O cristão é um cidadão estranho. Vive no mundo, mas não pertence a ele. Obedece às suas leis e autoridades (Rm 13:1 Todo homem esteja sujeito às autoridades superiores; porque não há autoridade que não proceda de Deus; e as autoridades que existem foram por ele instituídas), mas sua lealdade é a um legislador superior a todos os homens, todas as autoridades deste mundo (At 5:29 Então, Pedro e os demais apóstolos afirmaram: Antes, importa obedecer a Deus do que aos homens).
Enquanto o mundo ensina a busca de autossatisfação a qualquer custo, sua atitude deve ser a de abnegação e serviço (Hb 13:17 Obedecei aos vossos guias e sede submissos para com eles; pois velam por vossa alma, como quem deve prestar contas, para que façam isto com alegria e não gemendo; porque isto não aproveita a vós outros) para agradar ao seu Senhor (Cl 3:24 ...cientes de que recebereis do Senhor a recompensa da herança. A Cristo, o Senhor, é que estais servindo).
No contexto de Paulo e, ainda hoje, em alguns lugares, ser cristão não era uma parte da cultura. O cristianismo era uma “religio ilícita”, uma religião incluída no rol dos crimes de “majestas”, uma ofensa moral e pessoal ao próprio imperador. Ser cristão implicava apenas em ser discriminado ou ridicularizado.
Ser cristão era ser considerado um criminoso digno de morte (Rm 8:36 Como está escrito: Por amor de ti, somos entregues à morte o dia todo, fomos considerados como ovelhas para o matadouro). Podia-se perder tudo apenas por ser cristão. E os cristãos viam isto não como uma tragédia, mas como um privilégio que o Senhor lhes concedia (I Pe 4:13 ...pelo contrário, alegrai-vos na medida em que sois coparticipantes dos sofrimentos de Cristo, para que também, na revelação de sua glória, vos alegreis exultando).
Muitos milhares de cristãos pereceram por sua fé. Ninguém, a não ser o Senhor, sabe seus nomes porque eles estão registrados no livro da vida porque foram fiéis até a morte (Ap 21:27 Nela, nunca jamais penetrará coisa alguma contaminada, nem o que pratica abominação e mentira, mas somente os inscritos no Livro da Vida do Cordeiro). Como encontrar coragem para enfrentar o martírio sem a crença na ressurreição?
Que sentido fazia abandonar todas as honrarias e prazeres mundanos, correndo perigos, vivendo sob constante ameaças, se a ressurreição não fosse real? Como explicar a ousadia do antes impulsivo mas receoso Pedro? Como explicar sua alegria em sofrer quando antes ele estava disposto a matar? Como explicar a transformação de Paulo, de algoz e perseguidor da Igreja no missionário que apanhava, naufragava, era preso, apedrejado, mas se mantinha firme e alegre, mesmo quando soube da sua morte iminente (Fp 2:17 Entretanto, mesmo que seja eu oferecido por libação sobre o sacrifício e serviço da vossa fé, alegro-me e, com todos vós, me congratulo).
A bíblia afirma que aquilo que o homem acredita ser influencia o que ele é na prática. A fé na ressurreição influencia o dia-a-dia do cristão. Se a fé é apenas um conjunto de ideias que só servem para dar algum conforto moral então ela vai ser bastante útil para esta vida, uma vida de um cristianismo vazio, sem renúncia, sem transformação, sem arrependimento, sem conversão, sem esperança de glória. Lamento dizer mas isto não é fé. É um mero conjunto de conceitos e costumes. Para Paulo a fé implicava em sentido para a vida - uma vida segundo Cristo e não segundo o curso deste mundo, erro contra o qual somos advertidos pelo apóstolo (Cl 2:8 Cuidado que ninguém vos venha a enredar com sua filosofia e vãs sutilezas, conforme a tradição dos homens, conforme os rudimentos do mundo e não segundo Cristo).
Os cristãos do séc. I não tinham a vida mansa e relaxada, sem perigos, dos cristãos do III milênio. Certamente eles seriam bons cristãos hoje, forjados que foram no fogo da perseguição, mas será que os cristãos de hoje seriam por eles considerados, pelo menos, cristãos? Será que estes modernos cristãos ao menos iam querer serem membros de uma Igreja sob constante perigo e ameaças de morte? Será que os cristãos de nosso tempo teriam peito para andar como cristãos como hoje se enchem de slogans evangélicos? Duvido que ousassem fazer uma marcha que Jesus nunca pediu, por exemplo.
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