Mensagem proferida na Igreja Presbiteriana em Xinguara, 21 de setembro, 2014.
É
quase incontável o número de congressos, conferências, simpósios, cursos,
estudos, reflexões, encontros, treinamentos e outros eventos para explicar,
replicar, proporcionar ou produzir uma mesma coisa: o crescimento da Igreja.
Pergunta-se: porque a Igreja cristã primitiva crescia tão rapidamente? De um
pequeno grupo de aproximadamente 500 testemunhas da ascensão de Jesus logo
passaram a milhares em Jerusalém e, em menos de 200 anos já eram tão numerosos
que os templos pagãos estavam ficando abandonados, os sacrifícios aos deuses
eram cada vez menos concorridos a ponto de sobrar carne nos mercados antigos.
Pergunta-se
ainda: como fazer a Igreja crescer tão rapidamente a ponto de influenciar em
horas ou dias toda uma cidade, região, estados e até países? Com ser uma igreja
impactante? A resposta mais curta que encontro nas Escrituras é: sendo Igreja.
Não sendo uma instituição engessada por costumes ou absolutamente desorientada
pela busca diária de novidades, cada vez mais aberrantes.
Uma
palavra que tem sido muito usada para descrever os crentes dos três primeiros
séculos (e alguns que sofrem pela fé em todas as épocas) é mártires, que é,
também, corretamente interpretada como aquelas pessoas que morreram por causa
da sua fé. Mas mártir é muito mais que isso: um mártir era uma testemunha capaz
de atestar um fato de maneira que seu falar pudesse ser facilmente comprovado
pelos fatos e provas disponíveis.
Como
aquela igreja conseguia sem aparelhagem de som? Sem Datashow, sem computador,
sem escolas dominicais, sem rádio e televisão? Como eles conseguiam sem
whattsapp e sem internet? Como eles conseguiam fazer estas coisas? Como
cresceram tão rapidamente sem congressos, sem concílios, sem conferências e sem
todas estas coisas que ocupam a vida cotidiana da Igreja do séc. XXI?
De
novo: sendo igreja. Simplesmente sendo a Igreja do Senhor. Testemunhando que
Jesus é o Cristo de Deus. Fazendo isto diariamente. Fazendo isto de casa em
casa. Fazendo isto a tempo e fora de tempo, aproveitando as oportunidades (Cl 4:5) e, até mesmo sendo
inoportuno (II
Tm 4:2).
O
que a Igreja ganhava com este estilo de vida? Como era este estilo de vida tão impactante? O
relato feito por Lucas nos mostra pelo menos quatro características deste
admirável estilo de vida, testemunhando que Jesus é o Cristo:
I. SENDO IGREJA
ELES ATINGIAM O CORAÇÃO DAS PESSOAS POR CAUSA DO PODER E DO TESTEMUNHO
APOSTÓLICO
At 5.12-16
----------12----------
Muitos sinais e prodígios eram feitos entre o povo
pelas mãos dos apóstolos. E costumavam todos reunir-se, de comum acordo, no
Pórtico de Salomão.
A
característica distintiva desta Igreja era a presença dos apóstolos, que
andaram com Jesus, que foram diretamente comissionados pelo mestre, e através
dos quais sinais e prodígios eram feitos. Os apóstolos foram testemunhas das
cosias que Jesus fez, e também seriam instrumentos das coisas que Jesus
continuaria a fazer (At
1.1). Eles
foram escolhidos para serem os continuadores da obra iniciada pelo Senhor. A
igreja se reunia costumeiramente (através dos dias), em um lugar natural de
reuniões naqueles dias - um dos pórticos do templo, citado, aliás, como um
lugar onde Jesus frequentava – o pórtico de Salomão. Eles o faziam de comum
acordo, o que também era natural numa igreja onde era só um o coração e a
alma [At 4:32]. A Igreja cristã era,
verdadeiramente, uma comunidade, um corpo – mas não havia comunismo, pois
ninguém tomava de um para distribuir a muitos. O que havia era comunhão, cada
um doava do que tinha para aqueles que não tinham.
----------13----------
Mas, dos restantes, ninguém ousava ajuntar-se a eles;
porém o povo lhes tributava grande admiração.
A
Igreja, entretanto, é contrastada com um outro grupo: os restantes, os que não
aderiram ao caminho, não abraçaram a fé. De um lado, os que ficaram no
judaísmo, permaneciam no legalismo, em contraste com os que foram chamados para
fora, com os que o próprio Novo Testamento chama de comunidade dos que foram
chamados para a aliança com Deus em Cristo Jesus. Os cristãos já eram um novo
grupo dentro do judaísmo – e não mais parte do judaísmo tradicional. De todos
os que iam ao templo os cristãos eram um grupo à parte, estavam no mundo, mas
não eram mais do mundo (Jo
17:16).
Porém
eles não eram estranhos, nem fanáticos, mas, por outro lado, eles estavam ali
para fazer algo que os diferenciava positivamente dos demais religiosos judeus:
seu propósito é anunciar a Cristo, e sua sensatez, sua firmeza e o amor que
nutriam uns pelos outros levavam a contar com a simpatia [At 2.47] e admiração do povo,
daqueles que não estavam presos às amarras do tradicionalismo religioso (tais
como herodianos, fariseus, saduceus, escribas) como encontramos no relato feito
por Lucas sobre a igreja e Marcos sobre Jesus [Mc 1.22].
