O
livro dos juízes é um manual para entender quando um povo, uma comunidade e até
mesmo uma Igreja está enferma e age, na prática, sem se importar com a vontade
revelada de Deus, e, mais ainda, sem se importar até mesmo com a existência ou
não de Deus.
AQUECIMENTO
Antes de prosseguir, é
necessário fazer duas observações importantes:
i. Existem diversos
tipos de religiosidade, mas há algumas especialmente abomináveis, como o
ritualismo hipócrita, o ateísmo prático e a oposição direta, deliberada,
filosófica [Sl
2.1: Por
que se enfurecem os gentios e os povos imaginam coisas vãs? Os reis da terra se
levantam, e os príncipes conspiram contra o SENHOR e contra o seu Ungido,
dizendo: Rompamos os seus laços e sacudamos de nós as suas algemas. 4 Ri-se
aquele que habita nos céus; o Senhor zomba deles].
Diante de um culto hipócrita
o Senhor diz sentir nojo [Is 1.15:
Pelo que, quando estendeis as mãos, escondo de vós os olhos; sim, quando
multiplicais as vossas orações, não as ouço, porque as vossas mãos estão cheias
de sangue] e preferir que a Igreja estivesse
de portas fechadas [Ml 1.10:
Tomara houvesse entre vós quem feche as portas, para que não acendêsseis,
debalde, o fogo do meu altar. Eu não tenho prazer em vós, diz o SENHOR dos
Exércitos, nem aceitarei da vossa mão a oferta]. É
algo muito duro de ouvir da boca do próprio Deus, mas é verdade - e a
responsabilidade do profeta é dizer apenas o que o Senhor mandar.
O ateísmo se revela em duas
formas, a primeira, mais clara, que é a deliberada oposição a Deus, assumindo a
postura filosófica de que Deus não existe e, assim, todas as demais decisões
partem desta premissa. Mas, para a
Igreja, o pior é o ateísmo prático, isto é, ainda que se admita a existência de
Deus, vive-se de maneira que esta existência seja desconsiderada, e, ainda que
com o nome de Deus nos lábios, tem-no longe do coração [Mc
7.6:
Respondeu-lhes: Bem profetizou Isaías a respeito de vós, hipócritas, como está
escrito: Este povo honra-me com os lábios, mas o seu coração está longe de mim].
ii. Outro tipo danoso de
religiosidade é o seletivo, isto é, a pretensão de possuir o direito de
escolher o que é verdade, o que vem de Deus ou não, o que deve ser levado em
consideração ou não, tendo como principal fator a simpatia ou antipatia em
relação a quem fala, ou, dito de outra maneira, se um pastor conceituado ler
aqui exatamente o que vou lhes dizer, será aceito como profundo e tremendo, mas
sendo o ‘profeta desta terra’ a coisa muda de figura, como aconteceu
recentemente quando fui pregar em uma Igreja.
Isto não é um fato local, acontece em todos os lugares. Falei as mesmas
coisas que falava quando era pastor lá - mas a reação foi totalmente diferente.
Pretendo abordar neste texto
algumas características que nos ajudarão a identificar a saúde da Igreja em seu
relacionamento com seu Deus, lembrando que o parâmetro conceitual adotado foi o
do livro de Juízes, um verdadeiro manual sobre como descobrir se o povo de Deus
está enfermo espiritualmente, passando por crises ou em tempo de calamidade
espiritual.
I. RELATIVISMO
A perda de um padrão absoluto
e normativo [a Palavra de Deus - Sl 119.4:
Tu ordenaste os teus mandamentos, para que os cumpramos à risca] ocasiona um relaxamento espiritual e moral
e a adoção de conceitos e práticas comuns aos incrédulos; cada um aceitando a
verdade do outro e todos rejeitando a verdade divinamente revelada. O homem
escolhe caminhos baixos [Is 55.9:
...porque, assim como os céus são mais altos do que a terra, assim são os meus
caminhos mais altos do que os vossos caminhos, e os meus pensamentos, mais
altos do que os vossos pensamentos] que
lhe parecem proveitosos mas que, no final, são caminhos de morte [Pv
14.12:
Há caminho que ao homem parece direito, mas ao cabo dá em caminhos de morte]. A solução é não aceitar a padronização mundanizante.
