Todavia, não é qualquer evangelho que merece ser anunciado
pelos cristãos. Paulo afirma a existência do evangelho, e de “outro
evangelho” (Gl 1.6-9 Admira-me que estejais passando tão depressa daquele
que vos chamou na graça de Cristo para outro evangelho, o qual não é outro,
senão que há alguns que vos perturbam e querem perverter o evangelho de Cristo.
Mas, ainda que nós ou mesmo um anjo vindo do céu vos pregue evangelho que vá
além do que vos temos pregado, seja anátema). Assim, um falso evangelho não
apenas não deve ser pregado pelos cristãos mas combatido com veemência.
O cristão não deve perder tempo com o anúncio de nada que não
seja o evangelho de Cristo (I Rs 22.14 Respondeu Micaías: Tão certo
como vive o SENHOR, o que o SENHOR me disser, isso falarei), vendo-o como
uma obrigação (I Co 9.16 Se anuncio o evangelho, não tenho de que me
gloriar, pois sobre mim pesa essa obrigação; porque ai de mim se não pregar o
evangelho!) por mais atrativo que isto possa parecer (Cl 2.8 Cuidado
que ninguém vos venha a enredar com sua filosofia e vãs sutilezas, conforme a
tradição dos homens, conforme os rudimentos do mundo e não segundo Cristo).
Nos versos 1 e no início do 3 Paulo enfatiza que o evangelho
é para ser lembrado, recebido e mantido com fidelidade. Paulo
atesta que foi exatamente isto o que fez. Recebeu o evangelho e o passou
adiante.
Após ter passado em Atenas e apresentado, no Areópago, um
evangelho “temperado com filosofia” sem grandes resultados, ele decidiu pregar,
entre os coríntios, apenas Cristo, e este crucificado (I Co 2.2 Porque
decidi nada saber entre vós, senão a Jesus Cristo e este crucificado).
É incompreensível a indisponibilidade e indisposição crônicas
de um grande número de cristãos para a com a pregação do evangelho. Tenho
observado cristãos que afirmam não saber pregar o evangelho defendendo
com convicção esportistas, políticos, programas televisivos e outros assuntos,
muitas vezes com maior veemência do que muitos pregadores em seus púlpitos.
Porque isto é assim? Ofereço pelo menos três respostas:
i.
CONHECIMENTO
Se pedirmos para alguns cristãos citarem os nomes dos
apóstolos de Jesus, ou os livros da bíblia talvez sejamos envergonhados. Mas se
o assunto for os personagens da novela que está acabando, ou os jogadores de
seu clube, o risco de vergonha é muito maior, porque muitos saberão.
E isto é assim porque investem muito tempo, estudam com
afinco os personagens e as características dos jogadores de seus clubes, o que,
infelizmente, não fazem em relação à Palavra de Deus (Js 1.8 Não
cesses de falar deste Livro da Lei; antes, medita nele dia e noite, para que
tenhas cuidado de fazer segundo tudo quanto nele está escrito; então, farás
prosperar o teu caminho e serás bem-sucedido), apesar das advertências do
Senhor de que um povo sem conhecimento é um povo condenado à destruição, mesmo
que lenta (Os 4.6 O meu povo está sendo destruído, porque lhe falta o
conhecimento. Porque tu, sacerdote, rejeitaste o conhecimento, também eu te rejeitarei,
para que não sejas sacerdote diante de mim; visto que te esqueceste da lei do
teu Deus, também eu me esquecerei de teus filhos).
ii.
PAIXÃO
Uma segunda resposta é que sempre encontramos pessoas
dispostas a darem sua vida por aquilo que amam. Paulo e os apóstolos
consideravam a sua vida de pouco valor (I Ts 2.8 ...assim,
querendo-vos muito, estávamos prontos a oferecer-vos não somente o evangelho de
Deus, mas, igualmente, a própria vida; por isso que vos tornastes muito amados
de nós) para que o evangelho fosse conhecido.
