domingo, 7 de julho de 2013

MENSAGEM DO DOMINGO



1 Jesus, entretanto, foi para o monte das Oliveiras.
2 De madrugada, voltou novamente para o templo, e todo o povo ia ter com ele; e, assentado, os ensinava.
3 Os escribas e fariseus trouxeram à sua presença uma mulher surpreendida em adultério e, fazendo-a ficar de pé no meio de todos, 4 disseram a Jesus: Mestre, esta mulher foi apanhada em flagrante adultério. 5 E na lei nos mandou Moisés que tais mulheres sejam apedrejadas; tu, pois, que dizes? 6 Isto diziam eles tentando-o, para terem de que o acusar. Mas Jesus, inclinando-se, escrevia na terra com o dedo.
7 Como insistissem na pergunta, Jesus se levantou e lhes disse: Aquele que dentre vós estiver sem pecado seja o primeiro que lhe atire pedra. 8 E, tornando a inclinar-se, continuou a escrever no chão.
9 Mas, ouvindo eles esta resposta e acusados pela própria consciência, foram-se retirando um por um, a começar pelos mais velhos até aos últimos, ficando só Jesus e a mulher no meio onde estava.
10 Erguendo-se Jesus e não vendo a ninguém mais além da mulher, perguntou-lhe: Mulher, onde estão aqueles teus acusadores? Ninguém te condenou?
11 Respondeu ela: Ninguém, Senhor! Então, lhe disse Jesus: Nem eu tampouco te condeno; vai e não peques mais.

A bíblia nos mostra Jesus, muitas vezes, tomando atitudes surpreendentes. Por exemplo, os fariseus, saduceus, religiosos e sacerdotes de Israel haviam decidido matá-lo.
Quando você sabe que tem um grupo de pessoas influente, poderoso, na verdade, as pessoas mais poderosas entre o seu povo, tomando a decisão de tirar a sua vida, o que você faria. O normal seria esconder-se. O normal seria Jesus permanecer lá na Galiléia, longe de Jerusalém, onde estaria relativamente seguro.
Mas eram dias de festas em Jerusalém, a festa dos tabernáculos, uma das três grandes festas anuais israelitas.
E Jesus, sabedor da sua missão, e desejoso de cumpri-la, não se esconde. Jesus vai para Jerusalém e se apresenta no templo, ensina no templo, e quando estes poderosos, que haviam decidido mata-lo, vem até Jesus, Jesus não se atemoriza deles, mas os contradita, mostra-lhes que o coração deles era duro, que eles tinham no coração o intento de mata-lo.
Havia um intento assassino no coração daqueles homens e, ao mesmo tempo, eles se apresentavam como homens da lei, defensores da lei, como se fossem o padrão de cumprimento da Palavra de Deus para o povo de Israel—haviam decidido por sua morte e precisavam apenas de uma razão para sua execução.
Jesus não os teme, e mesmo após envergonhá-los publicamente, acusá-los de desejar mata-lo, ainda assim Jesus permanece em Jerusalém, segundo o seu costume, ensinando a “todo o povo”. Aqueles homens mandam guardas para prender a Jesus que vão e, enquanto aguardam uma oportunidade para prendê-lo ouvem-no ensinando à multidão, porque não ousariam prender Jesus numa situação daquela podendo gerar grande transtorno ou comoção na cidade, ficaram esperando a oportunidade, nas proximidades, ouvindo a Jesus e não conseguem cumprir o seu intento.
Quando voltam para os líderes religiosos, e, lá chegando, diz que é impossível prender a Jesus porque ele ensinava como ninguém jamais falara, certamente incluindo aí os próprios sacerdotes que os enviaram para prender o mestre.
Ao terminar do dia, o Senhor Jesus sai de Jerusalém e vai para o monte das oliveiras, e, de madrugada, volta para Jerusalém, de madrugada volta para o templo, onde vai ensinar para o povo, como nos mostra o texto sagrado no qual vamos aprender um pouco mais sobre a palavra de Deus.
João nos conta um evento marcante do ministério de Jesus, o momento do julgamento de uma mulher surpreendida em adultério.