II. REBELDIA
O relativismo que toma conta da Igreja acaba fazendo-a ver compromissos e
votos proferidos como meramente circunstanciais, isto é, eles até poderiam ter
sido verdadeiros e válidos, sinceros, no momento que foram feitos, mas já que
as circunstâncias são outras, então muitos e sentem desobrigados de cumpri-los [Ec
5.1:
Guarda o pé, quando entrares na Casa de Deus; chegar-se para ouvir é melhor do
que oferecer sacrifícios de tolos, pois não sabem que fazem mal], esquecendo que foram proferidos diante do
Deus eterno, que não muda [Ml 3.6:
Porque eu, o SENHOR, não mudo; por isso, vós, ó filhos de Jacó, não sois
consumidos], seja quais forem as circunstâncias
[Tg
1.17:
Toda boa dádiva e todo dom perfeito são lá do alto, descendo do Pai das luzes,
em quem não pode existir variação ou sombra de mudança] e espera de nós a mesma coerência.
Mas não é isto que se vê. A
Igreja que deveria influenciar [Rm 12.2:
E não vos conformeis com este século, mas transformai-vos pela renovação da
vossa mente, para que experimenteis qual seja a boa, agradável e perfeita
vontade de Deus] sendo modelo de fidelidade abandona
Deus e abraça os deuses do mundanismo, um abraço mortal, não para o mundo, que
jaz no maligno [I Jo 5.19:
Sabemos que somos de Deus e que o mundo inteiro jaz no Maligno], mas para a Igreja, desobedecendo a Deus,
abandonando sua aliança e fazendo pactos com os inimigos de Deus [veja Ex 34.10-17].
Mesmo quando há uma aparente
superioridade do povo de Deus sobre os demais povos isto ainda é contaminação e
tem como resultado a imoralidade em todas as áreas pois o fundamento foi
destruído. Basta uma vez para que o pecador jamais possa dizer novamente: “eu
nunca fiz isso”.
III. INÉRCIA
A Igreja contaminada pelo
relativismo e associada ao mundo acaba sentindo-se absolutamente confortável e
não ve nenhum problema essencial que precise ser tratado. Até se movimenta,
abordando aqui e ali problemas sociais e circunstanciais, mas o principal acaba
sendo abandonado. Inercia frente às suas reais necessidades espirituais e
jamais atendendo às demandas reais suas e do mundo circundante.
Mensagens confortadoras para
um mundo atribulado substituem uma mensagem confrontadora e transformadora
frente a um mundo afundado no lamaçal do pecado. Mas como confrontar o estilo
de vida do mundo se já se aceitou o molde, fazendo alianças comprometedoras [Mt
23.24:
Guias cegos, que coais o mosquito e engolis o camelo]? Corações amortecidos precisam trocar a
inércia não por um ativismo social, mas por um avivamento espiritual - que não
deve ser confundido com modismos e barulho, mas, muitas vezes, absolutamente
pecaminoso [Ex
32.17-20:
Ouvindo Josué a voz do povo que gritava, disse a Moisés: Há alarido de guerra
no arraial. Respondeu-lhe Moisés: Não é alarido dos vencedores nem alarido dos
vencidos, mas alarido dos que cantam é o que ouço. Logo que se aproximou do
arraial, viu ele o bezerro e as danças; então, acendendo-se-lhe a ira, arrojou
das mãos as tábuas e quebrou-as ao pé do monte; e, pegando no bezerro que
tinham feito, queimou-o, e o reduziu a pó, que espalhou sobre a água, e deu de
beber aos filhos de Israel]. Uma Igreja
inerte quer entretenimento, que show, não quer verdade.
IV. IMORALIDADE
Para uma Igreja comprometida
com Deus e cheia do Espírito o papel de salgar e iluminar [Mt
5.13-16:
Vós sois o sal da terra; ora, se o sal vier a ser insípido, como lhe restaurar
o sabor? Para nada mais presta senão para, lançado fora, ser pisado pelos
homens. Vós sois a luz do mundo. Não se pode esconder a cidade edificada sobre
um monte; nem se acende uma candeia para colocá-la debaixo do alqueire, mas no
velador, e alumia a todos os que se encontram na casa] já é um desafio gigantesco [por isso ela
precisa da ajuda do Espírito Santo]. Sem compromisso e santidade esta tarefa
torna-se absolutamente impossível. É curioso que a Igreja que diz amar um Deus
santo ama, ao mesmo tempo, o pecado e não busca abandoná-lo. Não é possível
reformar e purificar o mundo com ferramentas quebradas e contaminadas. É como
aplicar antídoto contra um veneno usando seringa contaminada e não
esterilizada.
