O DESEJO DE INDEPENDÊNCIA DE
DEUS PODE ACABAR MAL
Independência.
Não há fase na vida humana que não queiramos ser independentes. É a criança que
diz para os adultos solícitos: “Eu consigo” - na verdade, ela está dizendo: “Eu
já não preciso de você”. Pelo menos para aquela ação. Mas já é o começo do
caminho da independência.
É o
pré-adolescente que quer tomar todas as decisões, escolher que roupa comprar,
para onde ir, ser dono da própria agenda. Se questionado solta alguma frase
semelhante a “...mas eu e meus amigos já combinamos que seria assim”, muitas
vezes sem que os adultos responsáveis tenham qualquer conhecimento ou “direito”
de opinar.
É o
adolescente que não avisa quando sai nem quer ser questionado quando chega.
Decide com quem anda, quando anda e por quanto tempo anda. Se já tem alguma
fonte de renda sente-se no direito de não prestar contas sobre o que faz com
seus recursos.
É o
jovem que quer morar sozinho, ou acompanhado (algumas vezes muito mal
acompanhado), trocando influências e, quase sempre, absorvendo costumes danosos
para si, para sua família, para seu futuro. Sempre tem na ponta da língua
frases como “eu já sei o que fazer da minha vida”.
É o
adulto que acha-se uma ilha no mundo, isolado de tudo e de todos na hora de
decidir o que fazer, como se suas decisões não influenciassem a vida de outras
pessoas, especialmente aquelas que convivem mais de perto. “Já não sou mais
criança” é uma das frases prediletas.
Esta
tal independência é fruto, sempre, de um conhecimento, real ou imaginário. A bíblia
nos apresenta o exemplo de um homem grande que queria ser independente. Na sua
ânsia por independência, por decidir os rumos de sua própria vida, cometeu
alguns graves equívocos, e viu passar de si e dos seus a aprovação de Deus.
Lamentavelmente muitos cristãos estão agindo da mesma maneira, tomando as
mesmas impacientes atitudes e colhendo frutos muito semelhantes. Nesta ocasião
vamos aprender, à luz das Escrituras, que O DESEJO DE INDEPENDÊNCIA DE DEUS PODE
ACABAR MAL.
As
Escrituras nos contam um episódio na vida do recém entronizado Saul, primeiro
rei de Israel, escolhido diretamente por Deus para dar início a um novo período
na história de Israel: o período dos reis, em substituição ao período dos
juízes (I Sm 15.1-31).
Saul
era filho de Quis, da tribo de Benjamin, e fora escolhido pelo Senhor. A
descrição de Saul era a de um homem grande, inicialmente submisso ao seu pai (I
Sm 9:3) e um filho preocupado com o bem estar emocional do mesmo, que
provavelmente já devia ser de idade relativamente avançada (I Sm 9:5).
Saul
também se mostra submisso às instruções do profeta Samuel, apesar de não
entender com clareza o que lhe acontecia (I Sm 9.19-22), até que foi, de
maneira muito discreta e particular, ungido por Samuel para ser o rei de Israel
(I Sm 10.1) atendendo ao pedido do povo (I Sm 8.4-5) que não
queria mais ser julgado de maneira teocrática, especialmente depois de duas
experiências desastrosas com os filhos de Eli e de Samuel (I Sm 8.7).
Mais
tarde Samuel convoca todo o povo a Mispa para lhe dar o rei que eles haviam
pedido, e, lançando sortes diante de todo povo, por eliminação acabam chegando
ao nome de Saul (I Sm 10.20-21), que estava escondido no meio da bagagem
do povo, demonstrando assim uma faceta de seu caráter - a timidez (I Sm
10.22).
Saindo
de seu esconderijo ele logo impressiona o povo pois era um homem grande (I
Sm 10.23) e é aclamado rei (I Sm 10.24).
Na
primeira oportunidade, quando Naas, amonita, invadiu Israel e cercou
Jabes-Gileade (I Sm 11.2) demonstrou sua natural impetuosidade, agora
dirigida pelo Espírito do Senhor (I Sm 11.6-7), força, poder de comando
(I Sm 11.11) bem como benevolência e sabedoria (I Sm 11.12),
consolidando o reino em seu poder.