Aqueles homens, fariseus e escribas, não criam em Jesus como o messias, não gostavam de Jesus, não aceitavam nada que viesse de Jesus. Mesmo quando Jesus realizava milagres, mesmo quando Jesus curava enfermos, ainda assim eles se indispunham contra Jesus.
O problema não estava no que Jesus fazia, mas na indisposição do coração deles para com Jesus e o que Jesus representava, o medo de perder o status de liderança de Israel. O coração deles estava cheio de malignidade, fechado para Deus. Um coração fechado para tudo aquilo que o Senhor Jesus dissesse ou fizesse - nada mudaria a disposição, a dureza do coração daqueles homens.
E nesta indisposição para com Jesus, neste desejo de fazer o mal para Jesus eles trazem a Jesus uma mulher surpreendida em adultério. Ao ler esta história sobre esta mulher surpreendida em adultério, a história destes homens arrastando uma mulher, colocando-a no meio da multidão e acusando esta mulher numa atitude extremamente vexatória e vexaminosa.
Quando eu vejo este teatro, este circo armado, a primeira observação que eu faço é: é evidente que esta mulher foi surpreendida em flagrante adultério com alguém, com algum homem. Mas onde está ele? Onde está o homem que estava com esta mulher? Porque ele não está ali sendo julgado ao lado dela? Porque o intento daqueles homens, daqueles fariseus, não era fazer justiça.
O texto é muito claro ao afirmar que o intento deles era provar ao Senhor, criar embaraço para o Senhor, porque se fosse para fazer justiça eles trariam o homem e a mulher. A lei mosaica (Lv 20:10 Se um homem adulterar com a mulher do seu próximo, será morto o adúltero e a adúltera) previa o julgamento do homem e da mulher, ambos submetidos a julgamento público (na verdade, apenas a acusação e a prolação da sentença já prevista na legislação mosaica) e executados a pedradas.
Mas onde está o casal? Onde está o homem? Porque só a mulher? O julgamento dela, segundo a lei, previa a morte. Era apenas uma questão de formalidade, tirá-la da cidade, leva-la para o lado externo do muro de Jerusalém onde cada um lançaria pedras até que ela morresse.
Mas os fariseus levam aquela mulher para Jesus e lhe perguntam: Mestre, o que o Senhor tem a nos dizer sobre esta mulher que foi surpreendida adulterando. Eles já chegam com o julgamento pronto, com o veredicto na ponta da língua: “A lei diz que nós devemos matá-la. E o Senhor, o que dizes?”
Jesus tinha algumas opções: a primeira era dizer mate-a, mas logo ele que veio para buscar e salvar os perdidos? Logo ele que veio para restaurar o ferido? Por outro lado, se ele dissesse mate-a ele perderia o apoio da multidão, e, embora ele nunca tenha se interessado por publicidade (Mc 9:9 Ao descerem do monte, ordenou-lhes Jesus que não divulgassem as coisas que tinham visto, até o dia em que o Filho do Homem ressuscitasse dentre os mortos) ou pelo apoio de multidão (Jo 6.64-66 Contudo, há descrentes entre vós. Pois Jesus sabia, desde o princípio, quais eram os que não criam e quem o havia de trair. E prosseguiu: Por causa disto, é que vos tenho dito: ninguém poderá vir a mim, se, pelo Pai, não lhe for concedido. À vista disso, muitos dos seus discípulos o abandonaram e já não andavam com ele) o que os fariseus queriam era justamente que a multidão o abandonasse, que deixasse de estar próxima de Jesus e aí eles poderiam prendê-lo e mata-lo sem maiores problemas.
Por outro lado, se ele dissesse para não matá-la, para perdoá-la eles o questionariam porque, se ele, como afirma, veio para cumprir a lei (Mt 5:17 Não penseis que vim revogar a Lei ou os Profetas; não vim para revogar, vim para cumprir) estaria mandando que a lei fosse desobedecida. O que Jesus poderia fazer numa situação como esta?
Se ele manda cumprir a lei, seria tido por inclemente, se age com clemencia, seria tido por desobediente à lei - e a própria lei mandava que se alguém se levantasse no meio do povo, como profeta, e pregasse rebeldia contra o Senhor deveria ser morto (Dt 13.5 Esse profeta ou sonhador será morto, pois pregou rebeldia contra o SENHOR, vosso Deus, que vos tirou da terra do Egito e vos resgatou da casa da servidão, para vos apartar do caminho que vos ordenou o SENHOR, vosso Deus, para andardes nele. Assim, eliminarás o mal do meio de ti).
