segunda-feira, 15 de setembro de 2014

COMO OS HOMENS TENTAM ALCANÇAR A JUSTIÇA DIVINA







COMO SER JUSTO DIANTE DE DEUS      

Como ser justo? Como ser reto diante de Deus? Como ser agradável aos olhos do Senhor? Não é nada incomum conversar com pessoas que dizem coisas como: "Não vou para a Igreja para ser como muitos crentes que tem lá" – uma denúncia do mal comportamento dos crentes, mas, também, uma resposta evasiva, uma maneira de dizer que não quer compromisso com Deus nem com a Igreja de Deus.
Outra resposta é: "Preciso corrigir muitas coisas na minha vida e depois eu vou" – embora pareça um reconhecimento do próprio pecado, na verdade, é uma afirmação de confiança na justiça própria, a expectativa de fazer algo para merecer o a atenção de Deus, que não vê como um favor, mas uma recompensa.
Hoje vamos tentar responder à pergunta: como ser um praticante da justiça, e, ao mesmo tempo, temos realmente alguma forma de justiça que seja meritória diante do Senhor?
Antes de nos aprofundarmos nas palavras de Jesus sobre este assunto, é preciso que estabeleçamos o que é, de fato, justiça aos olhos de Deus.
É fundamental destacar que todos nós estamos abaixo do padrão de justiça estabelecido por Deus (Rm 3:23), que é a perfeição (Mt 5:48). Qualquer coisa abaixo da perfeição significa reprovação direta, sem chance de recuperação.
O Senhor é muito claro sobre a necessidade do seu povo viver retamente (Is 1:16-17), mas ao mesmo tempo esclarece que qualquer confiança nesta retidão é ilusória porque nossa justiça é como trapo do imundo (Is 64:6), de maneira que temos que nos aproximar de Deus confiados na misericórdia de Deus e não em nossos pretensos atos de justiça (Dn 9:18).
Mt 6.1-6

I. NÃO SE ESTRIBE EM UMA PRETENSA JUSTIÇA PESSOAL INEXISTENTE (v. 1)

1 Guardai-vos de exercer a vossa justiça diante dos homens, com o fim de serdes vistos por eles; doutra sorte, não tereis galardão junto de vosso Pai celeste.

De que problema Jesus está tratando? Após mostrar que a justiça dos fariseus era uma tradição que escondia um coração que não temia a Deus, que não amava o próximo, que não era, de fato, aquilo que Deus queria mas que, ao mesmo tempo, lhes dava o que eles realmente queriam: serem glorificados, serem exaltados, serem reconhecidos como piedosos e santos homens da religião. Mas é só isso que são – homens separados para a religião.
Ele chama seus discípulos para terem cuidado, para se guardarem e não se tornarem meros religiosos. A religiosidade vazia não é um acidente do caminho do cristão, mas é o resultado de uma atitude não vigilante, do próprio coração, que pode deixar de ser adorador para ser tradicionalista.
Deus não nos chamou para sermos religiosos – se fosse, os fariseus seriam imbatíveis (Mt 23:23). Dificilmente há, aqui, alguém que fosse mais justo, mais criterioso do que um fariseu realmente zeloso.
O próprio Paulo afirma que ele era fariseu de fariseus, irrepreensível quanto à justiça que alguém pode obter da lei (Fp 3.4-6) mas esta justiça não lhe trazia paz interior (Rm 7. 22-23) nem com Deus, a ponto de quase cair em desespero (Rm 7.24).
É isso que este zeloso fariseu diz que tudo isto era inútil, inaproveitável, anátema: ele só queria ser achado em Cristo (Fp 3.7).
Mas os fariseus não queriam paz interior, nem queriam paz com Deus – eles queriam praticar atos de justiça diante dos homens, queriam ser vistos e glorificados pelos homens. Enquanto eram intransigentes inimigos da idolatria que viam entre os pagãos, eram, porém, eles mesmos, idólatras, ególatras. Adoravam a si mesmos, adoravam a seus cargos, adoravam seus ornamentos – e queriam que outros, mesmo veladamente, os adorassem (Mt 23:5).
Dito de outra maneira, o problema era que os fariseus queriam fazer as coisas da Igreja como se fizessem para Deus. Queriam fazer as coisas da religião mas não as faziam para Deus, faziam-nas para a Igreja – e isto não é a mesma coisa (Mc 7:9).
Quanta coisa os membros da Igreja estão fazendo simplesmente porque aprenderam a fazer, porque sempre fizeram, porque nunca viram nada diferente e, fazem com muito esforço (Gl 1:14) quando, na verdade, ainda não fazem de coração para o Senhor (Cl 3:23). Tudo o que é feito para homens será visto e recebido por homens – e é uma oferta muito pequena para Deus.
Se sua oferta, se sua justiça é para agradar a homens é bastante provável que você consiga. Talvez não consiga agradar a todos, mas vai agradar a muita gente. Terá sua recompensa. Mas seu alvo também terá sido muito pequeno – nunca será suficiente para agradar a Deus porque não foi para ele, porque ele não tem nenhuma obrigação de recompensar quem nada lhe ofereceu (Pv 21:27) – mesmo que o tenha feito formalmente, com aparência de sabedoria religiosa ou espiritual mas ele sonda os corações (I Co 3:20).

