Tenho acompanhado pelos jornais o que dizem tanto o ex-técnico
e o ex-goleiro em atividade do São Paulo Futebol Clube. Há muito que penso que
o ex-goleiro é um goleiro medíocre que é capaz de bater faltas muito bem, e é, também,
muito articulado, posando sempre de bom moço enquanto controla os bastidores do
time como ninguém – mas alguém disse que máscaras tem furos, e por eles a
verdade, mais cedo ou mais tarde, acaba escapando. As máscaras não duram para
sempre, e já há quem ouse desconstruir esta imagem de bom moço, como mostrou recentemente um dos ex-dirigentes do clube que o revelou.
E o caso Ney Franco? Ao "ser saído" do SPFC Ney
afirmou que o responsável direto pela queda de treinadores e ostracismo de
jogadores (como Lúcio e Paulo Henrique Ganso) é o dono e capitão do time, Ceni.
Alguns comentaristas, especialmente da Rede Bandeirantes, entraram no debate (este
é o trabalho deles) para dizer que Ney errou e que deveria ter mostrado apenas
o que fez de bom no clube – deixou o time em 5º e agora está em 19º. Dizem que
Ney deveria ter pego o boné, posado de fraco e incompetente e deixado a vida do
SPFC seguir em frente, porque falar sobre o que todos querem esconder poderia
prejudicar sua carreira. Mas será que deveria ser assim mesmo? Acusado, acuado,
deveria calar-se, aceitar as pedradas e virar as costas?
Analisemos rapidamente o contexto: num determinado grupo
existe um ou mais pessoas de má índole, manipuladores, que decidem quem vem,
quem fica e quem será dispensado com desonra, sob a pecha de fracassado, pouco
importando o que a pessoa já havia construído até aquele momento. Neste ambiente
quem não anda pela cartilha destes reizinhos, geralmente possuidores de baixa
autoestima, logo são colocados em situações desagradáveis. A baixa autoestima
faz com que eles precisem manipular outros para sentirem-se bem consigo mesmos.
Assim, muitos que querem realmente serem úteis neste grupo são
rejeitados de imediato, por questões de simpatia ou antipatias dos reizinhos,
e, muitos acabam silenciando porque eles resolvem algumas "partidas"
com base em algum talento individual, como é o caso de Ceni, com seus gols de
falta (que faz a maioria esquecer os gols fáceis constantes que toma – seria bom
se a turma das estatísticas fizesse um levantamento de gols pró X gols contra fáceis
tomados).
Em algum momento alguém que conhece os vícios deste ambiente
resolve trazer para a luz o que antes era escondido com acordos nebulosos,
fugas, silêncios. E este alguém sabe que, trazendo para a luz estas coisas,
pode impedir que outros sejam prejudicados.
Foi o que fez Ney Franco. Disse claramente onde está o
problema – mostrou porque o time não rende. E agora a pressão é para que o time
renda para mostrar que Ney estava errado – o que só vai mostrar que ele estava
certo, porque estavam fazendo corpo mole para que ele caísse. Só que, agora, a
crise se instaurou e tudo fica mais complicado, os jogadores estão psicologicamente
abalados, a vice lanterna é um peso, jogos já foram perdidos – o trabalho de recuperação,
se possível, é muito árduo.
O que quero abordar é uma questão ética: Ney deveria aceitar todo
o peso do fracasso e não falar dos antigos comandados ou mostrar a verdade,
ainda que alguns vejam nisso uma fraqueza e uma vingança? Ney ganhou inimigos,
mas expôs as chagas que há no clube. Chagas que podem ser tratadas à partir de
agora, ou, como parece estar acontecendo, os doentes preferirão conviver com a doença
que já conhecem ao invés de buscarem uma cura a um custo desconhecido.
Não é só no SPFC que este
tipo de coisa acontece – em todos os grupos humanos há situações parecidas, e a
pior atitude a tomar é, sempre, a de "abafar o caso', "deixar ficar
para ver como é que fica". Um problema não tratado é apenas um problema
que vai ficar fermentando, destruindo relacionamentos e reputações. E foi isto
que o Ney Franco não aceitou – e, neste aspecto, concordo com o treinador.
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