Neste afã de prejudicaram a Jesus, os escribas e fariseus acabam oferecendo evidências da messianidade de Jesus. A primeira destas evidências é a
O MESSIAS É MORALMENTE SUPERIOR PARA JULGAR RETAMENTE
Nesta disputa, neste embate o Senhor Jesus, cheio de sabedoria, se assenta e começa a escrever na areia. Alguns dizem que ele começou a escrever a lista de pecados de cada um, mas Jesus não é o acusador, não é o adversário, seu ministério não foi de acusar ninguém. Não creio que estivesse escrevendo uma lista de pecados. Conjecturando, e apenas conjecturando, talvez ele estivesse escrevendo alguns textos bíblicos que lembram a pecaminosidade geral do homem (Ec 7:20 Não há homem justo sobre a terra que faça o bem e que não peque). E aqueles homens sabiam que eles também eram pecadores. Mas a bíblia não diz, ninguém sabe o que Jesus escreveu, e não devemos perder tempo divagando em conjecturas. Devemos, sim, buscar saber tudo o que Deus revelar, mas não devemos cair na impiedade da curiosidade em querer saber mais do que Deus revelou.
Já ouvi muita gente falar muita coisa, mas o fato é que não sabemos o que Jesus escrevia. Entretanto, aqueles homens insistiam: “Nos diga, o que devemos fazer”. Apertavam, insistiam com Jesus. E quanto mais insistiam, mais evidenciavam a sua ânsia, o seu desejo por sangue. Mas enquanto eles faziam isso, embora eles não cressem que Jesus era o messias, eles estavam oferecendo uma evidência da messianidade de Jesus.
A primeira destas evidências é que, com sua atitude, eles estavam admitindo que Jesus não era semelhante a eles. Isto fica claro no fato de que, sendo eles os cumpridores da lei, tendo eles o direito de fazer cumprir a lei, sendo eles parte do corpo governante de Israel, do sinédrio, tendo eles autoridade para matar aquela mulher, eles suspendem a sua própria autoridade e entregam o julgamento do caso a alguém que não era parte de seu grupo. É como se eles estivessem recorrendo ao tribunal superior do Messias.
No ambiente político eles tinham que submeter-se às autoridades romanas, mas num caso como esse eles tinham poder para decidir o que fazer. Os romanos permitiam-lhes relativa liberdade em questões cívico-religiosas.
Eles dizem: “Jesus, nós sabemos o que fazer, mas queremos que alguém que é maior do que nós, que alguém que entende mais do que nós nos diga o que fazer”.
O povo já dizia que Jesus tinha mais autoridade do que eles (MC 1:22 Maravilhavam-se da sua doutrina, porque os ensinava como quem tem autoridade e não como os escribas), os guardas já testemunharam que Jesus falava com enorme superioridade de conhecimento sobre eles (Jo 7:46 Responderam eles: Jamais alguém falou como este homem) e eles próprios se admiravam do conhecimento de Jesus, perguntando onde o filho do carpinteiro tinha aprendido aquelas coisas (Mt 13.54-56 E, chegando à sua terra, ensinava-os na sinagoga, de tal sorte que se maravilhavam e diziam: Donde lhe vêm esta sabedoria e estes poderes miraculosos? Não é este o filho do carpinteiro? Não se chama sua mãe Maria, e seus irmãos, Tiago, José, Simão e Judas? Não vivem entre nós todas as suas irmãs? Donde lhe vem, pois, tudo isto?).
Eles admitem um conhecimento superior em Jesus, que, aliás, já havia dito que o que ele falava ele havia aprendido do próprio Deus (Jo 8:40 Mas agora procurais matar-me, a mim que vos tenho falado a verdade que ouvi de Deus; assim não procedeu AbraãoJo 15:15 Já não vos chamo servos, porque o servo não sabe o que faz o seu senhor; mas tenho-vos chamado amigos, porque tudo quanto ouvi de meu Pai vos tenho dado a conhecer) portanto estava capacitado a, realmente, julgar retamente (Jo 8:16 Se eu julgo, o meu juízo é verdadeiro, porque não sou eu só, porém eu e aquele que me enviou).