II. NÃO PENSE QUE ATOS DE JUSTIÇA SOCIAL TRAZEM MÉRITOS (v. 2-4)

2 Quando, pois, deres esmola, não toques trombeta diante de ti, como fazem os hipócritas, nas sinagogas e nas ruas, para serem glorificados pelos homens. Em verdade vos digo que eles já receberam a recompensa. 3 Tu, porém, ao dares a esmola, ignore a tua mão esquerda o que faz a tua mão direita; 4 para que a tua esmola fique em secreto; e teu Pai, que vê em secreto, te recompensará.

O Brasil foi colonizado, sua mente foi formatada e ainda hoje, irrefletidamente, os brasileiros possuem uma cultura teológica que chamo de "teologia da compensação". Que teologia é essa? O raciocínio é: "Já que não possui mesmo justiça pessoal, então, se eu fizer algum bem ao meu próximo Deus vai ter que levar isso em conta". A vida espiritual é tida como uma espécie de balança, onde de um lado são colocados os desvios, as desobediências, em suma, os pecados, e, do outro, as "boas obras".
Mas isto é doutrina católica, alguém pode asseverar. É, é sim, mas é o que a nossa cultura, o nosso senso comum, a cosmovisão tupiniquim ensina. Outro pode lembrar: mas isto é espiritismo. Também é, não é a toa que, dentro da cultura do baixo catolicismo reinante, o Brasil acabou se tornando a maior nação espírita do mundo. Então esta é uma característica exclusiva do romanismo e do espiritismo?
Lamentavelmente ela ainda está presente no meio evangélico brasileiro. É a ideia de que tem que orar mais porque fez algo errado ou deixou de fazer, como se oração compensasse desleixo ou pecado (Is 1:15). Israel acreditava que indo ao templo, oferecendo sacrifícios, fazendo orações acertava as contas com Deus (Ml 3:14), mas não entendiam que Deus queria muito mais do que isso (Is 1:12) e, se isto era tudo o que eles tinham para dar, então, era melhor ficarem em casa (Ml 1:10).
É evidente que é nosso dever evitar de fazer mal ao próximo (Sl 15:3), pelo contrário, fazendo-lhe todo o bem que estiver ao alcance (Mc 12:33).
E verdade que a imoralidade era o principal mal em cidades como Sodoma e Gomorra, mas a bíblia também a denuncia como uma cidade onde a injustiça social era reinante (Ez 16:49) e isso só acrescentou ira à sua punição.
Tiago também nos adverte sobre uma fé que não se expressa em obras de misericórdia (Tg 2:26), e vemos que, quanto mais firmes na fé eram as igrejas, mais ativas eram nas ações de misericórdia (At 4. 34-35), a ponto de serem capazes de atitudes surpreendentes (II Co 8:5).
É um dever ser misericordioso, mas isto não nos traz méritos. É apenas nossa obrigação, pois aquele que conhece seus deveres e não os cumpre peca (Tg 4:17). Fazer o que é dever e chamar a atenção para isso é simplesmente buscar receber recompensa dos homens, e, novamente, nada que é digno dos homens é suficiente para Deus. O padrão de Deus é muito mais alto que o dos homens.
Por outro lado, o que é feito para Deus não precisa de trombetas para chamar a atenção. Deus vê todas as coisas, mesmo as que são feitas sem que ninguém mais saiba. Uma cesta básica endereçada a um irmão carente, uma conta de luz paga sem que o necessitado saiba… ações de misericórdia que não precisam ser divulgadas – mas que não escaparão aos olhos de Deus (Pv 15.3), e retribuindo não apenas segundo o seu proceder (Jr 32:19) mas, também, sondando os corações para julgar as ações pelas intenções (Jr 17:10).

