segunda-feira, 14 de setembro de 2015

QUE TIPO DE SATISFAÇÃO O CRISTÃO DEVE ALMEJAR?

Entrega o teu caminho ao Senhor, confia nele, e o mais ele fará! Sim, entrega o teu caminho ao Senhor. Esta é a única coisa certa a ser feita. E esta é a minha exortação para você neste ocasião. Não importa de onde você vem, nem o que você tem feito – é seu dever. Você é criatura, ele é Senhor. Você é homem, ele é Deus.
E depois? O que acontece com quem entrega-se confiantemente nas mãos do Senhor? Que tipo de satisfação alguém que crê no Senhor pode esperar? É evidente que muitos buscam uma satisfação profundamente materialista e humanista – mas precisamos da ajuda das Escrituras para compreendermos o que Deus oferece para aqueles que recebem ao seu Filho, Jesus Cristo, como seu Senhor e salvador.
1 Portanto, se fostes ressuscitados juntamente com Cristo, buscai as coisas lá do alto, onde Cristo vive, assentado à direita de Deus.
2 Pensai nas coisas lá do alto, não nas que são aqui da terra; 3 porque morrestes, e a vossa vida está oculta juntamente com Cristo, em Deus.
4 Quando Cristo, que é a nossa vida, se manifestar, então, vós também sereis manifestados com ele, em glória.
Cl 3.1-4

INTRODUÇÃO

Já sabemos que Paulo escreveu para os colossenses para, entre outras coisas, adverti-los contra algumas ameaças que poderiam minar a vitalidade da Igreja. Dentre estas ameaças identificamos o legalismo dos judaizantes, a pseudo espiritualidade dos pentecostistas e os rigores ascéticos dos dualistas. A afirmação de Paulo é que os cristãos não estão mais presos aos rudimentos do mundo. Eles foram libertos pelo Senhor, nada nem ninguém tem direitos sobre aqueles que foram dados a Jesus pelo próprio pai (Jo 10:29).
Os cristãos estão inapelável e verdadeiramente mortos – morreram em Cristo, e esta é sua glória (Gl 6:14). A vitória alcançada pelos cristãos não é pelo que podem fazer (I Co 3:21 - Portanto, ninguém se glorie nos homens; porque tudo é vosso), mas pela fé em Cristo mediante a qual obtiveram as promessas (Gl 3:). Judaizantes, pentecostistas e ascetas se esforçavam para conseguir algo mediante as coisas rudimentares e ultrapassadas, de tal forma ineficientes que foram encravadas na cruz (Cl 2:14).
Entretanto, os cristãos não morreram para um fim – morreram para receberem uma nova vida, exatamente como Jesus disse que seria (Mc 10.29-30).
E esta nova vida impacta todo o ser humano, exatamente como é pedido para que o homem se devote a Deus (Mt 22:37). Por favor, não confunda um paralelo dentro da Palavra com alguma espécie de troca, ou de barganha com Deus, porque você só pode barganhar com quem precisa de algo que você tenha – e, no fim das contas, somente o homem precisa de Deus. E precisa de Deus de todo o coração, de toda a alma, e de todo o entendimento. E é justamente isto o que Paulo diz na carta aos filipenses: Deus satisfaz esta busca. Satisfaz a necessidade do coração. Satisfaz a necessidade da mente. Satisfaz a necessidade de todo o ser.

