dos discípulos não era ensinar o evangelho, mas desejar atribuir aos sacerdotes uma acusação culposa, a carga de um crime: o sangue daquele homem em cujo nome estavam proibidos de pregar.

----------29 - 32----------

Então, Pedro e os demais apóstolos afirmaram: Antes, importa obedecer a Deus do que aos homens. O Deus de nossos pais ressuscitou a Jesus, a quem vós matastes, pendurando-o num madeiro. Deus, porém, com a sua destra, o exaltou a Príncipe e Salvador, a fim de conceder a Israel o arrependimento e a remissão de pecados. Ora, nós somos testemunhas destes fatos, e bem assim o Espírito Santo, que Deus outorgou aos que lhe obedecem.
A Igreja não temia os que podiam matar o corpo, temiam e obedeciam ao Senhor de todas as coisas, inclusive da sua vida e destino eternos (Mt 10:28). Segundo o costumeiro entre os apóstolos, aparentemente todos falam, mas Pedro acaba sendo o porta-voz dos doze, agora com Matias no lugar de Judas. O Senhor Jesus os advertiu que, enviando-os a pregar, seriam como ovelhas no meio de lobos (Mt 10:16 - Eis que eu vos envio como ovelhas para o meio de lobos; sede, portanto, prudentes como as serpentes e símplices como as pombas) e que chegaria um momento em que  arrastados perante as autoridades [Mt 10.17-19], afirmaram de maneira firme e ousada, organizando os seus argumentos e razões para a sua maneira de proceder. Eles não podiam agir de outra maneira. Eles receberam uma missão e era imperativo que a cumprissem obedientemente.
Eles não tinham opção senão submeterem-se à maior autoridade que eles conheciam - e esta não era o sacerdócio, sinédrio e senado juntos. Sua obediência era devida a Deus [teos e não mais kyrios], não apenas como regente mas como o Senhor criador e sustentador de todo o universo. A comparação feita por Pedro é absurdamente irrespondível, um verdadeiro tapa de luva (com uma pedra dentro): como um grupinho de algo em torno de 100 homens, que dirigia apenas alguns aspectos da vida religiosa e social de uma parte de uma insignificante província romana, arrogante, é verdade, que se achava um país, mas que era só parte de uma província, queria ter mais autoridade do que o Senhor do universo? Pedro lhes diz que eles eram apenas homens e queriam ter mais autoridade que Deus, nada além do "vermezinho de Jacó" (Is 41:14).
Pedro identifica a autoridade a quem deve obediência: IHVH, o Deus de Abraão, Isaque e Jacó. Pedro não precisava da autorização do sumo sacerdote ou do sinédrio para pregar, como, aliás, nenhum pregador na palestina de então precisava. Da mesma maneira, Pedro não sentia que ninguém pudesse mandá-lo calar-se se o próprio Deus havia lhe dado a missão de pregar. Ele usa uma expressão grega, teos hemon pater, para exprimir um conceito hebreu. Pedro refere-se ao Deus eterno, o Criador, doador e sustentador da vida, que, soberano, formou Israel também ressuscitou, isto é, fez subir da morte a Jesus [Iesous]. Pedro cita nominalmente aquele cujo nome estavam proibidos de falar e, além disso, inverte o quadro: de acusados de desobediência mostra que os verdadeiros pecadores são eles, que eram responsáveis pela morte de Jesus, aquele, sobre quem colocaram as mãos, tornando-se pessoalmente responsáveis por colocarem-no em uma madeira, com a consequente consideração do crucificado como uma pessoa debaixo de maldição.