III. NÃO IMAGINE SER CAPAZ DE POSSUIR ALGUMA FORMA DE JUSTIÇA ESPIRITUAL (v. 5-6)

5 E, quando orardes, não sereis como os hipócritas; porque gostam de orar em pé nas sinagogas e nos cantos das praças, para serem vistos dos homens. Em verdade vos digo que eles já receberam a recompensa. 6 Tu, porém, quando orares, entra no teu quarto e, fechada a porta, orarás a teu Pai, que está em secreto; e teu Pai, que vê em secreto, te recompensará.

Se somos incapazes de justiça pessoal, se somos incapazes de fazer qualquer coisa que nos traga mérito ao ajudar o próximo, que tal pensarmos em nossa condição espiritual?
Em primeiro lugar, devo lembrar que o homem é absolutamente incapaz de fazer algum bem espiritual pelo simples motivo de que um morto nada pode fazer (Ef 2:1). Mesmo o regenerado sabe que, por si mesmo, é incapaz de fazer o bem que deve (Rm 7:18) e por isso precisa do auxílio da graça de Deus (Fp 2:13).
E as boas obras? Não são elas o caminho da salvação? Não seria possível fazer tantas coisas boas a ponto de Deus olhar e ver a boa intenção? A resposta é: sem estar em Cristo inexistem boas obras. Vejamos o ensino da Palavra a respeito disto. A bíblia diz que Deus nos fez, em Cristo, que morreu por nós, para fazer de nós um povo exclusivamente seu, zeloso de boas obras (Tt 2:14). Embora neste texto ainda possam restar dúvidas, temos as seguintes verdades aqui:
a. Cristo se Deus por nós para:
b. Remir-nos de toda iniquidade (omissões e ações);
c. Fazer-nos um povo zeloso de boas obras.
Se ainda sobram dúvidas, então, precisamos mais uma vez, apelar para o ensino da Palavra. Ela nos assegura que fomos criados para as boas obras (Ef 2:10) e que Deus as preparou para que andássemos nelas. Isto quer dizer que, quando, em Cristo e para glória de Cristo (I Pe 2:12), fazemos algo, estamos fazendo apenas o que Deus preparou para que fizéssemos. E isto não é meritório – e obrigação. Não trará glória alguma ao homem (Ef 2:9) – e por isso a repreensão de Jesus para aqueles que acham que alguma forma de espiritualidade merece ser notada e recompensada pelos homens.
Se é para que homens vejam e recompensem, então não é espiritualidade, é carnal, é terreno (Jo 3:31).
São inúmeras as recompensas que alguém pode receber por um exercício "espiritual". Alguns chegam a se parecer com obreiros de Jesus Cristo e conseguem mercadejar a espiritualidade (II Pe 2:3) mas não terão boa recompensa – receberão apenas o que é justo. Se querem coisas terrenas, poderão juntar ouro e prata, honra e prazeres – mas já dissemos anteriormente que Deus tudo vê, e vê o coração, conhece as intenções, e a recompensa não tarda – sua destruição não dorme, isto é, não vai ficar inativa.
Se a oração é estabelecer um diálogo com Deus, se o culto é uma oferta do crente para o seu Deus, um ato de fé (Hb 11:6) então não faz sentido algum oferecer algo a Deus buscando passar, antes, pelos critérios dos homens. Lembremos que, mesmo que os homens não compreendam, e não necessitamos da aprovação deles, o Espírito nos guia pela Palavra e para a Palavra (Jo 16:13). Mais uma vez, é necessário advertir: é impossível agradar a Deus e aos homens ao mesmo tempo, porque os homens são carnais, e Deus é Espírito (Rm 8:8).
É, possível, então, agradar a Deus? A resposta é: sim, é possível agradar a Deus (I Ts 4:1). Mas, como?
Antes, precisamos ver como nós, cristãos do séc. XXI, estamos desagradando a Deus e, então, corrigir os nossos erros.

