quarta-feira, 12 de junho de 2013

JUÍZES, TEMPO DE CRISE OU CALAMIDADE DO POVO DE DEUS

O livro dos juízes é um manual para entender quando um povo, uma comunidade e até mesmo uma Igreja está enferma e age, na prática, sem se importar com a vontade revelada de Deus, e, mais ainda, sem se importar até mesmo com a existência ou não de Deus.
AQUECIMENTO
Antes de prosseguir, é necessário fazer duas observações importantes:
i. Existem diversos tipos de religiosidade, mas há algumas especialmente abomináveis, como o ritualismo hipócrita, o ateísmo prático e a oposição direta, deliberada, filosófica [Sl 2.1: Por que se enfurecem os gentios e os povos imaginam coisas vãs? Os reis da terra se levantam, e os príncipes conspiram contra o SENHOR e contra o seu Ungido, dizendo: Rompamos os seus laços e sacudamos de nós as suas algemas. 4 Ri-se aquele que habita nos céus; o Senhor zomba deles].
Diante de um culto hipócrita o Senhor diz sentir nojo [Is 1.15: Pelo que, quando estendeis as mãos, escondo de vós os olhos; sim, quando multiplicais as vossas orações, não as ouço, porque as vossas mãos estão cheias de sangue] e preferir que a Igreja estivesse de portas fechadas [Ml 1.10: Tomara houvesse entre vós quem feche as portas, para que não acendêsseis, debalde, o fogo do meu altar. Eu não tenho prazer em vós, diz o SENHOR dos Exércitos, nem aceitarei da vossa mão a oferta]. É algo muito duro de ouvir da boca do próprio Deus, mas é verdade - e a responsabilidade do profeta é dizer apenas o que o Senhor mandar.
O ateísmo se revela em duas formas, a primeira, mais clara, que é a deliberada oposição a Deus, assumindo a postura filosófica de que Deus não existe e, assim, todas as demais decisões partem desta  premissa. Mas, para a Igreja, o pior é o ateísmo prático, isto é, ainda que se admita a existência de Deus, vive-se de maneira que esta existência seja desconsiderada, e, ainda que com o nome de Deus nos lábios, tem-no longe do coração [Mc 7.6: Respondeu-lhes: Bem profetizou Isaías a respeito de vós, hipócritas, como está escrito: Este povo honra-me com os lábios, mas o seu coração está longe de mim].
ii. Outro tipo danoso de religiosidade é o seletivo, isto é, a pretensão de possuir o direito de escolher o que é verdade, o que vem de Deus ou não, o que deve ser levado em consideração ou não, tendo como principal fator a simpatia ou antipatia em relação a quem fala, ou, dito de outra maneira, se um pastor conceituado ler aqui exatamente o que vou lhes dizer, será aceito como profundo e tremendo, mas sendo o ‘profeta desta terra’ a coisa muda de figura, como aconteceu recentemente quando fui pregar em uma Igreja.  Isto não é um fato local, acontece em todos os lugares. Falei as mesmas coisas que falava quando era pastor lá - mas a reação foi totalmente diferente.
Pretendo abordar neste texto algumas características que nos ajudarão a identificar a saúde da Igreja em seu relacionamento com seu Deus, lembrando que o parâmetro conceitual adotado foi o do livro de Juízes, um verdadeiro manual sobre como descobrir se o povo de Deus está enfermo espiritualmente, passando por crises ou em tempo de calamidade espiritual.
I. RELATIVISMO
A perda de um padrão absoluto e normativo [a Palavra de Deus - Sl 119.4: Tu ordenaste os teus mandamentos, para que os cumpramos à risca] ocasiona um relaxamento espiritual e moral e a adoção de conceitos e práticas comuns aos incrédulos; cada um aceitando a verdade do outro e todos rejeitando a verdade divinamente revelada. O homem escolhe caminhos baixos [Is 55.9: ...porque, assim como os céus são mais altos do que a terra, assim são os meus caminhos mais altos do que os vossos caminhos, e os meus pensamentos, mais altos do que os vossos pensamentos] que lhe parecem proveitosos mas que, no final, são caminhos de morte [Pv 14.12: Há caminho que ao homem parece direito, mas ao cabo dá em caminhos de morte]. A solução é não aceitar a padronização mundanizante.
