ELI
28 Eu o escolhi
dentre todas as tribos de Israel para ser o meu sacerdote, para subir ao meu
altar, para queimar o incenso e para trazer a estola sacerdotal perante mim; e
dei à casa de teu pai todas as ofertas queimadas dos filhos de Israel.
29 Por que pisais aos
pés os meus sacrifícios e as minhas ofertas de manjares, que ordenei se me
fizessem na minha morada? E, tu, por que honras a teus filhos mais do que a
mim, para tu e eles vos engordardes das melhores de todas as ofertas do meu
povo de Israel?
I
Sm 2.28-29
Eli (cujo nome significa "meu Deus") foi um sacerdote e um dos últimos juízes de Israel. Julgou Israel por 40 anos e foi um dos personagens centrais da história de Ana e seu filho Samuel.
Era homem observador a ponto de perceber uma mulher orando no tabernáculo (I Sm 1.12). Também era humilde a ponto de reconhecer um erro de julgamento (I Sm 1.13-14) e temente a Deus, orando para que ele abençoasse uma mulher atribulada (I Sm 1.17) e sensível aos sonhos de uma família (I Sm 2.20).
Porém, mesmo tendo sido um bom sacerdote e um bom juiz para Israel, Eli não obteve a aprovação integral do Senhor, que julgou levantar, após Eli, um sacerdote mais fiel (I Sm 2.35).
Qual o pecado de Eli? Que pecado terrível concebeu este sacerdote a ponto de ter sido julgado devedor pelo Senhor? O nome deste pecado é tolerância, o mesmo pecado pelo qual a Igreja de Tiatira foi julgada (Ap 2.20). Eli foi rápido e duro ao julgar que Ana estava embriagada, mas nada fez em relação a seus filhos, Hofni e Finéias, com uma extensa lista de abusos:
¨ Eles não se importavam com o Senhor (v. 12, como os sacerdotes ímpios do tempo de Malaquias – Ml 1.7);
¨ Se apropriavam do que deveria ser comido pelo povo ao ofertar (v. 13-14; vd. Dt 14.26);
¨ Usurpavam com violência o que deveria ser entregue totalmente ao Senhor (v. 14-16 – vd. Lv 3:16);
¨ Abusavam de sua posição social, prostituindo-se, à semelhança dos sacerdotes pagãos, com as mulheres que serviam no tabernáculo (v. 22);
¨ Sua conduta era reprovada por todo o Israel, servindo de mau exemplo e conduzindo o povo ao desprezo pelas coisas de Deus (v. 23-24).
Eli foi fraco em corrigir seus filhos – violentos, abusados, chamados de "filhos de belial". O termo belial (não + sem) não é um nome próprio, mas designa algo indigno, inútil, imprestável, maligno. É uma expressão rude para designar um julgamento moral pesado contra aqueles que praticam coisas reprováveis. Para Israel Hofni e Finéias eram nada além de vagabundos inescrupulosos (Jz 19.22).
Os judeus usavam este termo para israelitas que se desviassem de temer ao Senhor e também, para crianças não circuncidadas, filhas de povos pagãos. O termo aplicado aos filhos de Eli era, portanto, uma palavra que denotava algo sem valor algum que foi adquirindo novos significados, designando pessoas desprezíveis e acabou se tornando adjetivo negativo e até mesmo personalizada como um demônio.
A conversa de Eli com seus filhos foi pouco menos do que um simples aviso a respeito do julgamento de Deus (I Sm 2.25) sendo que ele era o responsável por executar este julgamento (I Sm 2.29).
Eli falhou em amar mais a sua família que ao Senhor (Mt 10.37). Deus já havia julgado a casa de Eli (I Sm 2.30), bem como ao próprio Eli (I Sm 2.31).
Eli sabia que o julgamento de Deus era justo, por isso não esboça nenhuma reação, nenhum tipo de reclamação – e também não parecia disposto a enfrentar os seus filhos, julgando-os publicamente por seus execráveis pecados (I Sm 3.13).
Mesmo com o aviso feito pelo "homem de Deus" não houve mudanças nem na atitude de Eli nem na conduta de Hofni e Finéias e, algum tempo depois o Senhor decide efetuar o julgamento sobre a casa de Eli (I Sm 3.1).
Quando tudo parecia transcorrer normalmente – Eli deitado no lugar de costume, Samuel já recolhido para dormir (I Sm 3.2-3) o Senhor anuncia a chegada do dia do julgamento (I Sm 3.4).
O Senhor deu a conhecer a Samuel o que faria com a casa de Eli, e o próprio Eli, ao tomar conhecimento, reconhece que sua falha merecia tal castigo (I Sm 3.17-18).
Muitas vezes Deus julga o seu povo usando como instrumentos povos pagãos (Is 10:5). Assim foi nos dias de Eli, enviando os filisteus que saíram para enfrentar os israelitas. Um povo sob julgamento não poderia vencer sem a ajuda de Deus, e assim, naquela batalha, pereceram 4.000 homens (I Sm 4.2).
Numa tentativa supersticiosa de usar a arca como amuleto Hofni e Finéias levaram-na consigo ao campo de batalha (I Sm 4.3-4) – mas a arca era apenas um símbolo da presença do Deus vivo, nada poderia fazer em favor daqueles que desprezavam o próprio Deus.
O estratagema quase deu certo, pois os filisteus haviam se tornado tão supersticiosos quanto os israelitas (I Sm 4.6-8).
Tanto os hebreus quanto os filisteus estavam errados. Deus não daria vitória aos israelitas, era chegado o dia do julgamento (I Sm 4.10-11).
Mesmo com 98 anos, velho e cego, Eli sobreviveu aos seus filhos, como o Senhor havia dito (I Sm 2.34 - Ser-te-á por sinal o que sobrevirá a teus dois filhos, a Hofni e Finéias: ambos morrerão no mesmo dia). Mas Eli não lhes sobreviveu por muito tempo, pois morreu ao ser informado da desgraça que caíra sobre Israel (I Sm 4. 17-18). Sua preocupação era com a arca, não com seus filhos, que sabia serem merecedores do castigo (I Sm 4.13).
Com a morte de Eli, a esposa de Finéias, que estava grávida, começou a sentir as dores de parto, deu a luz um bebê e, antes de morrer, chamou-lhe Icabô, ou Icabode, num lamento pela tomada da arca (sem glória).
A tolerância de Eli com o pecado de seus filhos foi de tal forma longa que eles contaminaram Israel, e o resultado foi muito sofrimento, não apenas pessoal, mas familiar e também da comunidade. Eli sofreu, seus filhos e família sofreram, e Israel sofreu, numa única ocasião, a morte de cerca de 34.000 homens que tinham suas esposas, filhos, pais e familiares (Sl 32.10).
É impossível ser um sacerdote fiel sem ser um pai zeloso.
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