terça-feira, 13 de agosto de 2013

NEY FRANCO X ROGÉRIO CENI = CALAR OU FALAR, UMA QUESTÃO ÉTICA

Tenho acompanhado pelos jornais o que dizem tanto o ex-técnico e o ex-goleiro em atividade do São Paulo Futebol Clube. Há muito que penso que o ex-goleiro é um goleiro medíocre que é capaz de bater faltas muito bem, e é, também, muito articulado, posando sempre de bom moço enquanto controla os bastidores do time como ninguém – mas alguém disse que máscaras tem furos, e por eles a verdade, mais cedo ou mais tarde, acaba escapando. As máscaras não duram para sempre, e já há quem ouse desconstruir esta imagem de bom moço, como mostrou recentemente um dos ex-dirigentes do clube que o revelou.
E o caso Ney Franco? Ao "ser saído" do SPFC Ney afirmou que o responsável direto pela queda de treinadores e ostracismo de jogadores (como Lúcio e Paulo Henrique Ganso) é o dono e capitão do time, Ceni. Alguns comentaristas, especialmente da Rede Bandeirantes, entraram no debate (este é o trabalho deles) para dizer que Ney errou e que deveria ter mostrado apenas o que fez de bom no clube – deixou o time em 5º e agora está em 19º. Dizem que Ney deveria ter pego o boné, posado de fraco e incompetente e deixado a vida do SPFC seguir em frente, porque falar sobre o que todos querem esconder poderia prejudicar sua carreira. Mas será que deveria ser assim mesmo? Acusado, acuado, deveria calar-se, aceitar as pedradas e virar as costas?
Analisemos rapidamente o contexto: num determinado grupo existe um ou mais pessoas de má índole, manipuladores, que decidem quem vem, quem fica e quem será dispensado com desonra, sob a pecha de fracassado, pouco importando o que a pessoa já havia construído até aquele momento. Neste ambiente quem não anda pela cartilha destes reizinhos, geralmente possuidores de baixa autoestima, logo são colocados em situações desagradáveis. A baixa autoestima faz com que eles precisem manipular outros para sentirem-se bem consigo mesmos.
Assim, muitos que querem realmente serem úteis neste grupo são rejeitados de imediato, por questões de simpatia ou antipatias dos reizinhos, e, muitos acabam silenciando porque eles resolvem algumas "partidas" com base em algum talento individual, como é o caso de Ceni, com seus gols de falta (que faz a maioria esquecer os gols fáceis constantes que toma – seria bom se a turma das estatísticas fizesse um levantamento de gols pró X gols contra fáceis tomados).
Em algum momento alguém que conhece os vícios deste ambiente resolve trazer para a luz o que antes era escondido com acordos nebulosos, fugas, silêncios. E este alguém sabe que, trazendo para a luz estas coisas, pode impedir que outros sejam prejudicados.
Foi o que fez Ney Franco. Disse claramente onde está o problema – mostrou porque o time não rende. E agora a pressão é para que o time renda para mostrar que Ney estava errado – o que só vai mostrar que ele estava certo, porque estavam fazendo corpo mole para que ele caísse. Só que, agora, a crise se instaurou e tudo fica mais complicado, os jogadores estão psicologicamente abalados, a vice lanterna é um peso, jogos já foram perdidos – o trabalho de recuperação, se possível, é muito árduo.
O que quero abordar é uma questão ética: Ney deveria aceitar todo o peso do fracasso e não falar dos antigos comandados ou mostrar a verdade, ainda que alguns vejam nisso uma fraqueza e uma vingança? Ney ganhou inimigos, mas expôs as chagas que há no clube. Chagas que podem ser tratadas à partir de agora, ou, como parece estar acontecendo, os doentes preferirão conviver com a doença que já conhecem ao invés de buscarem uma cura a um custo desconhecido.
Não é só no SPFC que este tipo de coisa acontece – em todos os grupos humanos há situações parecidas, e a pior atitude a tomar é, sempre, a de "abafar o caso', "deixar ficar para ver como é que fica". Um problema não tratado é apenas um problema que vai ficar fermentando, destruindo relacionamentos e reputações. E foi isto que o Ney Franco não aceitou – e, neste aspecto, concordo com o treinador. 

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