II. REBELDIA
O relativismo que toma conta da Igreja acaba fazendo-a ver compromissos e votos proferidos como meramente circunstanciais, isto é, eles até poderiam ter sido verdadeiros e válidos, sinceros, no momento que foram feitos, mas já que as circunstâncias são outras, então muitos e sentem desobrigados de cumpri-los [Ec 5.1: Guarda o pé, quando entrares na Casa de Deus; chegar-se para ouvir é melhor do que oferecer sacrifícios de tolos, pois não sabem que fazem mal], esquecendo que foram proferidos diante do Deus eterno, que não muda [Ml 3.6: Porque eu, o SENHOR, não mudo; por isso, vós, ó filhos de Jacó, não sois consumidos], seja quais forem as circunstâncias [Tg 1.17: Toda boa dádiva e todo dom perfeito são lá do alto, descendo do Pai das luzes, em quem não pode existir variação ou sombra de mudança] e espera de nós a mesma coerência.
Mas não é isto que se vê. A Igreja que deveria influenciar [Rm 12.2: E não vos conformeis com este século, mas transformai-vos pela renovação da vossa mente, para que experimenteis qual seja a boa, agradável e perfeita vontade de Deus] sendo modelo de fidelidade abandona Deus e abraça os deuses do mundanismo, um abraço mortal, não para o mundo, que jaz no maligno [I Jo 5.19: Sabemos que somos de Deus e que o mundo inteiro jaz no Maligno], mas para a Igreja, desobedecendo a Deus, abandonando sua aliança e fazendo pactos com os inimigos de Deus [veja Ex 34.10-17].
Mesmo quando há uma aparente superioridade do povo de Deus sobre os demais povos isto ainda é contaminação e tem como resultado a imoralidade em todas as áreas pois o fundamento foi destruído. Basta uma vez para que o pecador jamais possa dizer novamente: “eu nunca fiz isso”.
III. INÉRCIA
A Igreja contaminada pelo relativismo e associada ao mundo acaba sentindo-se absolutamente confortável e não ve nenhum problema essencial que precise ser tratado. Até se movimenta, abordando aqui e ali problemas sociais e circunstanciais, mas o principal acaba sendo abandonado. Inercia frente às suas reais necessidades espirituais e jamais atendendo às demandas reais suas e do mundo circundante.
Mensagens confortadoras para um mundo atribulado substituem uma mensagem confrontadora e transformadora frente a um mundo afundado no lamaçal do pecado. Mas como confrontar o estilo de vida do mundo se já se aceitou o molde, fazendo alianças comprometedoras [Mt 23.24: Guias cegos, que coais o mosquito e engolis o camelo]? Corações amortecidos precisam trocar a inércia não por um ativismo social, mas por um avivamento espiritual - que não deve ser confundido com modismos e barulho, mas, muitas vezes, absolutamente pecaminoso [Ex 32.17-20: Ouvindo Josué a voz do povo que gritava, disse a Moisés: Há alarido de guerra no arraial. Respondeu-lhe Moisés: Não é alarido dos vencedores nem alarido dos vencidos, mas alarido dos que cantam é o que ouço. Logo que se aproximou do arraial, viu ele o bezerro e as danças; então, acendendo-se-lhe a ira, arrojou das mãos as tábuas e quebrou-as ao pé do monte; e, pegando no bezerro que tinham feito, queimou-o, e o reduziu a pó, que espalhou sobre a água, e deu de beber aos filhos de Israel]. Uma Igreja inerte quer entretenimento, que show, não quer verdade.
IV. IMORALIDADE
Para uma Igreja comprometida com Deus e cheia do Espírito o papel de salgar e iluminar [Mt 5.13-16: Vós sois o sal da terra; ora, se o sal vier a ser insípido, como lhe restaurar o sabor? Para nada mais presta senão para, lançado fora, ser pisado pelos homens. Vós sois a luz do mundo. Não se pode esconder a cidade edificada sobre um monte; nem se acende uma candeia para colocá-la debaixo do alqueire, mas no velador, e alumia a todos os que se encontram na casa] já é um desafio gigantesco [por isso ela precisa da ajuda do Espírito Santo]. Sem compromisso e santidade esta tarefa torna-se absolutamente impossível. É curioso que a Igreja que diz amar um Deus santo ama, ao mesmo tempo, o pecado e não busca abandoná-lo. Não é possível reformar e purificar o mundo com ferramentas quebradas e contaminadas. É como aplicar antídoto contra um veneno usando seringa contaminada e não esterilizada.