Eles reconhecem, mesmo sem querer, eles reconhecem que Jesus tem uma autoridade moral e espiritual maior do que a do próprio sinédrio. E acima do sinédrio, na hierarquia religiosa de Israel não havia mais ninguém, mas eles submetem o seu julgamento àquele que, segundo as Escrituras, é capaz de julgar retamente (Sl 96:13 ...na presença do SENHOR, porque vem, vem julgar a terra; julgará o mundo com justiça e os povos, consoante a sua fidelidade), com justiça e equidade, que não torceria o direito, como modelo para os demais juízes (Dt 16:19 Não torcerás a justiça, não farás acepção de pessoas, nem tomarás suborno; porquanto o suborno cega os olhos dos sábios e subverte a causa dos justos).
Sem querer, eles acabam reconhecendo e evidenciando a messianidade de Jesus através da capacidade de julgar retamente porque só Jesus conhece os corações, Jesus conhece as motivações do coração dos homens.
Nós somos muito apressados nos nossos julgamentos. Esta semana vários escândalos surgiram na mídia, especialmente com o uso de aviões da FAB (Força Aérea Brasileira) para interesses particulares (casamento, jogo de copa do mundo, compra de fraldas) e pensei: a situação está cada vez mais complicada. Mas também comecei a pensar que nós somos muito apressados em julgar. Estes homens estão usando mal o dinheiro público, estão cometendo crimes de responsabilidade - que sejam investigados e julgados. Mas e aquele funcionário de uma empresa que precisa imprimir um trabalho na última hora e faz isto na empresa porque a impressora dele está sem tinta.
Não é a mesma coisa? Não é a mesma coisa usar os clips da empresa para organizar os trabalhos particulares? Os valores são menores, mas e os princípios? Um clip, um avião - é a mesma coisa.
Somos muito apressados no julgar, e aqueles homens estavam absolutamente apressados no seu desejo de aplicar a lei, mas, quando eles suspendem o seu julgamento eles dizem que reconhecem que Jesus é capaz de julgar com justiça. Dizem que reconhecem que são incapazes de julgar retamente, evidenciando uma característica da messianidade de Jesus. Mas não para aí.
O texto mostra-nos uma segunda evidência da messianidade de Jesus.
O MESSIAS CONHECE O CORAÇÃO DOS HOMENS
Podemos ver no texto que aqueles homens que estavam ali desejosos de matar aquela mulher (e, também, criar problemas para Jesus). Embora tenham sido, anteriormente, acusados publicamente de suas mas intenções, eles ouvem o Senhor Jesus lhes dizer: se vocês estão sem pecado, se há aqui alguém sem pecado, então, seja o primeiro a atirar pedras na mulher. É como se ele dissesse: “Se aqui há alguém movido por intenções realmente justas, então tem o direito de atirar pedras, mas se a intenção for outra, é melhor tomar vergonha na cara, arrepender-se de seus pecados e mudar imediatamente de atitude”.
Acho curioso a atitude de Jesus de se abaixar e continuar escrevendo na areia. Ele não olha no olho de ninguém, ele não acusa ninguém que está ali. Ele simplesmente se abaixa como se dissesse que agora o problema era com a consciência de cada um. Assim como não acusara a mulher, também não os acusa.
Jesus trata a todos igualmente. Diz-nos o texto que aqueles homens, um olhando para o outro, todos se entreolhando, e eles sabiam o que estavam fazendo, haviam estabelecido um conluio contra Jesus, seu estratagema era pecaminoso à luz da lei e dos costumes, como lembrou-lhes antes Nicodemos (Jo 7.50-51 Nicodemos, um deles, que antes fora ter com Jesus, perguntou-lhes: Acaso, a nossa lei julga um homem, sem primeiro ouvi-lo e saber o que ele fez?). Já haviam tomado a decisão de matar ao Senhor Jesus e, portanto, sabiam que estavam ali não em busca de justiça, mas tentando criar um problema que levasse à morte do Senhor.