----------14 – 16----------
E crescia mais e mais a multidão de crentes, tanto
homens como mulheres, agregados ao Senhor, a ponto de levarem os enfermos até
pelas ruas e os colocarem sobre leitos e macas, para que, ao passar Pedro, ao
menos a sua sombra se projetasse nalguns deles. Afluía também muita gente das
cidades vizinhas a Jerusalém, levando doentes e atormentados de espíritos
imundos, e todos eram curados.
Se
por um lado temos o grande número dos que sobravam sem abraçar a fé (os
restantes), por outro, o número dos novos convertidos, dos chamados para a fé
aumentava constantemente, com uma característica nova – tradicionalmente os
judeus contavam os homens, e acrescentavam mulheres e crianças (Mt 14.21). Na Igreja não há qualquer
distinção, e Lucas registra que homens e mulheres, indistintamente, eram vistos
como membros da Igreja nascente, independente do sexo, porque os que fazem
parte do corpo de Cristo não são vistos em suas diferenças, mas em sua
semelhança essencial – pecadores que são ligados, agregados ao Senhor.
Mesmo
os restantes, junto com o povo, mesmo de fora da Igreja, mesmo não recebendo a
Jesus como seu Senhor e salvador, ainda assim queriam se beneficiar da
manifestação da graça de Deus. Assim como os milhares que comeram dos pães e
peixes (e no final o número dos que testemunharam a ressurreição de Jesus era
menos de um milhar – I
Co 15:6) os
restantes levavam seus enfermos (astenes – sem saúde, mas também
"pecadores") e os colocavam em locais onde Pedro pudesse passar.
Faziam isso porque Pedro fora o mais falante dos discípulos por ocasião do Pentecostes
(At 2.14) e da primeira pressão
institucionalizada sofrida pelos discípulos (At 4.8).
A notícia
do que Deus estava fazendo logo se espalhou – não havia internet, celular ou
TV. Havia poder e testemunho do que o Senhor estava fazendo (Mc 5:19) e logo muita gente, com o
desejo de fazer as mesmas coisas que o povo de Jerusalém estava fazendo
(sunerkomai) aflui das cidades próximas com seus doentes e possessos e todos,
mesmo sem serem crentes, eram recebiam o tratamento que precisavam (terapeuo),
eram curados, diferente do que vemos hoje com os pseudoapóstolos que só curam
alguns em ambientes fechados e controlados. É curioso que, da mesma maneira que
a palavra doente traz embutida o sentido de pecado, a palavra
"curado" traz, também, o sentido de gratidão e adoração.
Aquela
multidão que veio até eles, que se deslocou de suas cidades, muitos deles a pé
ou carregados em macas ou animais, com grandes dificuldades por causa da
enfermidade ou possessão demoníaca tinha, sem dúvida, conhecimento do poder de
Deus sendo manifesto naqueles e tinham esperança no que os discípulos
representavam – a continuidade da obra de Cristo (At 10:38).
II. SENDO IGREJA
ELES MANTINHAM A LIBERDADE VERDADEIRA PARA TESTEMUNHAR DE CRISTO APESAR DE
PESSOAS DE CORAÇÃO ENDURECIDO
At 5.17-25
----------17- 18 ----------
Levantando-se, porém, o sumo sacerdote e todos os que
estavam com ele, isto é, a seita dos saduceus, tomaram-se de inveja, prenderam
os apóstolos e os recolheram à prisão pública.
Quando
Pedro percebe que Jesus não é um simples rabino, após a pesca matutina,
prostra-se diante do Senhor (Lc
5:8).
Abraão também se prostrou (Gn
17:3), bem
assim o povo (Lv
9:24) e até
Balaão (Nm 22:31). Mas esta atitude não
seria compartilhada pelos trabalhadores maus e de dura cerviz (Lc 20.19).
Diferente
dos que abraçaram a fé (prostemi) os sacerdotes se opuseram a ela (ana+istemi),
isto é, figurativamente, colocaram-se de pé, como uma barreira de inimigos,
para resistir-lhe. O sumo sacerdote, como líder da religião dos 'restantes'
mencionados por Lucas, juntamente com aqueles que se ocupavam da administração
da religião e do templo (os liberais saduceus, que não criam sequer na
ressurreição - At
23:8) que
pensavam como ele [o sumo sacerdote tradicionalmente saía de entre os saduceus,
que negociavam com os governantes romanos para deterem o cargo] estavam totalmente
tomados de inveja [zelos: forte oposição, fervente indignação mental].
Sua
concordância com o sumo sacerdote, sua inveja não deixava qualquer espaço em
sua mente ou coração para a racionalidade ou para a adoração. Tinham zelo,
fervor religioso, eram verdadeiros no seu sentimento, mas não possuíam nenhum
entendimento espiritual, não possuíam o entendimento de que Cristo era, de
fato, o messias [Rm
10.2-4]. Figurativamente
eles eram, também, sem saúde, enfermos morais e espirituais.
Eram
prisioneiros que, estando há tanto tempo presos, já se achavam donos da prisão.
Sua prisão, religiosa, espiritual e mental levou os saduceus a prenderem os
apóstolos com o intuito de impedir-lhes, mediante a força, que se locomovessem
(lembremos que as pessoas esperavam eles passarem pelas ruas para terem seus
enfermos curados). Queriam impedir o povo de ter acesso aos apóstolos e seu
testemunho do poder de Jesus Cristo (At 4:9-10).
Os
sacerdotes queriam que os apóstolos, especialmente designados por Cristo, não
mais estivessem disponíveis aos interessados e aos necessitados. Queriam que os
embaixadores do ministério da reconciliação (II Co 5. 18-19) fossem tornados inacessíveis trancando-os de
qualquer maneira, de maneira dura e rude, mas o que eles sabiam era que a
Palavra de Deus não poderia ficar presa numa cadeia (II Tm 2:9). É mais fácil prendê-la na
boca dos crentes relaxados do que em uma torre ou buraco onde ficam criminosos
comuns.
