Inadequação.
Sensação de alienação a um lugar ou situação. Quem nunca se sentiu assim? Estar
em um lugar ou em uma situação e não encontrar ligações que justifiquem estar
ali.
Nestes últimos dias
o Brasil tem visto um número enorme de caminhadas,
passeatas, manifestações. Pelo que, mesmo? Porque tantas manifestações? Para
que? E, mais importante, qual é o objetivo oculto, não declarado? Quem está
ganhando para promover estes movimentos?
Se num primeiro
momento as manifestações eram político-econômicas, esta semana houve outra, com
entre 800.000 participantes, segundo a Polícia Militar, ou 2.000.000, segundo
os ufanistas organizadores, chamada Marcha para Jesus, o mesmo que disse que
não pretendia fazer gritaria na praça (Is
42.2: Não clamará, nem gritará, nem fará ouvir a sua voz na praça), ainda mais num evento organizado pelo
casal Hernandes, com a presença de Malafaia e feito para paparicar Feliciano.
Não, não é de Jesus, não é meu lugar.
Estive observando uma das
manifestações (aqui e aqui) de muito perto, e verifiquei o que já
sabia: ali não era meu lugar. Mas também não me senti nem de longe atraído pela
tal marcha que Jesus não pediu, mas que promove algumas pessoas,
especialmente interessadas em mídia e política. Nas redes sociais é um tal de
dizer que este ou aquele #merepresenta ou #naomerepresenta, de um lado, cristãos, do outro, cristãos
também, evidenciando uma casa dividida, um reino que, se não fora a promessa de
Deus de que as portas do inferno não prevaleceriam contra a Igreja, já teria
caído há muito tempo.
Se depender deste tal de
exército em marcha, cheio de generais, coronéis que encabrestam membros de
igrejas, capitães de patente autoconcedida, apóstolos que enviaram a si mesmos,
profetas que falam de seus sonhos pessoais, dos desejos do seu ventre, pastores
que a si mesmo se apascentam o reino não apenas não será instaurado em sua
plenitude como, também, há muito já teria se esfacelado.
Não, não sou parte disso.
Me sinto estranho, às vezes sozinho, como um observador numa terra que não é
sua - um peregrino, observando e tentando entender costumes e práticas sociais
cada vez mais absurdas. Meu lugar não é aqui. Sensação esquisita de não se
sentir pertencente ao lugar onde se está, e, ao mesmo tempo, não ter um lugar
onde se refugiar.
Porque? Porque, insisto,
meu lugar não é aqui. Não pertenço a este lugar. Estou, mas não sou. Minha
pátria não é esta, meu coração não está aqui. Nestes dias de passeatas e
manifestações tenho visto todo tipo de comportamento, e o que menos me alegra é
o de cristãos que, visando defender um ponto de vista, na verdade, uma simpatia
por determinados políticos, agirem com desamor para com outros cristãos que
possuem visão politica diferente. Brigam e se ofendem - fazem isso
publicamente, e, provavelmente jamais pedirão perdão por isso, até porque
confundem o direito de opinião com grosserias e ofensas.
E porque tudo isto? Por
causas meramente mundanas, terrenas. Se esta não é a pátria do cristão, se o
reino de Cristo não é deste mundo, porque tanta luta, tanta energia tem sido
gasta nas coisas deste mundo, e tão pouca nas causas do reino. Será que os
cristãos que carregavam faixas, cartazes, conviviam com vândalos e maconheiros
nas passeatas, eram atingidos por bombas de efeito moral, gás lacrimogêneo e
balas de borracha se empenham do mesmo jeito em suas congregações? Trocam um
banco de lugar? Tocam uma música? Entregam um folheto?
Tenho minhas sérias dúvidas
quanto à maioria. Por favor, não venha me dizer que você faz isso.
Provavelmente, você é uma das poucas exceções.
Você já pensou o que Jesus
faria em seu lugar? Iria para a via enfrentar os policiais romanos ou iria para
a sinagoga, para o templo, para o monte? Ensinaria a usar balaclava, pedras,
archotes, virar carros e ameaçar repórteres e desacatar policiais? Ou ensinaria
os princípios do reino.
Ah, não me diga que orações
não mudam uma nação. Se seu Deus não pode ouvir uma oração e atender, então,
que mísero é ele. Não me serve. Ir pra igreja não mudar uma nação, mas ser
santo, ético, não aceitar nem pagar suborno muda uma nação. Não votar por
interesses e vantagens pessoais muda uma nação. Ser bom no que faz, ser
excelente como profissional, como cidadão, isto muda uma nação.
Isto é utopia? Não, lamento
dizer, mas utopia é achar que depredar prefeituras e jogar pedras em policiais
mudam uma nação. Não pense que sou alienado - as pedras e tiros mudaram o Egito
e outros países do oriente médio - parece que para pior. Tenho certeza que você
não quer ir morar lá.
Não vai mudar o Brasil,
também, e, se o mudar, não será para melhor. As badernas e manifestações
trouxeram uma resolução do PT [um projeto do Foro de São Paulo de transformação
do Brasil em uma nova Cuba ou Venezuela) que estava engavetada - trouxe para os
holofotes crias políticas do PT e do PCdoB, recebidas como se fossem os
representantes das multidões que foram às ruas.
Não, a presidente não está
ouvindo a voz das ruas. Se quisesse ouvir, teria ido à final da Copa das
Confederações. E não foi. Não foi porque não quer ouvir a voz das ruas. Ela
ouve a voz de Lula, de Genoíno, de Mercadante, de João Santana.
Não, não me sinto à vontade
aqui. Não estou em casa. Continuo me sentindo fora do ambiente. Continuo
achando que meu lugar não é aqui. Continuo com vontade de ir para minha casa
real. E esta vontade apenas cresce. Cresce quando vejo cristãos se
engalfinhando por coisas deste mundo. Coisas pequenas, provincianas, mundanas.
Cristãos que amam o mundo, amam as coisas que há no mundo. Será que amam realmente
a Deus e ao próximo? Que cristianismo é esse?
Cristãos que ainda não
entenderam que aqui são peregrinos, e que, quando ferem outros cristãos, fazem
apenas o jogo do seu próprio inimigo. Cristãos que intentam destruir outros
cristãos e não percebem que com isso apenas se tornam ainda mais vulneráveis.
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