Os discípulos de Jesus, com toda a razão, diante dos fatos que se sucederam em Jerusalém, estavam sem a menor noção do que fazer ou para onde irem. Abandonaram Jesus no momento de sua prisão, negaram-no no julgamento e se dispersaram após sua crucificação. Certamente estavam envergonhados, mas, também tristes, porém, tinham uns aos outros, tinham suas famílias para onde voltar - havia até mesmo irmãos entre eles. Mas provavelmente nenhuma tristeza tenha sido mais perceptível do que a de Maria, de Magdala.
Ela era uma mulher sem qualquer esperança, possessa de sete espíritos imundos (Mc 16.9 Havendo ele ressuscitado de manhã cedo no primeiro dia da semana, apareceu primeiro a Maria Madalena, da qual expelira sete demônios) - e Jesus a havia libertado, reintegrado à sociedade que a desprezava. Ela nada pôde fazer para impedir sua prisão, seu julgamento e sua morte - nem mesmo sepultá-lo convenientemente. Nem mesmo depois da morte ela pode prestar uma homenagem a Jesus, não pôde embalsamá-lo, pois era o início do sábado, na verdade, o grande sábado de páscoa, o dia mais importante do calendário israelita e nenhum corpo podia permanecer insepulto para não “contaminar a terra” (Dt 21.23 ...o seu cadáver não permanecerá no madeiro durante a noite, mas, certamente, o enterrarás no mesmo dia; porquanto o que for pendurado no madeiro é maldito de Deus; assim, não contaminarás a terra que o SENHOR, teu Deus, te dá em herança).
Uma mulher que fora encontrada e liberta por Jesus quanto não tinha nenhuma esperança, e que, agora, dirigia-se para o túmulo também sem esperança de conseguir realizar seu intento de embalsamar o corpo do Senhor. Como ou quem lhe removeria a pedra? Como uma mulher frágil e fragilizada pela dor conseguiria mover uma pedra que tapava um túmulo, pesando centenas de quilos?
E na vida, quem a orientaria, quem a protegeria? A quem seguiria? A igreja de seus dias tinha matado o amado de sua alma. Eles a rejeitariam. Nem mesmo os discípulos de Jesus sabiam responder a esta pergunta - eles também estavam desorientados, sem plano de ação, sem liderança, desalentados e sem qualquer perspectiva.
Ao chegar ao túmulo, percebe que seu problema inicial não mais existia. Não havia pedra tapando o túmulo, nem guardas. Era demais para ela, só lhe restava pedir ajuda - e foi correndo procurar os discípulos, encontrando Pedro e João, que modestamente não cita seu nome. Eles correm, verificam que o corpo de Jesus efetivamente não está lá, e, ainda desorientados, voltam para casa.
Maria, tão triste estava, permaneceu perto do túmulo. E chorava. Não lhe restava mais nada a fazer, apenas chorar. Há momentos em nossa vida que a única coisa que sabemos fazer é dar vazão ao nosso desalento, à nossa certeza de não saber nem poder fazer nada para mudar a situação.
E, chorando, olha para o lugar onde viu frustrada sua última esperança e vê que não está sozinha. Nem mesmo a presença de anjos confortam seu coração, até que, finalmente, ela tem um encontro com Jesus. E isto muda tudo. Mas, apesar de Jesus do seu lado, por um tempo sua dor era tão intensa que a impedia de reconhecer Jesus. Não é de estranhar que muitos estejam tão imersos em suas angústias pessoais que não percebam o Senhor tão próximo,
Mas isto só dura até que o Senhor a chama pelo seu próprio nome. É uma triste verdade que nossa miséria, nossa dor, só nos cega até o momento em que o Senhor nos chama. Ele nos conhece, conhece nossas fraquezas e tem se compadecido de nós (Hb 4.15 Porque não temos sumo sacerdote que não possa compadecer-se das nossas fraquezas; antes, foi ele tentado em todas as coisas, à nossa semelhança, mas sem pecado).
No exato instante em que ela reconhece ser Jesus, e não um jardineiro, que está ao seu lado, sua tristeza se transforma numa exultante disposição para testemunhar a ressurreição de Jesus (Jo 20.18 Então, saiu Maria Madalena anunciando aos discípulos: Vi o Senhor! E contava que ele lhe dissera estas coisas). A primeira benção adquirida pelo cristão com a ressurreição de Jesus foi o fim da tristeza, dando lugar a uma exultante alegria.
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