Os padres e o celibato - Em Sex and the Vatican¸[ainda não lançado em português, disponível apenas em francês, inglês e italiano] Carmelo Abbate revela os segredos da vida noturna romana, quando muitos padres se dirigem a clubes privados, saunas e casas de suas (ou seus) amantes. O livro é uma coletânea de depoimentos anônimos e cenas que o próprio Abbate presenciou enquanto investigava o tema. “Segundo minhas averiguações, a regra do celibato é ignorada por grande parte dos padres com o decorrer do tempo”, disse o autor ao site de VEJA. Richard Sipe, conselheiro em saúde mental clínica que conduziu um estudo de 25 anos sobre o tema e se especializou no tratamento de padres católicos com transtornos mentais, confirmou que a conclusão de Abbate não vale só para o Vaticano. Segundo sua pesquisa, cerca de 25% dos padres americanos têm relações secretas com mulheres - e 30% são gays [o que dá uma impressionante marca de 55% de sacerdotes que não guardam seus votos]. Outros estudos mostraram que, na Alemanha, de um total de 18.000 presbíteros, pelo menos 6.000 têm relacionamentos ocultos. Na Áustria, são mais de 20% dos clérigos. No Brasil, 3.000 sacerdotes se encaixam nesse caso - alguns deles têm relações estáveis em sigilo, mas não abandonam a batina. Mas quando o dia amanhece a culpa vira companheira desses homens. Nas missas, escutam a condenação da sensualidade e da homossexualidade. Nos livros, a exaltação do celibato dos santos. A vida dupla ganha um peso divino, e eles, embora sejam guardiões do espiritual, continuam tendo apenas sua força humana. “E quanto mais o tempo passa, mais difícil é para os padres abandonar a Igreja e se livrar dessa culpa horrível”, conta Abbate. Enquanto colhia depoimentos para seu livro, o autor ficou especialmente tocado com a história de uma jovem que havia se relacionado secretamente com um padre por alguns anos. Um dia, o sacerdote terminou o caso e pediu transferência para bem longe de sua paróquia. “Fiquei tocado pela ingenuidade e inocência da moça, sua vontade de perdoá-lo apesar de tudo que a fez sofrer. Como ela, há muitas outras mulheres que carregam um sentimento de culpa: acreditam que são a razão de todo o sofrimento de seus amados padres”.
Para a Santa Sé, com poder e dinheiro em mãos, não é tão complicado se livrar dos escândalos. Abbate desvenda casos em que mulheres italianas assinaram acordos com a Igreja para que recebessem pensões em troca de seu silenzio. Conta histórias de freiras que foram estupradas e de outras obrigadas a abortar. “A Igreja usa duas medidas para julgar determinadas coisas. Por um lado, excomunga os médicos que realizaram o aborto em uma garota de nove anos estuprada no Brasil. Por outro, permite que coisas muito piores aconteçam em seus bastidores”, diz. Ele afirma que a alta cúpula do Vaticano tem conhecimento destas transgressões. Mas faz vista grossa, contanto que não tenha de lidar com escândalos. “Além de não ser respeitada, a regra do celibato produz consequências terríveis, como abortos, esposas clandestinas e pessoas cheias de culpa”, diz o autor. “Não seria a hora de a Igreja mudar essa postura e prevenir que histórias assim continuem acontecendo?”, pergunta.
COMENTO
Sem dúvida que o celibato é anti-natural, e só foi oficializado na igreja em 1537 no pontificado de Gregório VII, por questões econômicas – dando origem a um mal maior, este moral e espiritual. Inúmeros são os pastores que possuem famílias até numerosas e todos envolvidos na obra, sendo companheiros e auxiliadores no ministério evangélico. Repito: uma convenção casuísta, econômica, deu origem a uma calamidade espiritual e moral no seio da igreja romana. Mas, como diz o adágio, Roma sempre aedem [Roma, sempre a mesma].
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