Quando Abraão deixou Harã levou consigo, além da esposa, servos e bens, também seu sobrinho Ló.
Abrão é considerado um crente submisso [embora com percalços, com falhas bastante sérias mas que foram perdoadas por Deus]. Mas o fato é que ele andou com Deus. Já Ló se apresenta como alguém cuja fé precisa suplantar a mundanidade no coração. Ele uniu-se a Abrão na saída de Harã, mas sua fé certamente era menos firme que a de Abraão, a quem seguia também por laços familiares.
Sabemos que Ló foi um homem salvo (Gn 18:23 e II Pe 2:6-9). Ele se enfraqueceu espiritualmente no ambiente perverso dos sodomitas. Foi para Sodoma por causa do pasto bom que havia na região para o seu gado (Gn 13:10-12) e, apesar de descobrir a perversidade espiritual reinante naquele lugar, ele ficou por ali.
Mas Ló não pode ser acusado de incredulidade – era um crente que não atingiu a estatura de Abraão e outros heróis da fé. Também não podemos compará-lo a um mero voluntário. Ele foi um crente que cedeu aos acenos do mundo, se aproximou, certamente experimentou, mas a menos que desconsideremos as Escrituras, não podemos acusá-lo de incredulidade. Já vi Ló ser comparado com os estrangeiros que havia no meio dos israelitas no êxodo [Nm 11.4], ou a Ananias e Safira [At 5.1-11], ou Simão, o Mago [At 8.9-24] e Demas [II Tm 4.10]. Isto é injusto com Ló e não é o ensino das Escrituras.
Entretanto a proximidade do mundo não fica impune. Quando Sodoma é tomada, ele também é levado cativo. Quando Sodoma é destruída, ele também perde todos os seus bens. Os filhos de Deus sempre enfrentarão dificuldades, especialmente espirituais, quando se misturam com os filhos do mundo – embora sejam poupados da justa ira de Deus [Gn 14.16; Gn 18.23-25].
É interessante que a condenação dos ímpios com quem Ló morava chega no mesmo momento em que a confirmação da bênção é dada a Abrão e Sarai, nos carvalhais de Manre. Ali Deus revela, além da bênção a Abrão, a destruição de Sodoma, Gomorra e das cidades perversas da planície seriam destruídas. Abraão lembrou-se de interceder por seu sobrinho Ló. Não se trata de Ló ter sido salvo pela fé de Abraão, porque o pedido de Abraão é para que o justo, embora vivendo no meio de ímpios e até adotando costumes ímpios, seja salvo. Ninguém salva a seus parentes [como vi certo escritor afirmar, erradamente, que Ló foi salvo pela fé emprestada de Abraão], ou amigos. A alma que pecar, esta morrerá [Ez 18.14].
O Senhor atendeu a oração de Abraão, e os anjos passaram a noite na casa de Ló, revelando-lhe que Deus pretendia destruir a cidade. Disseram a Ló para pegar sua família e deixar o lugar imediatamente, então Ló saiu para falar com sua família. É triste dizer, mas Ló tinha vivido nesse lugar vil há tanto que perdeu a autoridade para exortá-los a abandonar aquele lugar, e pareceu-lhes um zombador e recusaram-se a ir com ele.
Na manhã seguinte os anjos tomaram Ló, suas duas filhas solteiras que viviam com ele e sua esposa e forçou-os a sair da cidade. Deus então enviou fogo e enxofre sobre a cidade, destruindo-a. Ló foi forçado a deixar sua casa, gado e riqueza que, por amá-los tanto, afastou-se do comando de Deus. Teve que deixar também o restante de sua família para perecer em Sodoma.
Ló morreu sendo um homem derrotado. Sem esposa, sem bens, um final trágico para o homem que se tornou pai e avô dos seus filhos, pois os gerou em suas próprias filhas. O custo da vida mundana é muito alto. Isso deve ser uma lição para nós (Lc 9:23-25).
LEMBREMOS: Tudo que foi escrito serve para nossa edificação [Rm 15.4].
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