Palestra proferida na Igreja Presbiteriana de Goianésia do Pará por ocasião do seu II aniversário de organização eclesiástica.
A história nos mostra que a Igreja sempre teve que fazer escolhas quanto ao papel que desempenharia na sociedade. Foi assim logo no primeiro momento, quando teve que se posicionar quanto ao império romano. As opções disponíveis eram a do acomodacionismo [fazendo-se apresentar como mais uma faceta do judaísmo, e assim gozar, no mínimo, da aceitação tácita do mundo gentílico, que, embora não gostasse, admitia a existência da religião judaica e seu monoteísmo estrito] ou de um exclusivismo universalista, reivindicando para si o duplo papel de religião única e verdadeira, ao mesmo tempo em que se anunciava como uma religião supranacional – mas, neste contexto, sem a permissão do império romano, e, por isso, de tempos em tempos, sofrendo intensa perseguição.
Num segundo momento o cristianismo teve, novamente, que assumir posição quanto a este mesmo império – já tendo assumido o status de religio licita, isto é, religião permitida, foi alçado ao novo e inédito status de religio imperium, a religião do imperador e oficial do império romano. O novo desafio a ser enfrentado pela Igreja era como manter-se pura quando os seus novos membros eram, em sua maioria, incoversos – e ela respondeu relativamente mal a este desafio, uma vez que adotou as práticas e conceitos correntes no universo religioso pagão como meio de adequação aos novos tempos – e viu-se invadida pela idolatria e superstição da qual apenas alguns de seus ramos conseguiram relativa purificação.
Num terceiro momento o embate do cristianismo foi mais no plano das idéias do que especificamente religioso. Foi a era do renascentismo e do humanismo – o homem desejoso de alcançar o que Adão tentou e acabou em tragédia: tornar-se o centro, a medida de todas as coisas. A fé e a razão entraram em choque. O cristianismo viu-se dividido entre o obscurantismo [a negação de verdades cientificas como o helicentrismo e a movimentação da terra]; o racionalismo [a negação de verdades bíblicas por não serem comprováveis através de experiências racionalmente conduzidas] ou a sujeição da razão humana à revelação divina, como fizeram os reformadores do séc. XVI.
As suas lutas ainda não haviam chegado ao fim, e a Igreja viu-se novamente confrontada com a tentativa de engessa a fé em um dogmatismo árido, num movimento que ficou conhecido como escolasticismo. Diante do novo desafio, a Igreja acabou mais uma vez escolhendo caminhos alternativos, de um lado, perdeu seu vigor espiritual em prol de um academicismo estéril, e, no outro extremo, caiu num pietismo divorciado das Escrituras. Como filho destes dois caminhos que levavam a lugar nenhum viu a emergência de um movimento chamado de liberalismo teológico, que negou à Escritura o valor de revelação divina inerrante e atribuiu-lhe apenas o papel de registro de experiências religiosas particulares.
Era hora de fazer novas escolhas – e as respostas propostas também gerariam novos conflitos. De um lado, o fundamentalismo e sua rejeição ao sentimento religioso, e, do outro, o pós-liberalismo, e sua rejeição a doutrinas normativas. No início do séc. XX a Igreja vai se ver multifacetada, com a eclosão de numerosos movimentos que, por um lado, têm em pouca conta o caráter normativo das Escrituras – mas, por outro, demonstram um grande apreço por seus ensinos e, especialmente, por suas narrativas. Finalmente, novo grupo vai se destacar tendo as Escrituras apenas como pretexto para organização sócio-cultural, e, ao invés de vermos surgirem novas Igrejas, surgem verdadeiros conglomerados econômicos, sem qualquer ênfase narrativa ou doutrinária. Apenas o sentimento e o particularismo, misturado com misticismo e superstições, tomam conta destes grupos que se apresentam como Igrejas.
Mesmo assim, a Igreja de Cristo continuou firme em seu caminho, e, embora cercada deste mar de dificuldades, foi como rio que, chegando ao mar, continua com força e gera o que se chama em náutica de corrente marítima.
Assim, a Igreja no início do séc. XXI vê-se diante, mais uma vez, do dilema de escolher seus rumos. As propostas são várias, e até mesmo intercambiáveis, podendo-se fazer uma mistura com resultados os mais diversos. Mas eu quero destacar que existem três ramos principais:
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