Uma Igreja contaminada pela imoralidade não é capaz de condenar a imoralidade. Uma Igreja com raízes no mundo é absolutamente incapaz de ser agente de transformação a menos que se arrependa e esteja disposta a cortar estas raízes [Gl 1.4: ...o qual se entregou a si mesmo pelos nossos pecados, para nos desarraigar deste mundo perverso, segundo a vontade de nosso Deus e Pai] numa conversão que produza frutos para a eternidade [Mt 3.8: Produzi, pois, frutos dignos de arrependimento].
V. INSENSIBILIDADE
Não se trata de uma insensibilidade para com as pessoas ou até mesmo em relação a causas sociais - às vezes este tipo de sensibilidade e até aumentado, mas a um distanciamento de Deus de tal monta que já não se ouve com clareza a sua Palavra, não reconhecendo a Sua voz [Jo 10.27: As minhas ovelhas ouvem a minha voz; eu as conheço, e elas me seguem].
Aliás, a única movimentação que se executa é horizontal, seja intramuros, isto é, dentro da comunidade da fé, ou, ainda que fora dos muros, mas de efeitos meramente naturais. O despertar pode ser motivado por um acidente ou ameaças, mas não há o despertamento que vem de dentro, de um coração abatido pelo pecado, contrito diante de Deus [Is 57.15: Porque assim diz o Alto, o Sublime, que habita a eternidade, o qual tem o nome de Santo: Habito no alto e santo lugar, mas habito também com o contrito e abatido de espírito, para vivificar o espírito dos abatidos e vivificar o coração dos contritos.] por ter percebido sua pecaminosidade e a necessidade da graça de Deus [Sl 51.17: Sacrifícios agradáveis a Deus são o espírito quebrantado; coração compungido e contrito, não o desprezarás, ó Deus] que busca e restaura pecador arrependido [Lc 19.10: Porque o Filho do Homem veio buscar e salvar o perdido].
VI. LETARGIA
Falta de vontade, de iniciativa para fazer o que é seu  dever, para cumprir a sua função é pecado [Tg 4.17: Portanto, aquele que sabe que deve fazer o bem e não o faz nisso está pecando]. Cada pessoa foi chamada à Igreja e capacitada para ser Igreja. Ser Igreja é fazer parte de uma comunidade, isto é, tanto os direitos e cuidados quando as obrigações são comuns. A letargia, a falta de disposição torna todo  corpo mais lento, mais ineficiente e acaba sobrecarregando outros membros, com um inevitável desgaste e desanimo, gerando, por um lado, atrofia dos que nada fazem e, do outro, hipertrofia e lesões [divisões, rupturas, frustrações] nos que fazem a mais - e aqui não cabe dizer que quanto mais fizer ainda não faz sequer a obrigação porque Jesus dá a cada um a quantidade de talento que conseguem administrar [Mt 25.15: A um deu cinco talentos, a outro, dois e a outro, um, a cada um segundo a sua própria capacidade; e, então, partiu]. Se cada um cumpre a sua função todo corpo, toda a comunidade será atendida e ninguém será sobrecarregado.
VII. COMODISMO
É absolutamente natural e muito fácil acomodar-se com o status quo de uma sociedade, olhando para si mesmo e fechando-se em seu mundo, gastando muita energia para manter o padrão de vida já alcançado, sem olhos e sem iniciativa para os graves problemas existentes ao seu redor - problemas que podem e na maioria das vezes já está tendo influência sobre a vida da Igreja.