Mas,
apesar de grande, apesar de rei, Saul ainda dependia da direção de Samuel, que,
como aio, conduzia cada um dos seus passos, como, aliás, deve ser com cada
servo de Deus, que foi comprado por precioso preço (I Co 6.20) e,
portanto, não é senhor de si mesmo, mesmo que no coração pulse um desejo
ardente por independência (I Co 6:19).
Agora
que conhecemos Saul, vamos compreender porque o desejo de independência pode
acabar muito mal.
EM SUA BUSCA POR
INDEPENDÊNCIA SAUL NÃO DESCONHECIA QUAL ERA A VONTADE DE DEUS (v. 1-3)
Nenhum
israelita podia dizer que não conhecia a Deus. Frequentemente eram lembrados
dos feitos do Senhor - mesmo os gentios e inimigos de Israel, que adoravam
falsos deuses e não se submetiam ao Senhor sabiam muito bem quem era o Deus de
Israel (I Sm 4.6-8).
Se
os filisteus conheciam bem o poder do Senhor, se sabiam quem era o Senhor,
embora não o adorassem, quanto mais os hebreus, instruídos o tempo inteiro
sobre os poderosos feitos do Senhor (Dt 6.20-21).
Saul
sabia que fora escolhido pelo próprio Deus e, por isso, ele deveria atentar,
isto é, ouvir para obedecer, as palavras do Senhor (v. 1). Não havia
meio termo, e Saul também sabia disso (Sl 119.4). É dever de cada servo
de Deus ser obediente. Obedecer relaxadamente (Jr 48:10), obedecer em
alguns pontos e em outros não (Tg 2:10) ou não obedecer é a mesma coisa
(II Rs 18:12).
Nossos
pecados ofendem a Deus, mas o Senhor afirma que horrível coisa é desprezá-lo (Hb
10.26-27), tendo conhecimento de quem ele é e de qual é a sua vontade (Rm
1:21) e ainda assim preferindo andar em desobediência e insubmissão.
Estes
três primeiros versos indicam que Saul conhecia a Deus. O Espírito do Senhor já
havia se apossado dele em, pelo menos, duas ocasiões distintas (I Sm 10.10).
Estes textos provam que Saul conhecia a vontade de Deus. O problema de Saul é o
mesmo problema que o povo de Deus enfrenta hoje - não é de conhecimento teórico
e muito menos de jamais ter experimentado a graça de Deus. Conhecimento temos
demais, instrução temos demais. Provas do poder e do amor de Deus temos em
abundância.
Eu
e você, cada um de nós aqui, neste lugar, desde o menor ao maior, cada um de
nós sabe qual é a vontade de Deus em Cristo Jesus: que o confessemos como
Senhor (Mt 10:32), que recebamos das suas mãos, com ações de graças, o
senhorio de Cristo (Jo 1:12), que o busquemos de todo coração (Jr 29:13)
e que o sirvamos com alegria (Is 35:10) e tenhamos vida eterna (Jo
6:47).
O
problema não é que desconhecemos estas coisas. Sabemos o que Deus fez para
provar seu amor e cuidado por nós (Rm 5:8). Sabemos o que Cristo fez
para demonstrar este amor (Jo 15:13), pagando o preço dos nossos pecados
e resgatando do nosso real problema: o nosso fútil procedimento (I Pe 1:18).
Sabemos que Deus quer que nos arrependamos (At 17:30), que nos
convertamos a ele (Jó 36:10), que confessemos os nossos pecados (At
19:18) e que lhe sejamos obedientes. Alguma dúvida disso? Alguém aqui que
não sabe disso? Se não sabia, agora sabe!