Uma Igreja contaminada pela
imoralidade não é capaz de condenar a imoralidade. Uma Igreja com raízes no
mundo é absolutamente incapaz de ser agente de transformação a menos que se
arrependa e esteja disposta a cortar estas raízes [Gl
1.4:
...o qual se entregou a si mesmo pelos nossos pecados, para nos desarraigar
deste mundo perverso, segundo a vontade de nosso Deus e Pai] numa conversão que produza frutos para a
eternidade [Mt
3.8:
Produzi, pois, frutos dignos de arrependimento].
V. INSENSIBILIDADE
Não se trata de uma
insensibilidade para com as pessoas ou até mesmo em relação a causas sociais -
às vezes este tipo de sensibilidade e até aumentado, mas a um distanciamento de
Deus de tal monta que já não se ouve com clareza a sua Palavra, não reconhecendo
a Sua voz [Jo
10.27:
As minhas ovelhas ouvem a minha voz; eu as conheço, e elas me seguem].
Aliás, a única movimentação
que se executa é horizontal, seja intramuros, isto é, dentro da comunidade da
fé, ou, ainda que fora dos muros, mas de efeitos meramente naturais. O
despertar pode ser motivado por um acidente ou ameaças, mas não há o despertamento
que vem de dentro, de um coração abatido pelo pecado, contrito diante de Deus [Is
57.15: Porque
assim diz o Alto, o Sublime, que habita a eternidade, o qual tem o nome de
Santo: Habito no alto e santo lugar, mas habito também com o contrito e abatido
de espírito, para vivificar o espírito dos abatidos e vivificar o coração dos
contritos.] por ter percebido sua
pecaminosidade e a necessidade da graça de Deus [Sl
51.17:
Sacrifícios agradáveis a Deus são o espírito quebrantado; coração compungido e
contrito, não o desprezarás, ó Deus] que
busca e restaura pecador arrependido [Lc 19.10:
Porque o Filho do Homem veio buscar e salvar o perdido].
VI. LETARGIA
Falta de vontade, de
iniciativa para fazer o que é seu dever,
para cumprir a sua função é pecado [Tg 4.17:
Portanto, aquele que sabe que deve fazer o bem e não o faz nisso está pecando]. Cada pessoa foi chamada à Igreja e
capacitada para ser Igreja. Ser Igreja é fazer parte de uma comunidade, isto é,
tanto os direitos e cuidados quando as obrigações são comuns. A letargia, a
falta de disposição torna todo corpo
mais lento, mais ineficiente e acaba sobrecarregando outros membros, com um
inevitável desgaste e desanimo, gerando, por um lado, atrofia dos que nada
fazem e, do outro, hipertrofia e lesões [divisões, rupturas, frustrações] nos
que fazem a mais - e aqui não cabe dizer que quanto mais fizer ainda não faz
sequer a obrigação porque Jesus dá a cada um a quantidade de talento que
conseguem administrar [Mt 25.15:
A um deu cinco talentos, a outro, dois e a outro, um, a cada um segundo a sua
própria capacidade; e, então, partiu]. Se
cada um cumpre a sua função todo corpo, toda a comunidade será atendida e
ninguém será sobrecarregado.
VII. COMODISMO
É absolutamente natural e
muito fácil acomodar-se com o status quo de uma sociedade, olhando para si
mesmo e fechando-se em seu mundo, gastando muita energia para manter o padrão
de vida já alcançado, sem olhos e sem iniciativa para os graves problemas
existentes ao seu redor - problemas que podem e na maioria das vezes já está
tendo influência sobre a vida da Igreja.