----------19 – 21 a----------
Mas, de noite, um anjo do Senhor abriu as portas do
cárcere e, conduzindo-os para fora, lhes disse: Ide e, apresentando-vos no
templo, dizei ao povo todas as palavras desta Vida. Tendo ouvido isto, logo ao
romper do dia, entraram no templo e ensinavam.
Os
guardas foram capazes de cumprir o mandato dos sacerdotes, mas eram incapazes
de dificultar o que Deus desejava fazer e, um anjo, emissário da vontade
daquele que é muito mais poderoso que os sacerdotes, um anjo do Senhor, desfez
o que eles haviam feito: abriu de maneira plena, total, mas ao mesmo tempo sem
usar força ou arrombar, sem qualquer oposição dos guardas ou das portas, a
prisão e os conduziu em liberdade e tranquilamente para fora do lugar onde
tinham sido lançados com rudeza e, entrega-lhes as instruções do Senhor:
continuem fazendo o que estavam fazendo antes quando foram interrompidos pelos
enviados dos sacerdotes.
Os
apóstolos não estavam escondidos, como nos dias em que tiveram medo, antes da
ressurreição de Jesus [Jo
20:19], mas
ensinavam às claras [At
4.13], num
dos principais pórticos do templo.
Nada
devia mudar, apesar da agora crescente oposição dos sacerdotes, especialmente
porque nada mudara também nestes em relação ao evangelho, sua oposição aos discípulos
era apenas a continuidade da oposição que devotaram a Jesus [Jo 15.20]. Se a situação não mudou,
também a mensagem não deveria mudar. Os discípulos, mesmo perseguidos, não
deveriam posar de coitadinhos. Deveriam somente proclamar o evangelho ao povo,
deveriam continuar pregando, anunciando o que haviam visto e ouvido do Senhor -
as palavras da vida [Jo
6.68].
O
alvo da mensagem era todo o povo, todos os que haviam sido chamados de
'restantes', aqueles que ainda não conheciam ou ainda não haviam recebido o
evangelho, e eles deveriam continuar pregando, continuar anunciando o evangelho
até cumprir a ordem do Senhor de fazer discípulos de todas as nações [Mt 28.19]. Eles deveriam pregar as
palavras que ouviram, que eles mesmos chamaram de palavras da vida eterna, e é
justa e somente as palavras "desta vida" que eles deveriam pregar.
Sua pregação era limitada às palavras que eles ouviram de Jesus, às palavras
que eles mesmo reconheceram ser palavra de vida eterna. O contraste é entre a
vida natural, eivada de morte espiritual [Ef 4.18] e a nova vida que só pode ser obtida em Cristo
Jesus [Ef 2.1].
Os
apóstolos compreendem a mensagem e dispõem-se a continuarem submetendo-se às
ordens superiores. Ouvir não é apenas atentar aos sons e sentido, mas os
discípulos entendiam que era seu dever colocarem-se sob as ordens daquele que
possui autoridade suprema [Mt
28.18] e
obedecer prontamente. Israel, tendo os profetas, a lei e a religião o tempo
todo a chamá-los para perto de Deus, simplesmente não ouvia a Deus [Sl 81.11] e por isso foram julgados
[Lc 13.34-35].
O
normal de fugitivos seria esconderem-se, mas os discípulos não eram fugitivos,
eram embaixadores, e logo ao romper do dia, bem cedo de manhãzinha, entraram
sem se esconder e ensinavam no templo, como o próprio Jesus fazia [Lc 19.47]. O ensino que eles deviam
ministrar ao povo não podia ser apressado, mas cuidadoso, criterioso,
exatamente como haviam aprendido com Jesus ao longo dos anos [Lc 24.27].
----------21 b - 24 ----------
Chegando, porém, o sumo sacerdote e os que com ele
estavam, convocaram o Sinédrio e todo o senado dos filhos de Israel e mandaram
buscá-los no cárcere. Mas os guardas, indo, não os acharam no cárcere; e, tendo
voltado, relataram, dizendo: Achamos o cárcere fechado com toda a segurança e
as sentinelas nos seus postos junto às portas; mas, abrindo-as, a ninguém
encontramos dentro. Quando o capitão do templo e os principais sacerdotes
ouviram estas informações, ficaram perplexos a respeito deles e do que viria a
ser isto. Nesse ínterim, alguém chegou e lhes comunicou: Eis que os homens que
recolhestes no cárcere, estão no templo ensinando o povo.
Ao
mesmo tempo em que os apóstolos pregavam o evangelho no templo, o sumo
sacerdote também vai ao templo, mas não como adorador. Ele era apenas um zeloso
administrador religioso, continuava tendo o mesmo coração em inimizade contra
Deus, sua disposição continuava contraria a pregação apostólica. Enquanto as
pessoas saiam para ter com os apóstolos o sumo sacerdote literalmente chegou
para ser opositor, convocando os saduceus e todos os líderes religiosos. Ele convoca
o sinédrio, um tribunal com funções judiciais, e o senado, composto pelos
anciãos do povo, os mesmos que tentaram contestar a autoridade de Jesus
anteriormente [Mt
21.],
estavam presentes no acordo para matarem o mestre [Mt 27.1], acompanharam Judas, o traidor [Mt 26.47].
