Como manter a integridade emocional, espiritual e moral em tempos de crise? Como conduzir a família quando o que se tem a frente mais parece com uma tempestade de areia do que pastos verdejantes?
A bíblia nos conta a história de um homem que teve que lidar com este dilema - e queremos aprender com o que lhe aconteceu. Há um ditado que diz mais ou menos o seguinte: “O tolo erra, e nunca aprende. O inteligente erra e aprende. O sábio observa o tolo e o inteligente, e aprende sem errar”.
A história deste homem se encontra no início do capítulo primeiro do livro de Rute [Rt 1.1-18). A história de Elimeleque acontece nos dias dos juízes, quando Israel vivia um período de privação causada pela opressão cananeia, com pouca produção de alimentos e o que ainda era produzido era, muitas vezes, objeto de saque.
Na tentativa de fugir ao juízo de Deus sobre a desobediência do povo (Jz 3:7 - Os filhos de Israel fizeram o que era mau perante o SENHOR e se esqueceram do SENHOR, seu Deus; e renderam culto aos baalins e ao poste-ídolo) Elimeleque fez o que achava ser melhor para seus filhos, deixando de considerar, porém, a vontade de Deus que, em seu caso, era absolutamente clara.
Não se trata de onde colocar o filho para estudar ou que profissão incentivá-lo a ter para ter uma boa renda - tratava-se de submeter-se à vontade de Deus que estava disciplinando o seu povo por escolhas erradas, e a disciplina era parte do acordo que Deus estabelecera com Israel anos antes (Is 1:2 - Ouvi, ó céus, e dá ouvidos, ó terra, porque o SENHOR é quem fala: Criei filhos e os engrandeci, mas eles estão revoltados contra mim).
Eram dias em que o que contava mesmo era a opinião pessoal, a corrente de pensamento mais influente no momento e não a vontade revelada e imutável de Deus e este homem, cujo nome significa Deus é meu rei, não fez jus ao seu nome, tomou sua esposa, Noemi, e seus filhos Malom e Quiliom (cujos nomes são cananeus, significando, respectivamente, fraqueza, doença e definhamento, tristeza porque provavelmente nasceram no tempo de provação, de fome em Belém.
Elimeleque esperava ir passar apenas uma temporada em Moabe, e, depois voltar com sua família para Belém. Mas há caminhos que, ao homem, parecem direitos, mas ao cabo são caminhos de morte. E esta foi a triste experiência de Elimeleque.
Ele resolveu habitar entre os moabitas, e, para isso, teve que abrir mão de seus escrúpulos religiosos. Como judeu teve que lidar com povos que eram considerados impuros, filhos de um relacionamento impuro da primogênita de Ló, que embebedou seu pai e teve um filho com ele.
Admitamos a boa vontade de Elimeleque - ele queria o melhor para sua família. O problema é que o melhor, aos seus olhos, foi correr atrás de sustento material sem dar a devida atenção à vontade de Deus. Antes de analisarmos as consequências da escolha de Elimeleque, devemos observar que a vida continuou em Belém, e, anos depois, Noemi pode retornar para lá, e parece haver paz e fartura na terra, mas não para ela, por isso vejamos as consequências da escolha de Elimeleque.
i. Ele perdeu a vida em terra dos moabitas - não pôde retornar a Belém, nem educar seus filhos (Pv 22:6 - Ensina a criança no caminho em que deve andar, e, ainda quando for velho, não se desviará dele);
ii. Ele colocou seus filhos sob a influência dos moabitas, e estes não tiveram escolha senão seguirem os costumes da terra, tomando para si esposas que não deviam tomar (Ed 9:12 - Por isso, não dareis as vossas filhas a seus filhos, e suas filhas não tomareis para os vossos filhos, e jamais procurareis a paz e o bem desses povos; para que sejais fortes, e comais o melhor da terra, e a deixeis por herança a vossos filhos, para sempre);
iii. Seus filhos também não puderam voltar para a terra que lhes pertencia (Rt 1:5 - Morreram também ambos, Malom e Quiliom, ficando, assim, a mulher desamparada de seus dois filhos e de seu marido).
Por causa da morte de Elimeleque, Malom e Quiliom Noemi agora se tornara uma mulher a quem a vida só trouxe amarguras - e teria que, voltando para Belém, viver de esmolas porque não lhe seria permitido retomar a posse das terras que fora de seu esposo. Aquele que fora em busca de sustento e prosperidade no fim foi a causa da tristeza e desgraça da família. Havia boa intenção, ele estava fazendo o que achava melhor para sua família, mas não estava obedecendo a Deus (Mt 6:33 - ...buscai, pois, em primeiro lugar, o seu reino e a sua justiça, e todas estas coisas vos serão acrescentadas).
Qual foi o problema de Elimeleque?
Na hora da crise, ele negociou. Ele negociou os valores da Palavra de Deus - preferiu entrar em acordo com os moabitas ao invés de aguardar a salvação do Senhor (Lm 3:26 - Bom é aguardar a salvação do SENHOR, e isso, em silêncio), como mais tarde faria um descendente de sua família, Davi (I Cr 21:13 - Então, disse Davi a Gade: Estou em grande angústia; caia eu, pois, nas mãos do SENHOR, porque são muitíssimas as suas misericórdias, mas nas mãos dos homens não caia eu). Trabalhe, lute, e, mesmo quando tudo parecer perdido, continue confiando em Deus, não negocie os valores do reino (Pv 28:6 - Melhor é o pobre que anda na sua integridade do que o perverso, nos seus caminhos, ainda que seja rico) porque ele não desampara os que nele confiam (Sl 37:25 - Fui moço e já, agora, sou velho, porém jamais vi o justo desamparado, nem a sua descendência a mendigar o pão).
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