Eles sabiam, uns e outros sabiam que o seu coração estava carregado de pecados. E eles eram hipócritas, tinham uma serie de pecados mas não ousariam admitir que eram sem pecado por um motivo muito simples: imagine um doutor da lei dizendo “eu sou sem pecado”. Como ele diria “eu sou sem pecado” se a própria lei diz que não há justo, nem sequer um (Sl 53:3 Todos se extraviaram e juntamente se corromperam; não há quem faça o bem, não há nem sequer um)?
Como eles iriam ousar afirmar que estavam sem pecados se estavam ali com o objetivo claro e deliberado de cometerem um assassinato. Eles já haviam julgado e condenado Jesus, só faltava a aplicação da pena, que conseguiriam tempos depois usando estratagemas como traição e suborno (Mt 26.14-16Então, um dos doze, chamado Judas Iscariotes, indo ter com os principais sacerdotes, propôs: Que me quereis dar, e eu vo-lo entregarei? E pagaram-lhe trinta moedas de prata. E, desse momento em diante, buscava ele uma boa ocasião para o entregar) e mentira (Mc 14.56-59 Pois muitos testemunhavam falsamente contra Jesus, mas os depoimentos não eram coerentes. E, levantando-se alguns, testificavam falsamente, dizendo: Nós o ouvimos declarar: Eu destruirei este santuário edificado por mãos humanas e, em três dias, construirei outro, não por mãos humanas. Nem assim o testemunho deles era coerente).
Para entendermos sua disposição de coração João registra a repreensão de Nicodemos, não aceita pelos demais, sobre seus intentos assassinos (Jo 7.50-52 Nicodemos, um deles, que antes fora ter com Jesus, perguntou-lhes: Acaso, a nossa lei julga um homem, sem primeiro ouvi-lo e saber o que ele fez? Responderam eles: Dar-se-á o caso de que também tu és da Galiléia? Examina e verás que da Galiléia não se levanta profeta). Nicodemos chama a atenção do sinédrio mas eles escarnecem da lei. Já haviam julgado e decidido a matar a Jesus. Por isso Jesus pergunta se há alguém ali sem pecado. Se houvesse, poderia começar o apedrejamento. A bíblia nos fala que ouvindo eles esta resposta, e acusados pela própria consciência, foram-se retirando um por um. Até mesmo os ouvintes iniciais de Jesus se retiram, provavelmente sentindo-se envergonhados por terem sido influenciados pelos fariseus e escribas. Parece que os discípulos de Jesus, João especialmente, se colocam de fora da história, ficando apenas como observadores.
Foram se retirando, um por um, a começar pelos mais velhos, até os últimos, ficando só Jesus e a mulher no lugar onde ela fora colocada. Um por um se retiraram. A prova da messianidade de Jesus, a evidência da messianidade de Jesus está também no fato de que Jesus conhecia os intentos do coração daqueles homens. Jesus sabia o que se passava em seu íntimo, sabia o que queriam, qual o seu propósito, sabia qual era o seu projeto, sabia que estavam ali com desejo de sangue (daquela mulher e do próprio Jesus) e nada mais - pecadores, cometendo pecados, e intentando cometer ainda mais pecados, um abismo chamando outro abismo.
Jesus não precisava que ninguém lhe dissesse o que se passava no coração deles (Jo 2:25 E não precisava de que alguém lhe desse testemunho a respeito do homem, porque ele mesmo sabia o que era a natureza humana, e, ainda Mt 22:18 Jesus, porém, conhecendo-lhes a malícia, respondeu: Por que me experimentais, hipócritas?).
Mas há, ainda, uma terceira evidência da messianidade de Jesus neste relato. Após aqueles homens terem saído o mesmo Jesus que havia se abaixado para escrever na areia, e sabendo que não havia mais ninguém ali para condenar a mulher, sabendo que ali só ficara ele, a mulher e provavelmente os discípulos que relatam o episódio, olha para a mulher e diz: Mulher, ninguém te condenou? É óbvio que ele sabia que ninguém a havia condenado. Ela ainda estava ali, viva, e os acusadores tinham ido embora.
