segunda-feira, 29 de março de 2010

CASO ISABELA NARDONI: A IDIOTIZAÇÃO DA DOR

Ou: a dor, a justiça e a exploração do sensacionalismo.

Quando me dispus a escrever sobre este assunto, apesar de não saber ainda o resultado do julgamento, tinha por certo algumas coisas. Antes, porém, quero expressar minha opinião sobre o julgamento em si. Primeiro, parece-me que os réus tiveram amplo direito à defesa, inclusive com um advogado considerado de primeira linha na área criminal. Segundo, os jurados também tinham conhecimento não apenas teórico do caso, mas estavam inteirados de detalhes técnicos, uma vez que não havia testemunhas nem confissão, apenas provas periciais. Terceiro, que a justiça não foi lenta, como deveria ser sempre – pena que não é assim no caso dos políticos larápios que dilapidam o patrimônio público. Quarto, não tenho nenhum subsídio para acreditar que o casal Alexandre e Ana sejam inocentes. Não há alternativa, não há álibi, não há outra linha de suspeição. Se estão arrependidos ou se apenas sofrem com as consequências de seus atos, não cabe a mim dizer.

Agora, quanto ao julgamento em si, algumas considerações que independiam do resultado.

O primeiro é a dor das pessoas envolvidas, a mãe da Isabela, parentes próximos [tios, avós], e, também, dos filhos do casal Alexandre e Ana. Parece que esta dor foi, momentaneamente, esquecida. Percebi uma avidez por notícias, por entrevistas, e nenhuma sensibilidade com os que sofrem.

O segundo é que, creio, a justiça foi aplicada com seriedade sobre os réus. Se são realmente culpados, merecem os anos de prisão [deverão ficar em regime fechado, no máximo, 2/3 do tempo a que foram condenados – já descontando os dois anos que ficaram aguardando julgamento].

O terceiro é a triste espetacularização do caso. Gente que nada tinha a ver com a família, ou com os eventos em si, foram para as proximidades do fórum de Santana… Gente que deixou de cuidar de suas famílias para participar e promover um espetáculo grotesco e circense, na expectativa de obter seus 15 minutos de fama… Gente idiota como o pseudo-pregador, que nada dizia do evangelho mas repetia um bordão de uma máquina de falcatruas religiosas [invasão de terras, tráfico de armas, lavagem de dinheiro] que até mesmo usou o nome do Senhor em vão, pois sabia que qualquer um que fosse defender o casal iria, inevitavelmente, aparecer na TV [ainda me pergunto se tudo aquilo não passou de uma montagem de uma determinada emissora, que é bem capaz disso para ganhar pontos no IBOPE]. Dia e noite era possível ver repórteres ávidos por novidades, pressionando conhecidos e desconhecidos para obterem declarações fortes e impressionantes, ou lágrimas, ou qualquer outra coisa que pudesse ser mostrada na TV.

Tenho a impressão que o casal Alexandre e Ana não ficarão tanto tempo presos. Tenho a impressão que cumprirão o que a justiça brasileira lhes determinar e voltarão para suas casas tendo pago seu débito por uma transgressão contra a sociedade. Não sei se terão pago seu débito com Deus, por terem cometido um crime contra uma criança, também ela portadora da imagem de Deus. Isso é com Deus. Mas tenho certeza que os exploradores da dor alheia, aqueles que não choraram com os que choram, também terão contas a ajustar.

Para concluir, lamento a morte da menina Isabela. Lamento a dor dos familiares. Lamento a triste sorte dos condenados. Espero justiça contra os tolos que se aproveitaram de todo este caso para se promoverem.

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