É um comodismo covarde que
não se arrisca a sair de sua zona de conforto, sem ânimo para tornar-se um
agente transformador no ambiente moral e espiritual que o cerca [II
Pe 2.7:
...e livrou o justo Ló, afligido pelo procedimento libertino daqueles
insubordinados] pagando eventuais preços que possam
ser cobrados, atendendo, por vezes, às suas demandas pecaminosas [Gn
19.6:
Saiu-lhes, então, Ló à porta, fechou-a após si e lhes disse: Rogo-vos, meus
irmãos, que não façais mal; tenho duas filhas, virgens, eu vo-las trarei;
tratai-as como vos parecer, porém nada façais a estes homens, porquanto se
acham sob a proteção de meu teto]. Não
nos enganemos - o mundo pode usar de todos os artifícios para atrair o crente,
mas, mesmo que o crente os considere
“irmãos”, o mundo nunca o considerará assim e zombará desta pretensão [Gn
19.9:
Eles, porém, disseram: Retira-te daí. E acrescentaram: Só ele é estrangeiro,
veio morar entre nós e pretende ser juiz em tudo? A ti, pois, faremos pior do
que a eles. E arremessaram-se contra o homem, contra Ló, e se chegaram para
arrombar a porta].
Este comodismo é como sal no
saleiro, lâmpada dentro de uma caixa fechada. É um cristianismo inútil. Como
filho de seu tempo, o cristão precisa usar melhor a Palavra para discernir o
certo e o errado. A cosmovisão circundante não pode ser determinante senão a
Igreja nunca terá qualquer influência, pelo contrário, será formatada pelo
padrão do seu tempo [Rm 12.2:
E não vos conformeis com este século, mas transformai-vos pela renovação da
vossa mente, para que experimenteis qual seja a boa, agradável e perfeita
vontade de Deus], geralmente dissociado e contrário
às Escrituras [Rm 8.7:
Por isso, o pendor da carne é inimizade contra Deus, pois não está sujeito à
lei de Deus, nem mesmo pode estar].
VIII. OPORTUNISMO
A contaminação pelo modus faciendi do mundo ocasiona o mal chamado de
oportunismo, isto é, fazer o que for necessário para ser bem sucedido,
acreditando que os fins justificam os meios.
Acreditar que fins nobres
podem ser alcançados por métodos baixos e mesquinhos. Acreditar que métodos
carnais podem resultar em bênçãos espirituais [Gl
6.8:
Porque o que semeia para a sua própria carne da carne colherá corrupção; mas o
que semeia para o Espírito do Espírito colherá vida eterna]. Cada cristão é responsável diante de Deus
e do próximo pelo que faz. É pelo agir do cristão que o ímpio será forçado a
ver que Deus faz diferença em sua vida. Cada cristão, antes de qualquer ação,
deve considerar se seus alvos são justos diante de Deus. Nem mesmo muitas e
longas orações podem justificar más ações ou, principalmente, interesses
mesquinhos [Tg
4.3:
...pedis e não recebeis, porque pedis mal, para esbanjardes em vossos prazeres]. Lembre-se que, para glorificar a Deus,
você deve ter alvos justos e métodos justos. Isto se chama santidade, e é só o
que o Senhor requer de seu povo [Lv 20.7:
Portanto, santificai-vos e sede santos, pois eu sou o SENHOR, vosso Deus], não de vez em quando, mas sempre porque o
Senhor está sempre ao nosso lado [Gn 17.1:
Quando atingiu Abrão a idade de noventa e nove anos, apareceu-lhe o SENHOR e
disse-lhe: Eu sou o Deus Todo-Poderoso; anda na minha presença e sê perfeito].
IX. INCONSTÂNCIA
Diferente do “sim, sim” que
deve nortear os posicionamentos cristãos [Mt 5.37:
Seja, porém, a tua palavra: Sim, sim; não, não. O que disto passar vem do
maligno] a quebra de votos, de compromissos,
tanto com Deus quanto com os homens está se tornando cada vez mais comum e,
pior, corriqueira e chega até mesmo a se tornar a norma.
É raro encontrar situações
onde a palavra empenhada seja mantida a qualquer custo [Sl
15.4 ...o
que, a seus olhos, tem por desprezível ao réprobo, mas honra aos que temem ao
SENHOR; o que jura com dano próprio e não se retrata], uma característica do cidadão dos céus,
que vive aqui, mas tem seu coração na cidade de Deus, obedecendo, portanto suas
leis e não os costumes mundanos.
O que antes era para toda a
vida, como o casamento, que deveria durar até a separação pela morte, se torna
uma “experiência de vida”, igualada a qualquer outra, como um curso ou
trabalho, por exemplo.