Jesus pretendia dar um novo passo no julgamento daquela mulher - um passo de restauração. Pergunta-lhe: Ninguém te condenou? Ao que ela responde: Ninguém, Senhor. Talvez ela tivesse dito estas palavras num misto de alívio e de temor, porque sabia que estava diante de alguém sem pecado (Jo 8:46 Quem dentre vós me convence de pecado? Se vos digo a verdade, por que razão não me credes?). E aquele que estava ali era, evidentemente, sem pecado, podendo, então, atirar a primeira pedra. Jesus havia desafiado os religiosos a mostrar algum pecado que ele houvesse cometido.
É verdade que ele era homem, semelhante a nós (Hb 4:15 Porque não temos sumo sacerdote que não possa compadecer-se das nossas fraquezas; antes, foi ele tentado em todas as coisas, à nossa semelhança, mas sem pecado), mas, mesmo tentando, não caiu em pecado.
Aquela mulher, olhando para Jesus, diz: Ninguém, Senhor. Mas ainda era uma pecadora, ainda era digna de apedrejamento, e ainda havia uma pessoa capaz de julgá-la e condená-la. Aquela mulher chegou naquele lugar com a mais absoluta certeza de que haveria de morrer. Ela chegou ali, no meio daquela multidão, com a certeza de que não sairia viva dali. Ela não tinha esperança alguma, provavelmente já tivesse visto outros julgamentos a respeito do mesmo pecado, talvez já tivesse até participado de outros justiçamentos. Não havia clemência para o adultério. Não era como hoje, onde o adultério se tornou uma coisa comum, corriqueira, e todo mundo considera normal. Não, todo mundo não. Nem todo mundo faz. Nem todo mundo acha normal. A lei moral ainda permanece valida, o adultério ainda é pecado aos olhos do Senhor, o Senhor ainda abomina o adultério.
Mas, naquela época, a punição era o apedrejamento, a punição era ser colocado contra uma parede e coberto de pedradas até se tornar numa massa sanguinolenta no chão.
Neste relacionamento restaurador vamos encontrar mais uma evidência da messianidade de Jesus.
Neste relacionamento restaurador vamos encontrar mais uma evidência da messianidade de Jesus.
O MESSIAS TEM PODER PARA PERDOAR PECADOS
Moisés havia dito que após ele se levantaria outro varão, profeta, maior do que ele, ao qual o povo deveria ouvir (At 3:22 Disse, na verdade, Moisés: O Senhor Deus vos suscitará dentre vossos irmãos um profeta semelhante a mim; a ele ouvireis em tudo quanto vos disser). E agora nós vemos Jesus, julgando segundo a lei, julgando uma mulher que merecia a punição da lei. Jesus não iria contra a lei. Ele não a quebraria, não desautorizaria aquilo que o próprio Deus deu a Moisés no Sinai.
O que é maravilhoso é que Jesus é maior que a lei - quem pode perdoar uma ofensa, senão aquele que foi o ofendido. Jesus evidencia a sua messianidade quando promove a restauração daquela que não possuía mais nenhuma esperança, cuja chama já esteava apagada (Mt 12:20 Não esmagará a cana quebrada, nem apagará a torcida que fumega, até que faça vencedor o juízo) porque ele conhece as dores humanas, suas fraquezas (Hb 4:15 Porque não temos sumo sacerdote que não possa compadecer-se das nossas fraquezas; antes, foi ele tentado em todas as coisas, à nossa semelhança, mas sem pecado) sendo capaz de entender-nos por ser semelhante a nós em tudo, exceto no pecado.
Quando alguém desobedece a lei do Senhor esta desobediência é contra o próprio Senhor. Jesus demonstra a sua messianidade no momento em que se volta para aquela mulher e lhe diz: “Nem eu tão pouco te condeno”. Jesus pode, Jesus tem o direito, Jesus tem o poder para perdoar pecados. Quaisquer pecados.
Quando Jesus disse ao paralítico que seus pecados estavam perdoados (Mt 9:2 E eis que lhe trouxeram um paralítico deitado num leito. Vendo-lhes a fé, Jesus disse ao paralítico: Tem bom ânimo, filho; estão perdoados os teus pecados) logo houve quem o criticasse. Os escribas logo chamaram-no de blasfemo por chamar a si uma prerrogativa exclusiva de Deus (Mt 9.3 Mas alguns escribas diziam consigo: Este blasfema).