Deus, o próprio Deus, com sua própria mão direita [autou dexios], que, além de mostrar o envolvimento pessoal de Deus (Is 41:13) com aquele que os judeus consideraram maldito, também indica apoio incondicional e poderoso, mostra a completa aprovação de Deus para com Jesus. Pedro afirma que, indubitavelmente, Deus tomou a Jesus pela mão direita e o exaltou a príncipe [arkegos], isto é, o primeiro a ser, acima de todos os títulos e autoridades que os religiosos e o sinédrio possuíam (Fp 2:9). Jesus, cujo nome tinha sido proibido pelo sumo sacerdote, era maior que ele, que seu capitão do templo e que os principais sacerdotes. Jesus é maior que todos, ele é o príncipe, o autor, o primeiro e o que tem a primazia em qualquer questão.
Mas ele é ainda mais que isto. Em acréscimo ao fato de ele ser o que tem a primazia ele é também o salvador [soter] aquele que liberta. A figura é maravilhosa: Jesus, o rejeitado, o que tem seu nome proibido por pequenos chefes é o grande chefe que tem a primazia e que salva e liberta os seus súditos a quem os pequenos chefes querem prender. Deus fez isto com um propósito: conceder algo como um favor a quem se julgava cheio de méritos por acreditarem que cumpriam a lei. Para os arrogantes que se acreditavam poderosos a ponto de impedir a pregação do nome de Jesus é dito que Deus deu este mesmo Jesus para a salvação de pessoas que não mereciam – inclusive eles próprios, desde que se arrependessem [metanoia] do mal praticado - ou do mal tão insistentemente praticado, tanto pessoal como quando se levantaram contra Jesus, e ao proibir que outros ouvissem o que eles mesmos não queriam ouvir.
A exigência era de uma mudança completa, essencial, não apenas de direção mas de fonte de direcionamento da vida [Pv 4.23]. Junto com o arrependimento Jesus também oferece perdão, remissão de uma dívida impagável (Sl 49:7). Jesus já havia feito isto diante dos religiosos e eles não gostaram [Mt 9.5-7]. Agora Pedro diz-lhes que eles devem se arrepender para serem perdoados por aquele a quem ofenderam, a quem consideraram maldito (Sl 2:12). Mas era só nele, no que consideraram ferido de Deus, que os tão importantes príncipes do povo poderiam obter perdão de seus pecados, de seus desvios do caminho da retidão e de sua desobediência à lei de Deus.
Em decorrência disso os apóstolos testemunhavam aquilo que sabiam, que tinham visto e ouvido (I Jo 1:3). Eles eram testemunhas capacitadas a atestar judicialmente os fatos que eles mencionavam. Fatos autênticos, verificáveis, verdadeiros e indisputáveis. Pedro evoca uma segunda testemunha, o Espírito Santo, dado por Deus para aqueles que obedecem a autoridade de Deus e não de meros homens. Pedro volta à questão inicial: a quem os discípulos deviam obedecer? Se tinham o Espírito de Deus, então, deveriam obedecer a Deus. Se não o tinham, então, preferiam se submeter à autoridade do homem, no caso, do Sinédrio, aqui sofrendo uma segunda acusação: além de terem matado a Jesus também não possuíam o Espírito Santo.