Não nos enganemos, quebrar um
compromisso assumido, especialmente quando todos esperam e pressionam por isso,
por mais justificáveis que sejam as circunstâncias, é sinal de inconstância e
de impureza de coração [Tg 4.8:
Chegai-vos a Deus, e ele se chegará a vós outros. Purificai as mãos, pecadores;
e vós que sois de ânimo dobre, limpai o coração].
Como membros do corpo de
Cristo devemos espelhar o caráter de Cristo que está sendo formado em nós.
X. VOLUNTARISMO
Carpe dien. Expressão latina que significa
“aproveite”, “curta” a vida. Os franceses diriam “deixe acontecer”. Este
panorama de ir vivendo de acordo com as circunstancias, tomando decisões sem
levar em conta tanto o passado [a história] quanto o futuro [as consequências]
são extremamente danosos.
O pior é quando esta atitude
influencia também a percepção do eterno, isto é, os desejos presentes, o aqui e
agora, se torna mais importante que a vontade de Deus e seu propósito eterno.
Que o mundo não se preocupe
apenas com estas coisas é normal e bíblico [Is 22.13: Porém
é só gozo e alegria que se veem; matam-se bois, degolam-se ovelhas, come-se
carne, bebe-se vinho e se diz: Comamos e bebamos, que amanhã morreremos]. Há trabalho, e muito trabalho. Há até
trabalho honesto. Mas esta preocupação com o aqui e agora é característica de
ímpios, não de crentes [Mt 6.31.33:
Portanto,
não vos inquieteis, dizendo: Que comeremos? Que beberemos? Ou: Com que nos
vestiremos? Porque os gentios é que procuram todas estas coisas; pois vosso Pai
celeste sabe que necessitais de todas elas; buscai, pois, em primeiro lugar, o
seu reino e a sua justiça, e todas estas coisas vos serão acrescentadas].
O antidoto para o
voluntarismo é a submissão à Palavra de Deus. O crente precisa aprender a
transformar ensinos bíblicos em princípios de vida. Lamentavelmente o que mais
vemos são Sansões [pequenos sóis - simbolicamente, fortes] nos braços de
Dalilas [fraqueza], porque se deixam enredar facilmente pelas diversas
situações [Mc
14.38:
Vigiai e orai, para que não entreis em tentação; o espírito, na verdade, está
pronto, mas a carne é fraca].
Cedem aos seus desejos, mas,
também, às seduções do mundo e armadilhas de satanás, tornando-se fracos e
cegos, influenciáveis e manipuláveis. É muito difícil encontrar pessoas que
vivam por princípios, que digam e cumpram, a qualquer custo, que rejeitam
determinadas práticas. O normal é encontrarmos as pessoas dizendo que suas
atitudes dependem das circunstâncias [na verdade, de suas vontades,
interesses], jogando, muitas vezes, a responsabilidade em Deus [Tg
4.15: Em
vez disso, devíeis dizer: Se o Senhor quiser, não só viveremos, como também
faremos isto ou aquilo] numa deturpação
ímpia da Palavra de Deus, e, se não é verdade, é mentira [Jo
8.44:
Vós
sois do diabo, que é vosso pai, e quereis satisfazer-lhe os desejos. Ele foi
homicida desde o princípio e jamais se firmou na verdade, porque nele não há
verdade. Quando ele profere mentira, fala do que lhe é próprio, porque é
mentiroso e pai da mentira].
XI. MERCANTILISMO
O desconhecimento do caráter
de Deus deu origem a uma forma de religião deturpada, mercantilista e
interesseira. É comum buscar-se, vivendo infielmente, as bênçãos de Deus ao
mesmo tempo que rejeita-se o Deus que abençoa apenas a fidelidade. Encontramos,
no povo, esta prática nas promessas de “fazer algo” para retribuir uma bênção a
ser recebida [os votos], muito comuns no romanismo [embora presentes no evangelicalismo
sincretista brasileiro], mas, também, nas “provas de Deus” tão comuns nos meios
pseudo pentecostais.
Isto tem sido denominado
erroneamente de teologia da prosperidade, mas, como não há nada de Deus nestas
ideias, denomino-as de “contos do vigário”, ou, mais explicitamente, de
vigaristas que mercadejam a fé [II Pe 2.2: E muitos seguirão as suas práticas
libertinas, e, por causa deles, será infamado o caminho da verdade; também,
movidos por avareza, farão comércio de vós, com palavras fictícias; para eles o
juízo lavrado há longo tempo não tarda, e a sua destruição não dorme].