Eram
os filhos de Israel, mas não eram os filhos de Deus reunidos [Jo 1.12]. Não tinham o propósito de
adorar, mas de condenar, de matar e destruir a obra de Deus, demonstrando que
não eram filhos da fé [Gl
3.7] mas
filhos do diabo [Jo
8.44]. Supondo
serem portadores de suprema autoridade [sinédrio e senado reunidos com o
sumo-sacerdote] mandaram buscar os apóstolos na prisão, onde os haviam deixado.
Os meirinhos foram chamados de apóstolos - mas quem os envia não possuía plena
autoridade e, por isso, eles não conseguiram cumprir seu mandato. Os
verdadeiros apóstolos não estavam lá, mas estavam fazendo o que o Supremo
Senhor lhes havia mandado. O lugar deles não era o cárcere, era o templo. Sua
missão não era o silêncio, era a pregação.
Embora
enviados pelos sacerdotes, os guardas continuaram sendo apenas guardas
obedientes, aliás, como a maioria das pessoas são em seus relacionamentos
profissionais. Muitos obedecem prontamente a voz de homens, mas tem enorme
dificuldade em obedecerem a voz de Deus. O problema é que quem lhes deu a
missão não possuía "toda autoridade" - sua autoridade era derivada,
submissa, e, acima de tudo, impotente frente à autoridade Suprema de Deus que
não queria os apóstolos presos – pelo menos ainda não naquela ocasião. Os guardas
não encontram os apóstolos. Encontram outras pessoas no cárcere, mas os
apóstolos não puderam ser encontrados ali. Eles estavam procurando no lugar
errado e voltam anunciando sua frustração, enquanto, ao mesmo tempo, os
discípulos anunciavam o evangelho no templo.
Os
guardas dizem ter achado o cárcere vazio. E ele estava exatamente como deveria
estar: fechado com toda a segurança. Não houve invasão, nem arrombamento. Os
que deveriam manter os prisioneiros sob constante vigilância continuavam lá,
junto às portas, cumprindo o seu papel. Todas as coisas estavam como deveriam
estar - inclusive os apóstolos. Eles não deveriam estar no cárcere - e
efetivamente, nenhum deles estava. Eles não precisaram esperar que os guardas
lhes abrissem as portas, porque disto o próprio Senhor se encarrega [Ap 3.8]. O lugar deles não era
atrás das portas fechadas de um cárcere, mas no pórtico de Salomão, anunciando
o evangelho ao povo enquanto os guardas, bem próximo dali, falavam aos
sacerdotes.
Quando
o capitão do templo [hiereus strategos hieron] e os principais sacerdotes [arkiereus]
- veja quanta autoridade junta, ouviram estas informações ficaram perplexos,
literalmente perderam todas as suas certezas - inclusive a de que poderiam
fazer o que planejavam para os apóstolos, que era dar fim à sua pregação, e,
também, à sua vida. Apesar de terem sido constituídos autoridades eles ficaram
sem saber o que fazer, não conseguiam entender o que ocorria nem o que viria a
ser à partir das coisas extraordinárias que estavam acontecendo.
Alguém
chegou, aparentemente entrando sem ser anunciado no local reservado de reunião,
e comunica [apangelo lego - qualquer comunicado, em contraste com euangelio -
boa nova]: todos podem ver que os homens que vocês prenderam não estão mais
presos nem tampouco temem serem presos novamente porque estão no lugar onde
ninguém esperava que estivessem, mas continuam fazendo o que deveriam estar
fazendo, pregando, no templo. Eles estavam fazendo o que eles, os sacerdotes,
escribas, fariseus, saduceus e herodianos, o sinédrio e o senado, deveriam
fazer: ensinando através de explicações claras, coordenadas e convincentes, o
povo, aos quais, eles, os líderes, julgavam ignorante [Jo 7.49]. E, mesmo que fossem
ignorantes, a única forma de acabar com a ignorância sobre as coisas de Deus é
com o ensino da palavra de Deus, das boas novas, do evangelho de Cristo Jesus.
III. SENDO IGREJA
ELES AVANÇAVAM OUSADAMENTE TESTEMUNHANDO SEM MEDO MESMO DIANTE DE AMEAÇAS DE
MORTE
At 5.26-40
----------26 - 28----------
Nisto, indo o capitão e os guardas, os trouxeram sem
violência, porque temiam ser apedrejados pelo povo. Trouxeram-nos,
apresentando-os ao Sinédrio. E o sumo sacerdote interrogou-os, dizendo:
Expressamente vos ordenamos que não ensinásseis nesse nome; contudo, enchestes
Jerusalém de vossa doutrina; e quereis lançar sobre nós o sangue desse homem.
Imediatamente
o capitão e os guardas trouxeram os apóstolos, conduzindo-os de maneira
diferente da que haviam feito na primeira vez. Não foram lançados
grosseiramente no cárcere porque tinham medo de serem apedrejados pelo povo –
prática muito comum quando o povo entendia ter sido cometida alguma falta,
especialmente religiosa. Era natural que os cristãos, com tantas famílias
abençoadas pelos sinais que estavam sendo efetuados, contassem com a simpatia
do povo. Os sacerdotes, capitão e guardas sabiam que a igreja contava com a
simpatia de todo o povo por causa do poder do Espírito e pelo testemunho que
eles davam, tanto oral quanto prático.
Os
apóstolos foram conduzidos e apresentados, isto é, colocados diante de todo o
sinédrio, e o sumo sacerdote, como líder institucional daqueles que estavam
reunidos, apresentou a questão que tinha contra eles em forma de inquirição
judicial. Não era um interrogatório para saber sobre algo, não há perguntas. Há
uma peça acusatória. O principal juiz, ou o chefe dentre eles, age como
promotor, acusando-os de desobediência a uma ordem expressa: nós lhes
determinamos expressamente que não ensinassem neste nome (o nome de Jesus – At 4.12).