Conhecemos pessoas dispostas aos mais diversos e absurdos
sacrifícios em prol de cantores, atletas e celebridades. E está se tornando
cada vez mais raro encontrar pessoas dispostas a pelejar pela fé que uma vez
por todas foi entregue aos santos (Jd 1.3 Amados, quando empregava
toda a diligência em escrever-vos acerca da nossa comum salvação, foi que me
senti obrigado a corresponder-me convosco, exortando-vos a batalhardes,
diligentemente, pela fé que uma vez por todas foi entregue aos santos) e,
muito menos, a dar a sua vida pela fé.
Enquanto a paixão, como o mundo a conhece, é destrutiva e
busca principalmente a satisfação pessoal, o tipo de paixão que estamos nos
referindo é aquele sentimento que se doa pelo próximo, ainda que isto resulte
em sofrimento próprio. Enquanto a paixão mundana é egoísta, o sentimento de que
falamos é altruísta.
iii.
INTERESSE
Geralmente podemos observar isto em três áreas: no comércio,
quando vendedores ganham por comissão, na religião, quando se acredita que as
obras proporcionarão a melhoria espiritual e até mesmo a redenção [teoria da
compensação) e, finalmente, na política, especialmente durante as eleições
quando se pretende que determinado candidato consiga um cargo (e, por
conseguinte, ofereça como recompensa vantagens aos seus apoiadores, como
cargos, favores, etc...).
Como o verdadeiro cristianismo é uma religião onde as obras
entram como consequência da salvação, e não como um meio, muitos cristãos não
se sentem motivados para praticá-las, sob o tolo argumento de que já
estão salvos mesmo.
O problema é que isto é uma tolice, ou, mais que isso, uma
impiedade (Pv 22.13 Diz o
preguiçoso: Um leão está lá fora; serei morto no meio das ruas) e falta de
sabedoria (Pv 6.6 Vai ter com a
formiga, ó preguiçoso, considera os seus caminhos e sê sábio), pois a
palavra diz que o cristão, cheio de graça, é sempre abundante em boas obras (II
Co 9.8 Deus pode fazer-vos abundar em
toda graça, a fim de que, tendo sempre, em tudo, ampla suficiência,
superabundeis em toda boa obra), as quais Cristo preparou para que
andássemos nelas (Ef 2.10 Pois
somos feitura dele, criados em Cristo Jesus para boas obras, as quais Deus de
antemão preparou para que andássemos nelas).
Como o preguiçoso de Provérbios 22 qualquer justificativa
serve para não fazer nada, por mais absurda que seja - até mesmo um cristão
dizer que não tem conhecimento bíblico - e não o tem porque perde tempo com
novelas, jogos e uma montanha de outras distrações.
Sei que é muito pouco, mas creio que teríamos um
cristianismo, especialmente um presbiterianismo, muito mais consistente e
poderoso se cada cristão reservasse ao menos meia hora por dia para leitura e
meditação da Palavra, com orientações hermenêuticas adequadas dos líderes. Mas,
infelizmente, não há interesse.
Encerro esta primeira abordagem com a convicção de que ser
testemunha do Senhor Jesus, anunciando todas as coisas que ele tem nos
ensinado não é uma questão de escolha, mas uma imposição do Senhor aos seus
discípulos (Mt 28.19-20 Ide, portanto, fazei discípulos de todas as
nações, batizando-os em nome do Pai, e do Filho, e do Espírito Santo;
ensinando-os a guardar todas as coisas que vos tenho ordenado. E eis que estou
convosco todos os dias até à consumação do século), um mandamento que deve
ser cumprido por aqueles que o amam (Jo 15.14 Vós sois meus amigos,
se fazeis o que eu vos mando) mesmo se o ambiente não for favorável (Rm
8.36 Como está escrito: Por amor de ti, somos entregues à morte o dia
todo, fomos considerados como ovelhas para o matadouro).
Porque pregar o evangelho? Porque ele é o poder de Deus para
salvação de todo aquele que nele crê (Rm 1.16 Pois não me envergonho do evangelho, porque é o poder de Deus para a
salvação de todo aquele que crê, primeiro do judeu e também do grego). Porque
Deus resolveu salvar pecadores pela loucura da pregação (I Co 1.21 Visto como, na sabedoria de Deus, o mundo
não o conheceu por sua própria sabedoria, aprouve a Deus salvar os que creem
pela loucura da pregação). Isto nos conduz ao segundo ponto deste estudo:
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