Mc 10.13-16
Então, lhe trouxeram algumas crianças para que as tocasse, mas os discípulos os repreendiam. Jesus, porém, vendo isto, indignou-se e disse-lhes: Deixai vir a mim os pequeninos, não os embaraceis, porque dos tais é o reino de Deus. Em verdade vos digo: Quem não receber o reino de Deus como uma criança de maneira nenhuma entrará nele. Então, tomando-as nos braços e impondo-lhes as mãos, as abençoava.
Ensinar não é uma tarefa fácil. Mas aprender é ainda mais difícil. E aprender apesar dos preconceitos, dos costumes, é ainda mais difícil. Um professor pode ensinar com esmero, mas sempre terá um ou mais alunos que não aprenderão. Um ministro pode dedicar-se com afinco ao estudo e ensinar com técnica e amor, e ainda assim sempre haverá aqueles para quem a mensagem será, apenas, “mais um sermão”, do qual não reterão nada no coração e muito menos aplicarão em sua vida. É óbvio que sempre haverá professores relapsos, ineficientes e incompetentes. Mas o que acontece hoje nas igrejas [igrejas que não aprendem] não é novidade. E há um caso, pelo menos, que não podemos culpar o professor. O texto escolhido tem, obviamente, um propósito teológico: ensinar aos discípulos que também as crianças podem ter acesso à presença de Jesus, e que ele tem prazer nisso, e a ninguém é permitido impedi-las de chegar a ele. Mas queremos observar que mesmo tendo o melhor professor de todos os tempos, o mais completo e eficiente, o mais amoroso e sábio, ainda assim eles tinham enorme dificuldade para aprender o que Jesus queria lhes ensinar. Por exemplo, após o milagre da multiplicação dos pães e peixes, Jesus lhes adverte para tomar cuidado com o fermento dos fariseus. E eles ainda acharam que Jesus estava preocupado com pão. Mas, neste caso, Jesus já tinha lhes dado mais de uma aula, e, ainda assim, eles estavam fazendo exatamente o contrário do que o mestre havia lhes ensinado - ou ao menos estava tentando ensinar.
A Igreja não aprende por causa dos seus interesses
Os discípulos de Jesus estavam discutindo entre si sobre quem seria o maioral dentre eles quando o Senhor inaugurasse o seu reino [Lc 9.46]. Acostumado a pensar num messias terreal, imaginavam uma coorte com ministros, governadores e tudo o mais. Logo, alguém teria que ser o primeiro ministro. Mas qual? Judas, o que cuidava da bolsa? João, o discípulo amado? Mateus, acostumado à coletoria? Pedro, o mais eloquente deles? Interessados em poder não entenderam nada quando Jesus chamou uma criança para o meio deles, tomou-a no colo e disse-lhes que deveriam receber o reino como uma criança, ou seja, sem se preocuparem com quem seria o primeiro... Apenas receber e confiar... Mas eles não entenderam... Nem notaram que Jesus havia tomado um criança em seus braços ... Ouviram, viram, mas não aprenderam.
A Igreja não aprende porque tem preguiça de testemunhar
O aprendizado só é realmente eficiente quando resulta em prática. E a Igreja está acomodada, vive numa zona de conforto onde não há cobranças nem perseguição. Há um contraste entre o que deveria ser [I Jo 2.27] e o que efetivamente está sendo [Hb 5.12]. Mas Jesus diz claramente à Igreja que quem não ajunta, espalha [Lc 11.23]. E Jesus adverte aos apóstolos que não se deve fazer tropeçar a um dos seus pequeninos [sei que ele não está se referindo especificamente a crianças, mas, também, a crianças] estaria muito melhor se pudesse lançar-se ao fundo do mar amarrado a uma pedra. Se o que, através do testemunho, salva uma alma recebe galardão, é lógico que o que nada faz para evitar sua perda deve, sem dúvida, receber igual punição. E é o que acontece com a igreja, a ponto de precisar ser advertida pelo Senhor.
A Igreja não aprende por causa dos seus preconceitos
mesmo depois de, mais de uma vez, Jesus falar da importância dos pequeninos, os discípulos ainda mantinham em seu coração os conceitos vigentes em sua época, apesar do que Jesus queria que passassem a praticar. Jesus era recebido como um rabi ou profeta, e, portanto, na poderia se contaminar ao entrar em contato com pessoas consideradas impróprias [Lc 7.39]. E as crianças [junto com os publicanos, pecadores, gentios, samaritanos] era um destes casos porque poderiam ter tocado em algo impuro, como um réptil ou um animal morto. Então tomavam todos os cuidados para que pessoas “santas” não fossem tocadas pelas crianças. Por isso queriam impedir as crianças de se aproximarem de Jesus. Observe que as crianças eram trazidas para que Jesus as tocasse e as abençoasse... E os discípulos eram os primeiros a tentar impedi-las. Mesmo depois de Jesus tê-las usado como exemplo numa advertência contra seu mundanismo e contra sua preguiça em testemunhar. Foi necessário que Jesus os advertisse severamente para que entendessem o que ele lhes tentava ensinar já há algum tempo.
É verdade que há problemas com o ensino que tem sido ministrado; falta seriedade e profundidade para muitos pregadores - muitos meros falsários mercadejadores da palavra. Mas eu creio que, apesar de tudo isto, o maior problema é que a igreja não quer aprender, porque aprender o que Deus quer significa ter a responsabilidade de colocar em prática - ou receber dura repreensão do Senhor [Tg 1.22]. Lamentavelmente a igreja tem e tornado, para muitos, um clube onde canta-se e ouve-se músicas cristãs, ou com este nome, de boa qualidade às vezes duvidosa. Ouve-se mensagens sem levar em conta que toda mensagem tem o propósito de edificar com uma exigência de resultados práticos. Julga-se uma mensagem pela eloquência do pregador [o mais eloquente que eu conheci não me ensinou nada, e o segundo dentre eles se tornou um herege conhecido internacionalmente], pelo tom de voz, pelos erros gramaticais cometidos, pela duração, se foi agradável aos ouvidos ou não... Mas a atitude correta da igreja deveria ser, ao sair de casa para ir para a igreja, buscar conhecer qual a vontade de Deus para sua vida - e como aplicar o que a bíblia ensina no dia a dia para glorificar ao seu Senhor. Infelizmente a Igreja não quer aprender porque se for colocar a bíblia em prática isto pode contrariar seus interesses, pode exigir atitudes diferentes das que o comodismo recomenda e, finalmente, pode requerer que os preconceitos tão arraigados sejam abandonados. Precisamos sair da nossa zona de conforto para obedecer a Palavra.