Paulo escreve aos crentes de
Colossos que compunham uma igreja com características que merecem ser
relembradas. Sabemos que, em alguns aspectos, a Igreja de Colossos era uma
Igreja que poderia nos servir de padrão, um modelo a ser imitado porque eles
eram verdadeiramente crentes no Senhor Jesus Cristo (v. 6). Sua fé no Senhor
Jesus os impulsionava ao amor mútuo, pois só assim ela seria verdadeiramente
evidenciada como um testemunho da transformação que Jesus produz, mesmo num
mundo repleto de disputas (I Jo 4:11).
Fazendo eco às palavras de
Paulo aos coríntios, sua fé não se limitava apenas a esta vida (I Co 15:19)
mas, como nós, eles aguardavam a bendita esperança celeste que haverá de ser
manifestada a todos os crentes (Tt 2:13), a herança incorruptível (I
Pe 1:4) que foi prometida pelo próprio Senhor Jesus (Jo 14:2).
Por causa de sua fé e
esperança, com um estilo de vida em que o amor mútuo poderia ser percebido até
pelos inimigos da cruz, esta Igreja estava fadada a ser uma Igreja frutífera.
Eis o perfil que Paulo traça desta Igreja. Mas ela era, ainda, a igreja
militante, a Igreja que, embora com a vitória garantida ainda não estava revestida
do triunfo. Já era vitoriosa, mas ainda tinha que se manter atenta contra
alguns perigos, por isso Paulo ora a Deus para que eles não se acomodem e se
mantenham vigilantes contra os falsos mestres, sem se deixar enredar pelo
cerimonialismo porque o ritualismo não vence o pecado, como bem sabiam os
hebreus que, embora profundamente ritualistas, eram meramente hipócritas (Mt
15:8). Como resultado desta fé em Cristo, desta luta contra o pecado os
vícios devem ser abandonados e as virtudes cultivadas em todos ambientes –
família, Igreja, trabalho, sempre com prudência e oração.
DEUS TEM ABENÇOADO SEU
POVO…
Que Deus tem abençoado de
todas as maneiras, tanto em situações normais como em eventos extraordinários
nenhum de nós ousaria negar. Se é assim, também podemos nos fazer a mesma
pergunta feita pelo salmista: que daremos ao Senhor por todos os seus
benefícios? (Sl 116:12). Mencionando apenas de passagens os benefícios
materiais e emocionais, a saúde e coisas semelhantes, precisamos voltar nosso
pensamento para aquilo que o salmista realmente queria que atentássemos: que
temos nós a oferecer ao Deus que é dono de todo o ouro e a prata, de todos os
animais e árvores? (Ag 2:8).
Como retribuir o fato de que
vivíamos sem Deus no mundo, alheios à sua aliança, e, portanto, sob a justa
condenação e ele, mesmo assim, se interessou por nós, buscou-nos enquanto
estávamos perdidos (Mt 18:11) e, mais que isso, espiritualmente mortos
por causa das nossas próprias escolhas pecaminosas (Ef 2:1) e andanças
por caminhos que lhe eram ofensivos em evidente atitude de inimizade (Ef
2.2-3).
Como não ser grato ao
perceber a extensão das bênçãos de Deus que, vendo-nos condenados ao inferno
por nossas próprias ações, escravos de satanás e presos ao sistema de
pensamento e estratégias mundanas para agradar aos anseios da carne ainda assim
enviou seu filho para nos resgatar desta escravidão? Não apenas nos resgatou
desta escravidão como, num costume muito conhecido dos crentes colossenses, à
maioria deles gentios, libertou-nos e nos adotou como filhos, como nobres e
imperadores costumavam fazer com escravos que lhes alcançassem o favor.
É justamente sobre a figura
de um escravo condenado, um gladiador que, embora sempre pronto a lutar em uma
arena, sabia que sua vida dependia da vontade do imperador do turno que
entenderemos a ação de libertação de Deus na vida de pecadores como nós. Os
gladiadores eram escravos, eram soldados capturados em guerras, e viviam
unicamente para sobreviver – até que encontrassem um gladiador mais habilidoso ou
mais afortunado.
…COM A LIBERDADE
Ele nos libertou do império
das trevas…
Paulo afirma que Deus, o pai,
tomou a iniciativa de agir em favor de quem nada podia fazer para mudar a sua
situação. Como um imperador da antiguidade, ele tomou a iniciativa de dar
liberdade a quem não poderia conquista-la, a quem só sairia da arena morto.
