Por Gustavo Poli.
Recebi o e-mail abaixo de um amigo, torcedor do Flamengo, que aqui não será identificado. Ele resolveu ir ao Engenhão – o mais moderno estádio brasileiro hoje – para acompanhar o jogo de despedida de Petkovic. Um cara tranqüilo – numa tarde de folga – querendo curtir uma partida de seu time. O relato a seguir diz muito sobre o nível mental de alguns dos sujeitos que se fantasiam de torcedores para ir a estádio de futebol.
“Eram aproximadamente 15h50m de domingo. Faltavam dez minutos pra despedida do maior atleta que vi jogar com a camisa do Flamengo. Fui apenas três, quatro vezes ao Engenhão e não tenho a “manha” do estádio. Parei o carro em um shopping próximo e fui andando em direção ao estádio. Eu e mais três amigos. Estávamos em longa e estreita rua que dá acesso ao setor norte do estádio. De repente, vimos um (apenas um) carro da polícia militar escoltando os ônibus das torcidas organizadas do Corinthians. Eu e meus amigos estávamos devidamente trajados com o Manto Sagrado. Achei que seriam três ou quatro ônibus e que, bom, tudo bem. Ledo engano. O carro da Polícia Militar andava a 20km/h e eram cerca de 20 ônibus numa ruazinha muito estreita e longa! Estávamos a dois metros dos ônibus, que estavam todos abertos. Nunca fui tão hostilizado, senti tanto medo e tive uma sensação de impotência tão grande na minha vida. Os caras cuspiam na gente, apontavam morteiros em nossa direção, xingavam, ameaçavam até de morte. Falavam que desceriam para “sequestrar” a gente para dentro do ônibus. Diziam para um amigo meu, malhador, “A gente gosta de fortinho, vamos te pegar e te matar”… Dava pra ver o ódio nos olhos daqueles corintianos. E o pior, não tínhamos pra onde correr. Era uma rua muito apertada e muito comprida. Tomamos cusparadas, fomos xingados, ameaçados, hostilizados. Foram pelo menos 10 minutos – longos 10 minutos – com suor nas mãos e o coração na boca. Eu me pergunto como pode apenas um carro da polícia escoltar mais de 20 ônibus de torcidas organizadas? Definitivamente, isso não entra na minha cabeça. Se algum corintiano descesse do ônibus, talvez eu não estivesse te escrevendo hoje. Não desejo essa sensação para ninguém. Frequento estádios desde 1992 e nunca tinha passado por nada parecido.”
O surrealismo da situação é tamanho – que a preocupação do sujeito é com a presença de “apenas uma viatura”. A descrição – a rua apertada, os xingamentos – me sugeriu um circo de feras passando perto de suas presas. É esse o torcedor que queremos para a Copa de 2014? A torcida do Corinthians não pode ser representada por meia-dúzia de imbecis, claro. O Engenhão, todos sabemos, é um estádio moderno cujo entorno não ficou, digamos, pronto. Ir ao estádio de carro continua sendo missão ingrata. De trem – é até fácil – desde que você tenha uma estação de trem perto da sua casa. As ruas em volta do estádio são estreitas e, ao fim dos jogos, ficam sempre engarrafadas. Faltam três anos para a Copa no Brasil. E cinco anos para os Jogos Olímpicos no Rio.
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