Mas é exatamente isto o que é Jesus é, o filho de Deus. E ele, conhecendo o coração maligno dos escribas, interpela-os comprovando poder perdoar pecados e, o que era ainda mais difícil para os escribas, mandar um paralítico ir andando para casa (Mt 9:4-7 Jesus, porém, conhecendo-lhes os pensamentos, disse: Por que cogitais o mal no vosso coração? 5 Pois qual é mais fácil? Dizer: Estão perdoados os teus pecados, ou dizer: Levanta-te e anda? Ora, para que saibais que o Filho do Homem tem sobre a terra autoridade para perdoar pecados - disse, então, ao paralítico: Levanta-te, toma o teu leito e vai para tua casa. E, levantando-se, partiu para sua casa). Era mais fácil usar palavras - e o homem, curado, saiu correndo para sua casa, maluco de felicidade por ter experimentado o poder do filho do homem, tanto para perdoar pecados quanto para curar enfermidades.
Jesus, o messias, o Senhor da lei, o legislador, diz para aquela mulher que transgrediu a lei: “Nem tampouco eu te condeno”. Perdoados estão os teus pecados. Somente o legislador maior que Moisés poderia suspender a pena - só Jesus, ao mesmo tempo legislador e ofendido, poderia ter feito o que ele fez.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Um encontro com o Senhor Jesus sempre traz consequências. Ninguém encontra-se com Jesus e fica imune à sua influência. Houve os que fugiram, os que se indignaram com ele, os que creram. Mas nunca houve indiferença, porque ele mesmo afirma que quem não é por ele, é contra ele (Lc 11:23 Quem não é por mim é contra mim; e quem comigo não ajunta espalha).
Aquela mulher chegou naquele lugar praticamente morta. Aquela mulher chegou naquele lugar contando os minutos para tomar a primeira pedrada, talvez orando pedindo que a primeira fosse no meio da testa, para que lhe acontecesse como Golias, caindo desacordada e não vendo ou sentindo mais nada.
Mas depois que Jesus perdoa aquela mulher, ele lhe diz algumas palavras mais. Além do “nem eu te condeno” ele lhe diz ainda “vai”. Ela estava livre. Ela não devia mais nada, ela podia ir embora, ali não havia mais ninguém para acusa-la ou apedrejá-la. Ela estava livre. Não há mais débito a ser pago, não há mais crime pelo qual fosse condenada. Ela podia ir, cuidar da sua vida, da sua casa, dos seus familiares. Mas não é apenas “vai”. Ele diz um pouquinho mais. A liberdade em Cristo não deve ser confundida por licença para a libertinagem (Jd 1:4 Pois certos indivíduos se introduziram com dissimulação, os quais, desde muito, foram antecipadamente pronunciados para esta condenação, homens ímpios, que transformam em libertinagem a graça de nosso Deus e negam o nosso único Soberano e Senhor, Jesus Cristo) como se a graça de Deus fosse licença para pecar (Rm 6.1-2 Que diremos, pois? Permaneceremos no pecado, para que seja a graça mais abundante? De modo nenhum! Como viveremos ainda no pecado, nós os que para ele morremos?).
Ele diz “Vai e não peques mais”. Vai, e procede diferente. Vai e age como uma mulher arrependida, restaurada, renovada, transformada, purificada e perdoada. Vai e age como alguém que foi convertida, transformada (At 26.20 ...mas anunciei primeiramente aos de Damasco e em Jerusalém, por toda a região da Judéia, e aos gentios, que se arrependessem e se convertessem a Deus, praticando obras dignas de arrependimento). Vai e age como alguém que é grata a Deus pelo perdão obtido. Vai, e age diferente.
O apóstolo João, relator deste episódio, diz que tudo o que ele escreveu, todos os relatos, tinham um único objetivo: levar os seus leitores a uma nova atitude para com o Senhor Jesus. Levar os seus leitores a uma atitude correta diante de Cristo, levar os seus leitores à única atitude aceitável, que é ter fé no filho de Deus e crendo nele, serem (Jo 20.30-31 Na verdade, fez Jesus diante dos discípulos muitos outros sinais que não estão escritos neste livro. Estes, porém, foram registrados para que creiais que Jesus é o Cristo, o Filho de Deus, e para que, crendo, tenhais vida em seu nome).
