Jesus narra uma estória sobre um judeu que foi assaltado e deixado semimorto. Pelo caminho passavam um sacerdote e um levita que, temendo tocar no morto e se tornarem cerimonialmente impuros [Nm 9.6-7] passaram ao largo. Um tinha que dirigir o culto, o outro tocar. Por ali também passou um samaritano. Mais que cerimonialmente impuro, era considerado etnicamente desprezível... não tinha que ir dirigir nenhum sacrifício... nenhuma liturgia. Mas agiu misericordiosamente, cuidou do judeu semimorto, providenciou cuidados que ele próprio não poderia dar e seguiu sua vida. Neste contexto, analisemos a conversa de Jesus com um intérprete da lei. Não foi uma conversa com um iletrado, um inculto. O intérprete era alguém que desde a infância fora instruído nas escrituras do Antigo Testamento, conhecia inúmeros textos e comentários escritos por rabinos estudiosos ao longo de séculos... e, escudado neste conhecimento, foi a Jesus não com o intuito de aprender, mas de prova-lo. Como os rabinos discordavam em muitas coisas, e havia escolas diferentes, qualquer que fosse a resposta de Jesus provavelmente atrairia a discordância de outros grupos. E era justamente este o objetivo – ter do que acusar Jesus. Nesta conversa podemos observar os caminhos pelos quais os homens procuram a ascensão espiritual, a redenção ou a salvação. E encontramos também a orientação do Senhor sobre o único caminho que realmente conduz à salvação.
O CAMINHO DAS OBRAS
A primeira alternativa, a mais comum e mais universalmente detectável é a tentativa de alcançar algum progresso espiritual [cada religião chama esse progresso de vários nomes diferentes] é através das obras. O estudioso dos textos sagrados, doutor da lei, conhecedor profundo das nuanças da legislação mosaica, pergunta a Jesus que obras são necessárias para alguém obter a salvação. E, segundo o entendimento comum de seu tempo, era pelas obras da lei que alguém conseguiria salvar-se [Gl 3.10]. O problema é que o mandamento serve para dar conhecimento do pecado e é incapaz de salvar [Rm 3.20; Gl 2.16]. Ainda que a tentativa seja sincera, é bom lembrar que o homem já nasce pecador [Sl 51.5], portanto em débito [Rm 3.23] e ainda aumenta este debito com suas ações [Ec 7.20]. Este é um caminho que homem nenhum é capaz de andar de maneira perfeita, tanto pelo que é quanto pelo que faz [Tg 2.10]. Apesar do ensino claro das Escrituras mesmo entre os que se chamam cristãos vamos encontrar esta tentativa de salvação pela auto-justiça... compensações, campanhas e votos são, também, muito comuns mesmo num grupo ainda mais restrito que a si mesmos se denominam evangélicos [tradicionais ou de costumes mais recentes]. É um caminho que exige enorme dedicação e esforço e leva a lugar nenhum.
O CAMINHO DO CONHECIMENTO
Sem dúvida Jesus conhecia o coração do seu inquiridor, sabia que ele não queria aprender o caminho da salvação, especialmente porque o mesmo achava que sabia tudo sobre a lei. Então, Jesus lhe perguntou como ele, sendo doutor da lei, interpretava a própria lei. E ele não se faz de rogado. Demonstra conhecer as Escrituras, chegando mesmo a citar os mandamentos de maneira semelhante à que o próprio Jesus faz [cp. 27 com Mt 22.37-39]. O problema é que conhecimento teórico e intelectual não conduz à salvação [Tg 3.15], e, enquanto há os que acham que ela é meritória diante do Senhor, o que acontece é exatamente o contrário. Ela não atrai o favor, mas a ira de Deus [I Co 3.19]. Grupos filosóficos existentes afirmavam haver um tipo de conhecimento superior, e grupos cristãos aceitaram este tipo de ensino... mas isto era mera tolice. O conhecimento que Deus requer não é teórico, mas amoroso e experiencial. Havia os que conheciam as escrituras, mas desconheciam totalmente o poder de Deus [Mt 22.29]. Jesus adverte que Deus conhece o coração dos homens [Lc 16.15] e que rejeita o que não lhe dá glória [I Co 3.20]. O conhecimento teórico, intelectual, escolástico, vazio, não glorifica a Deus e não conduz à salvação. Isto fica evidente quando Jesus diz ao doutor: faze isto e viverás. Sua indagação posterior indica que ele simplesmente seu conhecimento não conduzia a uma vida que agradava ao Senhor. Ele imediatamente tenta justificar sua aridez, apesar da riqueza do seu conhecimento teórico.
O CAMINHO DA OBEDIÊNCIA
Como aquele homem poderia obedecer aos mandamentos se não reconhecia que os mesmos foram dados não para serem estudados, conhecidos, compreendidos e explicados, mas para serem vivenciados? Como amar ao próximo se ele não sabia quem era seu próximo? Seus preconceitos talvez o levasse a pensar que seu próximo era apenas aquele que estava fisicamente próximo, mas Jesus pretende lhe mostrar que o próximo é todo aquele em quem a imagem de Deus pode ser encontrada. E lhe conta a estória do samaritano salvador... considerado quase inumano, indigno de atenção por parte de um judeu, o samaritano da estória pratica o mandamento, enquanto os ícones da cultura judaica ignoram um irmão judeu exatamente porque tem que fazer coisas e possuem o conhecimento das implicações religiosas de seus atos. E é justamente a obediência que caracteriza o salvo [Jo 14.15; 21; 15.14]. Esta obediência é fruto do amor a Jesus. Da fé que ele dá a todo aquele que vai a ele, e recebe dele o perdão e o descanso da fatigante e infrutífera busca por salvação [Mt 11.28] seja pelas obras ou pelo acúmulo de conhecimento, considerado vaidade pelo sábio Salomão.
Não precisamos de grandes esforços para perceber que estas atitudes ainda permeiam a religiosidade não apenas cristã, mas também entre as religiões não cristãs. E a orientação de Deus continua a mesma. O caminho para a salvação é a obediência. Deus diz para o homem ouvir a Jesus [Lc 9.35]. E ele diz a todos: "vinde a mim" [Mt 11.28]. Seus discípulos ensinaram o que dele aprenderam, que todo homem deve converter-se a Jesus, crendo nele para ser salvo [At 16.31]. Obedecer a este mandamento é o único caminho para a salvação. Não há outro. Os caminhos dos homens parecem até direitos e inteligentes [Pv 14.12], mas, ao cabo, são caminhos de morte porque rejeitam a Jesus, o único salvador [At 4.12].
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