1 Jesus, entretanto, foi para o monte das Oliveiras.
2 De madrugada, voltou novamente para o templo, e todo o povo ia ter com
ele; e, assentado, os ensinava.
3 Os escribas e fariseus trouxeram à sua presença uma mulher surpreendida
em adultério e, fazendo-a ficar de pé no meio de todos, 4 disseram a Jesus:
Mestre, esta mulher foi apanhada em flagrante adultério. 5 E na lei nos mandou
Moisés que tais mulheres sejam apedrejadas; tu, pois, que dizes? 6 Isto diziam
eles tentando-o, para terem de que o acusar. Mas Jesus, inclinando-se, escrevia
na terra com o dedo.
7 Como insistissem na pergunta, Jesus se levantou e lhes disse: Aquele que
dentre vós estiver sem pecado seja o primeiro que lhe atire pedra. 8 E, tornando
a inclinar-se, continuou a escrever no chão.
9 Mas, ouvindo eles esta resposta e acusados pela própria consciência,
foram-se retirando um por um, a começar pelos mais velhos até aos últimos,
ficando só Jesus e a mulher no meio onde estava.
10 Erguendo-se Jesus e não vendo a ninguém mais além da mulher,
perguntou-lhe: Mulher, onde estão aqueles teus acusadores? Ninguém te condenou?
11 Respondeu ela: Ninguém, Senhor! Então, lhe disse Jesus: Nem eu tampouco
te condeno; vai e não peques mais.
A bíblia nos mostra Jesus, muitas vezes, tomando atitudes surpreendentes.
Por exemplo, os fariseus, saduceus, religiosos e sacerdotes de Israel haviam
decidido matá-lo.
Quando você sabe que tem um grupo de pessoas influente, poderoso, na
verdade, as pessoas mais poderosas entre o seu povo, tomando a decisão de tirar
a sua vida, o que você faria. O normal seria esconder-se. O normal seria Jesus
permanecer lá na Galiléia, longe de Jerusalém, onde estaria relativamente
seguro.
Mas eram dias de festas em Jerusalém, a festa dos tabernáculos, uma das
três grandes festas anuais israelitas.
E Jesus, sabedor da sua missão, e desejoso de cumpri-la, não se esconde.
Jesus vai para Jerusalém e se apresenta no templo, ensina no templo, e quando
estes poderosos, que haviam decidido mata-lo, vem até Jesus, Jesus não se
atemoriza deles, mas os contradita, mostra-lhes que o coração deles era duro,
que eles tinham no coração o intento de mata-lo.
Havia um intento assassino no coração daqueles homens e, ao mesmo tempo,
eles se apresentavam como homens da lei, defensores da lei, como se fossem o
padrão de cumprimento da Palavra de Deus para o povo de Israel—haviam decidido
por sua morte e precisavam apenas de uma razão para sua execução.
Jesus não os teme, e mesmo após envergonhá-los publicamente, acusá-los de
desejar mata-lo, ainda assim Jesus permanece em Jerusalém, segundo o seu
costume, ensinando a “todo o povo”. Aqueles homens mandam guardas para prender
a Jesus que vão e, enquanto aguardam uma oportunidade para prendê-lo ouvem-no
ensinando à multidão, porque não ousariam prender Jesus numa situação daquela
podendo gerar grande transtorno ou comoção na cidade, ficaram esperando a
oportunidade, nas proximidades, ouvindo a Jesus e não conseguem cumprir o seu
intento.
Quando voltam para os líderes religiosos, e, lá chegando, diz que é
impossível prender a Jesus porque ele ensinava como ninguém jamais falara,
certamente incluindo aí os próprios sacerdotes que os enviaram para prender o
mestre.
Ao terminar do dia, o Senhor Jesus sai de Jerusalém e vai para o monte das
oliveiras, e, de madrugada, volta para Jerusalém, de madrugada volta para o
templo, onde vai ensinar para o povo, como nos mostra o texto sagrado no qual
vamos aprender um pouco mais sobre a palavra de Deus.
João nos conta um evento marcante do ministério de Jesus, o momento do
julgamento de uma mulher surpreendida em adultério.
Aqueles homens, fariseus e escribas, não criam em Jesus como o messias, não
gostavam de Jesus, não aceitavam nada que viesse de Jesus. Mesmo quando Jesus realizava
milagres, mesmo quando Jesus curava enfermos, ainda assim eles se indispunham
contra Jesus.