JESUS SATISFAZ AS NECESSIDADES DO CORAÇÃO

1 Portanto, se fostes ressuscitados juntamente com Cristo, buscai as coisas lá do alto, onde Cristo vive, assentado à direita de Deus.
Pelos motivos colocados anteriormente, isto é, pelo fato de os cristãos estarem mortos para o mundo, os cristãos também foram levantados da morte por intermédio de Cristo agora eles possuem um novo principio de vida. Já sabemos que a vida do cristão tem origem em Deus (Jo 1:13), então seu coração, isto é, o seu principio de vida, aquilo que ele é mais intimamente, as profundezas do seu ser deverão passar a ter uma orientação diferente.
E é justamente isto o que Paulo diz aos filipenses. Se ele está em Cristo, então, deve ser como Cristo. E assim como Cristo não é deste mundo (Jo 8:23) eles não pertencem mais a este mundo porque suas raízes foram arrancadas deste mundo (Gl 1:4).
A pergunta a ser feita é: onde está o seu coração? O coração pode estar nas coisas da terra – ou, se é um coração regenerado, estará nas coisas celestes (Lc 12.33-34).
Para o cristão não há qualquer alternativa a isto porque seu coração está em Cristo. E Cristo não está nas coisas deste mundo porque seu reino não é deste mundo (Jo 18:36). A única aspiração do regenerado é pelas coisas do alto. Paulo nos diz que devemos buscar encontrar, com esforço, com luta constante, as coisas lá do alto. E porque as coisas lá do alto? Porque é lá que Cristo está. E é lá que o cristão deve desejar estar (Fp 1:23).
Pseudo cristãos podem ter alguma forma de esperança em Cristo, porém esta esperança em muitos casos tem sido demasiadamente imitadas às coisas desta vida, tais como riquezas e conforto, mas não é este o ensino das Escrituras. Assim como nossa esperança não se limita às coisas desta vida (I Co 15:19) assim também nossas aspirações não podem ter esta mesma limitação. Esta esperança, esta aspiração às coisas celestes só pode ser experimentada por aqueles que morreram em Cristo para os rudimentos do mundo e foram ressuscitados juntamente com Cristo.
Só um nascido do Espírito aspira às coisas do Espírito – e só pode aspirar às coisas do Espírito quem tem entendimento das coisas do Espírito (I Co 2:14). O homem natural não discerne, não entende nem deseja as coisas do Espírito – porque estas só são vistas por quem nasceu de novo e vê as coisas pela fé (II Co 5:7). Só um nascido do Espírito crê que Cristo está vivo e entronizado, onde está não de maneira temporária, mas tem lugar permanente (I Jo 2:23).

JESUS SATISFAZ AS NECESSIDADES DA RAZÃO

2 Pensai nas coisas lá do alto, não nas que são aqui da terra; 3 porque morrestes, e a vossa vida está oculta juntamente com Cristo, em Deus.
Nos primórdios da fé os cristãos foram tratados como se fossem incultos e ignorantes. Incultos porque, como os judeus em sua maioria, não se interessavam pela filosofia greco-romana e ignorantes porque diziam crer numa divindade que não podia ser vista e com uma história sobre uma vitória absurda – uma vitória cuja expressão máxima era a morte vexatória numa cruz. Se fosse uma vitória como a dos heróis mitológicos ainda seria aceitável, mas não como foi a morte de Jesus. Traído por um discípulo, abandonado pelos demais, rejeitado por todos.
O cristianismo sempre seja tratado como uma coisa de incultos, mas, ao longo de dois milênios, tenha movimentado a intelectualidade ocidental com um vigor impressionante, produzindo homens como Agostinho, Tomás de Aquino, Calvino entre outros. Obviamente tanto intelectuais quanto incultos se negam a reconhecer a Cristo como Senhor. O problema não está na fé – está no coração do homem (Jr 17:9). Nem mesmo após uma série de assombrosos eventos Faraó se deixou convencer de que deveria obedecer ao Senhor e deixar o povo ir. Isto não é falta de conhecimento, é obtusidade mental, é endurecimento do coração (Ex 9:34).
A fé cristã não é uma fé irracional, ela é baseada em fatos, em ensinos claros. Ela é um conjunto de doutrinas baseadas na clara revelação de Deus, discernível espiritualmente e compreensível por aqueles a quem o Senhor a quer revelar, mesmo o menos letrado dos homens (Sl 19:7) sem, entretanto, excluir aqueles que tiveram maior disponibilidade de aprendizado, como Moisés e Paulo (Dn 2:21).
A natureza da fé é não basear-se no que é visto, mas no que é crido e esperado, e por isso Paulo exorta os cristãos a não se deterem naquilo que é efêmero e passageiro, naquilo que será destruído, mas no que é eterno, nas coisas do alto. Paulo não está dizendo que as coisas de Deus estão geograficamente acima, mas exortando a que os cristãos não se afadiguem para obter coisas de valor, ele contrasta as coisas terrenas com as celestes. Se o cristão está morto para as coisas terrenas, que sentido tem, então, ele tornar as coisas terrenas o centro de suas cogitações? Devemos buscar compreender o que realmente faz sentido, o que é permanente, as coisas superiores em valor, em eficácia, em durabilidade. Aquilo que realmente proporciona a satisfação das necessidades racionais de criaturas racionais.
A razão para isto é simples e clara: a nossa vida, a verdadeira vida, está em Cristo. Ele morreu nossa morte – morremos nele. Ele vive e garante a nossa vida (I Co 15.20). E ele está assentado nos lugares celestiais, onde nos assentaremos com ele (Ef 2.6). E ele entesoura nossa vida em si mesmo, para que, onde ele estiver, junto com o Pai, estejamos nós também (Jo 14.3). Porque, então, fazer das coisas deste mundo o eixo pelo qual nossa mente deva se deixar governar?

