Qual o pior problema e
uma Igreja? Iras? Dissensões? Discórdias? Facções? Ou heresias? Qual é o
problema que mais machuca uma Igreja? Qual é o problema que mais traz traumas à
vida de uma Igreja?
Nós
temos estudado desde janeiro do ano passado, ano passado todos os domingos, e
este ano em domingos intercalados, a primeira carta de Paulo aos coríntios. E o
capítulo 15 desta carta vai tratar de um problema muito sério que estava
machucando a Igreja de Corinto.
Entretanto,
nós precisamos observar que na lista de assuntos a serem tratados Paulo não
coloca a heresia como o primeiro assunto, como o mais emergencial, embora não a
deixe de fora. É grave, sem sobra de dúvidas, e a heresia descaracteriza a Igreja
na sua essência. Uma Igreja que está cheia de heresias pode vir a deixar de ser
uma genuína Igreja de Jesus Cristo, mas quando Paulo olha para os problemas da
Igreja em Corinto ele estabelece uma graduação de prioridades ao menos
temporais.
Primeira
prioridade: resolver o problema das inimizades que estavam dividindo
e esfacelando a Igreja de Cristo.
Segunda
prioridade: Paulo percebia que estas dificuldades, intrigas e
discórdias que havia na Igreja estava atrapalhando a correta ministração dos
sacramentos, estava contaminando a celebração da ceia do Senhor, como podemos
ver nos capítulos 11 e 12.
Terceira
prioridade: O problema das divisões estava atrapalhando a manifestação
dos dons no culto, atrapalhando o exercício do serviço cristão, pois havia muitos
que estavam exercendo os dons sem a principal característica dos dons, sem
aquilo que é a essência do próprio Deus, que é o amor [I Jo 4.16: E nós conhecemos e cremos no amor que Deus tem
por nós. Deus é amor, e aquele que permanece no amor permanece em Deus, e Deus,
nele].
Gente
exercendo os dons para aparecer, para se vangloriar e não para o serviço e para
a edificação da Igreja. [Ef 4.11-12: E ele mesmo concedeu uns para apóstolos, outros para profetas, outros
para evangelistas e outros para pastores e mestres, com vistas ao
aperfeiçoamento dos santos para o desempenho do seu serviço, para a edificação
do corpo de Cristo].
Após
tratar dos problemas internos, Paulo agora, aqui no cap. 15, vai mencionar
outro gravíssimo problema que havia aproveitado as brechas existentes na
Igreja, as brechas relacionais, as brechas espirituais e agora estava afetando
aquilo que a Igreja cria.
Na
Igreja estavam entrando pessoas sem a necessária e devida conversão, entrando
pessoas porque gostaram, de alguma maneira do que viam na Igreja coríntia, nem
entendo direito como puderam gostar do ambiente da Igreja de Corinto porque era
um ambiente terrível de muitas brigas, de desobediência à Palavra [talvez por
isso, inconversos que eram] mas algumas pessoas se aproveitaram e entraram na
Igreja e começaram a ensinar na Igreja doutrinas que iam contra a palavra do
próprio Deus.
Estavam
ensinando na Igreja que Cristo não havia ressuscitado, uma doutrina que
historicamente ficou conhecida como docetismo. Eles diziam que Cristo nunca,
jamais teve um corpo realmente humano, só parecia humano. Ora, se ele nunca
teve um corpo realmente humano ele nunca poderia ter realmente morrido, e a
morte de Cristo teria sido apenas aparente. Como explicar isto então? Eles
diziam que na cruz Deus ludibriou satanás. Para justificar uma heresia, para
justificar sua doutrina herética e absurda de que Cristo não nasceu, não viveu,
não morreu e não ressuscitou [e este era o ponto que eles queriam destruir - a
doutrina da ressurreição de Jesus Cristo] eles colocavam o próprio Deus como
mentiroso - uma heresia para justificar outra heresia, um abismo chamando outro
abismo.
Esta
doutrina estava começando a entrar na Igreja e se desenvolveu na segunda metade
do I. séc. e em boa parte do II séc. a ponto de surgir, de dentro da Igreja, um
herege chamado Marcião, defensor da ideia de que a maior parte da bíblia
deveria ser jogada fora, ficando apenas com o evangelho de Lucas, o livro de
Atos e algumas das cartas paulinas [as pastorais, nenhuma das cartas pessoais].
Neste
contexto, Paulo, percebendo que as heresias estavam começando a entrar na
Igreja, e que elas iriam minar a fé cristã, e que poderiam aproveitar que a
Igreja estava doente e finalmente mata-la sabe que tem que intervir.
Porque
a doença já existia, a Igreja já não se amava, a Igreja que se feria
mutuamente, a Igreja que já não estava obedecendo a Palavra como deveria, mas,
agora, a heresia poderia matá-la como faz as chamadas doenças oportunistas.
Paulo,
então, escreve aos coríntios, e no cap. 15, versos 1 a 19, e diz aos amados
algumas características fundamentais do evangelho de Cristo que eles jamais
deveriam abrir mão, ou então deveriam deixar de se chamarem de Igreja de
Cristo.