O problema não estava no que Jesus fazia, mas na indisposição do coração
deles para com Jesus e o que Jesus representava, o medo de perder o status de
liderança de Israel. O coração deles estava cheio de malignidade, fechado para
Deus. Um coração fechado para tudo aquilo que o Senhor Jesus dissesse ou
fizesse - nada mudaria a disposição, a dureza do coração daqueles homens.
E nesta indisposição para com Jesus, neste desejo de fazer o mal para Jesus
eles trazem a Jesus uma mulher surpreendida em adultério. Ao ler esta história
sobre esta mulher surpreendida em adultério, a história destes homens
arrastando uma mulher, colocando-a no meio da multidão e acusando esta mulher
numa atitude extremamente vexatória e vexaminosa.
Quando eu vejo este teatro, este circo armado, a primeira observação que eu
faço é: é evidente que esta mulher foi surpreendida em flagrante adultério com
alguém, com algum homem. Mas onde está ele? Onde está o homem que estava com
esta mulher? Porque ele não está ali sendo julgado ao lado dela? Porque o
intento daqueles homens, daqueles fariseus, não era fazer justiça.
O texto é muito claro ao afirmar que o intento deles era provar ao Senhor,
criar embaraço para o Senhor, porque se fosse para fazer justiça eles trariam o
homem e a mulher. A lei mosaica (Lv 20:10 Se um homem adulterar com
a mulher do seu próximo, será morto o adúltero e a adúltera) previa o
julgamento do homem e da mulher, ambos submetidos a julgamento público (na
verdade, apenas a acusação e a prolação da sentença já prevista na legislação
mosaica) e executados a pedradas.
Mas onde está o casal? Onde está o homem? Porque só a mulher? O julgamento
dela, segundo a lei, previa a morte. Era apenas uma questão de formalidade,
tirá-la da cidade, leva-la para o lado externo do muro de Jerusalém onde cada um
lançaria pedras até que ela morresse.
Mas os fariseus levam aquela mulher para Jesus e lhe perguntam: Mestre, o
que o Senhor tem a nos dizer sobre esta mulher que foi surpreendida
adulterando. Eles já chegam com o julgamento pronto, com o veredicto na ponta
da língua: “A lei diz que nós devemos matá-la. E o Senhor, o que dizes?”
Jesus tinha algumas opções: a primeira era dizer mate-a, mas
logo ele que veio para buscar e salvar os perdidos? Logo ele que veio para
restaurar o ferido? Por outro lado, se ele dissesse mate-a ele perderia o apoio
da multidão, e, embora ele nunca tenha se interessado por publicidade (Mc
9:9 Ao descerem do monte, ordenou-lhes Jesus que não divulgassem as
coisas que tinham visto, até o dia em que o Filho do Homem ressuscitasse dentre
os mortos) ou pelo apoio de multidão (Jo 6.64-66 Contudo, há
descrentes entre vós. Pois Jesus sabia, desde o princípio, quais eram os que
não criam e quem o havia de trair. E prosseguiu: Por causa disto, é que vos
tenho dito: ninguém poderá vir a mim, se, pelo Pai, não lhe for concedido. À
vista disso, muitos dos seus discípulos o abandonaram e já não andavam com ele)
o que os fariseus queriam era justamente que a multidão o abandonasse, que
deixasse de estar próxima de Jesus e aí eles poderiam prendê-lo e mata-lo sem
maiores problemas.
Por outro lado, se ele dissesse para não matá-la, para perdoá-la eles o
questionariam porque, se ele, como afirma, veio para cumprir a lei (Mt 5:17 Não
penseis que vim revogar a Lei ou os Profetas; não vim para revogar, vim para
cumprir) estaria mandando que a lei fosse desobedecida. O que Jesus poderia
fazer numa situação como esta?
Se ele manda cumprir a lei, seria tido por inclemente, se age com
clemencia, seria tido por desobediente à lei - e a própria lei mandava que se
alguém se levantasse no meio do povo, como profeta, e pregasse rebeldia contra
o Senhor deveria ser morto (Dt 13.5 Esse profeta ou sonhador será
morto, pois pregou rebeldia contra o SENHOR, vosso Deus, que vos tirou da terra
do Egito e vos resgatou da casa da servidão, para vos apartar do caminho que
vos ordenou o SENHOR, vosso Deus, para andardes nele. Assim, eliminarás o mal
do meio de ti).