JESUS PROPORCIONA SATISFAÇÃO INTEGRAL

4 Quando Cristo, que é a nossa vida, se manifestar, então, vós também sereis manifestados com ele, em glória.
Somos instados a buscar o Senhor “de toda a nossa alma”. Como entender isso? Estaria Paulo se referindo à clássica divisão do homem em corpo, alma e Espírito? Creio que ele não tem isto em mente. Sendo obrigado a abordar o tema, creio que o homem é alma vivente. O ensino das Escrituras é que o pó da terra (corpo) recebeu o sopro de Deus (espírito) e se tornou alma vivente (Gn 2:7).
É para este homem que é a condenação por causa do pecado – integral. E é para este homem que a salvação é oferecida – vida eterna, vida verdadeira, plena de significado e de realização, quando, então, o homem atinge a estatura de varão perfeito e se torna aquilo que haveria de ser (I Jo 3:2).
A aspiração da alma do homem que deixou as coisas deste mundo porque elas lhe causariam dano (Lc_9:25) é pela manifestação desta nova vida. Tão diferente do cristianismo que nos cerca e que prega o paraíso sem o céu. Mas não é este tipo de satisfação que o Senhor prometeu – e não é este tipo de satisfação que o cristão deve esperar. Paulo afirma que, quando Cristo se manifestar novamente a nova vida do crente também se manifestará junto com ele porque nossa vida está escondida, entesourada nele.
E, por melhor que seja este tipo de satisfação terrena, não é a manifestação de um novo e mais polpudo salário – é um tesouro celeste. Não é a tão sonhada casa própria – é a morada eterna com o Senhor (Jo 14:2). Não é a alegria de ter um desejo satisfeito – mas a felicidade de ter um novo coração completamente satisfeito pela graça de Deus. Deus não nos manda buscar algo que não pode ser encontrado nele. Se ele nos diz para buscá-lo de toda a nossa alma, então é porque os anseios de nossa alma certamente poderão ser satisfeitos nele.
Sua alma quer paz? Dele vem a paz que excede toda e qualquer forma de paz que o mundo possa dar? (Jo 14:27) e excede a toda a capacidade de compreensão que o ser humano possui (Fp 4:7). Quer ser amado? O amor de Deus supera todo e qualquer obstáculo (Rm 8:39). Quer segurança? Das mãos do Senhor Jesus ninguém pode tomar aqueles que o pai lhe deu (Jo_10:29).
Paulo conclui que esta manifestação será em glória – o que é mortal será revestido de imortalidade, o que hoje tem que conviver com a corrupção será glorificado e tornado incorruptível (I Co 15:42), o que antes era fraco e falível ressurgirá em glória e poder (I Co 15:43), o que antes era destinado à perdição é levantado para assentar-se nos lugares almejados por seu coração – os lugares celestiais em Cristo Jesus (Ef 2:6).

CONCLUSÃO

A FÉ E A EMOÇÃO

Apesar de, volta e meia, o cristianismo ser acusado de cometer excessos emocionais – o que é verdade, a fé nunca teve problema algum com a emoção, afinal, o cristão é exortado a amar ao Senhor acima de tudo – e, também, a ser expressão do amor de Deus para com o próximo porque amar ao próximo excede a simples obediência aos mandamentos.
A Escritura afirma que Deus detesta uma devoção onde não há emoção, onde não há amor, onde há, pura e simplesmente, a obediência cega e meros costumes (Is 29:13).
Obediência mecânica não produz alegria – e o Senhor, ao convocar pecadores ao arrependimento, ao levantar mortos para a vida ele o faz para que haja alegria em seu próprio coração e no céu (Lc 15:10) mas isto não exclui que haja, também, alegria no coração dos adoradores (Dt 12:18).