Este prosperismo também dá
origem ao carreirismo eclesiástico, o desejo de assumir cargos maiores [e
especialmente melhores remunerações, honrarias - Lc
21.34:
Acautelai-vos por vós mesmos, para que nunca vos suceda que o vosso coração
fique sobrecarregado com as consequências da orgia, da embriaguez e das
preocupações deste mundo, e para que aquele dia não venha sobre vós
repentinamente, como um laço] com cada vez
mais poder - mas com o coração cada vez mais longe de Deus [Lc
12.34:
...porque, onde está o vosso tesouro, aí estará também o vosso coração] num prenúncio de julgamento de Deus [Lc
16.15:
Mas Jesus lhes disse: Vós sois os que vos justificais a vós mesmos diante dos
homens, mas Deus conhece o vosso coração; pois aquilo que é elevado entre
homens é abominação diante de Deus] sobre
esta prática que faz com que os ímpios blasfemem contra o nome de Jesus Cristo [Rm
2.24:
Romanos 2:24 Pois, como está escrito, o
nome de Deus é blasfemado entre os gentios por vossa causa].
O falso cristianismo é mais
danoso do que mil religiões diabólicas. Porque as diabólicas falam de si
mesmas, mas o falso cristianismo fala contra o próprio Deus onde ele deveria
ser glorificado.
XII. CORPORATIVISMO
Igrejas de vidro. Povo que se
ajuda com vigor [Is 41.6:
Um ao outro ajudou e ao seu próximo disse: Sê forte] mas com pés velozes para fazer o mal e não
o bem [Rm
3.13: A
garganta deles é sepulcro aberto; com a língua, urdem engano, veneno de víbora
está nos seus lábios, a boca, eles a têm cheia de maldição e de amargura; são
os seus pés velozes para derramar sangue, nos seus caminhos, há destruição e
miséria; desconheceram o caminho da paz. Não há temor de Deus diante de seus
olhos]. Ambas as acusações são feitas a
membros do povo de Deus - judeus idólatras do tempo de Isaías e todos os demais
homens nos dias do apóstolo Paulo.
O corporativismo tem olhos de
águia para identificar erros naqueles a quem se deseja ferir, mas é cego para
os próprios erros - e o dos companheiros. O corporativismo leva a não condenar
e até mesmo justificar as práticas pecaminosas dos companheiros [Mt
23.14:
Ai de vós, escribas e fariseus, hipócritas, porque devorais as casas das viúvas
e, para o justificar, fazeis longas orações; por isso, sofrereis juízo muito
mais severo!], apontando-lhes o cisco no olho
quando possuem estacas nos seus próprios [Lc 6.42:
Como poderás dizer a teu irmão: Deixa, irmão, que eu tire o argueiro do teu
olho, não vendo tu mesmo a trave que está no teu? Hipócrita, tira primeiro a
trave do teu olho e, então, verás claramente para tirar o argueiro que está no
olho de teu irmão].
O corporativismo pecaminoso
cega e leva a uma arrogância espiritual que precisa ser desmascarada pela
atuação de Deus na vida da Igreja [Jo 8.7:
Como insistissem na pergunta, Jesus se levantou e lhes disse: Aquele que dentre
vós estiver sem pecado seja o primeiro que lhe atire pedra] ou então esta deverá enfrentar as
consequências [Ap 2.5:
Lembra-te, pois, de onde caíste, arrepende-te e volta à prática das primeiras
obras; e, se não, venho a ti e moverei do seu lugar o teu candeeiro, caso não
te arrependas]. Manejemos bem a Palavra da
verdade. As portas do inferno não podem prevalecer contra a Igreja de Cristo [Mt
16.18:
Também eu te digo que tu és Pedro, e sobre esta pedra edificarei a minha
igreja, e as portas do inferno não prevalecerão contra ela] especialmente porque a história nos mostra
que Jesus não estava se referindo a uma Igreja local, mas ao Israel espiritual,
a Igreja dos santos arrolados nos céus. Diante desta Igreja, triunfante, o
inferno já capitulou.