Neste afã
de prejudicaram a Jesus, os escribas e fariseus acabam oferecendo evidências da
messianidade de Jesus. A primeira destas evidências é a
O MESSIAS
É MORALMENTE SUPERIOR PARA JULGAR RETAMENTE
Nesta
disputa, neste embate o Senhor Jesus, cheio de sabedoria, se assenta e começa a
escrever na areia. Alguns dizem que ele começou a escrever a lista de pecados
de cada um, mas Jesus não é o acusador, não é o adversário, seu ministério não
foi de acusar ninguém. Não creio que estivesse escrevendo uma lista de pecados.
Conjecturando, e apenas conjecturando, talvez ele estivesse escrevendo alguns
textos bíblicos que lembram a pecaminosidade geral do homem (Ec 7:20 Não há homem justo sobre a terra que faça o bem e que não peque). E
aqueles homens sabiam que eles também eram pecadores. Mas a bíblia não diz,
ninguém sabe o que Jesus escreveu, e não devemos perder tempo divagando em
conjecturas. Devemos, sim, buscar saber tudo o que Deus revelar, mas não
devemos cair na impiedade da curiosidade em querer saber mais do que Deus
revelou.
Já ouvi
muita gente falar muita coisa, mas o fato é que não sabemos o que Jesus
escrevia. Entretanto, aqueles homens insistiam: “Nos diga, o que devemos
fazer”. Apertavam, insistiam com Jesus. E quanto mais insistiam, mais
evidenciavam a sua ânsia, o seu desejo por sangue. Mas enquanto eles faziam
isso, embora eles não cressem que Jesus era o messias, eles estavam oferecendo
uma evidência da messianidade de Jesus.
A
primeira destas evidências é que, com sua atitude, eles estavam admitindo que
Jesus não era semelhante a eles. Isto fica claro no fato de que, sendo eles os
cumpridores da lei, tendo eles o direito de fazer cumprir a lei, sendo eles
parte do corpo governante de Israel, do sinédrio, tendo eles autoridade para
matar aquela mulher, eles suspendem a sua própria autoridade e entregam o
julgamento do caso a alguém que não era parte de seu grupo. É como se eles
estivessem recorrendo ao tribunal superior do Messias.
No
ambiente político eles tinham que submeter-se às autoridades romanas, mas num
caso como esse eles tinham poder para decidir o que fazer. Os romanos
permitiam-lhes relativa liberdade em questões cívico-religiosas.
Eles
dizem: “Jesus, nós sabemos o que fazer, mas queremos que alguém que é maior do
que nós, que alguém que entende mais do que nós nos diga o que fazer”.
O povo já
dizia que Jesus tinha mais autoridade do que eles (MC 1:22 Maravilhavam-se da sua doutrina, porque os ensinava como quem tem
autoridade e não como os escribas), os guardas já testemunharam que Jesus falava
com enorme superioridade de conhecimento sobre eles (Jo 7:46 Responderam eles: Jamais alguém falou como este homem) e eles
próprios se admiravam do conhecimento de Jesus, perguntando onde o filho do
carpinteiro tinha aprendido aquelas coisas (Mt 13.54-56 E, chegando à sua terra, ensinava-os na
sinagoga, de tal sorte que se maravilhavam e diziam: Donde lhe vêm esta
sabedoria e estes poderes miraculosos? Não é este o filho do carpinteiro? Não
se chama sua mãe Maria, e seus irmãos, Tiago, José, Simão e Judas? Não vivem
entre nós todas as suas irmãs? Donde lhe vem, pois, tudo isto?).
Eles
admitem um conhecimento superior em Jesus, que, aliás, já havia dito que o que
ele falava ele havia aprendido do próprio Deus (Jo 8:40 Mas agora procurais matar-me, a mim que vos tenho falado a verdade que ouvi
de Deus; assim não procedeu Abraão; Jo 15:15 Já não vos chamo servos, porque o servo não sabe o que faz o seu senhor;
mas tenho-vos chamado amigos, porque tudo quanto ouvi de meu Pai vos tenho dado
a conhecer) portanto estava capacitado a, realmente, julgar retamente (Jo 8:16 Se eu julgo, o meu juízo é verdadeiro, porque não sou eu só, porém eu e
aquele que me enviou).
