terça-feira, 22 de junho de 2010

AMARGURA E INFELICIDADE

Nietzsche O filósofo Friedrich Nietzsche afirmou que “‘A memória do amargurado é uma digestão que não termina” [belas palavras para descrever uma prisão de ventre]. E a amargura é uma doença naturalmente incurável. O problema do amargurado é que, além de sofrer por si, ele dirige seu ódio, sua amargura contra alguém que nem sempre é ou sabe ser responsável pela antipatia que lhe é dirigida. Aliás, em muitos casos nem sabe desta antipatia, uma vez que a amargura é como pedras submersas sob uma aparência de calmaria. O amargurado age como se tivesse contas a ajustar contra tudo e contra todos, com um desejo de vingança que nem sempre é objetivo, nem sempre tem uma razão. Apenas existe, numa revolta retro alimentadora.

A amargura gera uma infelicidade cujas causas credita a erros de terceiros, que impede o auto-conhecimento, a análise de si mesmo, de suas atitudes e das circunstâncias com a clareza necessária para buscar as soluções que talvez estejam disponíveis. Culpa alguém ou alguma situação pela infelicidade que sente, que impede de desfrutar das alegrias cotidianas… só tem olhos para o que não lhe agrada, deixando de perceber quase tudo que lhe seria agradável. E isto impede até mesmo de olhar para si mesmo, de ter amor próprio, de buscar a própria felicidade. Está tão ocupado com sua infelicidade e buscar causas e culpados que não se ama, não acredita que possa ser objeto de amor verdadeiro e acha que a vida não tem sentido, que está tudo errado e estragado. E com isto acaba estragado a vida de quem está ao seu redor – e que lhe amam [culpando-os pela infelicidade que lhes causa].

Está tão condicionado pelo sofrimento que atribui tudo de errado aos outros, é descontrolado e explosivo. É amargo e murmurador. Reclama de tudo e de todos, até do que não lhe compete julgar ou não tem qualquer relação com sua própria vida. Mas, se tem conhecimento, tem que observar e recriminar o que julga estar errado.

O amargurado não apenas não sabe, como não quer amar. Mas, paradoxalmente, quer ser o centro do amor do mundo, exigindo que tudo seja feito do seu jeito e para seu agrado, julgando-se no direito de rejeitar enfática e duramente o que não atinge o seu padrão de aceitação. Tornam-se verdadeiros vampiros emocionais, esgotando tudo e todos ao seu redor – e, numa tentativa de sentir-se valorizado trabalha por desvalorizar todos os demais. Quando sua luz não brilha o suficiente, o alvo se torna apagar as que brilham…

A psicanalista Maria Rita Kehl,  afirma que o amargurado é alguém que “não conseguiu responder em tempo a uma agressão, real ou imaginária, e rumina a vingança que não será perpetrada: ficará estacionada na amargura que envenena a alma”. E isto impossibilita a felicidade real – sua e de quem estiver próximo, alvo de sua amargura.

A01O remédio para a amargura é aceitação da realidade como ela é, e a transformação do que pode ser mudado. É aceitar-se incompleto e imperfeito [não há ninguém completo e perfeito, por mais que haja pessoas que se entendam assim], aceitando também aqueles que estão próximos sabendo-os tão incompletos e imperfeitos. O primeiro passo para a cura é olhar para aquele que foi o mais incompreendido de todos os homens, que tinha todo o direito de sentir-se amargurado pelos maus tratos recebidos, mas que, mesmo na agonia da cruz, preferiu proferir palavras de amor, pedindo que seus algozes fossem perdoados. Somente quem é perdoado, quem se sabe verdadeiramente perdoado pode ser curado da amargura. Somente o doce amor de Cristo pode cobrir o fel de amargura que toma conta de corações assim. Lembre-se: a sua amargura pode ser o fel que torna a vida de muitos um tormento e uma infelicidade.

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