É um comodismo covarde que não se arrisca a sair de sua zona de conforto, sem ânimo para tornar-se um agente transformador no ambiente moral e espiritual que o cerca [II Pe 2.7: ...e livrou o justo Ló, afligido pelo procedimento libertino daqueles insubordinados] pagando eventuais preços que possam ser cobrados, atendendo, por vezes, às suas demandas pecaminosas [Gn 19.6: Saiu-lhes, então, Ló à porta, fechou-a após si e lhes disse: Rogo-vos, meus irmãos, que não façais mal; tenho duas filhas, virgens, eu vo-las trarei; tratai-as como vos parecer, porém nada façais a estes homens, porquanto se acham sob a proteção de meu teto]. Não nos enganemos - o mundo pode usar de todos os artifícios para atrair o crente, mas, mesmo que o crente os  considere “irmãos”, o mundo nunca o considerará assim e zombará desta pretensão [Gn 19.9: Eles, porém, disseram: Retira-te daí. E acrescentaram: Só ele é estrangeiro, veio morar entre nós e pretende ser juiz em tudo? A ti, pois, faremos pior do que a eles. E arremessaram-se contra o homem, contra Ló, e se chegaram para arrombar a porta].
Este comodismo é como sal no saleiro, lâmpada dentro de uma caixa fechada. É um cristianismo inútil. Como filho de seu tempo, o cristão precisa usar melhor a Palavra para discernir o certo e o errado. A cosmovisão circundante não pode ser determinante senão a Igreja nunca terá qualquer influência, pelo contrário, será formatada pelo padrão do seu tempo [Rm 12.2: E não vos conformeis com este século, mas transformai-vos pela renovação da vossa mente, para que experimenteis qual seja a boa, agradável e perfeita vontade de Deus], geralmente dissociado e contrário às Escrituras [Rm 8.7: Por isso, o pendor da carne é inimizade contra Deus, pois não está sujeito à lei de Deus, nem mesmo pode estar].
VIII. OPORTUNISMO
A contaminação pelo modus faciendi do mundo ocasiona o mal chamado de oportunismo, isto é, fazer o que for necessário para ser bem sucedido, acreditando que os fins justificam os meios.
Acreditar que fins nobres podem ser alcançados por métodos baixos e mesquinhos. Acreditar que métodos carnais podem resultar em bênçãos espirituais [Gl 6.8: Porque o que semeia para a sua própria carne da carne colherá corrupção; mas o que semeia para o Espírito do Espírito colherá vida eterna]. Cada cristão é responsável diante de Deus e do próximo pelo que faz. É pelo agir do cristão que o ímpio será forçado a ver que Deus faz diferença em sua vida. Cada cristão, antes de qualquer ação, deve considerar se seus alvos são justos diante de Deus. Nem mesmo muitas e longas orações podem justificar más ações ou, principalmente, interesses mesquinhos [Tg 4.3: ...pedis e não recebeis, porque pedis mal, para esbanjardes em vossos prazeres]. Lembre-se que, para glorificar a Deus, você deve ter alvos justos e métodos justos. Isto se chama santidade, e é só o que o Senhor requer de seu povo [Lv 20.7: Portanto, santificai-vos e sede santos, pois eu sou o SENHOR, vosso Deus], não de vez em quando, mas sempre porque o Senhor está sempre ao nosso lado [Gn 17.1: Quando atingiu Abrão a idade de noventa e nove anos, apareceu-lhe o SENHOR e disse-lhe: Eu sou o Deus Todo-Poderoso; anda na minha presença e sê perfeito].
IX. INCONSTÂNCIA
Diferente do “sim, sim” que deve nortear os posicionamentos cristãos [Mt 5.37: Seja, porém, a tua palavra: Sim, sim; não, não. O que disto passar vem do maligno] a quebra de votos, de compromissos, tanto com Deus quanto com os homens está se tornando cada vez mais comum e, pior, corriqueira e chega até mesmo a se tornar a norma.
É raro encontrar situações onde a palavra empenhada seja mantida a qualquer custo [Sl 15.4 ...o que, a seus olhos, tem por desprezível ao réprobo, mas honra aos que temem ao SENHOR; o que jura com dano próprio e não se retrata], uma característica do cidadão dos céus, que vive aqui, mas tem seu coração na cidade de Deus, obedecendo, portanto suas leis e não os costumes mundanos.
O que antes era para toda a vida, como o casamento, que deveria durar até a separação pela morte, se torna uma “experiência de vida”, igualada a qualquer outra, como um curso ou trabalho, por exemplo.