A arrogância espiritual leva
a prática continuada de pecados, rejeitando os convites ao arrependimento e à
conversão, a uma mudança de vida e colheita de bênçãos [Is
1.16-20:
Lavai-vos, purificai-vos, tirai a maldade de vossos atos de diante dos meus
olhos; cessai de fazer o mal. Aprendei a fazer o bem; atendei à justiça,
repreendei ao opressor; defendei o direito do órfão, pleiteai a causa das
viúvas. Vinde, pois, e arrazoemos, diz o SENHOR; ainda que os vossos pecados
sejam como a escarlata, eles se tornarão brancos como a neve; ainda que sejam
vermelhos como o carmesim, se tornarão como a lã. Se quiserdes e me ouvirdes,
comereis o melhor desta terra. Mas, se recusardes e fordes rebeldes, sereis
devorados à espada; porque a boca do SENHOR o disse].
Em nome deste corporativismo
[a que chamam amor] o pecado não só não é tratado [Rm
12.7-8:
É para disciplina que perseverais (Deus vos trata como filhos); pois que filho
há que o pai não corrige? Mas, se estais sem correção, de que todos se têm
tornado participantes, logo, sois bastardos e não filhos] como é defendido, dando origem a contendas
cada vez mais danosas. O verdadeiro amor não deve ser confundido com
corporativismo. O verdadeiro amor corrige o faltoso [Pv
27.6:
Leais são as feridas feitas pelo que ama, porém os beijos de quem odeia são
enganosos].
VAMOS FAZER UM EXAME?
Que tal verificar se estes
sintomas podem ser encontrados em sua Igreja nestes dias? Somos tão diferentes
do Israel do tempo dos juízes? Dê uma nota de 0 a 10 para os sintomas que você
consegue detectar em sua Igreja. Seja realista e honesto consigo mesmo e com o
seu Deus. Mas ao mesmo tempo, não olhe apenas para a comunidade, mas olhe para
a Igreja, da qual você é parte importante. Faça um exame de si mesmo,
criterioso e verdadeiro, pedindo a ajuda de Deus [Sl
139.23-24: Sonda-me,
ó Deus, e conhece o meu coração, prova-me e conhece os meus pensamentos; vê se
há em mim algum caminho mau e guia-me pelo caminho eterno].
[ ] RELATIVISMO: Ausência
perda de um padrão absoluto e normativo [a Palavra de Deus] resultando em
relaxamento espiritual e moral com adoção de conceitos e práticas comuns aos
incrédulos.
[ ] REBELDIA:
Abandono
de compromissos e votos que passam a ser visto como circunstanciais com o
resultante direito de não cumpri-los.
[ ] INÉRCIA:
aliança com as práticas mundanas e comodismo diante dos problemas espirituais
tanto do mundo quanto da própria Igreja, com a apresentação de uma mensagem que
conforta mas que não confronta nem transforma.
[ ] IMORALIDADE:
incapacidade de ser sal e luz da terra. Discurso de amar a Deus mas sem
abandono de práticas pecaminosas. A contaminação pela imoralidade impede a
denuncia do pecado. Falta de santidade.
[ ] INSENSIBILIDADE:
insensibilidade para com o distanciamento de Deus sem ouvir sua voz, sem
despertamento que vem de dentro, de um coração abatido pelo pecado, contrito
diante de Deus .
[ ] LETARGIA:
Falta de vontade, de iniciativa para fazer o que é seu dever, para cumprir a sua função tornando
o corpo mais lento, mais ineficiente e
sobrecarrega outros membros, com inevitáveis desgastes, hipertrofias ou
atrofias.
[ ] COMODISMO:
acomodação ao status quo social, dispêndio de energia para manter seu padrão de
vida sem olhos para perceber os problemas que influenciam a vida da Igreja que
deia de ser agente transformador no ambiente moral e espiritual que o cerca.
[ ] OPORTUNISMO:
fazer de tudo pelo sucesso pessoal, crendo que os fins justificam os meios,
isto é, que fins nobres podem ser alcançados por métodos baixos e mesquinhos.
Acreditar que métodos carnais podem resultar em bênçãos espirituais.
[ ] INCONSTÂNCIA: a
quebra de votos, de compromissos, tanto com Deus quanto com os homens torna-se
comum, aceitável e normativa, com incentivo a tal prática. Os compromissos
passam a ser vistos como meras experimentações: casamento, curso, trabalho,
etc.
[ ] VOLUNTARISMO: ir
vivendo de acordo com as circunstâncias, decidindo sem levar em conta tanto o
passado [a história] quanto o futuro [as consequências] e também sem a
percepção do eterno, isto é, os desejos presentes, o aqui e agora, se tornam
mais importante que a vontade de Deus e seu propósito eterno.