Eles
reconhecem, mesmo sem querer, eles reconhecem que Jesus tem uma autoridade
moral e espiritual maior do que a do próprio sinédrio. E acima do sinédrio, na
hierarquia religiosa de Israel não havia mais ninguém, mas eles submetem o seu
julgamento àquele que, segundo as Escrituras, é capaz de julgar retamente (Sl
96:13 ...na presença do SENHOR, porque vem, vem
julgar a terra; julgará o mundo com justiça e os povos, consoante a sua
fidelidade), com justiça e equidade, que não torceria o direito, como modelo para os
demais juízes (Dt 16:19 Não torcerás a justiça, não farás acepção de pessoas, nem tomarás suborno;
porquanto o suborno cega os olhos dos sábios e subverte a causa dos justos).
Sem
querer, eles acabam reconhecendo e evidenciando a messianidade de Jesus através
da capacidade de julgar retamente porque só Jesus conhece os corações, Jesus
conhece as motivações do coração dos homens.
Nós somos
muito apressados nos nossos julgamentos. Esta semana vários escândalos surgiram
na mídia, especialmente com o uso de aviões da FAB (Força Aérea Brasileira)
para interesses particulares (casamento, jogo de copa do mundo, compra de
fraldas) e pensei: a situação está cada vez mais complicada. Mas também comecei
a pensar que nós somos muito apressados em julgar. Estes homens estão usando
mal o dinheiro público, estão cometendo crimes de responsabilidade - que sejam
investigados e julgados. Mas e aquele funcionário de uma empresa que precisa
imprimir um trabalho na última hora e faz isto na empresa porque a impressora
dele está sem tinta.
Não é a
mesma coisa? Não é a mesma coisa usar os clips da empresa para organizar os
trabalhos particulares? Os valores são menores, mas e os princípios? Um clip,
um avião - é a mesma coisa.
Somos
muito apressados no julgar, e aqueles homens estavam absolutamente apressados
no seu desejo de aplicar a lei, mas, quando eles suspendem o seu julgamento
eles dizem que reconhecem que Jesus é capaz de julgar com justiça. Dizem que
reconhecem que são incapazes de julgar retamente, evidenciando uma
característica da messianidade de Jesus. Mas não para aí.
O texto
mostra-nos uma segunda evidência da messianidade de Jesus.
O MESSIAS
CONHECE O CORAÇÃO DOS HOMENS
Podemos
ver no texto que aqueles homens que estavam ali desejosos de matar aquela
mulher (e, também, criar problemas para Jesus). Embora tenham sido,
anteriormente, acusados publicamente de suas mas intenções, eles ouvem o Senhor
Jesus lhes dizer: se vocês estão sem pecado, se há aqui alguém sem pecado,
então, seja o primeiro a atirar pedras na mulher. É como se ele dissesse: “Se
aqui há alguém movido por intenções realmente justas, então tem o direito de
atirar pedras, mas se a intenção for outra, é melhor tomar vergonha na cara,
arrepender-se de seus pecados e mudar imediatamente de atitude”.
Acho
curioso a atitude de Jesus de se abaixar e continuar escrevendo na areia. Ele
não olha no olho de ninguém, ele não acusa ninguém que está ali. Ele
simplesmente se abaixa como se dissesse que agora o problema era com a
consciência de cada um. Assim como não acusara a mulher, também não os acusa.
Jesus
trata a todos igualmente. Diz-nos o texto que aqueles homens, um olhando para o
outro, todos se entreolhando, e eles sabiam o que estavam fazendo, haviam
estabelecido um conluio contra Jesus, seu estratagema era pecaminoso à luz da
lei e dos costumes, como lembrou-lhes antes Nicodemos (Jo 7.50-51 Nicodemos, um deles, que antes fora ter com Jesus, perguntou-lhes: Acaso, a
nossa lei julga um homem, sem primeiro ouvi-lo e saber o que ele fez?). Já
haviam tomado a decisão de matar ao Senhor Jesus e, portanto, sabiam que
estavam ali não em busca de justiça, mas tentando criar um problema que levasse
à morte do Senhor.