Não nos enganemos, quebrar um compromisso assumido, especialmente quando todos esperam e pressionam por isso, por mais justificáveis que sejam as circunstâncias, é sinal de inconstância e de impureza de coração [Tg 4.8: Chegai-vos a Deus, e ele se chegará a vós outros. Purificai as mãos, pecadores; e vós que sois de ânimo dobre, limpai o coração].
Como membros do corpo de Cristo devemos espelhar o caráter de Cristo que está sendo formado em nós.
X. VOLUNTARISMO
Carpe dien. Expressão latina que significa “aproveite”, “curta” a vida. Os franceses diriam “deixe acontecer”. Este panorama de ir vivendo de acordo com as circunstancias, tomando decisões sem levar em conta tanto o passado [a história] quanto o futuro [as consequências] são extremamente danosos.
O pior é quando esta atitude influencia também a percepção do eterno, isto é, os desejos presentes, o aqui e agora, se torna mais importante que a vontade de Deus e seu propósito eterno.
Que o mundo não se preocupe apenas com estas coisas é normal e bíblico [Is 22.13: Porém é só gozo e alegria que se veem; matam-se bois, degolam-se ovelhas, come-se carne, bebe-se vinho e se diz: Comamos e bebamos, que amanhã morreremos]. Há trabalho, e muito trabalho. Há até trabalho honesto. Mas esta preocupação com o aqui e agora é característica de ímpios, não de crentes [Mt 6.31.33: Portanto, não vos inquieteis, dizendo: Que comeremos? Que beberemos? Ou: Com que nos vestiremos? Porque os gentios é que procuram todas estas coisas; pois vosso Pai celeste sabe que necessitais de todas elas; buscai, pois, em primeiro lugar, o seu reino e a sua justiça, e todas estas coisas vos serão acrescentadas].
O antidoto para o voluntarismo é a submissão à Palavra de Deus. O crente precisa aprender a transformar ensinos bíblicos em princípios de vida. Lamentavelmente o que mais vemos são Sansões [pequenos sóis - simbolicamente, fortes] nos braços de Dalilas [fraqueza], porque se deixam enredar facilmente pelas diversas situações [Mc 14.38: Vigiai e orai, para que não entreis em tentação; o espírito, na verdade, está pronto, mas a carne é fraca].
Cedem aos seus desejos, mas, também, às seduções do mundo e armadilhas de satanás, tornando-se fracos e cegos, influenciáveis e manipuláveis. É muito difícil encontrar pessoas que vivam por princípios, que digam e cumpram, a qualquer custo, que rejeitam determinadas práticas. O normal é encontrarmos as pessoas dizendo que suas atitudes dependem das circunstâncias [na verdade, de suas vontades, interesses], jogando, muitas vezes, a responsabilidade em Deus [Tg 4.15: Em vez disso, devíeis dizer: Se o Senhor quiser, não só viveremos, como também faremos isto ou aquilo] numa deturpação ímpia da Palavra de Deus, e, se não é verdade, é mentira [Jo 8.44: Vós sois do diabo, que é vosso pai, e quereis satisfazer-lhe os desejos. Ele foi homicida desde o princípio e jamais se firmou na verdade, porque nele não há verdade. Quando ele profere mentira, fala do que lhe é próprio, porque é mentiroso e pai da mentira].
XI. MERCANTILISMO
O desconhecimento do caráter de Deus deu origem a uma forma de religião deturpada, mercantilista e interesseira. É comum buscar-se, vivendo infielmente, as bênçãos de Deus ao mesmo tempo que rejeita-se o Deus que abençoa apenas a fidelidade. Encontramos, no povo, esta prática nas promessas de “fazer algo” para retribuir uma bênção a ser recebida [os votos], muito comuns no romanismo [embora presentes no evangelicalismo sincretista brasileiro], mas, também, nas “provas de Deus” tão comuns nos meios pseudo pentecostais.
Isto tem sido denominado erroneamente de teologia da prosperidade, mas, como não há nada de Deus nestas ideias, denomino-as de “contos do vigário”, ou, mais explicitamente, de vigaristas que mercadejam a fé [II Pe 2.2:  E muitos seguirão as suas práticas libertinas, e, por causa deles, será infamado o caminho da verdade; também, movidos por avareza, farão comércio de vós, com palavras fictícias; para eles o juízo lavrado há longo tempo não tarda, e a sua destruição não dorme].