I Co 15.1-19
1 Irmãos, venho lembrar-vos o evangelho que vos anunciei, o
qual recebestes e no qual ainda perseverais; 2 por ele também sois salvos,
se retiverdes a palavra tal como vo-la preguei, a menos que tenhais crido em
vão.
3Antes de tudo, vos entreguei o que também recebi: que
Cristo morreu pelos nossos pecados, segundo as Escrituras, 4 e que foi sepultado e
ressuscitou ao terceiro dia, segundo as Escrituras.
5 E apareceu a Cefas e, depois, aos doze.
6 Depois, foi visto por mais de quinhentos irmãos de uma só
vez, dos quais a maioria sobrevive até agora; porém alguns já dormem.
7 Depois, foi visto por Tiago, mais tarde, por todos os
apóstolos 8 e, afinal, depois de todos, foi visto também por mim, como
por um nascido fora de tempo.
9 Porque eu sou o menor dos apóstolos, que mesmo não sou
digno de ser chamado apóstolo, pois persegui a igreja de Deus.
10 Mas, pela graça de Deus, sou o que sou; e a sua graça, que
me foi concedida, não se tornou vã; antes, trabalhei muito mais do que todos
eles; todavia, não eu, mas a graça de Deus comigo.
11 Portanto, seja eu ou sejam eles, assim pregamos e assim
crestes.
12 Ora, se é corrente pregar-se que Cristo ressuscitou dentre
os mortos, como, pois, afirmam alguns dentre vós que não há ressurreição de
mortos?
13 E, se não há ressurreição de mortos, então, Cristo não
ressuscitou.
14 E, se Cristo não ressuscitou, é vã a nossa pregação, e vã,
a vossa fé; 15 e somos tidos por falsas testemunhas de Deus, porque temos
asseverado contra Deus que ele ressuscitou a Cristo, ao qual ele não
ressuscitou, se é certo que os mortos não ressuscitam.
16 Porque, se os mortos não ressuscitam, também Cristo não
ressuscitou.
17 E, se Cristo não ressuscitou, é vã a vossa fé, e ainda
permaneceis nos vossos pecados.
18 E ainda mais: os que dormiram em Cristo pereceram.
19 Se a nossa esperança em Cristo se limita apenas a esta
vida, somos os mais infelizes de todos os homens.
O
texto de I. Co 15.1-19 é um texto relativamente longo e reafirma para nós
alguns aspectos do evangelho que não podemos esquecer: o evangelho é o poder de
Deus para salvação de todo aquele que crê [Rm 1.16-17: Pois não me envergonho do evangelho, porque é o
poder de Deus para a salvação de todo aquele que crê, primeiro do judeu e
também do grego; visto que a justiça de Deus se revela no evangelho, de fé em
fé, como está escrito: O justo viverá por fé], é o instrumento que
Deus usa, usou e continuará usando para trazer à fé aqueles que vivem sem Deus
no mundo [Rm 10.17: E, assim, a fé vem pela pregação, e a pregação, pela palavra de
Cristo].
E há
três aspectos do evangelho que meditaremos, ainda que de maneira breve,
guardando no nosso coração.
O
evangelho não é uma estorinha criada por algum espertalhão para enganar
incautos [II Pe 1.16: Porque não vos demos a conhecer o poder e a vinda de nosso
Senhor Jesus Cristo seguindo fábulas
engenhosamente inventadas, mas nós mesmos fomos testemunhas oculares da sua
majestade]. O evangelho não é um conto que alguém um dia resolveu
escrever, uma estorinha bonita para influenciar pessoas porque isso mais
causaria confusão do que salvação [I Tm 1.4: ...nem se ocupem com fábulas e genealogias sem fim, que, antes,
promovem discussões do que o serviço de Deus, na fé].
O
evangelho é muito mais que isso. O evangelho é história. O apóstolo Paulo faz
questão de lembrar aos coríntios - e já eram crentes maduros, velhos, gente que
já tinham mais de 10 anos de Igreja, gente que já deveria ter aprendido, gente
que já deveria, por causa do tempo decorrido, que já deveriam ser mestres [Hb 5.12: Pois, com efeito, quando devíeis ser mestres,
atendendo ao tempo decorrido, tendes, novamente, necessidade de alguém que vos
ensine, de novo, quais são os princípios elementares dos oráculos de Deus;
assim, vos tornastes como necessitados de leite e não de alimento sólido] e não estar mais
necessitando que Paulo ensinasse o básico da fé, e nesta carta Paulo diz que
eles estavam agindo como crianças, e que precisavam, de novo, serem alimentados
com leite, mas era gente que deveria estar pronto para o churrasco [I Co 3.2-3: Leite vos dei a beber, não vos dei alimento
sólido; porque ainda não podíeis suportá-lo. Nem ainda agora podeis, porque
ainda sois carnais. Porquanto, havendo entre vós ciúmes e contendas, não é
assim que sois carnais e andais segundo o homem?].
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