Eles
sabiam, uns e outros sabiam que o seu coração estava carregado de pecados. E
eles eram hipócritas, tinham uma serie de pecados mas não ousariam admitir que
eram sem pecado por um motivo muito simples: imagine um doutor da lei dizendo
“eu sou sem pecado”. Como ele diria “eu sou sem pecado” se a própria lei diz
que não há justo, nem sequer um (Sl 53:3 Todos se extraviaram e juntamente se corromperam; não há quem faça o bem,
não há nem sequer um)?
Como eles
iriam ousar afirmar que estavam sem pecados se estavam ali com o objetivo claro
e deliberado de cometerem um assassinato. Eles já haviam julgado e condenado
Jesus, só faltava a aplicação da pena, que conseguiriam tempos depois usando
estratagemas como traição e suborno (Mt 26.14-16: Então, um dos doze, chamado Judas Iscariotes, indo ter com os principais
sacerdotes, propôs: Que me quereis dar, e eu vo-lo entregarei? E pagaram-lhe
trinta moedas de prata. E, desse momento em diante, buscava ele uma boa ocasião
para o entregar) e mentira (Mc 14.56-59 Pois muitos testemunhavam falsamente contra Jesus, mas os depoimentos não
eram coerentes. E, levantando-se alguns, testificavam falsamente,
dizendo: Nós o ouvimos declarar: Eu destruirei este santuário edificado por
mãos humanas e, em três dias, construirei outro, não por mãos humanas. Nem
assim o testemunho deles era coerente).
Para
entendermos sua disposição de coração João registra a repreensão de Nicodemos,
não aceita pelos demais, sobre seus intentos assassinos (Jo 7.50-52 Nicodemos, um deles, que antes fora ter com Jesus, perguntou-lhes: Acaso, a
nossa lei julga um homem, sem primeiro ouvi-lo e saber o que ele fez?
Responderam eles: Dar-se-á o caso de que também tu és da Galiléia? Examina e
verás que da Galiléia não se levanta profeta). Nicodemos chama a atenção do sinédrio mas
eles escarnecem da lei. Já haviam julgado e decidido a matar a Jesus. Por isso
Jesus pergunta se há alguém ali sem pecado. Se houvesse, poderia começar o
apedrejamento. A bíblia nos fala que ouvindo eles esta resposta, e acusados pela
própria consciência, foram-se retirando um por um. Até mesmo os ouvintes
iniciais de Jesus se retiram, provavelmente sentindo-se envergonhados por terem
sido influenciados pelos fariseus e escribas. Parece que os discípulos de
Jesus, João especialmente, se colocam de fora da história, ficando apenas como
observadores.
Foram se
retirando, um por um, a começar pelos mais velhos, até os últimos, ficando só
Jesus e a mulher no lugar onde ela fora colocada. Um por um se retiraram. A
prova da messianidade de Jesus, a evidência da messianidade de Jesus está
também no fato de que Jesus conhecia os intentos do coração daqueles
homens. Jesus sabia o que se passava em seu íntimo, sabia o que queriam,
qual o seu propósito, sabia qual era o seu projeto, sabia que estavam ali com
desejo de sangue (daquela mulher e do próprio Jesus) e nada mais - pecadores,
cometendo pecados, e intentando cometer ainda mais pecados, um abismo chamando
outro abismo.
Jesus não
precisava que ninguém lhe dissesse o que se passava no coração deles (Jo
2:25 E não precisava de que alguém lhe desse
testemunho a respeito do homem, porque ele mesmo sabia o que era a natureza
humana, e, ainda Mt 22:18 Jesus, porém, conhecendo-lhes a malícia, respondeu: Por que me
experimentais, hipócritas?).
Mas há,
ainda, uma terceira evidência da messianidade de Jesus neste relato. Após
aqueles homens terem saído o mesmo Jesus que havia se abaixado para escrever na
areia, e sabendo que não havia mais ninguém ali para condenar a mulher, sabendo
que ali só ficara ele, a mulher e provavelmente os discípulos que relatam o
episódio, olha para a mulher e diz: Mulher, ninguém te condenou? É óbvio que
ele sabia que ninguém a havia condenado. Ela ainda estava ali, viva, e os
acusadores tinham ido embora.