Este prosperismo também dá origem ao carreirismo eclesiástico, o desejo de assumir cargos maiores [e especialmente melhores remunerações, honrarias - Lc 21.34: Acautelai-vos por vós mesmos, para que nunca vos suceda que o vosso coração fique sobrecarregado com as consequências da orgia, da embriaguez e das preocupações deste mundo, e para que aquele dia não venha sobre vós repentinamente, como um laço] com cada vez mais poder - mas com o coração cada vez mais longe de Deus [Lc 12.34: ...porque, onde está o vosso tesouro, aí estará também o vosso coração] num prenúncio de julgamento de Deus [Lc 16.15: Mas Jesus lhes disse: Vós sois os que vos justificais a vós mesmos diante dos homens, mas Deus conhece o vosso coração; pois aquilo que é elevado entre homens é abominação diante de Deus] sobre esta prática que faz com que os ímpios blasfemem contra o nome de Jesus Cristo [Rm 2.24: Romanos 2:24  Pois, como está escrito, o nome de Deus é blasfemado entre os gentios por vossa causa].
O falso cristianismo é mais danoso do que mil religiões diabólicas. Porque as diabólicas falam de si mesmas, mas o falso cristianismo fala contra o próprio Deus onde ele deveria ser glorificado.
XII. CORPORATIVISMO
Igrejas de vidro. Povo que se ajuda com vigor [Is 41.6: Um ao outro ajudou e ao seu próximo disse: Sê forte] mas com pés velozes para fazer o mal e não o bem [Rm 3.13: A garganta deles é sepulcro aberto; com a língua, urdem engano, veneno de víbora está nos seus lábios, a boca, eles a têm cheia de maldição e de amargura; são os seus pés velozes para derramar sangue, nos seus caminhos, há destruição e miséria; desconheceram o caminho da paz. Não há temor de Deus diante de seus olhos]. Ambas as acusações são feitas a membros do povo de Deus - judeus idólatras do tempo de Isaías e todos os demais homens nos dias do apóstolo Paulo.
O corporativismo tem olhos de águia para identificar erros naqueles a quem se deseja ferir, mas é cego para os próprios erros - e o dos companheiros. O corporativismo leva a não condenar e até mesmo justificar as práticas pecaminosas dos companheiros [Mt 23.14: Ai de vós, escribas e fariseus, hipócritas, porque devorais as casas das viúvas e, para o justificar, fazeis longas orações; por isso, sofrereis juízo muito mais severo!], apontando-lhes o cisco no olho quando possuem estacas nos seus próprios [Lc 6.42: Como poderás dizer a teu irmão: Deixa, irmão, que eu tire o argueiro do teu olho, não vendo tu mesmo a trave que está no teu? Hipócrita, tira primeiro a trave do teu olho e, então, verás claramente para tirar o argueiro que está no olho de teu irmão].
O corporativismo pecaminoso cega e leva a uma arrogância espiritual que precisa ser desmascarada pela atuação de Deus na vida da Igreja [Jo 8.7: Como insistissem na pergunta, Jesus se levantou e lhes disse: Aquele que dentre vós estiver sem pecado seja o primeiro que lhe atire pedra] ou então esta deverá enfrentar as consequências [Ap 2.5: Lembra-te, pois, de onde caíste, arrepende-te e volta à prática das primeiras obras; e, se não, venho a ti e moverei do seu lugar o teu candeeiro, caso não te arrependas]. Manejemos bem a Palavra da verdade. As portas do inferno não podem prevalecer contra a Igreja de Cristo [Mt 16.18: Também eu te digo que tu és Pedro, e sobre esta pedra edificarei a minha igreja, e as portas do inferno não prevalecerão contra ela] especialmente porque a história nos mostra que Jesus não estava se referindo a uma Igreja local, mas ao Israel espiritual, a Igreja dos santos arrolados nos céus. Diante desta Igreja, triunfante, o inferno já capitulou.