EM SUA BUSCA POR
INDEPENDÊNCIA SAUL REJEITA CONSCIENTEMENTE A VONTADE DE DEUS (v. 4-15)
Saul
continuou lutando com a mesma bravura de quando libertara Jabes-Gileade. Era o
mesmo comandante impetuoso, era o mesmo hábil chefe militar - e demonstrou isso
vencendo os amalequitas. E o fez de uma maneira arrasadora, afugentando-os para
longe das fronteiras de Israel. Até aqui ele estava obedecendo. À partir do
verso 8 começam os problemas. Era comum os reis capturarem os vencidos e depois
estabelecerem acordos, usarem como garantias ou cobrarem alguma forma de
resgate. Mas estas coisas passavam pela busca de alguma segurança humana,
quando a garantia que Israel precisava era o próprio Senhor.
Saul
e o povo tomaram dos animais dos amalequitas, coisas que não precisavam tomar,
nem para si, porque o Senhor lhes dava o sustento, nem para oferecer ao Senhor,
pois este não aceita ofertas que não tragam junto o coração do adorador (II
Sm 24.24). Deus também não queria que eles trouxessem nada das cidades
amalequitas, porque não os queria misturando-se com aquela cultura pagã.
Mas,
por melhores que fossem suas intenções, havia um problema: Deus não queria.
Deus não queria um culto prestado com ovelhas, cordeiros e bois gordos
amalequitas. Deus não queria o melhor dos ímpios - porque o melhor dos ímpios é
apenas impiedade (Jr 6:20).
O
nome do problema de Saul? Desobediência. Porque sua pretensão não era
aceitável? Porque era fruto da rebeldia, de um coração que havia deixado de
seguir ao Senhor. E o Senhor o faz saber imediatamente através de Samuel, que
caiu em profunda tristeza porque seu coração se apegara a Saul. Ao procura-lo,
nova decepção - o rei estava se exaltando pela vitória obtida, levantando para
si um monumento como faziam os reis pagãos, aliás, como era provável que o
próprio Agague costumasse fazer (Is 42:8). Saul estava agindo
impulsivamente sem perceber que seu coração o enganara (Jr 17:9), que
ele estava se afastando do Senhor (Is 59:2) e não agradando-o como
pensava (Is 55:8-9).
Saul
estava totalmente enganado ao acreditar que sua vultosa oferta seria aceitável,
como estava enganado o rico que achava que ofertava mais que a viúva (Mc
12:44) embora este caso fosse ainda pior. Também estava enganado Ananias ao
entregar parte do valor do campo como se fosse todo o valor (At 5:3) ou
Simão ao oferecer dinheiro em troca de uma benção (At 8:20).
Saul
se alegra ao ver Samuel como um aluno se alegraria ao completar uma tarefa da
qual fora incumbido pelo mestre, e, ainda, fazer algo mais. Era este algo mais
que ele queria apresentar: o monumento, os animais para o sacrifício, tudo
prontinho, tudo feito segundo a sua vontade. E este era o problema - embora ele
não percebesse, não cumprira a vontade do Senhor.
Agradamos
ao Senhor somente quando fazemos o que ele pede - fazer menos é negligência,
fazer diferente é invencionice, fazer mais é impossível (Gn 17:1),
padrão que não mudou apesar de ter passado tanto tempo (Mt 5:48) e ao
qual ninguém consegue alcançar (Rm 3:23). O sucessor de Saul também
passou por situação semelhante, mais de uma vez, ao fazer um recenseamento que
o Senhor não ordenou e, também, ao tentar transportar a arca do Senhor para
Jerusalém de acordo com a invenção dos filisteus (I Sm 6:7) com um
trágico resultado (II Sm 6.3): a morte de Uzá (II Sm 6.7). Mais
tarde Davi tentaria fazê-lo segundo a vontade de Deus (Ex 25.13-14 - compare
com Nm 7.9) e daria certo (II Sm 6.13).
Saul
resume sua tolice ao dizer que destruiu totalmente apenas o resto - como alguém
pode destruir algo totalmente se só destruiu o resto?