----------33----------

Eles, porém, ouvindo, se enfureceram e queriam matá-los.
Ouvindo eles continuaram como opositores, adversários. Pedro lhes disse as mesmas coisas que Jesus lhes havia dito em outra ocasião - eles eram os lavradores maus [Lc 20.19]. Mais uma vez o problema da religião não é falta de instrução, não é falta de conhecimento - é falta de submissão. Eles ouviram mas não atenderam às palavras de exortação de Pedro e dos demais apóstolos. Ao invés de submissão, oposição, ira. Eles se enfureceram, ficaram exasperados, fora do juízo e deliberaram, consultando entre si, para matá-los com violência. Queriam fazer dos apóstolos exemplo para os demais discípulos. Não sabiam que ali e historicamente o sangue das testemunhas de Cristo geraria admiração e conversões, pois o mundo estava enfadado com as religiões que não ofereciam nada além de rituais e nenhuma esperança. Era chegada a plenitude dos tempos, e mesmo o testemunho de um morto podia gerar vidas novas.

----------34 – 38 a ----------

Mas, levantando-se no Sinédrio um fariseu, chamado Gamaliel, mestre da lei, acatado por todo o povo, mandou retirar os homens, por um pouco, e lhes disse: Israelitas, atentai bem no que ides fazer a estes homens. Porque, antes destes dias, se levantou Teudas, insinuando ser ele alguma coisa, ao qual se agregaram cerca de quatrocentos homens; mas ele foi morto, e todos quantos lhe prestavam obediência se dispersaram e deram em nada. Depois desse, levantou-se Judas, o galileu, nos dias do recenseamento, e levou muitos consigo; também este pereceu, e todos quantos lhe obedeciam foram dispersos. Agora, vos digo: dai de mão a estes homens, deixai-os; porque, se este conselho ou esta obra vem de homens, perecerá
Mas mesmo entre os loucos pode-se ouvir uma voz sensata. Um relógio quebrado está certo ao menos duas vezes por dia. E entre os fariseus havia um mestre renomado - o homem que instruiu Saulo de Tarso (At 22:3), que mais tarde, convertido, entraria para a história do mundo e da igreja como Paulo, o apóstolo nascido fora do tempo. Gamaliel ilustra a verdade de que toda verdade é verdade de Deus, não importando na boca de quem ela esteja.
Era normal que quem queria ensinar se assentasse, mas, em um tribunal, quem tomava a palavra tinha que levantar-se e, assim, poder ser visto e identificado. Entre uma centena de pessoas exasperadas, surpreende que Gamaliel seja ouvido. Gamaliel era um fariseu, e os fariseus eram conhecidos por serem zelosos intérpretes e guardadores da lei, muitas vezes opondo-se aos saduceus que dominavam o templo e eram mais liberais em costumes e interpretação, fala ao sinédrio e aos anciãos.
Gamaliel era mestre da lei, um ensinador, rabi ou expositor da lei judaica. Era mais que um mestre, era um mestre acatado [timios], honrado e querido por todo o povo [pas laos], - o mesmo povo que se admirava dos feitos e ensinos dos apóstolos e simpatizava com a igreja [At 2:47] e era temido pelos religiosos [Lc 22:2]. Sabiamente Gamaliel não queria debater a questão diante dos acusados, então solicitou que os acusados fossem retirados por um pouco, conduzidos para fora e colocados sob vigia enquanto eles resolviam o problema.
Alguns duvidosos questionam: se os apóstolos foram colocados para fora, como eles tem conhecimento do que Gamaliel falou? Muitas respostas são possíveis:
1. Ali estava Nicodemus e José de Arimatéia, membros daquele concílio que creram no Senhor Jesus;
2. A fala é de Gamaliel, instrutor de Paulo que teve como seu principal companheiro de viagens Lucas, o autor do livro de Atos, o mesmo Lucas que afirma ter feito acurada pesquisa;
3. Numerosos sacerdotes obedeceram a fé [At 6.7] e provavelmente foram testemunhas oculares desta conversa.
Gamaliel mostra respeito pelos homens ali reunidos e lembra-lhes da responsabilidade que tinham - mas, ainda assim, continuavam sendo o que sempre foram e sempre seriam: meros homens. Usem bem a mente de vocês, reflitam atentamente. Apesar do conselho que pretendia dar, a responsabilidade ainda continuava sendo do sinédrio e dos anciãos que já haviam demonstrado qual era a deliberação firme do seu coração: iam levar adiante o intento de silenciar os apóstolos, matando-os se necessário.
Gamaliel mostra-lhes que há dois tipos de razões mais que evidentes para que eles revejam a decisão que tomaram. Eles podiam, em primeiro lugar, verificar os fatos que ele iria mencionar. O primeiro argumento é: vejam a história, as coisas que aconteceram antes destes dias. O messianismo não era uma novidade para os hebreus. E a queda de falsos Messias também não era um fenômeno desconhecido. Teudas apresentou-se chamando-se de homem importante e 400 homens o ouviram e o atenderam. Mas ele foi morto [da mesma maneira que Jesus tinha sido, embora não saibamos o modo da morte] e todos os que foram persuadidos e se fizeram seus amigos se dissolveram inteiramente e todos sabem que não obtiveram resultado algum.
Ainda dentro do argumento histórico Gamaliel lembra que, após Teudas, surgiu outro que agiu do mesmo modo, Judas, o galileu, galileu como Cristo. Gamaliel apela para a história e para a memória dos presentes, pois muitos daqueles que ali estavam provavelmente acompanharam os fatos pessoalmente, ocorridos cerca de 30 anos antes, nos dias do recenseamento, mesma época do nascimento de Jesus e possivelmente aproveitando a dupla indignação: recenseamento implica em cobrança mais eficiente de impostos e a morte de infantes em Belém da Judéia. Judas levou muito povo consigo. Também este foi morto e todos quantos lhe deram ouvidos e lhe prestavam obediência foram dispersos pela força.
A seguir Gamaliel apresenta a necessária conclusão dos seus argumentos históricos: em vista destas coisas que estão claramente estabelecidas, é imperativo que vocês refreiem seu intento, deixem-nos entregues a si mesmos e se o que eles pensam que estão fazendo é da mesma natureza dos fatos narrados, também terão os mesmos resultados dos anteriores – cairão por terra e desaparecerão.