A arrogância espiritual leva a prática continuada de pecados, rejeitando os convites ao arrependimento e à conversão, a uma mudança de vida e colheita de bênçãos [Is 1.16-20: Lavai-vos, purificai-vos, tirai a maldade de vossos atos de diante dos meus olhos; cessai de fazer o mal. Aprendei a fazer o bem; atendei à justiça, repreendei ao opressor; defendei o direito do órfão, pleiteai a causa das viúvas. Vinde, pois, e arrazoemos, diz o SENHOR; ainda que os vossos pecados sejam como a escarlata, eles se tornarão brancos como a neve; ainda que sejam vermelhos como o carmesim, se tornarão como a lã. Se quiserdes e me ouvirdes, comereis o melhor desta terra. Mas, se recusardes e fordes rebeldes, sereis devorados à espada; porque a boca do SENHOR o disse].
Em nome deste corporativismo [a que chamam amor] o pecado não só não é tratado [Rm 12.7-8: É para disciplina que perseverais (Deus vos trata como filhos); pois que filho há que o pai não corrige? Mas, se estais sem correção, de que todos se têm tornado participantes, logo, sois bastardos e não filhos] como é defendido, dando origem a contendas cada vez mais danosas. O verdadeiro amor não deve ser confundido com corporativismo. O verdadeiro amor corrige o faltoso [Pv 27.6: Leais são as feridas feitas pelo que ama, porém os beijos de quem odeia são enganosos].

VAMOS FAZER UM EXAME?
Que tal verificar se estes sintomas podem ser encontrados em sua Igreja nestes dias? Somos tão diferentes do Israel do tempo dos juízes? Dê uma nota de 0 a 10 para os sintomas que você consegue detectar em sua Igreja. Seja realista e honesto consigo mesmo e com o seu Deus. Mas ao mesmo tempo, não olhe apenas para a comunidade, mas olhe para a Igreja, da qual você é parte importante. Faça um exame de si mesmo, criterioso e verdadeiro, pedindo a ajuda de Deus [Sl 139.23-24: Sonda-me, ó Deus, e conhece o meu coração, prova-me e conhece os meus pensamentos; vê se há em mim algum caminho mau e guia-me pelo caminho eterno].

[   ] RELATIVISMO: Ausência perda de um padrão absoluto e normativo [a Palavra de Deus] resultando em relaxamento espiritual e moral com adoção de conceitos e práticas comuns aos incrédulos.
[   ] REBELDIA: Abandono de compromissos e votos que passam a ser visto como circunstanciais com o resultante direito de não cumpri-los.
[   ] INÉRCIA: aliança com as práticas mundanas e comodismo diante dos problemas espirituais tanto do mundo quanto da própria Igreja, com a apresentação de uma mensagem que conforta mas que não confronta nem transforma.
[   ] IMORALIDADE: incapacidade de ser sal e luz da terra. Discurso de amar a Deus mas sem abandono de práticas pecaminosas. A contaminação pela imoralidade impede a denuncia do pecado. Falta de santidade.
[   ] INSENSIBILIDADE: insensibilidade para com o distanciamento de Deus sem ouvir sua voz, sem despertamento que vem de dentro, de um coração abatido pelo pecado, contrito diante de Deus .
[   ] LETARGIA: Falta de vontade, de iniciativa para fazer o que é seu  dever, para cumprir a sua função tornando o  corpo mais lento, mais ineficiente e sobrecarrega outros membros, com inevitáveis desgastes, hipertrofias ou atrofias.
[   ] COMODISMO: acomodação ao status quo social, dispêndio de energia para manter seu padrão de vida sem olhos para perceber os problemas que influenciam a vida da Igreja que deia de ser agente transformador no ambiente moral e espiritual que o cerca.
[   ] OPORTUNISMO: fazer de tudo pelo sucesso pessoal, crendo que os fins justificam os meios, isto é, que fins nobres podem ser alcançados por métodos baixos e mesquinhos. Acreditar que métodos carnais podem resultar em bênçãos espirituais.
[   ] INCONSTÂNCIA: a quebra de votos, de compromissos, tanto com Deus quanto com os homens torna-se comum, aceitável e normativa, com incentivo a tal prática. Os compromissos passam a ser vistos como meras experimentações: casamento, curso, trabalho, etc.
[   ] VOLUNTARISMO: ir vivendo de acordo com as circunstâncias, decidindo sem levar em conta tanto o passado [a história] quanto o futuro [as consequências] e também sem a percepção do eterno, isto é, os desejos presentes, o aqui e agora, se tornam mais importante que a vontade de Deus e seu propósito eterno.