EM SUA BUSCA POR
INDEPENDÊNCIA SAUL REJEITA OBSTINADAMENTE A REPREENSÃO DO SENHOR (vs. 16-21)
Antes
que Saul continuasse na promoção de si mesmo e de seu sacrifício de tolos,
Samuel lhe diz que o que realmente importa não era o que ele pensava estar
fazendo, mas o que o Senhor pensava do que ele estava fazendo. Saul não gosta
da interrupção da sua autopromoção, do seu desejo de mostrar que estava se
tornando um grande rei. E é este justamente o ponto. O próprio Saul sabia não
grande em Israel (I Sm 9.21), e é lembrado de que foi ungido por Deus
para ser rei mesmo sendo insignificante, mesmo sendo pequeno, mesmo não sendo o
que ele agora queria ser, grande. Samuel resume o recado de Deus dizendo o
seguinte:
i.
Você não era nada e eu te fiz rei;
ii.
Você estava à procura de jumentas e eu te dei a missão de conduzir meu povo;
iii.
Você não tinha nem direção nem comida no embornal, e eu te mandei destruir os
amalequitas.
E
conclui com perguntas simples: porque não fez o que te mandei? Porque não se
contentou em obedecer? Porque cobiçar o que não era para ser cobiçado - não se
lembrara de Acã e do resultado de sua cobiça (Js 7:)?
Samuel
acusa Saul de desobediência, de cobiça. Ele não precisava ter feito nada
daquilo. Não precisava ter trazido nenhum prisioneiro. Não precisava do gado
amalequita. Deus não o queria, Deus não havia pedido nada daquilo. Isto é uma
dura advertência para a Igreja do séc. XXI, que a cada dia inova, inserindo no
culto coisas que não podem ser encontradas nas Escrituras, não são pedidas por
Deus e, portanto, entram na quota daquilo que o Senhor abomina, como abominou a
atitude de Saul.
Mas
Saul não aceita a repreensão, e sua dura cerviz o conduz cada vez mais (Pv
29:1). Saul ousa discordar. Samuel lhe dissera que lhe diria o que o Senhor
falou, o mesmo Senhor que o fez rei. Quando o Senhor o repreende, o homem
grande, mas nunca um grande homem, diz que não, que as coisas não eram daquele
jeito, eram exatamente o contrário. Homens grandes não aceitam ser
contrariados, grandes homens aprendem para se tornaram ainda maiores. Saul
queria ser o padrão de interpretação da vontade de Deus. Ele sabia qual era a
vontade de Deus, e ele queria definir se ele agradara a Deus ou não, mesmo Deus
dizendo-lhe um enfático não. Saul quer definir o que é vontade de
Deus, quer definir o que é cumprir a vontade de Deus, quer definir o que agrada
a Deus.
Saul
se mostra o oposto de Davi - aquele que é apelidado de o homem segundo o
coração de Deus. Sempre que errava - e errou algumas vezes, ao ser repreendido
cai em si, arrepende-se e submete-se à vontade do Senhor (I Cr 21:13).
Saul rebate, Saul rejeita a repreensão. Saul fez pior que Eli, o sacerdote que
foi repreendido por Deus e apenas “reclamou” das ações de seus filhos, sem,
contudo, corrigi-los como eles precisavam ser corrigidos (I Sm 2.24).
Saul diz que Samuel está errado. Mas Samuel falava o que o Senhor lhe havia
dito, logo, na prática, o que Saul está fazendo é afirmar que quem está errado
é Deus, e não ele.
Comparando
as ações de Saul com as nossas, chegamos à triste conclusão de que os cristãos
do séc. XXI fazem a mesma coisa: rejeitam a vontade de Deus, e dizem, com suas
ações, que não concordam com Deus, que sabem mais que Deus.
Antes
que alguém diga que Saul devia estar louco, é preciso dizer que esta é a
atitude mais comum de todos os homens. Quando Deus diz para fazer de um jeito e
decidimos fazer de outro estamos dizendo a Deus que, se ele quiser, ele que se
agrade do que estamos fazendo, porque, afinal, estamos fazendo, o que já é
melhor que nada. Isso é tolice, é afrontar a Deus. E nunca dá certo. Quem é o
homem para afirmar que sabe mais que Deus (Is 40:13)?
Observe
que a impenitência dos filhos de Eli, a dureza de coração de Faraó, a
insistência no erro de Ananias são apenas prenúncios do julgamento de Deus. O
Senhor endurece o coração daqueles a quem julgou e condenou (Is 6:10).