Deus, por sua graça, entrega a liberdade a condenados, resgata-os da
condenação, tira-os para fora de um império que detinha legitima autoridade
para governar sobre a vida de seus súditos (II Pe 2:19).
Satanás não é chamado de
'príncipe deste mundo' à toa. Ele o rege, ele o governa. Ele não governa o
cosmos, mas o sistema, os governos, as instituições, molda as coisas de maneira
que as aspirações carnais dos homens sejam satisfeitas e eles se inclinem mais
e mais para as obras infrutíferas das trevas (Tt 3:3). Assim como um
gladiador lutava e muitos provavelmente sentiam-se verdadeiros heróis matando
outros gladiadores, assim também é o homem escravo do império das trevas – ele
vive para agradar o seu pai, o seu senhor (Jo 8:44) e só percebe seu
estado de miséria quando, derrotado, tem a morte diante de si – e é justamente
neste momento que o Senhor intervém, erguendo a sua mão e apontando o polegar
para cima, literalmente dando-lhe a vida de presente.
O império do qual Deus
liberta seu povo é justamente chamado de império das trevas porque, nele, tudo
é feito de maneira vergonhosa, e mesmo a mais desavergonhada das ações é feita
com um sentimento de desafio, de afronta – é o homem tornado louco e afrontando
ao criador e por isso sendo chamados de filhos da ira (Rm 1:32).
Deus os liberta do império
das trevas, de uma imposição de uma vontade que decidia por eles, mantendo-os
em ignorância e absolutamente incapazes de verem a luz, sem perspectiva ou
desejo de experimentar as realidades espirituais do reino divino – mesmo quando
estas realidades lhes eram expostas eram tidas por loucura, porque são coisas
que só podem ser discernidas espiritualmente (I Co 2:14) e sua
ignorância, lamentavelmente, tem como consequência a miséria das trevas eternas
onde o diabo não mais regerá, pelo contrário, o diabo estará lá em tormento
assim como seus seguidores (Mt 25:41).
…COM UMA NOVA CIDADANIA
…e (ele) nos transportou para
o reino do Filho do seu amor…
Geralmente os gladiadores
eram soldados que, vencidos em batalhas, eram transformados em escravos –
perdiam a liberdade e tinham como único patrimônio a habilidade com as armas
para poderem sobreviver. Sua vontade estava atrelada à vontade do governante ou
do 'nobre' que o possuía. E esta vontade que imperava sobre ele só lhe
determinava uma coisa: morte! Morte! E mais mortes! Mas, assim como o imperador
poderia decretar a liberdade de qualquer escravo, a qualquer tempo, a
intervenção de Deus traz liberdade ao escravo do pecado e das trevas.
Mas Deus vai mais além, ele
não apenas liberta do império das trevas como, também, o transporta, isto é,
tira de uma situação ou de um lugar real (ainda que muitos não acreditem na
existência do reino das trevas embora o sirvam inadvertidamente, pois a maior
contribuição que alguém pode dar ao diabo é dizer que ele e seu reino não
existem) para um outro lugar, também real (II Pe 3:13) – ainda que
também haja quem diga que o novo céu e a nova terra são uma utopia. Faz assim
quem rejeita a Palavra de Deus (Jo 14:2) e ousa chamar o próprio Deus de
mentiroso, invertendo a ordem da criação e fazendo Deus à sua própria imagem (I
Sm 15:29).
Diferente de estar sob o
império (imposição de uma vontade) das trevas o Senhor transporta os seus para
um reino sob um governante digno – de escravos os resgatados são libertados e
tornados cidadãos de um reino real, que, embora não seja deste mundo (Jo
18:36) e não possa ser encontrado num mapa qualquer (Hb 13:14) é um
reino absolutamente real.
Tão real quanto Deus. Tão
real quanto Jesus. Tão real quanto a existência do banco no qual você se
assenta agora (Jo 1:3). Erra quem quer ver a cidade de Deus como apenas
uma cidade de homens, esse foi o erro da igreja medieval. Erra quem quer ver o
reino de Deus apenas como um primado da ética – assim ruíram as igrejas que
adotaram o liberalismo na teologia. Erra quem quer ver o reino de Deus apenas
como uma construção meramente social, erro da teologia da libertação. Erra quem
quer ver o reino de Deus apenas como felicidade terrena, aqui, imediata – este
é o erro que tem sido cometido pela teologia da prosperidade.