[   ] MERCANTILISMO: O desconhecimento do caráter de Deus gera uma religião deturpada, mercantilista e interesseira, buscando, numa vida de infidelidade, as bênçãos de Deus enquanto se rejeita o Deus que abençoa apenas a fidelidade.
[   ] CORPORATIVISMO: um povo que se ajuda com vigor mas com pés velozes para fazer o mal e não o bem. Defende os erros de quem diz amar e justifica as práticas pecaminosas dos companheiros resultando em arrogância espiritual, prática continuada de pecados e rejeição dos convites ao arrependimento e à conversão.
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 Deixe-me te dar uma notícia: esta Igreja é você. Esta Igreja sou eu. Esta Igreja somos nós. Com maior ou menor grau de prática de cada uma destas falhas, é  de nós que estamos falando.

BUSCANDO UMA NOVA VIDA
Se eu parasse aqui todo o nosso esforço até agora estaria incompleto. Precisamos ir adiante. Quero propor um caminho para a solução.
Sabemos que o ambiente em que vivemos é muito difícil. A Igreja precisa, continuamente, voltar ao primeiro amor. Não adianta esperar ajuda do mundo que a cerca porque ele não vai ajudar, já que jaz no maligno. Mas não é se acomodando ao mundo que a Igreja vai ter paz, muito pelo contrário. A Igreja deve escolher em ter a amizade de Deus ou a amizade do mundo. Não há meio termo.
Precisamos viver por princípios. Mas não são princípios comuns, terrenos e horizontais. Para viver assim temos um monte de religiões e filosofias mundanas. Precisamos nortear nossas escolhas por princípios eternos. Ainda que as circunstâncias mudem. Sugiro algumas atitudes simples, mas muito úteis:
a. Identifique o problema. Somente quando souber qual o pecado que está trazendo problemas à Igreja será possível extirpá-lo. Comece tentando identificar o problema mais próximo de você: seu coração.
b. Decida-se a combatê-lo. Sem uma disposição de coração a simples identificação  do mal não conduzirá a lugar algum. O problema continuará lá e ninguém se importará com ele. Será apenas uma “doença guardada” até matar o organismo.
c. Tome providências urgentes: uma resolução precisa resultar em ação. E você deve provocar a ação da pessoa a quem você influencia mais facilmente: você mesmo. Seu “mundo pessoal” é o mundo onde você tem maior influência. Antes de tentar influenciar os outros, você precisa mostrar que sua causa meche com você.
d. Assuma as responsabilidades: quem vai resolver o problema? Pode ficar olhando pro lado e dizer: porque ninguém vê o que precisa ser feito? Porque ninguém faz nada? Talvez outros estejam olhando para você pensando a mesma coisa. Não espere pelos outros - transforme o mundo ao seu redor. A responsabilidade é sua, mesmo que você não tenha sido eleito por homens, foi eleito por Deus para fazer parte do corpo.
e. Mostre determinação: não há problema algum em incentivar outros a tomarem parte na solução do problema. Mas você precisa ter em mente um procedimento a ser adotado.
f. Confie em Deus: acima de tudo, lembre-se que as coisas de Deus são feitas pelo Espírito de Deus, usando seus servos. Não é por força, violência ou gritos. Confie e espere que a seu tempo a resposta do Senhor virá. Mas esperar não é o mesmo que relaxar.
g. Usufrua as bênçãos: não espere que seus problemas sejam todos resolvidos. Provavelmente você terá novos e maiores obstáculos. O mundo vai te odiar [Jo 15.19: Se vós fôsseis do mundo, o mundo amaria o que era seu; como, todavia, não sois do mundo, pelo contrário, dele vos escolhi, por isso, o mundo vos odeia]. Talvez seus amigos se afastem de você. Talvez sua Igreja não te entenda e reclame. Mas usufrua da paz do Senhor, que excede todo o entendimento [Fp 4.7: E a paz de Deus, que excede todo o entendimento, guardará o vosso coração e a vossa mente em Cristo Jesus], até que ouça do Senhor: “muito bem, servo bom e fiel”.

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