É
curioso que os escribas e demais religiosos faziam exatamente isto – ensinavam
em nome de terceiros. Eles tinham o costume de ensinar citando outros escribas,
outros rabinos, mas Jesus não fazia desta maneira, ensinava em sua própria
autoridade [Mt
5.21-22] e
o povo reconhecia de imediato a diferença [Mc 1.22] e deixava os religiosos enciumados.
Os
apóstolos ensinavam sob a autoridade de Jesus, por quem foram enviados [Mt 28.18], e o povo também lhes
reconhecia autoridade e autenticidade. Tal não era assim com os religiosos que
temiam o povo. Se eles estivessem ensinando em nome de qualquer outro, citando
filósofos, teólogos e rabinos, não haveria problema. Mas ensinar a verdade
claramente contraditando um quadro de engodo era interpretado como um crime.
Contudo,
em desobediência às claras, precisas e impositivas ordens do sinédrio, os
discípulos fizeram outra coisa: eles encheram plenamente a cidade, difundiram
completamente e influenciaram o pensamento do povo de Jerusalém [obviamente
"Jerusalém" não se refere apenas à cidade, é mais uma referência ao
sistema político judaico] com o ensino, com esta sua doutrina. Não faltava
clareza no ensino apostólico, e, aliás, era justamente este o problema: ele era
extremamente claro, e o sacerdote tinha em sua consciência o fato de ter
planejado e executado o julgamento e a morte de Jesus - mas tenta fazer da
vítima o criminoso, afirmando que a culpa dos discípulos não era ensinar o
evangelho, mas desejar atribuir aos sacerdotes uma acusação culposa, a carga de
um crime: o sangue daquele homem em cujo nome estavam proibidos de pregar.
----------29 - 32----------
Então, Pedro e os demais apóstolos afirmaram: Antes,
importa obedecer a Deus do que aos homens. O Deus de nossos pais ressuscitou a
Jesus, a quem vós matastes, pendurando-o num madeiro. Deus, porém, com a sua
destra, o exaltou a Príncipe e Salvador, a fim de conceder a Israel o
arrependimento e a remissão de pecados. Ora, nós somos testemunhas destes
fatos, e bem assim o Espírito Santo, que Deus outorgou aos que lhe obedecem.
A Igreja não temia os que podiam matar o
corpo, temiam e obedeciam ao Senhor de todas as coisas, inclusive da sua vida e
destino eternos (Mt
10:28). Segundo o costumeiro entre os apóstolos,
aparentemente todos falam, mas Pedro acaba sendo o porta-voz dos doze, agora
com Matias no lugar de Judas. O Senhor Jesus os advertiu que, enviando-os a
pregar, seriam como ovelhas no meio de lobos (Mt 10:16 - Eis que eu vos envio
como ovelhas para o meio de lobos; sede, portanto, prudentes como as serpentes
e símplices como as pombas) e que chegaria um momento em que
arrastados perante as autoridades [Mt 10.17-19], afirmaram de maneira firme e ousada, organizando
os seus argumentos e razões para a sua maneira de proceder. Eles não podiam
agir de outra maneira. Eles receberam uma missão e era imperativo que a
cumprissem obedientemente.
Eles
não tinham opção senão submeterem-se à maior autoridade que eles conheciam - e
esta não era o sacerdócio, sinédrio e senado juntos. Sua obediência era devida
a Deus [teos e não mais kyrios], não apenas como regente mas como o Senhor
criador e sustentador de todo o universo. A comparação feita por Pedro é
absurdamente irrespondível, um verdadeiro tapa de luva (com uma pedra dentro):
como um grupinho de algo em torno de 100 homens, que dirigia apenas alguns
aspectos da vida religiosa e social de uma parte de uma insignificante
província romana, arrogante, é verdade, que se achava um país, mas que era só
parte de uma província, queria ter mais autoridade do que o Senhor do universo?
Pedro lhes diz que eles eram apenas homens e queriam ter mais autoridade que
Deus, nada além do "vermezinho de Jacó" (Is 41:14).
Pedro
identifica a autoridade a quem deve obediência: IHVH, o Deus de Abraão, Isaque
e Jacó. Pedro não precisava da autorização do sumo sacerdote ou do sinédrio
para pregar, como, aliás, nenhum pregador na palestina de então precisava. Da
mesma maneira, Pedro não sentia que ninguém pudesse mandá-lo calar-se se o próprio
Deus havia lhe dado a missão de pregar. Ele usa uma expressão grega, teos hemon
pater, para exprimir um conceito hebreu. Pedro refere-se ao Deus eterno, o
Criador, doador e sustentador da vida, que, soberano, formou Israel também
ressuscitou, isto é, fez subir da morte a Jesus [Iesous]. Pedro cita nominalmente
aquele cujo nome estavam proibidos de falar e, além disso, inverte o quadro: de
acusados de desobediência mostra que os verdadeiros pecadores são eles, que
eram responsáveis pela morte de Jesus, aquele, sobre quem colocaram as mãos,
tornando-se pessoalmente responsáveis por colocarem-no em uma madeira, com a
consequente consideração do crucificado como uma pessoa debaixo de maldição.
