II Rs 11.17-20
17
Joiada fez aliança entre o SENHOR, e o rei, e o povo, para serem eles o povo do
SENHOR; como também entre o rei e o povo.
18
Então, todo o povo da terra entrou na casa de Baal, e a derribaram;
despedaçaram os seus altares e as suas imagens e a Matã, sacerdote de Baal,
mataram perante os altares; então, o sacerdote pôs guardas sobre a Casa do
SENHOR.
19
Tomou os capitães dos cários, os da guarda e todo o povo da terra, e todos
estes conduziram da Casa do SENHOR o rei e, pelo caminho da porta dos da
guarda, vieram à casa real; e Joás sentou-se no trono dos reis.
20
Alegrou-se todo o povo da terra, e a cidade ficou tranquila, depois que mataram Atalia à espada, junto à casa
do rei.
Israel
passou por tempos turbulentos antes da ascensão de Joás ao trono. Seu
antecessor, Acabe, junto com sua rainha Jezabel, haviam transformado Israel num
terrível antro de idolatria, chegando a ter mais de 850 idólatras mantidos pela
mão da própria rainha.
Deus não se deixou sem
testemunho, e é no período de Acabe que pelo menos dois profetas levantam a sua
voz: Elias, instrumento de Deus para o envio de 3 anos e meio de seca e
consequente derrota dos sacerdotes de Baal e dos profetas do poste ídolo - os
mesmos profetas que mentiram para os reis Acabe e Josafá e foram contraditados
por Micaías [I Rs 22].
Quando Acabe e Jezabel foram
mortos, Atalia, mãe de Acabe, manda matar todos os netos, e apenas um, Joás,
escapa porque foi protegido por Jeoseba, meia-irmã de Acabe.
Ela o tomou e o escondeu no
templo durante um período de 6 anos - onde certamente ele aprendeu muito sobre
o verdadeiro Deus de israel.
A situação era de tal maneira
insustentável que não foi possível esperar a maioridade do rei, e, quando o
herdeiro do trono completou 7 anos Joiada entendeu que era o momento de
libertar Israel do jugo de uma tirana, colocando o legítimo rei no trono.
Os tempos conturbados vividos
por Israel desde os dias de Acabe
fizeram com que o povo perdesse qualquer sentimento de consideração para com
seus governantes. Os sacerdotes haviam se esquecido do Senhor, seu Deus. Os
reis deixaram de cumprir suas obrigações, especialmente a de governar com a lei
do Senhor na mente e no coração.
RESTAURANDO AS ALIANÇAS - I Rs 11.17
As
revoltas contra Acabe e Jezabel, e, posteriormente, contra Atalia, poderiam
deixar na mente do povo que, sempre que estivessem insatisfeitos contra o
governante, poderiam se sublevar e mata-los, colocando quem melhor lhes
aprouvesse no trono.
Mas como colocar no trono um
menino de apenas 7 anos? Como um povo tão impetuoso e com gosto de sangue nos
dentes depois de duas revoltas poderia aceitar ser governado por um menino tão
jovem? Joiada toma duas providências para que Israel tenha, novamente, um rei
legítimo:
Ele estabelece uma hierarquia
de valores eternos
Antes de qualquer coisa Joiada
procura estabelecer no coração do povo a legitimidade de um governo. Mas não
qualquer governo, e sim o governo de Deus. É, em primeiro lugar, a Deus que o
povo deve submeter-se. Isto é o que eu chamo de “princípio de autoridade”.
Não há governo superior ao
governo de Deus. Todo e qualquer governo, desde o Éden, deriva da autoridade de
Deus, instituindo o homem como governante da criação. Os profetas, os juízes e
os sacerdotes foram todos dados por Deus. Os reis de Israel, embora a pedido
dos homens, foram dados por Deus, o verdadeiro e legítimo rei [Ex 15.18].
O povo precisava entender e
aprender um princípio que é explicitado por Paulo: toda autoridade é
constituída por Deus [Rm 13.1] - e se esta exerce o seu governo sem tentar
usurpar o que é direito exclusivo de Deus, então deve ser honrada e respeitada [At 5.29]
porque isto é agradável ao Senhor.
Estabelecida a fonte da
autoridade, é o momento oportuno de estabelecer quem será o responsável pela
condução do povo para que este cumpra os termos da aliança. Aquele não era um
povo comum, era o povo de Deus, que tinha leis boas e justas. E o rei deveria
ser versado nestas leis [Dt 17.18] para cumpri-las.