Jesus
pretendia dar um novo passo no julgamento daquela mulher - um passo de
restauração. Pergunta-lhe: Ninguém te condenou? Ao que ela responde: Ninguém,
Senhor. Talvez ela tivesse dito estas palavras num misto de alívio e de temor,
porque sabia que estava diante de alguém sem pecado (Jo 8:46 Quem dentre vós me convence de pecado? Se vos digo a verdade, por que razão
não me credes?). E aquele que estava ali era, evidentemente, sem pecado, podendo, então,
atirar a primeira pedra. Jesus havia desafiado os religiosos a mostrar algum
pecado que ele houvesse cometido.
É verdade
que ele era homem, semelhante a nós (Hb 4:15 Porque não temos sumo sacerdote que não possa compadecer-se das nossas
fraquezas; antes, foi ele tentado em todas as coisas, à nossa semelhança, mas
sem pecado), mas, mesmo tentando, não caiu em pecado.
Aquela
mulher, olhando para Jesus, diz: Ninguém, Senhor. Mas ainda era uma pecadora,
ainda era digna de apedrejamento, e ainda havia uma pessoa capaz de julgá-la e
condená-la. Aquela mulher chegou naquele lugar com a mais absoluta certeza de
que haveria de morrer. Ela chegou ali, no meio daquela multidão, com a certeza
de que não sairia viva dali. Ela não tinha esperança alguma, provavelmente já
tivesse visto outros julgamentos a respeito do mesmo pecado, talvez já tivesse
até participado de outros justiçamentos. Não havia clemência para o adultério.
Não era como hoje, onde o adultério se tornou uma coisa comum, corriqueira, e
todo mundo considera normal. Não, todo mundo não. Nem todo mundo faz. Nem todo
mundo acha normal. A lei moral ainda permanece valida, o adultério ainda é
pecado aos olhos do Senhor, o Senhor ainda abomina o adultério.
Mas,
naquela época, a punição era o apedrejamento, a punição era ser colocado contra
uma parede e coberto de pedradas até se tornar numa massa sanguinolenta no
chão.
Neste
relacionamento restaurador vamos encontrar mais uma evidência da messianidade
de Jesus.
Neste
relacionamento restaurador vamos encontrar mais uma evidência da messianidade
de Jesus.
O MESSIAS TEM PODER PARA PERDOAR PECADOS
Moisés
havia dito que após ele se levantaria outro varão, profeta, maior do que ele,
ao qual o povo deveria ouvir (At 3:22 Disse, na verdade, Moisés: O Senhor Deus vos suscitará dentre vossos irmãos
um profeta semelhante a mim; a ele ouvireis em tudo quanto vos disser). E
agora nós vemos Jesus, julgando segundo a lei, julgando uma mulher que merecia
a punição da lei. Jesus não iria contra a lei. Ele não a quebraria, não
desautorizaria aquilo que o próprio Deus deu a Moisés no Sinai.
O que é
maravilhoso é que Jesus é maior que a lei - quem pode perdoar uma ofensa, senão
aquele que foi o ofendido. Jesus evidencia a sua messianidade quando promove a
restauração daquela que não possuía mais nenhuma esperança, cuja chama já
esteava apagada (Mt 12:20 Não esmagará a cana quebrada, nem apagará a torcida que fumega, até que
faça vencedor o juízo) porque ele conhece as dores humanas, suas fraquezas (Hb 4:15 Porque não temos sumo sacerdote que não possa compadecer-se das nossas
fraquezas; antes, foi ele tentado em todas as coisas, à nossa semelhança, mas
sem pecado) sendo capaz de entender-nos por ser semelhante a nós em tudo, exceto no
pecado.
Quando
alguém desobedece a lei do Senhor esta desobediência é contra o próprio Senhor.
Jesus demonstra a sua messianidade no momento em que se volta para aquela
mulher e lhe diz: “Nem eu tão pouco te condeno”. Jesus pode, Jesus tem o
direito, Jesus tem o poder para perdoar pecados. Quaisquer pecados.
Quando
Jesus disse ao paralítico que seus pecados estavam perdoados (Mt 9:2 E eis que lhe trouxeram um paralítico deitado num leito. Vendo-lhes a fé,
Jesus disse ao paralítico: Tem bom ânimo, filho; estão perdoados os teus
pecados) logo houve quem o criticasse. Os escribas logo chamaram-no de blasfemo
por chamar a si uma prerrogativa exclusiva de Deus (Mt 9.3 Mas alguns escribas diziam consigo: Este blasfema).
