No livro de Atos dos apóstolos, cap. 15, o evangelista Lucas relata o primeiro concílio da Igreja, realizado num momento de extrema importância e com resultados decisivos para a Igreja nascente: seria ela mais uma seita judaica ou uma Igreja sem nacionalidade, para todos os povos? Percebendo a natureza e as implicações do problema, a liderança da Igreja reuniu-se na cidade de Jerusalém. É interessante notar que o motivo de tal reunião era o ensino que estava sendo ministrado às Igrejas. Daí ocorre-me uma série de perguntas, cujas respostas oferecerei na forma de esboço, pois cada uma delas exige um texto mais extenso: Ensino é bom ou ruim? Deve ser eficiente ou pode ser feito de qualquer maneira? Deve produzir sempre união ou pode gerar divergência? Todos devem se alegrar com ele ou é possível resultar em tristeza? O que é mais importante, o resultado imediato ou eterno?
O verso 1 diz que alguns indivíduos desceram da Judéia e trouxeram um ensino para os irmãos antiocanos: eles precisavam se deixar circuncidar para serem salvos. Isto nos leva à primeira resposta: nem todo ensino é bom. Somente aquilo que edifica deve ocupar a mente do cristão [Fp 4.8] e deve ser por ele aceito.
Ao que parece, seu ensino era ministrado de forma eficiente, a ponto de Paulo e Barnabé enfrentá-los quanto a esta questão. Não conseguindo resolvê-la satisfatoriamente no local, o assunto foi levado a Jerusalém. Não duvidemos da eficácia de Paulo como mestre – mas seus opositores também ensinavam eficientemente. Cremos que maiores dificuldades Paulo e Barnabé teriam enfrentado se não fossem capazes no seu ensino, o que nos leva à conclusão que devemos ensinar com esmero [Rm 12.7].
Uma terceira questão que exige resposta é: o fruto do ensino é sempre união? Se observamos os numerosos relatos bíblicos vamos encontrar muitas divisões causadas pela verdade. Somente as divisões causadas pelo desacordo com a doutrina verdadeira são malignas [Rm 16.17]. O ensino de Jesus trouxe espada e não paz [Mt 10.34] e por causa da verdade Pedro e Paulo tiveram dura discussão [Gl 2.11]. A discussão de Paulo com Pedro trouxe bênção para Igreja, e não maldição.
A quarta questão a ser respondida é: o ensino deve gerar sempre alegria ou pode resultar em tristeza? O apóstolo Paulo fala aos coríntios que eles ficaram entristecidos pela necessária correção [II Co 7.9]. E que isto não lhes foi mal, pelo contrário, eles foram contristados segundo Deus para arrependimento. O ensino com a única finalidade de entreter pode até ser agradável momentaneamente, mas acabará esquecendo-se da verdade para tornar-se mero entretenimento. Isaias nos diz que a correção produz genuíno arrependimento e busca de Deus [Is 26.16].
Finalmente, o ensino que busca satisfazer apenas necessidades imediatas, momentâneas, gerando muito mais satisfação e bem estar passageiros não vai assegurar a satisfação da real necessidade da Igreja: sua adequação às normas eternas. Os judaizantes queriam que os novos convertidos se tornassem judeus como condição sine qua non de salvação. E o concílio vai dizer que há atitudes que devem ser evitadas pelos cristãos, entre outros motivos, por causa de escândalos e por serem povo santo ao Senhor, mas, em momento algum estas condições vão além da conversão e fé em Cristo para se tornarem povo do Senhor.
Os resultados buscados devem ser eternos, e encerro com as palavras de Micaías, o profeta: "só devemos falar o que o Senhor mandar". [I Rs 22.14].
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