Um jovem amigo, evangelista, me fez esta pergunta tendo em vista uma prática que a igreja da qual ele foi membro [retornou para visitar] tinha e que foi extinta. No momento trocamos algumas idéias e impressões a respeito, e, depois, prometi-lhe que pensaria no assunto. Este post é resultado desta conversa. Espero que seja útil.
Primeiro, é conveniente lembrar que nem tudo que a igreja “sempre fez” é bom, aceitável ou deve ser eternizado. Práticas do passado podem ser abandonadas, substituídas ou adaptadas, levando em consideração que sua relevância não seja apenas fruto de um mero tradicionalismo, mas por possuir consistência bíblica e significância comunitária. Segundo, a tradição não tem, nos meios protestantes, o mesmo peso que tem nos romanos. Esta afirmação é teológica e eclesiológica. Mas, na prática, a tradição tem uma elevada significância, pelo menos a nível local. Conheço um caso de um pastor que foi parar no hospital por ter mandado mudar a toalha de uma mesa. Outro deixou a igreja por problemas que começaram quando mudou a posição do púlpito. E há inúmeros outros casos desnecessários de serem mencionados.
Mas há boas tradições, algumas já milenares, e edificantes, que têm sido abandonadas nas igrejas por uma ideologia [não se trata de teologia] que não é nova, isto é, também tem seu peso de tradição. Assim, trata-se de uma tradição que estava empoeirada lutando por um lugar ao sol, jogando a sua poeira e bolor sobre outras tradições que tem sido bênção na igreja do Senhor há séculos.
Mas, como é que as boas tradições tem sido sepultadas em nome de uma neo-antiga-tradição que nunca, repito, nunca obteve grande aceitação entre os grandes nomes e movimentos teológicos históricos. Pelo que tenho observado, lido, e ouvido, são duas as metodologias adotadas.
A primeira é a desqualificação, o ataque, a tentativa deliberada de sufocar a prática, tanto com a bíblia em mãos como na forma de estudos, palestras, citações de autoridades literárias, etec… Também se usa neste tipo de atitude a pura simples proibição com base no princípio de autoridade [toda autoridade deve ser respeitada – mas nenhuma autoridade é legítima, especialmente no seio da igreja, cujas autoridades são espirituais, se não tem seu exercício legitimizado pela vontade de Deus revelada]. Assim, com base no “não pode”, no uso do púlpito e da tribuna para expor um ‘ponto de vista’ que não admite contraditório, e, quando opiniões divergentes são citadas são vestidas com uma capa de ridículo, geralmente usando extremos [e os extremos sempre chocam e quase sempre atraem oposição]. Este ataque direto é muito comum, às vezes grosseiro, às vezes sutil, e quase sempre traz em seu bojo a lastimável idéia do “aqui nunca fizeram as coisas direito”, mesmo que o líder em tese tenha herdado uma igreja estabelecida, estável, com dezenas, às vezes centenas de membros. É, mas nunca fizeram nada direito por ali, e finalmente chegou o “Sassá Mutema”, o salvador da pátria, o sabe-tudo… Ridículo, reprovável, lamentável…
A segunda maneira é mais sutil, e é colocada em prática através de atitudes que desestimulam os que sempre se empenharam no sentido de que as tradições eclesiásticas, as boas e saudáveis, se tornem sempre em momentos edificantes para a igreja e para aqueles que com ela convivem. Observe que não menciono momentos divertidos, pois sei que a igreja não tem a função de divertir ninguém. Quem quer se divertir deve procurar um cinema, um circo, um teatro, alguma coisa nesta área [infelizmente tem muitos que se pretendem ministros de Cristo que estão mais para micos de circo]. O desestímulo é uma força poderosa, e pode fazer com que paulatinamente as pessoas acabem se afastando de uma determinada atividade – isto não acontece naturalmente. Geralmente é provocado, pensado, e executado com frieza impressionante sob uma capa de piedade que esconde uma realidade asquerosa, como um sepulcro caiado.
Estas estratégias têm sido adotadas contra práticas tradicionais das igrejas, contra as sociedades internas, contra o trabaho de determinados grupos e pessoas nas igrejas. Lamento, e, claro, admito que muitas coisas podem ser abandonadas sem prejuízos para a igreja, mas muito que a igreja faz reflete sua compreensão da história e do tratamento de Deus com seu povo na história. Ou será que o Deus que conduziu a igreja nos últimos 2.000 anos estava esperando o aparecimento [ou recrudescimento] de um neo-arcaico idealismo para, finalmente, iluminar seu povo?
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