O nosso reino, o reino para o
qual Deus leva aqueles a quem liberta, é o reino do seu filho, o reino do
Messias tão esperado, o reino do Senhor Jesus Cristo (Rm 14:17). O reino
do seu filho tem como características a verdade, a ética, a justiça social, a
felicidade, mas tudo isso porque é o reino do filho do seu amor, o reino
daquele que entregou-se a si mesmo em favor daqueles a quem ele amou e chamo de
amigos (Jo 15:13) e, tendo-os amado, amou-os até o fim (Jo 13:1).
O reino de Deus expressa a bondade e a misericórdia de Deus em favor de
pecadores que nada mereciam além da sua justa ira (Lm 3:22).
…COM O PERDÃO PLENO
…no qual temos a redenção, a
remissão dos pecados.
No filho do amor de Deus,
isto é, em Jesus Cristo, passamos a ter uma nova condição (Ef 1:7). Há
uma grande transformação sendo feita por Deus, que nos escolhe (Jo 15:16)
para mostrar a suprema riqueza de sua graça (Ef 2:7).
Veja que transformação – de
escravos e apátridas, agora somos concidadãos dos santos (Ef 2:19). Que
mudança radical, de inimigos da cruz de Cristo (Fp 3:18) para filhos
amados (Gl 4:6). De adversários e opositores (Mt 12:30)
transformados em rebanho cuidado pelo bom pastor (Jo 10:27).
Redenção é a liberdade
adquirida mediante o pagamento de um resgate, de algo que é entregue em favor
de um débito. Sabemos que o resgate de uma alma é caríssimo e o ensino das
Escrituras é que estas tentativas devem cessar por serem infrutíferas e
insuficientes (Sl 49:8). Todavia, saber disto não deve nos desesperar
porque a nossa redenção foi conquistada pelo Senhor – um preço foi pago (I
Co 6:20).
Mas que preço? Quanto? O que
precisa ser feito? Não foi um preço qualquer, nem mesmo nada que possamos fazer
– lembre-se que, em seus pecados, o homem está morto. A redenção não é
conquistada mediante obras meritórios (Ef 2.8-9) porque elas não existem
(Is 64:6), e nem por obras da lei (Gl 2:16) porque
ninguém consegue obedecê-la integralmente (Tg 2:10).
Você precisa saber o preço
que foi pago para que o seu sangue não fosse derramado – para que você não
perecesse sob o império das trevas. Este preço foi o sangue de Jesus Cristo, o
redentor. Não de um homem ou de uma mulher, mas o de Jesus, o único redentor (At
4.12). Nem ouro, nem prata, nem nossas obras, mas a nossa liberdade foi
adquirida mediante o pagamento de um resgate inigualável, o sangue do próprio
Filho de Deus (I Pe 1.18-20).
Remissão é ser liberto de uma
pena mediante perdão total – e este perdão total foi obtido mediante o
derramamento do sangue de Jesus (Hb 9:22). Sua perfeita obediência
curou-nos da nossa desobediência, por meio dele os escravos foram tornados
livres para obedecer. Aqueles que erravam propositalmente o alvo agora podem
olhar firmemente para o autor e consumador da fé, o Senhor Jesus Cristo (Hb
12:2).
O QUE VOCÊ NÃO PODE
ESQUECER
Sabemos que Deus tem
abençoado – aliás, sabemos que Deus é, em última instância, a fonte de todas as
bênçãos. Sabemos também que não podemos pagar pelas bênçãos de Deus,
devolvendo-lhe algo que tenha o mesmo valor do que ele nos dá. Dentre estas
muitas bênçãos lembramos o fato de que, todo homem, por causa de suas próprias
transgressões, é escravo do pecado, vendido à servidão dos interesses da carne,
do mundo e do diabo, num círculo vicioso no qual o diabo usa as seduções do
mundo como armadilhas para que os interesses mundanos dos homens sejam
satisfeitos, gerando, assim, novas seduções e armadilhas, e, de abismo em
abismo, resta ao pecador nada menos que o abismo eterno, o inferno (Sl 42:7).
