Há um fenômeno que pode ser muito facilmente percebido no mundo religioso - não apenas nas Igrejas neoevangélicas, apesar de sua forte presença na mídia torna-los ainda mais visível. Denomino este fenômeno de utilitarismo, isto é, tornar a fé uma mera ferramenta para se obter alguma forma de satisfação.
É óbvio que uma vida devotada a Cristo, pela fé, conduz o cristão em triunfo (II Co 2.14 Graças, porém, a Deus, que, em Cristo, sempre nos conduz em triunfo e, por meio de nós, manifesta em todo lugar a fragrância do seu conhecimento), e que a fé é útil tanto para o porvir (Hb 11.1 Ora, a fé é a certeza de coisas que se esperam, a convicção de fatos que se não veem) quanto para os enfrentamentos diários (At 27.25 Portanto, senhores, tende bom ânimo! Pois eu confio em Deus que sucederá do modo por que me foi dito), mas o utilitarismo é materialista e imediatista, é terreno, está muito mais interessado apenas em juntar tesouros (monetários, emocionais, profissionais, materiais) aqui, onde tudo pode ser perdido (Lc 12.34 ...porque, onde está o vosso tesouro, aí estará também o vosso coração).
Esta utilitarização imediatista e materialista da fé é expressa na forma repetitiva de testemunhos que encontramos nos meios de comunicação apontando sempre os numerosos benefícios conseguidos depois de uma aceitação formal de Jesus. Outra forma pode ser encontrada quando você tenta mostrar o amor de Jesus por pecadores e o interlocutor faz a pergunta: “E o que eu ganho por seguir Jesus”, numa reação à evidente necessidade de abandonar o seu estilo de vida atual. Muitos caem na armadilha e falam logo de benefícios terrenos que todos desejam, como estabilidade familiar, companhia da igreja, prosperidade. Somente em alguns casos aponta-se para o reino celeste.
Em resposta a isto podemos encontrar no capítulo 20 do evangelho de João alguns benefícios que o cristão pode experimentar em sua fé sem se preocupar com esta distorção pseudo-evangélica.
EM QUAL JESUS CRER
Provavelmente o grande problema de muitos “crentes” seja o fato de que não sejam, verdadeiramente, crentes, mas crédulos, e, embora pareça apenas um jogo de palavras, faz uma diferença enorme entre a vida e a morte, com efeitos eternos.
Crente é aquele que acredita na verdade revelada e, como os bereanos, buscam confirmação do que é dito que devem crer com o que o Senhor efetivamente diz para crerem, experimentando os espíritos, isto é, a essência do que lhes é oferecido (At 17.11 Ora, estes de Beréia eram mais nobres que os de Tessalônica; pois receberam a palavra com toda a avidez, examinando as Escrituras todos os dias para ver se as coisas eram, de fato, assim).
Observemos que os bereanos receberam a palavra com avidez, mas, ao mesmo tempo, não eram crédulos, isto é, não queriam ser enganados. Queriam crer, diferente dos sacerdotes que tudo fizeram para matar a Jesus porque não queriam crer (Jo 18.14 Ora, Caifás era quem havia declarado aos judeus ser conveniente morrer um homem pelo povo).
Uma multidão de crédulos não faz uma Igreja, porque os crédulos creem de duas formas: a primeira, de acordo com o que lhes é apresentado (e, como os gálatas, acabam aceitando outro evangelho - Gl 1.6-7 Admira-me que estejais passando tão depressa daquele que vos chamou na graça de Cristo para outro evangelho, o qual não é outro, senão que há alguns que vos perturbam e querem perverter o evangelho de Cristo), e a segunda, de acordo com o que querem crer, escolhendo doutrinas e formando uma fé ao estilo Frankstein, o que explica, embora não justifique, tantas e tão constantes mudanças de denominação à procura de novas peças que lhes agradem.
Por outro lado, um único crente é a Igreja do Senhor Jesus, onde está o reino de Deus (Lc 17.21 Nem dirão: Ei-lo aqui! Ou: Lá está! Porque o reino de Deus está dentro de vós), o templo onde habita o Espírito Santo (I Co 3.16 Não sabeis que sois santuário de Deus e que o Espírito de Deus habita em vós?).
É preciso, antes de mais nada, definir em qual Jesus crer - e esta fé tem que ser, nas palavras de Jesus, segundo as Escrituras (Jo 5.39 Examinais as Escrituras, porque julgais ter nelas a vida eterna, e são elas mesmas que testificam de mim). Uma fé em um Jesus diferente do que está nas Escrituras (I Co 15.3-4 Antes de tudo, vos entreguei o que também recebi: que Cristo morreu pelos nossos pecados, segundo as Escrituras, e que foi sepultado e ressuscitou ao terceiro dia, segundo as Escrituras) é semelhante a crer em Teudas e Judas, o galileu, que foram rejeitados pelos judeus antes do nosso Senhor, penso que enviado por satanás justamente para tornar os corações dos judeus ainda mais duros.
O que, então, os crentes, com uma fé saudável, bíblica, ganham de benefícios ao crerem em Jesus Cristo?
No capítulo 20 do evangelho de João encontramos o relato claro de três benefícios e uma consequência eterna que o cristão pode, legitimamente, usufruir de sua fé.
Nenhum comentário:
Postar um comentário