Mas é
exatamente isto o que é Jesus é, o filho de Deus. E ele, conhecendo o coração
maligno dos escribas, interpela-os comprovando poder perdoar pecados e, o que
era ainda mais difícil para os escribas, mandar um paralítico ir andando para
casa (Mt 9:4-7 Jesus,
porém, conhecendo-lhes os pensamentos, disse: Por que cogitais o mal no vosso
coração? 5 Pois qual é mais fácil? Dizer: Estão perdoados os teus pecados, ou
dizer: Levanta-te e anda? Ora, para que saibais que o Filho do Homem tem sobre
a terra autoridade para perdoar pecados - disse, então, ao paralítico:
Levanta-te, toma o teu leito e vai para tua casa. E, levantando-se, partiu para
sua casa). Era mais fácil usar palavras - e o homem, curado, saiu correndo para sua
casa, maluco de felicidade por ter experimentado o poder do filho do homem,
tanto para perdoar pecados quanto para curar enfermidades.
Jesus, o
messias, o Senhor da lei, o legislador, diz para aquela mulher que transgrediu
a lei: “Nem tampouco eu te condeno”. Perdoados estão os teus pecados. Somente o
legislador maior que Moisés poderia suspender a pena - só Jesus, ao mesmo tempo
legislador e ofendido, poderia ter feito o que ele fez.
CONSIDERAÇÕES
FINAIS
Um
encontro com o Senhor Jesus sempre traz consequências. Ninguém encontra-se com
Jesus e fica imune à sua influência. Houve os que fugiram, os que se indignaram
com ele, os que creram. Mas nunca houve indiferença, porque ele mesmo afirma
que quem não é por ele, é contra ele (Lc 11:23 Quem não é por mim é contra mim; e quem comigo não ajunta espalha).
Aquela
mulher chegou naquele lugar praticamente morta. Aquela mulher chegou naquele
lugar contando os minutos para tomar a primeira pedrada, talvez orando pedindo
que a primeira fosse no meio da testa, para que lhe acontecesse como Golias,
caindo desacordada e não vendo ou sentindo mais nada.
Mas
depois que Jesus perdoa aquela mulher, ele lhe diz algumas palavras mais. Além
do “nem eu te condeno” ele lhe diz ainda “vai”. Ela estava livre. Ela não devia
mais nada, ela podia ir embora, ali não havia mais ninguém para acusa-la ou
apedrejá-la. Ela estava livre. Não há mais débito a ser pago, não há mais crime
pelo qual fosse condenada. Ela podia ir, cuidar da sua vida, da sua casa, dos
seus familiares. Mas não é apenas “vai”. Ele diz um pouquinho mais. A liberdade
em Cristo não deve ser confundida por licença para a libertinagem (Jd 1:4 Pois certos indivíduos se introduziram com dissimulação, os quais, desde
muito, foram antecipadamente pronunciados para esta condenação, homens ímpios,
que transformam em libertinagem a graça de nosso Deus e negam o nosso único
Soberano e Senhor, Jesus Cristo) como se a graça de Deus fosse licença para pecar (Rm 6.1-2 Que diremos, pois? Permaneceremos no pecado, para que seja a graça mais
abundante? De modo nenhum! Como viveremos ainda no pecado, nós os que para ele
morremos?).
Ele diz
“Vai e não peques mais”. Vai, e procede diferente. Vai e age como uma mulher
arrependida, restaurada, renovada, transformada, purificada e perdoada. Vai e
age como alguém que foi convertida, transformada (At 26.20 ...mas anunciei primeiramente aos de Damasco e em Jerusalém, por toda a
região da Judéia, e aos gentios, que se arrependessem e se convertessem a Deus,
praticando obras dignas de arrependimento). Vai e age como alguém que é grata a Deus
pelo perdão obtido. Vai, e age diferente.
O
apóstolo João, relator deste episódio, diz que tudo o que ele escreveu, todos
os relatos, tinham um único objetivo: levar os seus leitores a uma nova atitude
para com o Senhor Jesus. Levar os seus leitores a uma atitude correta diante de
Cristo, levar os seus leitores à única atitude aceitável, que é ter fé no filho
de Deus e crendo nele, serem (Jo 20.30-31 Na verdade, fez Jesus diante dos discípulos muitos outros sinais que não
estão escritos neste livro. Estes, porém, foram registrados para que creiais que
Jesus é o Cristo, o Filho de Deus, e para que, crendo, tenhais vida em seu nome).
