A história dos gêmeos Esaú e Jacó [nesta ordem, obedecendo ao costume de citar em ordem cronológica) é marcada por uma série de acontecimentos que em nada lembram honra, respeito, amor. São dois irmãos, filhos de uma família dividida.
De um lado, Esaú, que contava com a preferência do seu pai, que lhe reservava [segundo a lei, justiça seja feita) tanto o direito de primogenitura [direito de herdar a maior parte dos bens e, também, o governo da família) e o da benção paterna.
Do outro lado encontramos Rebeca, filha de Labão, moça que aprendeu com seus familiares a arte da intriga - e queria por todos os meios favorecer seu filho preferido, Jacó, que passava mais tempo com ela em casa. Jacó era pastor, enquanto Esaú era mais rústico, caçador, passava longo tempo fora de casa em suas empreitadas.
É difícil imaginar que de uma casa assim dividida alguma coisa boa pudesse sair. E, efetivamente, nós podemos perceber muitas coisas más acontecendo, muitas mágoas e muito sofrimento.
Mas não é esta a minha abordagem sobre esta família nesta ocasião. Meu foco é outro. Nestes últimos dias, em contextos diferentes, vi dois adolescentes afirmarem que desistiam da eternidade por alguma coisa.
29 Tinha Jacó feito um cozinhado, quando, esmorecido, veio do campo Esaú 30 e lhe disse: Peço-te que me deixes comer um pouco desse cozinhado vermelho, pois estou esmorecido. Daí chamar-se Edom. 31 Disse Jacó: Vende-me primeiro o teu direito de primogenitura. 32 Ele respondeu: Estou a ponto de morrer; de que me aproveitará o direito de primogenitura? 33 Então, disse Jacó: Jura-me primeiro. Ele jurou e vendeu o seu direito de primogenitura a Jacó. 34 Deu, pois, Jacó a Esaú pão e o cozinhado de lentilhas; ele comeu e bebeu, levantou-se e saiu. Assim, desprezou Esaú o seu direito de primogenitura.
Gn 25.29-34
O primeiro jovem usava a expressão poeticamente, o segundo, lamentavelmente, realmente tomou a decisão de abandonar a sã doutrina e abraçar uma maléfica doutrina de homens, que, quando muito, promete apenas a aniquilação do ser, o nihilismo. Isto me fez pensar: quantos cristãos realmente ainda pensam na eternidade?
Será que a vida eterna ainda é algo relevante nas conjecturas dos cristãos ou ela tem sido encarada como uma parte de um discurso mítico-escatológico da Igreja mas sem relevância para o seu dia-a-dia.
Sei que esta é uma afirmação bastante séria, mas, sejamos sinceros, quantos cristãos estão realmente preocupados com a vida eterna? Onde está o tesouro da maioria dos que se dizem seguidores de Cristo? Quantos tem o seu coração no reino celeste?
Qual é a realidade que nós podemos observar ao nosso redor? A corrida é ou não pelo ouro e prata? O brilho que atrai não é o deste mundo ao invés da luz de Cristo?
Quais tem sido as prioridades dos cristãos se não o mundo e aquilo que há no mundo - mesmo coisas boas e louváveis podem se tornar laço de desgosto e morte para um inadvertido. E de nada adianta a apresentação de desculpas.
Esaú estava com fome. Talvez distante ainda algumas horas da casa do seu pai, e a comida estava ali bem a mão. Sua caçada fora infrutífera, cansativa. Todo o seu ser pedia por comida. E ele troca uma benção futura por um repasto imediato.
Todos os cristãos modernos são unânimes em condenar Esaú. E estão certos, o problema é que, quando condenam o profano, condenam a si mesmos. Como Davi, condenam Esaú naquilo que eles mesmos fazem. São intolerantes com o argueiro no olho dos outros, mas não percebem que possuem uma trave no seu próprio.
Qual o problema dos cristãos, afinal? Porque estão trocando a mesa da eternidade por um repasto mundano?
Porque estão sendo ensinados a serem mundanos, a andarem por vistas, e não por fé, ao contrário do que prega a escritura. Esta geração aprendeu a ver, querer, desejar, e depois de ter, só então, crer. Gritam a plenos pulmões, e de maneira desavergonhada: Deus, cadê você? Prova-me tua existência e eu crerei. E o pior é que querem que Deus prove atendendo exigências ilegítimas, sempre materialmente mensuráveis, para esbanjarem em seus prazeres. Boa parte do cristianismo moderno esqueceu-se que é necessário que aquele que se aproxima de Deus creia que ele existe e se torna galardoador dos que o buscam, e não o contrário. Como se o eterno precisasse provar alguma coisa para a criatura. A simples existência de todas as coisas já é prova suficiente da existência de Deus. Foi suficiente até mesmo para os incrédulos gregos atenienses - mas não tem sido suficiente para os modernos cristãos, tão paganizados quanto os hebreus adoradores de Baal dos dias de Elias.
O que não percebem é que, por causa da sua incredulidade e ganância, este é o nome do mal, estão se deixando explorar por enganadores, aproveitadores, mercadejadores da fé, e estão abrindo mão do eterno para obter migalhas temporais. O que fez Esaú após comer o prato de lentilhas? Mais tarde, chorou, mas era tarde, não havia como desfazer o negócio. Fora enganado, sem dúvida, mas desejara ser enganado. Uma pessoa só cai num conto do vigário porque se julga mais esperto que o vigarista [a telexfree está na moda, para provar).
Tudo é uma questão de valores - e o mundo, as coisas que há no mundo, tem sido mais amadas do que Deus, aliás, Deus não admite esta comparação de mais ou menos. Ele afirma categoricamente que se alguém amar o mundo, e as coisas que há no mundo, o amor do pai não está nele. Por outro lado, se amar a Deus, buscando-o de todo o coração como prioridade absoluta ele mesmo satisfará todas as demais necessidades que seus filhos possam ter, não permitirá que passem necessidades.
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