Deus,
o próprio Deus, com sua própria mão direita [autou dexios], que, além de
mostrar o envolvimento pessoal de Deus (Is 41:13) com aquele que os judeus consideraram maldito,
também indica apoio incondicional e poderoso, mostra a completa aprovação de
Deus para com Jesus. Pedro afirma que, indubitavelmente, Deus tomou a Jesus pela
mão direita e o exaltou a príncipe [arkegos], isto é, o primeiro a ser, acima
de todos os títulos e autoridades que os religiosos e o sinédrio possuíam (Fp 2:9). Jesus, cujo nome tinha
sido proibido pelo sumo sacerdote, era maior que ele, que seu capitão do templo
e que os principais sacerdotes. Jesus é maior que todos, ele é o príncipe, o
autor, o primeiro e o que tem a primazia em qualquer questão.
Mas
ele é ainda mais que isto. Em acréscimo ao fato de ele ser o que tem a primazia
ele é também o salvador [soter] aquele que liberta. A figura é maravilhosa:
Jesus, o rejeitado, o que tem seu nome proibido por pequenos chefes é o grande
chefe que tem a primazia e que salva e liberta os seus súditos a quem os
pequenos chefes querem prender. Deus fez isto com um propósito: conceder algo
como um favor a quem se julgava cheio de méritos por acreditarem que cumpriam a
lei. Para os arrogantes que se acreditavam poderosos a ponto de impedir a
pregação do nome de Jesus é dito que Deus deu este mesmo Jesus para a salvação
de pessoas que não mereciam – inclusive eles próprios, desde que se
arrependessem [metanoia] do mal praticado - ou do mal tão insistentemente
praticado, tanto pessoal como quando se levantaram contra Jesus, e ao proibir
que outros ouvissem o que eles mesmos não queriam ouvir.
A
exigência era de uma mudança completa, essencial, não apenas de direção mas de
fonte de direcionamento da vida [Pv
4.23].
Junto com o arrependimento Jesus também oferece perdão, remissão de uma dívida
impagável (Sl
49:7).
Jesus já havia feito isto diante dos religiosos e eles não gostaram [Mt 9.5-7]. Agora Pedro diz-lhes que
eles devem se arrepender para serem perdoados por aquele a quem ofenderam, a
quem consideraram maldito (Sl
2:12). Mas
era só nele, no que consideraram ferido de Deus, que os tão importantes
príncipes do povo poderiam obter perdão de seus pecados, de seus desvios do
caminho da retidão e de sua desobediência à lei de Deus.
Em decorrência
disso os apóstolos testemunhavam aquilo que sabiam, que tinham visto e ouvido (I Jo 1:3). Eles eram testemunhas
capacitadas a atestar judicialmente os fatos que eles mencionavam. Fatos
autênticos, verificáveis, verdadeiros e indisputáveis. Pedro evoca uma segunda
testemunha, o Espírito Santo, dado por Deus para aqueles que obedecem a
autoridade de Deus e não de meros homens. Pedro volta à questão inicial: a quem
os discípulos deviam obedecer? Se tinham o Espírito de Deus, então, deveriam
obedecer a Deus. Se não o tinham, então, preferiam se submeter à autoridade do
homem, no caso, do Sinédrio, aqui sofrendo uma segunda acusação: além de terem
matado a Jesus também não possuíam o Espírito Santo.
----------33----------
Eles, porém, ouvindo, se enfureceram e queriam matá-los.
Ouvindo
eles continuaram como opositores, adversários. Pedro lhes disse as mesmas
coisas que Jesus lhes havia dito em outra ocasião - eles eram os lavradores
maus [Lc 20.19]. Mais uma vez o problema
da religião não é falta de instrução, não é falta de conhecimento - é falta de
submissão. Eles ouviram mas não atenderam às palavras de exortação de Pedro e
dos demais apóstolos. Ao invés de submissão, oposição, ira. Eles se enfureceram,
ficaram exasperados, fora do juízo e deliberaram, consultando entre si, para
matá-los com violência. Queriam fazer dos apóstolos exemplo para os demais
discípulos. Não sabiam que ali e historicamente o sangue das testemunhas de
Cristo geraria admiração e conversões, pois o mundo estava enfadado com as
religiões que não ofereciam nada além de rituais e nenhuma esperança. Era
chegada a plenitude dos tempos, e mesmo o testemunho de um morto podia gerar
vidas novas.
----------34 – 38 a ----------
Mas, levantando-se no Sinédrio um fariseu, chamado
Gamaliel, mestre da lei, acatado por todo o povo, mandou retirar os homens, por
um pouco, e lhes disse: Israelitas, atentai bem no que ides fazer a estes
homens. Porque, antes destes dias, se levantou Teudas, insinuando ser ele
alguma coisa, ao qual se agregaram cerca de quatrocentos homens; mas ele foi
morto, e todos quantos lhe prestavam obediência se dispersaram e deram em nada.
Depois desse, levantou-se Judas, o galileu, nos dias do recenseamento, e levou
muitos consigo; também este pereceu, e todos quantos lhe obedeciam foram
dispersos. Agora, vos digo: dai de mão a estes homens, deixai-os; porque, se
este conselho ou esta obra vem de homens, perecerá
Mas
mesmo entre os loucos pode-se ouvir uma voz sensata. Um relógio quebrado está
certo ao menos duas vezes por dia. E entre os fariseus havia um mestre renomado
- o homem que instruiu Saulo de Tarso (At 22:3), que mais tarde, convertido, entraria para a
história do mundo e da igreja como Paulo, o apóstolo nascido fora do tempo. Gamaliel
ilustra a verdade de que toda verdade é verdade de Deus, não importando na boca
de quem ela esteja.