QUAL O PROBLEMA DA IGREJA HOJE?

Não há diferença essencial entre o que os fariseus faziam e a mera religiosidade atual. Seria excelente que não houvesse mais "Aparícios", religiosos que fazem para aparecer, para serem notados e exaltados entre os homens. Como explicar tanta invencionice, tantas coisas que não são requeridas por Deus e que, certamente, também serão por ele rejeitadas? É triste pensar que muitos que hoje dizem fazer as coisas para Deus ouvirão do Senhor que eram, na verdade, desobedientes e desconhecidos (Mt 7:23).
Enquanto o coração não for totalmente entregue ao Senhor, enquanto não houver uma real substituição de um coração duro e desobediente (Ez 36:26) por um novo coração, enquanto não houver o novo nascimento (Jo 3:3) tudo não passará de mera religiosidade. Jesus disse a Nicodemus que ele precisava nascer de novo (Jo 3:7) – um mestre da lei, um profundo conhecedor da religião e um praticante das tradições. Mas mesmo assim, ele precisava nascer de novo, tornar-se como uma criança (Mc 10:15) em sua confiança e dependência do pai celeste.

COMO RESOLVER O PROBLEMA DE UMA RELIGIÃO QUE NÃO AGRADA A DEUS?

Deixe-me concluir: se você quer, de fato agradar a Deus, então, humilhe-se diante dele (Is 57:15) e faça tudo para ele, e não para os homens (Cl 3:23).
Não é o que você acha certo que é certo – é o que o Senhor requer (e que é explicitamente declarado em sua Palavra) que é certo (Mq 6:8) – o resto é fazer sacrifício de tolo (Ec 5:1). Se o Senhor não se agradar de ti, do seu coração, certamente não se agradará de sua oferta. Então, deixe de confiar em você mesmo, confie totalmente em Deus e em sua Palavra (Pv 3:5).
A humilhação diante do Senhor, e a oração é, ou uma confissão de incapacidade para conseguir algo, o que resulta em petição e súplica, ou o reconhecimento de que o que conseguiu foi dádiva de Deus (Tg 1:17), o que implica em gratidão, é uma necessidade imperativa. Mas a principal orientação do texto é que nosso culto, adoração e vida devocional não deve ser hipócrita – não deve ser fruto de um juízo superior de nós mesmos, não devemos pensar que somos capazes do que não somos. Muitas tragédias se dão porque pessoas acham que podem fazer coisas que não podem, como dirigir sem habilitação, montar sem treinamento, nadar sem resistência.
Para agradar ao Senhor sua adoração tem que ser em Espírito e em verdade (Jo 4:24). Deus não aceita menos do que ele mesmo determina. E você, pretende arriscar-se oferecendo o que só satisfaz a você mesmo (Is 55:9)?
Não há como ser justo por suas próprias forças, por sua própria vontade – só é possível ser justo e justificado mediante a graça de Deus, pela fé naquele que é nosso justificador (Rm 3.22-25).

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