Um engano comum podia ser encontrado na comunidade coríntia: eles acreditavam que precisavam misturar-se aos outros coríntios, fazendo o que eles faziam, festejando como festejavam, partilhando de seus banquetes na tentativa de ser popular e, quem sabe, ter oportunidade de evangelizar.
A pergunta é: evangelizar o que? Anunciar quais boas novas? Que o messias veio e morreu? Que nada mais resta após a morte? Que não há esperança de vida eterna? Que o próprio messias não sabia exatamente o que veio fazer e que mensagem veio anunciar? Isto é fazer-se tolo achando que o mundo é tolo. Como conduzir o mundo a uma transformação sem saber nem para onde conduzi-lo?
É verdade que Paulo afirma que fez-se de tudo para com todos (I Co 9.22 Fiz-me fraco para com os fracos, com o fim de ganhar os fracos. Fiz-me tudo para com todos, com o fim de, por todos os modos, salvar alguns) no intuito de ganhar alguns para Cristo, mas isto não significou abrir mão de nada que comprometesse a sua fé ou seu testemunho. Costumes locais, escrúpulos religiosos judaicos e coisas de menos importância podiam ser acomodadas, mas Cristo, sua cruz, sua vida, sua ressurreição eram coisas inegociáveis.
Ele não se misturava às práticas religiosas de Éfeso, nem à licenciosidade pagã coríntia. E é este o ponto que aborda aqui: a verdadeira vida cristã não se mistura com o mundanismo que o cerca (Ec 10:1 Qual a mosca morta faz o ungüento do perfumador exalar mau cheiro, assim é para a sabedoria e a honra um pouco de estultícia).
Paulo adverte os coríntios com uma expressão muito forte, que significa mais do que ser enganado. Paulo não quer que eles possuam uma disposição mental incorreta que ocasione más ações. A advertência é para que tomem cuidado com tudo o que puder afastá-los do centro da vontade de Deus, e o único jeito a fazer é manterem os olhos fitos em Jesus, o autor e consumador da fé (Hb 12:2 ...olhando firmemente para o Autor e Consumador da fé, Jesus, o qual, em troca da alegria que lhe estava proposta, suportou a cruz, não fazendo caso da ignomínia, e está assentado à destra do trono de Deus).
A ênfase de Paulo a respeito das más conversações não se refere apenas às palavras, mas a uma troca, um intercâmbio de informações e experiências, produzindo uma síntese que na verdade é uma antítese da pureza exigida na vida cristã. Qualquer coisa que não é pura é impura, é corrupta, é inaceitável pelo Senhor (Ml 1.8 Quando trazeis animal cego para o sacrificardes, não é isso mal? E, quando trazeis o coxo ou o enfermo, não é isso mal? Ora, apresenta-o ao teu governador; acaso, terá ele agrado em ti e te será favorável? - diz o SENHOR dos Exército).
Lembremos rapidamente das causas das divisões entre os coríntios: legalismo, filosofia, liberalismo moral, partidarismo e falsa espiritualidade. Tudo isto produziu uma Igreja doente, fraca, ferida e incapacitada para dar bom testemunho (Ap 3.1 Ao anjo da igreja em Sardes escreve: Estas coisas diz aquele que tem os sete Espíritos de Deus e as sete estrelas: Conheço as tuas obras, que tens nome de que vives e estás morto. Sê vigilante e consolida o resto que estava para morrer, porque não tenho achado íntegras as tuas obras na presença do meu Deus).
Paulo enfatiza que os bons hábitos, a pureza de vida, o fervor espiritual, a atitude evangelizadora que deveria existir entre os coríntios estava sendo substituída pelo partidarismo, pela glorificação de homens ou teorias, pelo mundanismo e até pela idolatria, e nada disso produz a glória de Deus.
A crença na ressurreição conduz à consideração de que é uma tolice abandonar princípios e valores eternos para usufruir dos prazeres transitórios deste mundo pecaminoso, diferente do que fez Moisés (Hb 11:25 ...preferindo ser maltratado junto com o povo de Deus a usufruir prazeres transitórios do pecado).
Por qual razão alguém abriria mão de bênçãos de duração eterna em favor de migalhas temporais? Só se não acreditasse nas bênçãos eternas, como Demas (II Tm 4.10 Porque Demas, tendo amado o presente século, me abandonou e se foi para Tessalônica; Crescente foi para a Galácia, Tito, para a Dalmácia) porque não conhecia a graça de Deus (Tt 2.11 Porquanto a graça de Deus se manifestou salvadora a todos os homens, educando-nos para que, renegadas a impiedade e as paixões mundanas, vivamos, no presente século, sensata, justa e piedosamente, aguardando a bendita esperança e a manifestação da glória do nosso grande Deus e Salvador Cristo Jesus, o qual a si mesmo se deu por nós, a fim de remir-nos de toda iniqüidade e purificar, para si mesmo, um povo exclusivamente seu, zeloso de boas obras).
O argumento de Paulo é que os cristãos não precisavam se corintianizar para serem eficientes em seu testemunho, o que eles precisavam era testemunhar através de uma vida santa para cristianizar Corinto, eles deveriam ser sal e jamais perder o sabor (Mt 5:13 Vós sois o sal da terra; ora, se o sal vier a ser insípido, como lhe restaurar o sabor? Para nada mais presta senão para, lançado fora, ser pisado pelos homens) porque senão os próprios homens os rejeitariam como hipócritas, com uma mensagem que não conseguiam viver.
Os cristãos só conseguiriam evangelizar Corinto através de uma vida pura, com sal num ambiente moralmente deteriorado, como luz em meio às trevas - e quanto mais densas forem as trevas, tanto mais eficaz, perceptível e eficaz seria a luz do cristão verdadeiro.
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