Era
normal que quem queria ensinar se assentasse, mas, em um tribunal, quem tomava
a palavra tinha que levantar-se e, assim, poder ser visto e identificado. Entre
uma centena de pessoas exasperadas, surpreende que Gamaliel seja ouvido. Gamaliel
era um fariseu, e os fariseus eram conhecidos por serem zelosos intérpretes e
guardadores da lei, muitas vezes opondo-se aos saduceus que dominavam o templo
e eram mais liberais em costumes e interpretação, fala ao sinédrio e aos
anciãos.
Gamaliel
era mestre da lei, um ensinador, rabi ou expositor da lei judaica. Era mais que
um mestre, era um mestre acatado [timios], honrado e querido por todo o povo [pas
laos], - o mesmo povo que se admirava dos feitos e ensinos dos apóstolos e
simpatizava com a igreja [At
2:47] e era
temido pelos religiosos [Lc
22:2].
Sabiamente Gamaliel não queria debater a questão diante dos acusados, então solicitou
que os acusados fossem retirados por um pouco, conduzidos para fora e colocados
sob vigia enquanto eles resolviam o problema.
Alguns
duvidosos questionam: se os apóstolos foram colocados para fora, como eles tem
conhecimento do que Gamaliel falou? Muitas respostas são possíveis:
1. Ali estava Nicodemus e José
de Arimatéia, membros daquele concílio que creram no Senhor Jesus;
2. A fala é de Gamaliel,
instrutor de Paulo que teve como seu principal companheiro de viagens Lucas, o
autor do livro de Atos, o mesmo Lucas que afirma ter feito acurada pesquisa;
3. Numerosos sacerdotes
obedeceram a fé [At
6.7] e
provavelmente foram testemunhas oculares desta conversa.
Gamaliel
mostra respeito pelos homens ali reunidos e lembra-lhes da responsabilidade que
tinham - mas, ainda assim, continuavam sendo o que sempre foram e sempre
seriam: meros homens. Usem bem a mente de vocês, reflitam atentamente. Apesar
do conselho que pretendia dar, a responsabilidade ainda continuava sendo do
sinédrio e dos anciãos que já haviam demonstrado qual era a deliberação firme
do seu coração: iam levar adiante o intento de silenciar os apóstolos,
matando-os se necessário.
Gamaliel
mostra-lhes que há dois tipos de razões mais que evidentes para que eles
revejam a decisão que tomaram. Eles podiam, em primeiro lugar, verificar os
fatos que ele iria mencionar. O primeiro argumento é: vejam a história, as
coisas que aconteceram antes destes dias. O messianismo não era uma novidade
para os hebreus. E a queda de falsos Messias também não era um fenômeno
desconhecido. Teudas apresentou-se chamando-se de homem importante e 400 homens
o ouviram e o atenderam. Mas ele foi morto [da mesma maneira que Jesus tinha
sido, embora não saibamos o modo da morte] e todos os que foram persuadidos e se
fizeram seus amigos se dissolveram inteiramente e todos sabem que não obtiveram
resultado algum.
Ainda
dentro do argumento histórico Gamaliel lembra que, após Teudas, surgiu outro
que agiu do mesmo modo, Judas, o galileu, galileu como Cristo. Gamaliel apela
para a história e para a memória dos presentes, pois muitos daqueles que ali
estavam provavelmente acompanharam os fatos pessoalmente, ocorridos cerca de 30
anos antes, nos dias do recenseamento, mesma época do nascimento de Jesus e
possivelmente aproveitando a dupla indignação: recenseamento implica em
cobrança mais eficiente de impostos e a morte de infantes em Belém da Judéia.
Judas levou muito povo consigo. Também este foi morto e todos quantos lhe deram
ouvidos e lhe prestavam obediência foram dispersos pela força.
A
seguir Gamaliel apresenta a necessária conclusão dos seus argumentos
históricos: em vista destas coisas que estão claramente estabelecidas, é
imperativo que vocês refreiem seu intento, deixem-nos entregues a si mesmos e
se o que eles pensam que estão fazendo é da mesma natureza dos fatos narrados,
também terão os mesmos resultados dos anteriores – cairão por terra e
desaparecerão.
----------38 b - 39----------
…mas, se é de Deus, não podereis destruí-los, para que
não sejais, porventura, achados lutando contra Deus. E concordaram com ele.
Mas
[de], Gamaliel então introduz um
segundo argumento, a que chamo de argumento teológico, lembrando os presentes da
soberania de Deus em fazer as coisas como lhe apraz, bem como do limitado
conhecimento dos homens - algo que Pedro lhes lembrara há poucos instantes. Se Deus
é autor do que eles todos eram testemunhas (pouco tempo antes tiveram que lidar
com um paralítico conhecido e que fora indiscutivelmente curado: At 3:16), como os apóstolos
reiterada e ousadamente afirmam, nem todo o poder do sinédrio e do senado
seriam poderosos (dynamai) o suficiente para resistir à ação de Deus, isto é,
por fim à obra que os apóstolos estavam fazendo.
E,
sabiamente, emenda com uma advertência: cuidais para que não tenham a
desventura de serem vistos e percebidos (por Deus ou pelos homens) como
adversários, inimigos de Deus [teomaxos]. E os presentes se deixaram persuadir,
concordando com ele. A aquiescência do sumo sacerdote, do sinédrio e dos anciãos
se dá na mesma base da concordância dos seguidores de Teudas e Judas, o
galileu. Não se trata de conversão, mas de senso de oportunidade, apenas.
----------40----------
Chamando os apóstolos, açoitaram-nos e, ordenando-lhes
que não falassem em o nome de Jesus, os soltaram.