E o
seu coração? Como está? Espero sinceramente que não esteja endurecido e
rebelde, porque para quem se rebela e endurece o coração contra o Senhor resta
apenas horrível expectação de juízo (Hb 12.29).
EM SUA BUSCA POR
INDEPENDÊNCIA SAUL EXPERIMENTA O RESULTADO DA DESOBEDIÊNCIA (vs. 22-26)
Da
mesma maneira que Adão e Eva, da mesma maneira que Caim, que, mesmo advertido (Gn
4:), persistiu no erro (Gn 4:9), da mesma maneira que todos os
obstinados que endurecem a cerviz (II Rs 17:14), isto é, não admitem
estar errados, não se submetem voluntariamente a uma vontade superior (At
7:51), persistem no caminho que lhes parece mais direito e não percebem que
seu fim é apostasia e morte (Pv 14:12).
Na
sua obstinação Saul teve que ouvir que Deus não se agrada de holocaustos e
sacrifícios frutos de um coração desobediente, exatamente como fez com Caim (Gn
4:5). Saul pretendia oferecer o melhor que ele conseguiu, mas o melhor que
ele havia conseguido era fruto da desobediência, da rebeldia. Deus não queria
gordura de carneiros. Deus não queria bois gordos. Deus não queria novilhos
cevados. Deus queria um coração obediente - para Deus desobediência é tão
reprovável quanto feitiçaria e culto idólatra, porque na verdade estas práticas
são apenas frutos da desobediência.
Na
sua obstinação Saul também teve que ouvir que Deus o havia rejeitado. O mesmo
Deus que o havia escolhido, que o havia levantado como rei quando ele estava
escondido no meio da bagagem agora o rejeitava porque ele havia rejeitado o
Senhor como seu rei (Sl 47:2). Na sua primeira tentativa de ser um
grande rei Saul perdeu o reino porque Deus resiste aos soberbos - e sua atitude
foi de soberba ao rejeitar a repreensão de Samuel - mas concede graça aos
humildes (Tg 4:6). Outros reis também cometeriam pecados, mas, quando
seus corações se humilharam na presença do Senhor, foram perdoados e obtiveram
graça, como Davi (I Cr 21:13), Ezequias (Is 38.1-2) e Manassés (II
Cr 33.11).
Diferente
destes, Saul ainda tem que ouvir que seu arrependimento não era sincero (Sl
51:17). Ele não se arrependeu pelo que fez, mas temia pelas consequências
do que fez, isto é, a perda do reino - que posteriormente tentaria manter
inclusive tornando-se um potencial assassino (I Sm 19.1).
Não
havia volta para Saul - ele já havia sido rejeitado, já havia ensinado o
caminho da desobediência ao povo e restava-lhe apenas a disciplina exemplar -
mas tanto ele quanto seu povo eram impenitentes (II Rs 17:14) e
continuariam assim até que o Senhor estabelecesse uma nova aliança, com um novo
povo. Deus havia dito, e, embora Saul achasse que ele é quem estava certo, o
veredicto havia sido dado e um falso arrependimento não lhe restauraria o
trono.
EM SUA BUSCA POR
INDEPENDÊNCIA SAUL AINDA TENTA PRESERVAR AS APARÊNCIAS (vs. 27-31)
Ao
perceber que já não havia volta, Saul tenta fazer o que muitos tem feito,
salvar as aparências. Longe de Deus por causa de seu pecado e da rebeldia em
ouvir ao Senhor, rejeitado pelo Senhor de maneira definitiva restava-lhe o
apego ao trono.
Saul
sabia ser um rei sob tutela, um mordomo que deveria obedecer ao Senhor para
permanecer na regência - e, quando cai em si e vê que não tem mais a aprovação
do Senhor busca amparar-se, ao menos, na aprovação dos homens.
Ele
não pede para Samuel interceder por ele. Não se humilha perante o Senhor
pedindo perdão. Ele tenta, por força, manter Samuel ao seu lado (Zc 4:6).
Mas as coisas no reino de Deus não são feitas pela força.