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…mas, se é de Deus, não podereis destruí-los, para que não sejais, porventura, achados lutando contra Deus. E concordaram com ele.
Mas [de], Gamaliel então introduz um segundo argumento, a que chamo de argumento teológico, lembrando os presentes da soberania de Deus em fazer as coisas como lhe apraz, bem como do limitado conhecimento dos homens - algo que Pedro lhes lembrara há poucos instantes. Se Deus é autor do que eles todos eram testemunhas (pouco tempo antes tiveram que lidar com um paralítico conhecido e que fora indiscutivelmente curado: At 3:16), como os apóstolos reiterada e ousadamente afirmam, nem todo o poder do sinédrio e do senado seriam poderosos (dynamai) o suficiente para resistir à ação de Deus, isto é, por fim à obra que os apóstolos estavam fazendo.
E, sabiamente, emenda com uma advertência: cuidais para que não tenham a desventura de serem vistos e percebidos (por Deus ou pelos homens) como adversários, inimigos de Deus [teomaxos]. E os presentes se deixaram persuadir, concordando com ele. A aquiescência do sumo sacerdote, do sinédrio e dos anciãos se dá na mesma base da concordância dos seguidores de Teudas e Judas, o galileu. Não se trata de conversão, mas de senso de oportunidade, apenas.

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Chamando os apóstolos, açoitaram-nos e, ordenando-lhes que não falassem em o nome de Jesus, os soltaram.
Como não foram convertidos, apenas resolveram esperar, precisavam dar uma satisfação ao povo, para não serem vistos como fracos ou culpados, e, chamando de volta os apóstolos, para intimidá-los e mostrar autoridade entre eles mesmos embora numa atitude ilegal porque feita sem julgamento algum [At 23.3], não houve depoimento de testemunhas acusatórias, nem defesa, mandam açoitar os apóstolos ao mesmo tempo em que insistem em dar-lhes ordens [parangélo] para que não anunciassem o evangelho, as boas novas de salvação em Cristo Jesus.
Mais uma vez mandaram que os discípulos se calassem contrapondo-se às ordens do próprio Deus, que é falar, não calar [At 18.9]. Era uma ordem inútil porque eles já haviam dito que não obedeceriam a esta determinação porque tinham uma autoridade maior sobre eles. Eles continuariam anunciando o nome de Jesus - independente das ordens do sinédrio. Depois disso eles foram soltos [apolio], quase que numa confissão de erro jurídico, um pedido de desculpas com uma justificação (apologia). Se os apóstolos pregavam um falso deus, deveriam ser punidos. Se não, não deveriam sofrer injúrias, nem apanhar. Mas isto não importava, nem para os religiosos, que queriam manter sua aparência de autoridade, nem para os discípulos, que sabiam a quem deviam obedecer.