Escravizado, todavia, ainda
podendo ser alcançado pelo grande amor de Deus. Morto por causa dos pecados,
mas não longe do alcance do braço misericordioso de Deus, que, por causa da
muita misericórdia nos deu vida (Ef 2.4-5).
Condenados à lutar até a
morte, quanto mais vivendo mais merecendo a morte, satisfazendo-se em sua
própria rebeldia, mas não distantes demais que não possam ser alcançados por
aquele que chama para uma nova vida (I Pe 4.4).
E é nesta situação de
alcançados que somos convidados a render graças ao Senhor – se não temos nada
que possa pagar o bem que ele nos fez, respondendo à pergunta inicial do
salmista, resta-nos entregar todo o nosso ser em suas graciosas mãos, e a)
receber a salvação que ele dá; b) invocar o nome do Senhor, reconhecendo-o em
todos os seus caminhos e c) testemunhar sobre como Deus tem agido em sua vida,
resgatando da escravidão e dando liberdade, cidadania celeste e o perdão dos
pecados.
O QUE VOCÊ DEVE FAZER
Como fazer isso?
i. Lembre-se
que você não é mais escravo do diabo, nem do mundo, nem do pecado, e nem
mesmo de suas próprias inclinações – você é de Deus, nascido de Deus, viver na
prática do pecado não é um imperativo em sua vida (I Jo 5:18);
ii. Lembre-se
que você não é mais um mundano, você tem uma nova cidadania, você é um
cidadão dos céus. Enquanto estiver aqui, você é apenas um peregrino, e, como
tal, não pode amar o mundo nem suas ofertas (I Jo 2.15-16);
iii. Lembre-se
que você recebeu o perdão de Deus – seus pecados foram pagos mediante
a morte de Jesus na cruz. Embora para você tenha sido uma expressão da graça de
Deus, o preço foi a morte do Filho naquela cruz infame, em seu lugar (I Pe
3:18) e, por isso, não menospreze o que Deus fez por você (Hb 10:29).
Se você já conhecia estas
coisas, não tem razão para não as colocar em prática em cada momento de sua
vida. Amanhã você retoma a sua lide diária – pergunte-se agora se alguém
consegue ver que você recebeu estes benefícios de Deus sem que você precise
fazer algum discurso? É hora de você fazer uma reavaliação de sua vida de
crente em Jesus Cristo.
Se você ainda não conhecia, e
agora conhece, o que você vai fazer? Vai desprezar o anúncio da graça salvadora
de Deus, como fizeram os homens dos dias de Noé, como fizeram os judeus nos
dias de Jesus e como milhares tem feito todos os dias? Por favor, não se
esconda sob a desculpa de que você não pediu a crucificação de Jesus –
lembre-se que Jesus afirmou que quem não é por ele é contra ele.
Com quem você está, afinal? Só existem dois senhores – Jesus ou o diabo. Quem é
o Senhor de sua vida?
Deixe-me te dar algumas dicas
práticas, que vale para todos aqueles que nasceram de novo, independente de há
quanto tempo:
i. Nunca,
mas nunca mesmo, abandone a leitura contínua das Escrituras – mesmo que ela
pareça muito difícil de entender e praticar no começo, o Espírito do Senhor a
usará para te dar sabedoria;
ii. Confie
suas decisões às orientações das Escrituras, e não em seus sentimentos – homens
de Deus desejaram a morte, como Elias, Jó e Jonas, mas Deus tinha grandes
planos para eles;
iii. Nunca
vá a ambientes onde as trevas sejam mais honradas que a luz, onde Jesus não é
bem-vindo como salvador nem honrado como Senhor absoluto;
iv. Abandone
tudo aquilo que era comum em sua vida sem Cristo, deixando as obras
infrutíferas das trevas, mesmo que com prejuízo imediato – o Senhor recompensa
com muito mais;
v. Não
é bom que o homem esteja sozinho – nem só, nem mal acompanhado. Procure a
companhia dos santos, e ande com eles na luz, evite o conselho dos ímpios, não
ande no caminho dos pecadores nem se assente na roda dos escarnecedores;
vi. Alimente
sua mente e coração somente com o que edifica – esqueça revistas e programas
televisivos nos quais os produtores olham para você apenas como uma carteira ou
um vaso sanitário;
Em tudo busque ser uma
testemunha fiel, sabendo que o Senhor dará a justa recompensa aos que forem
fiéis, mesmo em face da morte – eles receberão a coroa da vida.