Ninguém almeja ser fracassado. Ninguém trabalha para fracassar. Ninguém treina para perder. Todos os homens tem no coração o desejo de ser bem sucedido, e a Igreja tem incentivado a busca de realizações terrenas, isto é, almejar o sucesso e por isso admira ou inveja pessoas bem sucedidas.
Com a abundância de historias sobre pessoas bem sucedidas o sucesso pessoal, familiar e profissional, com consequências financeiras foi se tornando o padrão para se auferir a espiritualidade, tomando o lugar da obediência a Deus e sua Palavra.
Este é um fenômeno denominado de mensuração objetiva da fé, isto é, medir a fé tendo como parâmetro não a espiritualidade santa, mas o sucesso que alguém consegue obter, como se as bênçãos de Deus se resumissem a fatores humanamente reconhecidos como sucesso nesta vida.
Mas qual é o padrão? Dinheiro acumulado? Casa grande? Carro novo? Promoção educacional ou profissional? Onde fica o reino de Deus que deveria ser buscado como prioridade [Mt 6.33: ...buscai, pois, em primeiro lugar, o seu reino e a sua justiça, e todas estas coisas vos serão acrescentadas].
Tribulação é antítese de sucesso. Cristo prometeu não o sucesso, mas as tribulações [Jo 16.33: Estas coisas vos tenho dito para que tenhais paz em mim. No mundo, passais por aflições; mas tende bom ânimo; eu venci o mundo]. Ele as experimentou, era homem de dores [Is 53.3: Era desprezado e o mais rejeitado entre os homens; homem de dores e que sabe o que é padecer; e, como um de quem os homens escondem o rosto, era desprezado, e dele não fizemos caso].
A Igreja, porém, tem rejeitado a promessa de Cristo, e, embora a maioria não ouse dizer isso, considera-o um fracassado, como os judeus o fizeram [Mt 27.40: Ó tu que destróis o santuário e em três dias o reedificas! Salva-te a ti mesmo, se és Filho de Deus, e desce da cruz!]. Consideram homens como Tiago [At 12.2: ...fazendo passar a fio de espada a Tiago, irmão de João] ou Paulo como fracassados [II Co 11.23-27: São ministros de Cristo? (Falo como fora de mim.) Eu ainda mais: em trabalhos, muito mais; muito mais em prisões; em açoites, sem medida; em perigos de morte, muitas vezes. Cinco vezes recebi dos judeus uma quarentena de açoites menos um; fui três vezes fustigado com varas; uma vez, apedrejado; em naufrágio, três vezes; uma noite e um dia passei na voragem do mar; em jornadas, muitas vezes; em perigos de rios, em perigos de salteadores, em perigos entre patrícios, em perigos entre gentios, em perigos na cidade, em perigos no deserto, em perigos no mar, em perigos entre falsos irmãos; em trabalhos e fadigas, em vigílias, muitas vezes; em fome e sede, em jejuns, muitas vezes; em frio e nudez]. É preciso dizer que é justamente destes homens que o mundo não é digno [Hb 11.37-38: Foram apedrejados, provados, serrados pelo meio, mortos a fio de espada; andaram peregrinos, vestidos de peles de ovelhas e de cabras, necessitados, afligidos, maltratados (homens dos quais o mundo não era digno), errantes pelos desertos, pelos montes, pelas covas, pelos antros da terra].
Por contraditório que possa parecer, muitos cristãos modernos idolatram àqueles cristãos antigos mas rejeitam o modelo, isto é, não querem passar pelas experiências que eles passaram para serem mais que vencedores.
A questão é que, para ser mais que vencedor [Rm 8.37: Em todas estas coisas, porém, somos mais que vencedores, por meio daquele que nos amou.], tem que enfrentar mais que as lutas comuns, e o nome disto é tribulação por causa da obediência a Jesus Cristo [Mt 5.11: Bem-aventurados sois quando, por minha causa, vos injuriarem, e vos perseguirem, e, mentindo, disserem todo mal contra vós].
Desejar sucesso neste mundo como prioridade é amar o mundo [I Jo 2.15: Não ameis o mundo nem as coisas que há no mundo. Se alguém amar o mundo, o amor do Pai não está nele] e sua concupiscência, que resulta em profunda doença espiritual, com reflexos no padrão pouco espiritual e profundamente materialista. A Igreja que adota este padrão mundano tomou a forma do mundo, sofre sua influência e vive com suas obsessões: sucesso, consumismo, riqueza, fama, reconhecimento, conforto, vida fácil, opulência, mas nenhum valor ou progresso genuinamente espiritual.
Esta Igreja é fruto de uma pregação superficial, motivacional, que apresenta Cristo e o cristianismo como um mero antídoto para o fracasso material, moral e emocional, um simples caminho para o sucesso e a prosperidade. Isto não é cristianismo bíblico, é mera religiosidade horizontal com o uso desobediente e descompromissado da palavra revelada por Deus.
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