IV. SENDO IGREJA ELES CONTINUAVAM ANUNCIANDO ALEGREMENTE MESMO APÓS TEREM SOFRIDO PELO NOME DE JESUS

O texto enfatiza de tal modo o acontecido que parece certo dizer que continuavam a pregar alegremente especialmente após terem sido considerados dignos de sofrerem pelo nome de Jesus Cristo.

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E eles se retiraram do Sinédrio regozijando-se por terem sido considerados dignos de sofrer afrontas por esse Nome.
Postos em liberdade, eles se retiram muito alegres [ksairo], jubilosos, dando graças a Deus não pela liberdade obtida, o que seria natural, mas pelo fato de terem sido considerados merecedores de sofrer afrontas, de serem maltratados e desonrados sem serem criminosos mas colocados no mesmo nível dos antigos profetas [Mt 5.11-12] mas porque mantiveram firme o testemunho do nome de Jesus (At 4.12) mesmo em meio à opressão (Hb 10.23).
Fora uma grande vitória, ainda mais que, pouco tempo antes, bem próximo dali, o mesmo Pedro, pressionado por uma serva, depois por outra serva e finalmente por um grupo de pessoas negou a Cristo [Mt 26.69-75]. Não diante de servos, mas diante de autoridades ameaçadoras eles foram firmes, não negaram nem fugiram. Mantiveram-se convictos de que não poderiam deixar de obedecer ao Senhor que tem em suas mãos toda a autoridade [Mt 28.18].

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E todos os dias, no templo e de casa em casa, não cessavam de ensinar e de pregar Jesus, o Cristo.
A igreja continuou a fazer o que vinha fazendo - obedecendo ao Senhor. Os discípulos continuaram a obedecer ao Senhor e não a autoridades inferiores que queriam proibir o que Deus havia ordenado. Todos os dias a igreja continuava se reunindo do portão de Salomão, anunciando que Jesus era o Messias no mesmo lugar frequentado pelo Senhor e onde lhe perguntaram se ele era o Messias [Jo 10.23-24]. Além de reunirem-se no templo, também encontravam-se, literalmente, através das nas casas e continuavam a ensinar e pregar que Jesus é o Cristo, o ungido por Deus, o salvador esperado, o filho do homem anunciado pelos profetas e o filho de Deus, como o próprio Jesus se identifica. Não havia outra mensagem a ser pregada, nem outra coisa a fazer além de evangelizar, de anunciar as boas novas de que o Cristo de Deus já se havia manifestado, de que a graça de Deus se manifestou a todos os homens (Tt 2:11) - e aqueles homens testemunharam sua glória [Jo 1.14].

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Qual a diferença entre a Igreja do I. Séc. e a igreja atual? Porque o testemunho da Igreja primitiva era mais eficiente que o testemunho da Igreja atual? Porque em uma semana a Igreja já tinha mais convertidos do que todas as Igrejas em Xinguara juntas ao longo de três décadas?
Se os apóstolos viram a Jesus (e não há apóstolos hoje, apenas pseudo apóstolos), mais bem aventurados são aqueles que não viram e creram (Jo 20.29).
Está faltando oportunidade de testemunhar? Então, o testemunho tem que ser dado com sabedoria e criando as oportunidades, se preciso (II Tm 4:2).
Está faltando perseguição religiosa? Se não conseguem resistir à vergonha de falar para amigos (Mt 10:36) vai ter ousadia para falar com inimigos?
Falta ensino? O ex-endemoninhado gadareno foi imediatamente para sua casa e todos ficaram admirados do seu testemunho (Mc 5.19-20).
O que falta, realmente, é o enchimento do Espírito Santo (At 4:31) para que a Igreja tenha intrepidez e anuncie a Jesus Cristo como Senhor.
O que falta é arrependimento e confiança absoluta em Deus, e disposição para fazer como Isaías e dizer: "Eis-me aqui". Onde você tem estado? Você tem tido disposição para ir onde mesmo? A que autoridade, afinal, você está obedecendo? A quem você está servindo, afinal, a Deus ou a Mammom? Ao crucificado sob a condução do Espírito Santo (Gl 5:16) ou à concupiscência da carne?

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