João relatou este julgamento da mulher adúltera não para falar dela, tanto que seu nome é omitido. Ele também não queria falar dos fariseus, mas ele queria que nós percebêssemos, que nós soubéssemos que Jesus é aquele que pode perdoar pecados e restaurar vidas (At 2:38 Respondeu-lhes Pedro: Arrependei-vos, e cada um de vós seja batizado em nome de Jesus Cristo para remissão dos vossos pecados, e recebereis o dom do Espírito Santo).
Nós já sabemos quem é Jesus. Os fariseus souberam quem era Jesus. Os escribas também tiveram este conhecimento. Aquela mulher soube quem era Jesus naquele encontro. A multidão e os discípulos souberam quem era Jesus. É possível que você já tenha tido uma experiência com esta graça misericordiosa de Jesus, com aquele que conhece os nossos corações e é capaz de julgar retamente, sendo poderoso, inclusive, para nos perdoar os nossos pecados, mas permanece uma indagação, como estamos nós agindo à partir deste conhecimento, desta experiência de conhecermos Jesus como o messias, como o enviado de Deus? Que posicionamento nós temos tido em relação ao messias?
João relata algumas reações: alguns judeus se envergonhavam, outros fugiam, outros resistiam, colocando-se como opositores de Jesus, odiando-o. E vamos encontrar alguns, poucos é verdade, uma minoria, crendo em Jesus, recebendo-o como Senhor e reconhecendo neles o salvador e foram feitos filhos de Deus (Jo 1.11-13 Veio para o que era seu, e os seus não o receberam. Mas, a todos quantos o receberam, deu-lhes o poder de serem feitos filhos de Deus, a saber, aos que creem no seu nome; os quais não nasceram do sangue, nem da vontade da carne, nem da vontade do homem, mas de Deus). Alguns reconheceram que não há salvação a não ser em Jesus Cristo (At 4:12 E não há salvação em nenhum outro; porque abaixo do céu não existe nenhum outro nome, dado entre os homens, pelo qual importa que sejamos salvos).
Alguns entenderam que o único meio de ganharem a sua vida era perdendo-a, isto é, entregando-a nas mãos do Senhor (Lc 17.33 Quem quiser preservar a sua vida perdê-la-á; e quem a perder de fato a salvará). Aquele encontro com Jesus, para aquela mulher, num momento de extremo desespero, foi importantíssimo. Ela teve a sua vida salva, transformada, restaurada.
E você já teve um encontro restaurador com Jesus? Já teve um encontro com este Jesus que conhece o seu coração, com este Jesus que julga retamente, com este Jesus que, mesmo sabendo que você é pecador diz-lhes vai e não peques mais. Você já teve um encontro com este Jesus? Não o Jesus da filosofia, ou da tradição, mas com o Jesus que olha nos seus olhos, que lhe diz para ir a ele e descansar (Mt 11:28 Vinde a mim, todos os que estais cansados e sobrecarregados, e eu vos aliviarei)?
Quero te convidar a perguntar para si mesmo duas coisas:
I. Você já se encontrou com Jesus? Não importa como você chegou a encontra-lo. Se foi por causa de seus pais, dos cônjuges, do namorado ou namorada? Se foi um amigo que insistiu demais e você teve que ir para não decepcioná-lo. Lembre-se que aquela mulher não queira estar lá de jeito nenhum. Era o último lugar onde ela desejaria estar naquele momento. Não importa o motivo. Você já teve um encontro com Jesus?
II. Este encontro ocasionou que transformações na sua vida? Não adianta você dizer que já teve um encontro com Jesus se continua agindo do mesmo jeito, indo aos mesmos lugares, falando as mesmas palavras, tomando as mesmas atitudes. Você já teve um encontro transformador e restaurador com o Senhor Jesus? Esqueça tudo o mais e olhe para Jesus, só para Jesus, o autor e consumador da fé (Hb 12:2 ...olhando firmemente para o Autor e Consumador da fé, Jesus, o qual, em troca da alegria que lhe estava proposta, suportou a cruz, não fazendo caso da ignomínia, e está assentado à destra do trono de Deus) e peça para ele derramar da sua graça e misericórdia transformando o seu viver.


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