Se
assim fosse o Senhor não teria dispensado os milhares que seguiam a Gideão e
mantido apenas 300 (Jz 7:7) sem espadas nas mãos, sem o uso do poder do
homem (Jz 7:2).
Mas
o uso da força só piorou as coisas para Saul. Apenas aumentou a sua humilhação
em saber que o Senhor tinha dado o reino a outro que Deus considerou melhor do
que ele, o que não significa que fosse sem pecado, mas que tinha um coração que
era dirigido pelo Senhor (Dt 9:4).
Samuel
não voltaria atrás, não poderia mudar o recado dado a Saul porque era um
profeta fiel ao Senhor (I Rs 22:14). Ele não poderia voltar atrás por
que o Senhor não voltaria atrás: o reino não mais seria de Saul. Entretanto,
após muita insistência, Saul consegue convencê-lo a participar do sacrifício
que seria entregue ao Senhor. Mas, novamente, as palavras de Saul indicam um
coração longe de Deus, um coração que não queria agradar a Deus mas aos homens,
chamando ao Senhor, novamente, de Deus de Samuel.
Seu
desejo era ser visto pelos homens, ser visto com Samuel pelos anciãos do povo,
pelo povo de Israel. Ele não queria que ninguém soubesse que fora reprovado por
Deus. À partir daquele dia ele viveria de aparências. Mas aparências não são
mantidas indefinidamente, mais cedo ou mais tarde as máscaras caem - se antes o
Espírito do Senhor havia vindo sobre ele, agora se retirou dele - e isto seria
impossível de esconder daqueles com quem ele convivia (I Sm 16:14-15).
Quantas
pessoas que aparentavam possuir grande vitalidade espiritual estão, hoje,
apenas como uma casca vazia, espiritualmente definhando mas tentando mostrar
algo que não conseguem mais ser. Há muitos decepcionados, frustrados,
desanimados, longe de Deus mas tentando, ainda, demonstrar um calor que não vem
do coração. Vivem uma vida aparentemente cristã insatisfatória, sem comunhão,
sem alegria no Senhor, sem prazer na Palavra de Deus.
Talvez
muitos estejam exatamente como Saul. E isto é um problema grave. Impenitentes,
resistentes, rebeldes - talvez seja a hora de entender que estão em um momento
crucial, onde um de dois caminhos terá que ser seguido: o da benção ou o da
maldição (Is 1.18-20).
Outros
talvez estejam experimentando o mesmo sentimento de Davi (Sl 32.3-5) e
buscando, de coração, uma restauração (Sl 51.10-12).
CONSIDERAÇÕES FINAIS: ENTRE
A INDEPENDÊNCIA E A BÊNÇÃO DA COMUNHÃO COM O SENHOR, FAÇA A COISA CERTA: ENTREGA SEU CAMINHO AO SENHOR
Todos
nós desejamos ser independentes em alguma coisa, de alguma forma. Entretanto,
precisamos entender que nossa independência em algumas situações não exclui o
fato de sempre precisarmos de outras pessoas, de jamais sermos
independentes. O conceito que melhor descreve aquilo que somos é
interdependência. Por causa disso Deus nos chamou para sermos um povo (Êx
6:7), sermos sua Igreja, membros uns dos outros (Rm 12:5),
ajudando-nos mutuamente (Gl 6:2).
O
Senhor deseja que sejamos livres, livres pela sua Palavra (Jo 8:32) para
servirmos uns aos outros como servos de Cristo (I Pe 4:10). Se você
vinha lutando por independência de Deus, é hora de mudar. Quero te dar algumas
dicas:
1. Arrependa-se,
confesse o seu desejo de independência de Deus como pecaminoso e o Senhor te
restaurará (Sl 32.5);
2. Busque
ao Senhor enquanto é tempo de encontra-lo (Is 55:6);
3. Não
deixe para depois - talvez você pense que sempre haverá tempo, mas não é isso o
que o Senhor ensina. Ele diz que há um tempo oportuno (II Co 6:2) e que
chegará um tempo onde a misericórdia não mais será dada (Pv 1:28).
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