Como
não foram convertidos, apenas resolveram esperar, precisavam dar uma satisfação
ao povo, para não serem vistos como fracos ou culpados, e, chamando de volta os
apóstolos, para intimidá-los e mostrar autoridade entre eles mesmos embora numa
atitude ilegal porque feita sem julgamento algum [At 23.3], não houve depoimento de testemunhas acusatórias,
nem defesa, mandam açoitar os apóstolos ao mesmo tempo em que insistem em
dar-lhes ordens [parangélo] para que não anunciassem o evangelho, as boas novas
de salvação em Cristo Jesus.
Mais
uma vez mandaram que os discípulos se calassem contrapondo-se às ordens do
próprio Deus, que é falar, não calar [At 18.9]. Era uma ordem inútil porque eles já haviam dito
que não obedeceriam a esta determinação porque tinham uma autoridade maior
sobre eles. Eles continuariam anunciando o nome de Jesus - independente das
ordens do sinédrio. Depois disso eles foram soltos [apolio], quase que numa
confissão de erro jurídico, um pedido de desculpas com uma justificação
(apologia). Se os apóstolos pregavam um falso deus, deveriam ser punidos. Se
não, não deveriam sofrer injúrias, nem apanhar. Mas isto não importava, nem
para os religiosos, que queriam manter sua aparência de autoridade, nem para os
discípulos, que sabiam a quem deviam obedecer.
IV. SENDO IGREJA
ELES CONTINUAVAM ANUNCIANDO ALEGREMENTE MESMO APÓS TEREM SOFRIDO PELO NOME DE JESUS
O
texto enfatiza de tal modo o acontecido que parece certo dizer que continuavam
a pregar alegremente especialmente
após terem sido considerados dignos de sofrerem pelo nome de Jesus Cristo.
----------41----------
E eles se retiraram do Sinédrio regozijando-se por
terem sido considerados dignos de sofrer afrontas por esse Nome.
Postos
em liberdade, eles se retiram muito alegres [ksairo], jubilosos, dando graças a
Deus não pela liberdade obtida, o
que seria natural, mas pelo fato de terem sido considerados merecedores de
sofrer afrontas, de serem maltratados e desonrados sem serem criminosos mas
colocados no mesmo nível dos antigos profetas [Mt 5.11-12] mas porque mantiveram firme o testemunho do nome
de Jesus (At 4.12) mesmo em meio à opressão (Hb 10.23).
Fora
uma grande vitória, ainda mais que, pouco tempo antes, bem próximo dali, o
mesmo Pedro, pressionado por uma serva, depois por outra serva e finalmente por
um grupo de pessoas negou a Cristo [Mt
26.69-75].
Não diante de servos, mas diante de autoridades ameaçadoras eles foram firmes,
não negaram nem fugiram. Mantiveram-se convictos de que não poderiam deixar de
obedecer ao Senhor que tem em suas mãos toda a autoridade [Mt 28.18].
----------42----------
E todos os dias, no templo e de casa em casa, não
cessavam de ensinar e de pregar Jesus, o Cristo.
A
igreja continuou a fazer o que vinha fazendo - obedecendo ao Senhor. Os
discípulos continuaram a obedecer ao Senhor e não a autoridades inferiores que
queriam proibir o que Deus havia ordenado. Todos os dias a igreja continuava se
reunindo do portão de Salomão, anunciando que Jesus era o Messias no mesmo
lugar frequentado pelo Senhor e onde lhe perguntaram se ele era o Messias [Jo 10.23-24]. Além de reunirem-se no
templo, também encontravam-se, literalmente, através das nas casas e
continuavam a ensinar e pregar que Jesus é o Cristo, o ungido por Deus, o
salvador esperado, o filho do homem anunciado pelos profetas e o filho de Deus,
como o próprio Jesus se identifica. Não havia outra mensagem a ser pregada, nem
outra coisa a fazer além de evangelizar, de anunciar as boas novas de que o
Cristo de Deus já se havia manifestado, de que a graça de Deus se manifestou a
todos os homens (Tt
2:11) - e
aqueles homens testemunharam sua glória [Jo 1.14].
CONSIDERAÇÕES
FINAIS
Qual
a diferença entre a Igreja do I. Séc. e a igreja atual? Porque o testemunho da
Igreja primitiva era mais eficiente que o testemunho da Igreja atual? Porque em
uma semana a Igreja já tinha mais convertidos do que todas as Igrejas em
Xinguara juntas ao longo de três décadas?
Se
os apóstolos viram a Jesus (e não há apóstolos hoje, apenas pseudo apóstolos),
mais bem aventurados são aqueles que não viram e creram (Jo 20.29).
Está
faltando oportunidade de testemunhar? Então, o testemunho tem que ser dado com
sabedoria e criando as oportunidades, se preciso (II Tm 4:2).
Está
faltando perseguição religiosa? Se não conseguem resistir à vergonha de falar
para amigos (Mt
10:36) vai
ter ousadia para falar com inimigos?
Falta
ensino? O ex-endemoninhado gadareno foi imediatamente para sua casa e todos
ficaram admirados do seu testemunho (Mc 5.19-20).
O
que falta, realmente, é o enchimento do Espírito Santo (At 4:31) para que a Igreja tenha
intrepidez e anuncie a Jesus Cristo como Senhor.
O
que falta é arrependimento e confiança absoluta em Deus, e disposição para
fazer como Isaías e dizer: "Eis-me aqui". Onde você tem estado? Você
tem tido disposição para ir onde mesmo? A que autoridade, afinal, você está
obedecendo? A quem você está servindo, afinal, a Deus ou a Mammom? Ao
crucificado sob a condução do Espírito Santo (Gl
5:16) ou à concupiscência da
carne?
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