quarta-feira, 9 de março de 2011

UTOPIA, NEOSELETIVIDADE E "PURA" SOBREVIVÊNCIA

Ou… Quando o Único Princípio que Conta é o da Sobrevivência.

Certa vez um cínico disse que "não há princípio mais irredutível do que o da sobrevivência”. O mesmo defendia que um homem de princípios é um homem que nunca teve que lutar para sobreviver. O que ele pretendia dizer que os princípios que os homens advogam só têm valor enquanto não são testados em condições extremas de sobrevivência. Não concordo com a aplicação indistinta do princípio. Creio que, embora raros, existem homens que possuem princípios, vivem por eles e, se necessários, abrem mão de facilidades e até mesmo morrem para não negarem seus princípios. Há muitos casos de cristãos que, por sua fé e seus princípios, sofreram o martírio em fogueiras, arenas e patíbulos.

Mas também há os que dizem, enquanto possuem água de boa qualidade em suas geladeiras, que jamais beberiam da água que outros estão tomando, como acontece em muitos lugares ribeirinhos. Torcem o nariz, fazem expressão de asco e chamam aos outros de nomes depreciativos.

Isto também se aplica quando olhamos para aqueles que advogam uma filosofia de vida utópica, acreditando-se senhores da verdade e exigindo de todos os demais que passem a pensar como eles, sob pena de serem chamados de heréticos, inovadores e epítetos semelhantes. Vivem num pedestal de pretensa superioridade moral e intelectual. Afetam ares [artificalmentes estudados] de uma espiritualidade e piedade retiradas dos baús da história. Empostam a voz e olham de maneira antinatural, como se fossem quadros vivos retirados de baús de séculos passados.

Mas quando esta cosmovisão utópica e irreal é confrontada com o mundo real e suas exigências o que antes era princípio inegociável passa a ser tratado com o que chamo de seletivismo. E o que é "seletivismo". É adoção de posicionamentos de acordo com a necessidade. É, como no jargão popular, "dançar conforme a música". Isto acontece em qualquer lugar, em qualquer instituição, mesmo as mais insuspeitas. Quando se trata de sobrevivência vale até abraçar o que antes era abominável. Vale desconsiderar quase 500 anos de história para garantir alguns anos a mais da própria história. Em alguns casos concretos, o cínico estava certo. Há quem entregue os anéis, os dedos e tudo o mais – até mesmo suas convicções filosóficas, em nome da sobrevivência. Que diria o “pai JC” numa situação dessas? O que ele instituiria como orientação? Conheço daqueles [alguns longe, outros perto, bem perto] que abrem mão de seus princípios por causa do medo de não sobreviver. Em nome da sobrevivência dão as mãos até aos que antes considerava inimigos. É o célebre idtado: “Se não pode vencê-los, junte-se a eles”, neste caso, mudado para “se é o que é necessário para sobreviver, então, serei como eles, afinal, em Roma, como os romanos”. É melhor ser um "herege vivo que um ortodoxo morto". É o princípio maior.

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