A FÉ E A RAZÃO

O problema da fé cristã nunca foi a razão – foi, pelo contrário, a irracionalidade de corações rebeldes (Os 4:6). O problema do homem não é que ele não saiba nada sobre Deus – é que ele para sua consciência cauterizada é mais conveniente negar a existência daquele que ele sabe que existe do que, arrependido, confessar sua leviandade e passar da rebeldia à desobediência (Rm 1:21).
E a Palavra de Deus não deixa o homem se esconder atrás de seus pensamentos vãos, pois ela é poderosa para discernir o que é propósito, desejo, alvo, e o que é meramente desculpas, estratégias (Hb 4:12).
A denúncia de Paulo, sobre todos os homens, não é de desconhecimento (e isto vale até mesmo para povos não alcançados) mas de obscurecimento e insensatez do coração mediante raciocínios nulos, nada muito diferente do que fizeram os judeus com Jesus – eles os conheciam, mas nunca o conheceram porque ele só pode ser conhecido pela fé (Jo 6:69).

A FÉ E A AÇÃO

Existe um desnecessário debate entre fé e ação. Sem duvida que há o problema do ativismo – fazer porque tem que ser feito, mas sem devoção, sem amor, sem envolver o coração – ao lado de outro problema igualmente indesejável, que é a fé estática, ou, como Tiago denuncia fortemente, a fé morta, que não se expressa em obras piedosas (Tg 2:26).
A pretensão de viver uma fé que não se expressa de maneira prática é que torna o cristianismo motivo de zombaria (Tg 2:18). Evangélicos costumam zombar de homens e mulheres que se enclausuram em nome da fé – e, de fato, é uma prática que em nada glorifica a Deus, não é requerida por Deus e não abençoa o próximo.
Por outro lado, é justa a reprovação sobre aqueles que, membros de alguma Igreja, não vivem a sua fé, tornando-se apenas frequentadores, meros ouvintes que, achando que enganam aos outros e ao próprio Deus, na verdade, enganam-se apenas a si mesmos (Tg 1:22).

O QUE FAZER, ENTÃO

O Senhor ordena que seus discípulos cumpram o mandato missionário – eles devem ir e fazer discípulos, batizando os que cressem e ensinando-os a guardar os ensinos do Senhor (Mt 28.19-20), afinal, só podem ser seus discípulos aqueles que o amarem, e o amor só pode ser demonstrado se não houver ofensa, no caso, o amor do servo não pode ser demonstrado sem obediência (Jo 14:21).
Com base nisto Paulo apresenta uma interessante súmula do que se espera daqueles que, crentes no Senhor Jesus, desejam viver aqui, enquanto aguardam a manifestação do Senhor e da nova vida em plenitude: que se arrependessem, o que indica um sentimento de pesar pelas más obras praticadas, que se convertessem a Deus, isto é, que cressem mediante o conhecimento do evangelho da salvação no Senhor Jesus e, finalmente, que praticassem obras dignas de arrependimento (At 26:20). Num só verso temos a emoção, a razão e a ação.
Sempre convidamos as pessoas para entrarem na nossa Igreja para adorarem, para conhecerem, mas as exortamos a saírem para servir. Vá, e expresse a sua fé proclamando a um mundo que jaz no maligno (I Jo 5:19) as virtudes daquele que vos chamou das trevas para a sua maravilhosa luz (I Pe 2:9).

Lembre-se que sem fé é impossível agradar a Deus (Hb 11:6) mas sem ação é impossível demonstrar ter fé – aliás, é pelas ações zelosas (Tt 2:14) que demonstramos a nossa fé e é por elas, motivadas pela fé (Ef 2:10) que o Senhor tornará conhecidos os que são seus (Mt 25:34-36) e os que ele rejeitará para sempre (Mt 25:41-46).

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