[ ] MERCANTILISMO: O
desconhecimento do caráter de Deus gera uma religião deturpada, mercantilista e
interesseira, buscando, numa vida de infidelidade, as bênçãos de Deus enquanto
se rejeita o Deus que abençoa apenas a fidelidade.
[ ] CORPORATIVISMO: um
povo que se ajuda com vigor mas com pés velozes para fazer o mal e não o bem.
Defende os erros de quem diz amar e justifica as práticas pecaminosas dos
companheiros resultando em arrogância espiritual, prática continuada de pecados
e rejeição dos convites ao arrependimento e à conversão.
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abordados:
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Agora, some tudo e veja quantos
pontos foram marcados.
Deixe-me te dar uma
notícia: esta Igreja é você. Esta Igreja sou eu. Esta Igreja somos nós. Com
maior ou menor grau de prática de cada uma destas falhas, é de nós que estamos falando.
BUSCANDO UMA NOVA VIDA
Se eu parasse aqui todo o
nosso esforço até agora estaria incompleto. Precisamos ir adiante. Quero propor
um caminho para a solução.
Sabemos que o ambiente em que
vivemos é muito difícil. A Igreja precisa, continuamente, voltar ao primeiro
amor. Não adianta esperar ajuda do mundo que a cerca porque ele não vai ajudar,
já que jaz no maligno. Mas não é se acomodando ao mundo que a Igreja vai ter
paz, muito pelo contrário. A Igreja deve escolher em ter a amizade de Deus ou a
amizade do mundo. Não há meio termo.
Precisamos viver por
princípios. Mas não são princípios comuns, terrenos e horizontais. Para viver
assim temos um monte de religiões e filosofias mundanas. Precisamos nortear
nossas escolhas por princípios eternos. Ainda que as circunstâncias mudem.
Sugiro algumas atitudes simples, mas muito úteis:
a. Identifique o problema. Somente quando souber qual o pecado que
está trazendo problemas à Igreja será possível extirpá-lo. Comece tentando
identificar o problema mais próximo de você: seu coração.
b. Decida-se a combatê-lo. Sem uma disposição de coração a simples
identificação do mal não conduzirá a
lugar algum. O problema continuará lá e ninguém se importará com ele. Será
apenas uma “doença guardada” até matar o organismo.
c. Tome providências urgentes: uma resolução precisa resultar em ação.
E você deve provocar a ação da pessoa a quem você influencia mais facilmente:
você mesmo. Seu “mundo pessoal” é o mundo onde você tem maior influência. Antes
de tentar influenciar os outros, você precisa mostrar que sua causa meche com
você.
d. Assuma as responsabilidades: quem vai resolver o problema? Pode
ficar olhando pro lado e dizer: porque ninguém vê o que precisa ser feito?
Porque ninguém faz nada? Talvez outros estejam olhando para você pensando a
mesma coisa. Não espere pelos outros - transforme o mundo ao seu redor. A
responsabilidade é sua, mesmo que você não tenha sido eleito por homens, foi
eleito por Deus para fazer parte do corpo.
e. Mostre determinação: não há problema algum em incentivar
outros a tomarem parte na solução do problema. Mas você precisa ter em mente um
procedimento a ser adotado.
f. Confie em Deus: acima de tudo, lembre-se que as coisas
de Deus são feitas pelo Espírito de Deus, usando seus servos. Não é por força,
violência ou gritos. Confie e espere que a seu tempo a resposta do Senhor virá.
Mas esperar não é o mesmo que relaxar.
g. Usufrua
as bênçãos: não espere que seus problemas sejam todos
resolvidos. Provavelmente você terá novos e maiores obstáculos. O mundo vai te
odiar [Jo
15.19:
Se vós fôsseis do mundo, o mundo amaria o que era seu; como, todavia, não sois
do mundo, pelo contrário, dele vos escolhi, por isso, o mundo vos odeia]. Talvez seus amigos se afastem de você.
Talvez sua Igreja não te entenda e reclame. Mas usufrua da paz do Senhor, que
excede todo o entendimento [Fp 4.7:
E a paz de Deus, que excede todo o entendimento, guardará o vosso coração e a
vossa mente em Cristo Jesus], até que ouça
do Senhor: “muito bem, servo bom e fiel”.
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