João
relatou este julgamento da mulher adúltera não para falar dela, tanto que seu
nome é omitido. Ele também não queria falar dos fariseus, mas ele queria que
nós percebêssemos, que nós soubéssemos que Jesus é aquele que pode perdoar
pecados e restaurar vidas (At 2:38 Respondeu-lhes Pedro: Arrependei-vos, e cada um de vós seja batizado em
nome de Jesus Cristo para remissão dos vossos pecados, e recebereis o dom do
Espírito Santo).
Nós já
sabemos quem é Jesus. Os fariseus souberam quem era Jesus. Os escribas também
tiveram este conhecimento. Aquela mulher soube quem era Jesus naquele encontro.
A multidão e os discípulos souberam quem era Jesus. É possível que você já
tenha tido uma experiência com esta graça misericordiosa de Jesus, com aquele
que conhece os nossos corações e é capaz de julgar retamente, sendo poderoso,
inclusive, para nos perdoar os nossos pecados, mas permanece uma indagação,
como estamos nós agindo à partir deste conhecimento, desta experiência de
conhecermos Jesus como o messias, como o enviado de Deus? Que posicionamento
nós temos tido em relação ao messias?
João
relata algumas reações: alguns judeus se envergonhavam, outros fugiam, outros
resistiam, colocando-se como opositores de Jesus, odiando-o. E vamos encontrar
alguns, poucos é verdade, uma minoria, crendo em Jesus, recebendo-o como Senhor
e reconhecendo neles o salvador e foram feitos filhos de Deus (Jo 1.11-13 Veio para o que era seu, e os seus não o receberam. Mas, a todos quantos o
receberam, deu-lhes o poder de serem feitos filhos de Deus, a saber, aos que
creem no seu nome; os quais não nasceram do sangue, nem da vontade da carne,
nem da vontade do homem, mas de Deus). Alguns reconheceram que não há salvação a
não ser em Jesus Cristo (At 4:12 E não há salvação em nenhum outro; porque abaixo do céu não existe nenhum
outro nome, dado entre os homens, pelo qual importa que sejamos salvos).
Alguns
entenderam que o único meio de ganharem a sua vida era perdendo-a, isto é,
entregando-a nas mãos do Senhor (Lc 17.33 Quem quiser preservar a sua vida perdê-la-á; e quem a perder de fato a
salvará). Aquele encontro com Jesus, para aquela mulher, num momento de extremo
desespero, foi importantíssimo. Ela teve a sua vida salva, transformada,
restaurada.
E você já
teve um encontro restaurador com Jesus? Já teve um encontro com este Jesus que
conhece o seu coração, com este Jesus que julga retamente, com este Jesus que,
mesmo sabendo que você é pecador diz-lhes vai e não peques mais. Você já teve
um encontro com este Jesus? Não o Jesus da filosofia, ou da tradição, mas com o
Jesus que olha nos seus olhos, que lhe diz para ir a ele e descansar (Mt
11:28 Vinde a mim, todos os que estais cansados e
sobrecarregados, e eu vos aliviarei)?
Quero te
convidar a perguntar para si mesmo duas coisas:
I. Você já
se encontrou com Jesus? Não importa como você chegou a encontra-lo. Se foi por
causa de seus pais, dos cônjuges, do namorado ou namorada? Se foi um amigo que
insistiu demais e você teve que ir para não decepcioná-lo. Lembre-se que aquela
mulher não queira estar lá de jeito nenhum. Era o último lugar onde ela
desejaria estar naquele momento. Não importa o motivo. Você já teve um encontro
com Jesus?
II. Este
encontro ocasionou que transformações na sua vida? Não adianta você dizer que
já teve um encontro com Jesus se continua agindo do mesmo jeito, indo aos
mesmos lugares, falando as mesmas palavras, tomando as mesmas atitudes. Você já
teve um encontro transformador e restaurador com o Senhor Jesus? Esqueça tudo o
mais e olhe para Jesus, só para Jesus, o autor e consumador da fé (Hb 12:2 ...olhando firmemente para o Autor e Consumador da fé, Jesus, o qual, em
troca da alegria que lhe estava proposta, suportou a cruz, não fazendo caso da
ignomínia, e está assentado à destra do trono de Deus) e peça
para ele derramar da sua graça e misericórdia transformando o seu viver.
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