Números 20:12
As pragas serviram a um duplo propósito: humilhar faraó [Ex 9.13-16] e educar Israel [Ex 20.2]. Faraó, humilhado diante de todo o seu povo e até sua própria casa, pressionado pelo seu povo, acabou deixando os hebreus partirem, mas bastou um breve momento de trégua e alguns cálculos para faze-lo mudar de ideia [Ex 14.18]. Quem tem medo de Deus até faz algumas coisas que o Senhor manda, mas só quem tem temor persevera.
Aos olhos de um povo que não sabia o que era liberdade, acostumado a curvar-se perante simples intendentes que tinham faraó como o filho do deus sol [Rá] Moisés era [e assim entrou para a história hebraica] alguém extraordinário. Mas, ao mesmo tempo, era um povo de mentalidade escrava, e nada há mais comum entre escravos do que a murmuração [geralmente desacompanhada de ação]. Quando percebem que faraó mudou de ideia se levantam contra Moisés – uma ação positiva seria prepararem-se para defenderem a si mesmos e aos seus [Ex 14.10-12].
A diferença entre o crente e os que fazem parte de uma comunidade religiosa é a fé, demonstrada na atitude de Moisés em orienta-los a se manterem calmos e confiantes no Senhor. Esta também é a diferença entre o líder que teme ao Senhor e os autoproclamados messias: o profeta do Senhor aponta para o Senhor, enquanto os outros chamam a atenção para longe de Deus [especialmente para si mesmos – Dt 13.1-5]. O povo pode ver mais um grandioso ato de livramento de Deus – e atravessaram o Mar Vermelho a pé enxuto [Ex 14.29]. Os egípcios com carros e cavalos, mas sem Deus, pereceram no mar [Ex 14.17-28].
Mas Deus não queria que Israel acabasse incorrendo no erro mais comum na historia religiosa da humanidade: a admiração por um homem e seus feitos com o tempo é transformada em mito, e daí surge a adoração e a idolatria. O Egito tinha seu deus-homem... entre os gregos e romanos também havia uma multidão de deuses e semideuses... E Moisés era apenas um homem. Já havia cometido um pecado [assassinado um egípcio – Ex 2.12]. Apesar disso Deus quis usá-lo por uma característica muito valiosa: ele era um homem mui manso [Nm 12.3]. Moisés ouvia a Deus – e obedecia.
Nem sempre era fácil. Israel era um povo difícil... reclamava bastante: da comida [Nm 11.5], da água [Ex 17.3]... murmuravam [Nm 14.2]... questionavam a liderança mosaica [Nm 14.4]... rejeitaram a bênção de Deus por causa da sua dureza e incredulidade e não entraram na terra prometida [Nm 13.30-32] e chegaram ao ponto de querer mata-los [Nm 14.10]
Diferente de Arão [Ex 32.24] Moisés não negociou a vontade de Deus em nome de pequenas conquistas populistas. Puniu exemplarmente os revoltosos, mesmo os de sua família. Foi assim com sua irmã, a quem de certa forma devia a vida [Nm 12.10] e com seus sobrinhos [Nm 3.4].
Mas Moisés era homem, e não Deus. Houve um momento em que quis para si uma atenção que só a Deus era devida. Deus é o libertador, ele devia ser sempre o centro das atenções. E quando Deus mandou-o falar à rocha [Nm 20.8] ele cometeu dois erros: [1] falou ao povo e não à rocha [Nm 20.10] e golpeou a rocha, impressionando o povo de maneira que acharam que o seu cajado é quem faria a rocha dar água [Nm 20.11]. A Escritura diz que ele fez isso porque não acreditava que o simples falar seria suficiente [Nm 20.12] e ele precisava fazer mais [I Sm 15.22]. E mesmo ele foi disciplinado por Deus por sua falta de fé [Nm 20.12-13].
Moisés, o homem da lei, conduziu o povo de Deus até a entrada da terra de descanso. Mas apenas Josué e Calebe nela entraram, porque, apesar de todas as dificuldades, eles tinham a plena certeza de que Deus lhes daria a vitória [Nm 13.30; 14.8-9 cp. Hb 11.1]. De maneira alguma devemos pensar que Moisés não entrou no descanso eterno, entretanto, ele tipificava a lei – que deveria conduzir a Cristo. Todavia, Moisés não era o Cristo, mas apontava para ele [Dt 18.15], portanto, ele levou o povo às portas da terra prometida – mas somente os que cressem na promessa entrariam. .
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