Há uma hierarquia de valores
entre os governantes. Deus é o principio do governo, a fonte de autoridade, o
rei é o responsável pelo cumprimento das leis de Deus, é o gerente, o executor
destas leis. O povo deveria olhar para suas autoridades como autoridades
instituídas por Deus - ainda que tivesse sido o povo, em revolta, que tivesse
conduzido o jovem Joás ao trono, ele estava lá porque o Senhor o designara para
tal posto.
Ele não era um representante do
povo diante de Deus, mas um representante de Deus no governo do seu povo.
O terceiro elemento desta primeira
hierarquia de valores é o povo. Povo desgovernado não é povo, é turba.
Aquele que era o povo de Deus,
tendo aprendido que Deus era a fonte da autoridade do rei, deveria deixar-se
conduzir nos caminhos do Senhor, numa vida que fizesse deles realmente uma
nação de sacerdotes ao Senhor, de testemunhas da grandeza de Deus. Se Deus era
o autor, e o rei o condutor, o povo pode ser apropriadamente chamado de
executores da lei.
A aliança foi feita com o
Senhor, e com o
rei, e com o
povo. Os conectivos indicam que cada um tinha a sua parcela de autoridade e
comprometimento. No final das contas, aquele povo, junto com o seu rei, estavam
dizendo que seriam, efetivamente, o povo de Deus.
Estes três fatores mencionados
no início do verso 17 estabelecem um relacionamento vertical, hierárquico, cada
um com suas funções definidas. E isto vai gerar frutos relacionais. É esta a
segunda abordagem de Joiada.
Ele estabelece uma aliança
relacional entre iguais
O rei e seu povo eram seres
humanos com funções diferentes, mas essencialmente iguais diante de Deus. De si
mesmo o rei não tinha qualquer autoridade, como a deposta Atalia. Governar com
sua própria autoridade é usurpação. O povo deveria, que havia estabelecido uma
aliança com o Senhor, juntamente com o seu rei, agora estava pronto a cumprir
os termos desta aliança.
E para tanto deveria honrar as
autoridades que Deus estabelecesse sobre ele. Se a primeira aliança é vertical,
implica em autoridade, a segunda aliança é horizontal, implica em
relacionamento de respeito e amor mútuos. Cabe ao rei ser o cabeça do povo,
governando sob a orientação e amor de Deus. Cabe ao povo ser o povo de Deus,
submetendo-se ao governo que sabe ser instituído pelo seu Senhor, para bênção
e, muitas vezes, para disciplina.
No final da passagem analisada,
percebemos que duas bênçãos são colhidas pelo povo após o estabelecimento
destas duas formas de aliança: a primeira, hierárquica e funcional, e, a
segunda, relacional. Após tantos anos de distúrbios [desde os dias de Acabe,
com sua idolatria para agradar sua esposa, Jezabel, passando pelas lutas contra
os sacerdotes e profetas idólatras e chegando aos dias de Atalia, a insana que
manda matar seus próprios netos para assumir o trono] chegou o momento do povo,
em aliança com o Senhor e com o seu rei, colher bênçãos.
A primeira benção é a da alegria, fruto
do fato de saber que tem um grande Deus [Ne 8.6] que abençoa o seu povo. Deus prometeu que,
sendo o Deus de Israel, e sendo este um povo obediente, derramaria sobre eles
inúmeras bênçãos - e um povo abençoado é um povo alegre. Não pode haver maior
alegria de saber que, embora de tempos em tempos se troque o governante, o
Senhor está assentado em seu alto e sublime trono.
A segunda benção é a da tranquilidade. Não
são os muros de uma cidade, ou suas posses, que lhe dão tranquilidade, mas o
fato de saber que a fonte de sua segurança, de sua estabilidade, é o Deus que
não muda jamais, que promete e cumpre. É a tranquilidade de saber que o
governante não tornará impositiva a sua vontade, mas a balizará pela vontade
revelada e imutável de Deus. Tranquilidade que vem do fato de saber que não
deverá haver surpresas desagradáveis, como nos dias de Acabe e Atalia.
Mas, em
aliança com Deus, nada vai dar certo. Acabes, Manassés, Atalias e Jezabéis vão usurpar
o governo – e serão uma desgraça no meio do povo de Deus.
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